The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

28 novembro 2008

the poetry as the high noon

... me diz, guria, tu curtes poesia?
- sim, adoro poesia.
- bakana. eu te fiz essa pergunta pois sou poeta.
- como assim, poeta?
- sou o poeta do meio-dia.
- uau.
- curtes, então, a ensolarada poesia do meio-dia?
- não estou bem certa do que seja...
- a poesia do meio-dia é a poesia do sol a pino. a poesia que revela com sua luz branca as cousas em sua inteireza, em sua unidade, em sua indivisibilidade e em sua dessemelhança. a poesia do meio-dia é a poesia máxima à luz do dia. a poesia que anula as sombras e os desvãos. enfim, a poesia que assume a materialidade do objeto poético e, ao mesmo tempo, a poesia que se assume como engenho, como fabricação, como manipulação. isso porque, afinal, tudo está às claras ao meio-dia. não há espaço para o poeta se esconder e fingir que aquilo lá não é com ele.
- puxa. e, poeta, o que seria então a poesia da meia-noite?
- ah. a poesia da escuridão. a poesia da meia-noite seria a poesia do meio-dia em seu negativo. como a noite é o avesso do dia. como a sombra que esconde o que a luz revela.
- pois me parece muito mais interessante a poesia da meia-noite.
- não, não é a mais interessante. justamente por ser a mais sedutora, essa é a poesia que mais se satisfaz por si mesma, que se basta por si mesma. a poesia que se exaure em si mesma. essa é a poesia que se perde do próprio poeta. a poesia da meia-noite eskonde. enquanto a poesia do meio-dia, perceba... a poesia do meio-dia revela.
- sim, sim. poeta! agora me está claro como a luz do dia.
- me diz, guria, tu não pensas a poesia como a claridade da alma?

|