The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

14 agosto 2008

tânia maranhão

curtes olimpíadas?
te digo que estava entusiasmado. mas o fuso horário e a imprensa ufanista me deixaram meio cansadinho de todo esse circo fascista armado pelos chinas reaças. além do fato de o brazil só levar ferro, claro, o que empresta ao fuso e à cobertura da mídia um certo ar sado-masoquista vira-latas terceiro mundo. enfim...
estava falando de olimpíadas só por que me lembrei do handebol. taí um esporte que sempre me intrigou. sempre me pareceu um arremedo de basquete, um arremedo de futebol que, juntando aspectos de ambas as modalidades, se mostra incapaz de chegar a bom termo por si só. note-se, por exemplo, um placar típico do handebol... digamos 34 x 29. cá entre nós, puta números chatos. o placar do handebol nem é sofrido como o do futebol (2 x 1), nem é impactante como o do basquete (91 x 87). nem lá, nem cá. no meio do caminho. o handebol me parece exatamente assim. um puta troço chato.
eu poderia simplesmente ser indiferente ao handebol. como sou indiferente quanto à peteca. mas te confesso que peguei nojo de handebol por causa da educação física do colégio marista de brasília, primeiro grau. os quatro bimestres da educação física, duas vezes por semana, eram dividos entre quatro esportes simultâneos para os meninos e as meninas - em quadras separadas, claro, os meninos e as meninas, se não virava putaria em colégio de padre.
num bimestre, para começar, fazíamos atletismo. nem preciso comentar como meu desempenho era patético nesse bimestre, correndo na pista de brita do maristinha, saltando jadel gregório na caixinha de areia cheia de craca atolada. depois tinha o voleibol, que era melhorzinho, pois as nossas turmas eram numerosas e dava pra ficar escondido no time de próxima. tinha ainda o bimestre do basquete. esse era quase bacana, pois eu fazia um pivô pivô. estilo le bron james. volta e meia muquetava um desses boyzinhos na boca do garrafão. boa.
por fim... o quarto esporte do maristinha era o... handebol.
sim, raios. nada de futebol, não. porque tinha o handebol. a turma ficava puta, caramba, como assim handebol? isto é cousa de guria: queimada, handebol, essas pôrras. homem joga futebol. dá carrinho, leva bolada, rasga a calça, rasga o joelho na quadra de cimento.
não, não. nada disso. futebol só no recreio, quinze minutos corridos, antes de a gente voltar vermelho e esbaforido para a aula de história. nós, artistas do ludopédio, estávamos privados de exercer nossa arte justamente na aula de educação física, que teoricamente existia para tanto. tínhamos que jogar handebol. dando munhequinha na bola, dando pulinhos pra sair da marcação.
amendoim foi o nosso professor de educação física na sexta, sétima série. ele tinha um outro nome, não me lembro qual, o chamávamos de amendoim, sem nem saber o por quê. amendoim dizia que a gente praticava handebol porque as meninas, na quadra ao lado, tinham que praticar o mesmo esporte que nós, ogros do esporte estudantil. e elas não jogavam futebol, claro, não havia pretinha ou tânia maranhão no final dos anos oitenta. só bebeto e renato gaúcho.
enfim, nós, craques do futebol, éramos obrigados a jogar handebol por conveniência daquelas meninas frescas que não conseguiam chutar um objeto esférico.
hoje, vinte anos depois, não posso deixar de rir ao ver, lá de pequim, o resultado dessa política da educação física de nossos colégios. desempenho cretino do handebol brasileiro, masculino e feminino.
e pensar na marta, que teve que aprender a jogar bola bem bem longe do maristinha.

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