The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

02 dezembro 2008

sommarlek

nada como uma manhã de dezembro com aquele solzinho de rachar.
as gostosas do the double tree park, em polvorosa, deixaram suas unidades e lotaram os elevadores do prédio vestindo seus roupões de algodão, os roupões protegendo os trajes sumários, os trajes que muito desleixadamente cobrem as partes mais íntimas e mais líricas de seus corpos juvenis branquelinhos.
reparei a intensa movimentação logo cedo, quando fui à padaria madame para o desjejum dos campeões (café preto & bolo de carne). tão logo voltei ao meu recolhimento beat, aqui no alto do 1604, me esgueirei até minha infame sacada. da varanda pude espiar, lá embaixo, as moças a tomarem sol.
uma das gurias, talvez a mais saliente, cruzara comigo no saguão do double tree park. notei que ela segurou o olhar, e o sorrisinho doce, três átimos de segundo a mais do que prevê o código não-escrito da amabilidade entre vizinhos solteiros. entendi essa demora como um convite, um quase-convite?, para que fosse me juntar a ela ali na pérgola da piscina de nosso residencial.
mas sou sujeito tímido. o poeta é também um sujeito tímido.
de modo que me escondi aqui no meu avarandado beat. suando pelo sol de dezembro. suando pela tesão abortada. espiando a guria, ali embaixo, já fora de seu roupão. espiando seu biquini de duas peças, se bem que todo o biquini é de duas peças, devo dizer, mas o biquini dela tem duas peças que não combinam entre si. pelo menos não aqui de longe. decerto, lá de perto, tudo faria sentido. a parte de cima, marrom e cinza, e a parte de baixo, alva e resplandecente, certamente se uniriam em harmonia por adornarem tão gracioso corpo.
o poeta é um esteta. te digo isso e te digo que meus pensamentos se deixam cortar pela chegada de outras duas garotas. são amigas. elas arrastam as espreguiçadeiras - um polissílabo de veraneio pra ti, espreguiçadeiras, essa tua cedilha obscena a escapar num olhar furtivo.
as duas amigas se riem e se tocam e se despem e se admiram.
e o poeta a tudo admira, calado, sabendo que as palavras são tolas. tolas.
as duas gurias fazem daquelas feminices que duas gurias fazem quando juntas numa manhãzinha de primavera-verão. elas conversam sobre filtros solares e, se não me escapa a imaginação muito para além do ocorrido, elas se lambuzam com creminhos hidratantes e cheiram as pontas dos dedos. elas passam creme uma na outra, certamente cientes mas maravilhosamente esquecidas, se fazendo de esquecidas, de toda a grandeza lúbrica daquele gesto delicado.
a outra guria, aquela que atiçou o poeta primeiramente, se mantém sozinha do lado oposto da piscina. talvez incomodada pela efusiva alegria das vizinhas, dá-lhes as costas e se vira deitada de costas para doirar de sol o bumbum pálido e diminuto, como dois pãezinhos quentes que voltam ao forno ligeiro só para corarem por mais um par de minutos. teu bumbum, costumeiramente tão discreto e escondido nestes dias de semana, agora é o coração da manhã de terça-feira d´aclimação.
enquanto as outras duas garotas riem de uma piada primaveril e fecham os olhinhos por conta do brilho do sol.
estariam elas três alheias ao poeta?

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