ain´t life grand?
me diz, guria, então tu curtes um shopping center?
pois te digo que, tarde dessas, fui visitar um amigo poeta que mora lá na barra funda. aproveitei o rumo para matar um tempo e bater um filme do woody allen no mais novo shopping paulistano. o bourbon. um shopping que ficou famoso antes mesmo de ser inaugurado, estrelando matérias histéricas no noticiário metropolitano por estrangular de vez o trânsito das cercanias. fica a um quarteirão do estádio do palmeiras. e a quatro da casa do poeta.
enfim, uma hedonista tarde de consumismo & poesia.
no bourboun, a gente se lembra do porquê de os paulistanos adorarem um shopping center. imagine que tu podes bater perna por lá durante horas e horas sem precisar encontrar um mendigo, um guri cheirando cola ou mesmo um flanelinha. não é adorável? me lembro de ter visto um único negro por todo o bourbon. um negro alto dois metros, largo cem quilos, extremamente bem vestido, terno bem cortado e gravata combinando. segurava um aparelho comunicador. era um segurança. claro. de resto, não vi nem mestiço.
(devem abater os negrinhos que chegam perto a tiros de fuzil.)
o bourbon é um shopping de elite. quase uma redundância. mas tu percebes a vocação do troço ao passear pelas alamedas de mármore e entre as vitrines de lojas de marcas internacionais. o diabo veste prada. ali no canto, terceiro andar, tem uma livraria cultura de trocentos metros quadrados, que me deixou em estado de pânico. me coloquei porta a fora em menos de oito minutos, para não gastar além dos duzentos exorbitantes dinheiros que tinham se evaporado febrilmente naqueles poucos instantes de desatenção.
o bourbon é um shopping de elite. e isso tu percebe principalmente pelas aprazíveis poltronas que ficam espalhadas pelos corredores. onde outros shoppings colocariam desconfortáveis bancos de madeira cercados por seguranças de ar hostil, o bourbon oferece aos endinheirados mui aprazíveis poltronas. pela soneca que tirei, te digo que é melhor que a minha poltrona hipster aqui do the double tree park. em avançado estado de depressão pós-consumo, me afundei numa daquelas poltronas e aumentei o som dos ramones nos auriculares.
Indian giver, Indian giver,
You took your love away from me
Indian giver, Indian giver,
Took back the love you gave to me
a poltrona ao meu lado, enquanto isso, era atacada aos pulos por uma garotinha que fazia do troço seu mosh pit particular. verifiquei se os ramones não estavam vazando de meus potentes auriculares, mas não, a guria pogava mesmo sem música. punk. fiquei reparando na família dela. duas peruas doiradas e uma pequena peruinha adolescente bem encaminhada.
muitos adolescentes no bourbon. rapazes espinhentos com ar de bocó que certamente devem passar por apertos no colégio. mocinhas aprendizes de perua a deslizarem pelos tamancos tentando nervosamente fazer com que esse deslizar pareça remotamente sexy.
um senhor se esborracha no sofá ao meu lado, aquele recém-pisoteado pela riot girl de seis anos de idade. o incauto deve ter deixado o cartão de crédito a bailar por ali. agora se senta aqui ao meu lado em nervoso silêncio. compartilho de seu pesar. será que ele conhece ramones?
acordei agora. neste filme do woody allen, tu já deves saber disso, o javier barden pega a scarlett johansson e a penélope cruz. juntas. e ainda come uma terceira guria, de lambuja. ain´t life grand?
volto pr´aclimação de baú. para tentar compensar. se tu me entendes
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