The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

02 setembro 2008

to freak out early in the morning

então fui pra pharmácia, menos quinze pras sete da manhã, comprar uns remedinhos que mantenham o arco íris da vida a fulgurar on my mind. tomei o caminho mais comprido até a drogaria, the long way, para poder esticar as pernas, estalar os joelhos, manter meu sangue beat circulando por minhas tromboses hipsters. desci a pires da mota até dobrar na aclimation avenue. na volta, pelo mesmo caminho, sentido bairro, aproveitei para pagar um sentadão - como faço casualmente - aliviando o ciático ali no ponto de ônibus da avenida d´aclimação.
nessas de ficar fiscalizando o trânsito dos baús, pude rever meu velho conhecido, o mendigo robin williams, notório frequentador do aclimation park. há muito não vou ao parque, agora que virei junkie e assumi outras prioridades. vez ou outra, em verdade, já tinha visto o williams longe dos muros do parque. mas foi uma visão tão improvável quanto a de uma sereia dinamarquesa pegando um bronze na marginal tietê. enfim...
lá estava o robin williams. por improvável que o fosse. lá estava williams dando seu show das sete e pouco da manhã. sandálias rider, bermudão amarelo estilo beach boy, camisa bege estilo exército da salvação, cabelos curtos estilo ação global, sorriso freak estampado no rosto estilo robin williams. não havia dúvidas de que, sim, era o camarada, o mendigo mais agito do parque. ele estava carregando seu costumeiro saco branco cheio de lixo, santa claus style, e berrava no celular.
o celular imaginário de robin williams. faz-se necessário esclarecer que não se trata de um pré-pago. mas williams é um precursor da portabilidade. o camarada catou um celular véio quebrado no lixão e, desde então, fica andando por aí berrando com seus brothers mendigos pelo celular.
fico sentado, como a ver uma peça de pirandello, embevecido com a minúcia de robin williams a emular o comportamento classe-média celularística que ele acompanha todos os dias pel´aclimação. é belo quando um louco de rua assume em sua personalidade a loucura difusa da sociedade. me chegam lágrimas aos olhos.
- você não viu que a madonna vem ao brasil?, berrava robin williams a seu interlocutor imaginário, atravessando a avenida sem olhar pros lados. a guria, sentada aqui no ponto de ônibus, não consegue não sorrir, não consegue não comentar pra mim: que figura. sim, meneio com a cabeça, concordantemente.
- pois é, a madonna vem para o brasil. vai fazer um show no rio e um em são paulo, no maracanã e aqui no morumbi. vamos? estão vendendo os ingressos. ela vai gravar também um clipe no brasil.
(digo que sempre achei que o williams tinha um quê meio thiago ney.)
- isso, vai ser no morumbi. temos que pegar dois ônibus.

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