The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

06 fevereiro 2008

onde andará mayara magri?

oh, o carnaval.
pois te digo aqui que, de todos os longos e insuportáveis dias do carnaval, a quarta-feira de cinzas é meu dia de predileção, é o único que eu tolero ano após ano. por causa do próprio nome, já me parece bem poético. bem mais poético do que, sei lá, terça-feira gorda, não é verdade? quarta-feira de cinzas parece até cousa escandinava, eslava, britânica. não combina com nosso temperamento latino, nosso desbunde tropical. me lembra morrissey, mas me também lembra vinicius com nara leão (fernanda takai)...
acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa brincando feliz e nos corações saudades e cinzas foi o que restou...
porque outra riqueza poética dessa quarta-feira, a maior de todas, é o esquema de feriado funcionar pela metade. feriado apenas até o meio-dia. não me lembro de outra data assim semelhante. ninguém trabalha na tarde de primeiro de janeiro, na tarde de vinte e cinco de dezembro, na tarde de sete de setembro (fora os recos).
nenhum outro feriado, já percebia vinicius, encarna em si, no passar das horas de um único dia, o eterno retorno, o perpétuo recomeçar da vida. a fugacidade da felicidade. essa é a riqueza poética que passará despercebida aos fanfarrões do bacalhau do batata, despercebida aos foliões da escola campeã do carnaval carioca.
e no entanto é preciso cantar, mais do que nunca é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade...

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