The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

19 dezembro 2008

you want somebody you don't have to speak to

gosto de procurar novas trilhas urbanas. como um cortázar d´aclimação. todas as manhãs, a zanzar pel´aclimação. liguei o bob dylan em meus auriculares, the reincarnation of paul revere's horse, but the town has no need to be nervous. desci pelas escadas. se o brito faz isso todo dia e o brito é velho bem velho, então esse deve ser mesmo um bom exercício. desci pelas escadas até o átrio do the double tree park. uma vantagem das escadas de incêndio é que por ali, ao contrário dos elevadores, não há câmeras de vigilância interna. modo que o porteiro adriano ficou assaz surpreso ao me ver lampeiro já em frente ao portão da rua. dei-lhe bom dia, being polite & casual, e tomei a loureiro da cruz. a loureiro é uma rua que muito me enfastia, então quebrei na primeira esquina e tomei a paralela, a rua castro alves, a rua do poeta negreiro. a castro alves começa feia e suja e beat, nas cercanias maltrapilhas do hospital do servidor público, então ela cruza a pires da mota e então sai da índia para a bélgica, vai ficando mais penteada, asseada e dândi à medida que se aproxima da aclimation avenue, do aclimation park. tu desce um ladeirão engrenado em segunda pelas calçadas quebradas da grand ciudad e, lá pelas tantas, resolvi me desviar pela topazio street, evitando o aglomerado de coreanos saudáveis a trotar pelo parque da aclimação nas manhãzinhas de sol industrial. qual cortázar, resolvi arrastar minha carcaça beat até a praça general polidoro, refazendo hoje o mesmo caminho aleatório que tomara ontem em semelhante rompante. a revisitar meu caminho recente, a paisagem urbana ainda freska em minha memória, me peguei a pensar a respeito da impossibilidade da completa repetição. o déjà vu é uma falsa impressão, tu viu? não sou o kamarada que fui antes. agora ouço zimmerman, ontem ouvia cat power a esta hora, nesta esquina. ontem ainda era um jornalista empregado, e hoje não sou mais. a própria rua, em tão pouco tempo, já não é de toda sorte a mesma rua que foi ontem, anteontem. o caminhão de lixo passou e levou aqueles sacos plásticos. o mendigo foi fazer ponto no outro quarteirão. a parada de táxi está vazia. o dia da marmota, te digo, é uma farsa. disso me apercebo naquele instante. e não sei te dizer se a sensação que fica agora é de conforto, ou de vazio. subo então a alabastro, refazendo a trilha que já não há. e fico a me perguntar, tal cortázar again, qual foi mesmo o rumo que tomei? onde me desviei?

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