The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 julho 2008

momento cronenberg

às vezes eu uso meu forno beat. para aquecer um prato chique para o almoço de domingo. tipo estrogonofe de filé da sadia. estava aquecendo o forno dia desses, com o estrogonofe suando lá dentro, quando me esgueirei pela cozinha até a área de serviço.
o termo é esse mesmo, esgueirar, pois minha roliça silhueta não é muito compatível com a cozinha estreita de meu apartamento hipster pós-especulação imobilária. mas dizer área de serviço, isso sim, é exagero de poeta. como tal entenda apenas o lugar onde se espremem a máquina de lavar roupa, o tanque exíguo e um varal com roupas penduradas all over.
enfim. então fui lá tratar da máquina de lavar, despejar um copo de amaciante fofo e tal, quando, de passagem pela cozinha, meti o joelhão no forno fervendo a duzentos e poucos graus centígrados. como boi tatuado em brasa. dei um berro e meu joelho direito ganhou uma segunda rótula. uma rotunda mancha avermelhada.
a mancha avermelhada ficou rosácea e ficou roxa nos dias seguintes. ganhou um aspecto escamoso, com uma acidentada topografia rachando a epiderme lanhada pelo calor. até que hoje acordei com uma espécie de aconcágua a apontar no meu joelho. uma bola de pus kingsize.
fui agorinha até o banheiro e meti o dedo na ferida. pois adoro um clichê. fiz uma punção a tapa. esguichando pus no piso do banheiro. como um gêiser a brotar das camadas tectônicas de minha epiderme arroxeada. um jato de pus. tipo o jeff goldblum em "a mosca", aquele filme do cronenberg.
sequei a ferida na marra. agora carrego apenas uma cicatriz. a lembrança murcha do que já passou, ficou para trás. a poesia queimada em brasa na pele do poeta. tipo broken heart, tu sabes?
e estou pronto para a próxima.

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