aclimação catorze graus
tu me perguntas o que faço acordado a estas horas.
- não é o poeta do meio-dia? então não tinha trocado o sereno pela poesia solar?
- verdade. mas esse troço de poesia não tem hora marcada e não tem como evitar quando te sacode e te levanta do colchão. vou varar a noite até passar.
abre a janela e deixa a friaca entrar. vai para a varanda e acende um cigarrillo espiando as luzes amarelas piscantes dos sinais de trânsito atordoados com o frio. parei de fumar. e a friaca me dá um nó na garganta, como apertando a glote. não deveria ter parado de fumar.
o inverno é para isto: fumar, tossir, agasalhar, varar as noites geladas d´aclimação.
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