The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

04 agosto 2008

der himmel über berlin

te digo que sofro de claustrofobia. mas não sei te dizer se é uma condição genética. se é ressaca espiritual acumulada depois de anos e anos em inferninhos à meia-luz com rock and roll em volume extremo. se é simplesmente um desvio de minha conduta habitual acentuado pela idade avançada. ou se foram meus abusos químicos que me levaram a esse insuportável sentimento de opressão física e psicológica cada vez que hoje me percebo encarcerado em algum night club.
noite dessas, então, a turma desceu lá para o clube berlin, na barra funda. poderia ser pior. poderia ser a famigerada rua augusta, ali no sarajevo ou mesmo naquele lugar apropriadamente denominado inferno - provável referência à qualidade artística de suas atrações musicais.
mas era uma banda bakana, o kill karma. e a banda despencou para essa gig, como anunciou o mestre de cerimônias john pothead ao respeitável público, "directo de madrid". e o pessoal da banda ficou aqui no the double tree park tocando o terror internacional neste respeitável e familiar residencial, on booze n´aclimação, european way.
ah.. e o baterista da mencionada banda é nosso brother andrés de garcía, el tema del día. e garcia é irmão. então... berlin.
a primeira hora em berlin foi bacana. dava pra ignorar o som ruim, com um jesus and mary chain perdido ali no meio. o pé direito alto, até dava pro ar circular, até dava pra respirar. mas o tempo foi passando, e o lugar se encabeçando. se aquilo lá era berlin, então eu era um judeu polonês.
quando o dj mandou na sequência joy division (isolation) e cyndi lauper (girls wanna have fun). fiquei incomodado. era bipolaridade demais pra mim. me levantei da mesa em protesto.
pedi uma long neck. só tinha stella artois. como em bruxelas.
antes do kill karma "subir" ao "palco" tinha ainda uma banda de curitiba cantando em inglês e tocando por insupórtáveis trinta minutos, parece que felizmente não tinham repertoire para mais tempo. me pergunto como é possível tantas bandas ruins saírem do paraná. pensei em boi mamão. era o momento de uma prison break.
arrombei a porta do berlin. o segurança deu um passo em minha direção. desculpe, senhor, mas só vim respirar um bocadinho de ar puro aqui fora, portanto te pergunto se seria possível.
o cordial leão de chácara me deixou escapulir até a calçada. nunca tinha percebido como é fresco e puro, higiênico e saudável, revitalizante e primaveril o ar da pacata cidade de são paulo. meus fatigados pulmões quase sofreram uma alveolar overdose de oxigênio, fartando-se com tanto ar. tanto ar.
minhas pernas bambearam. fiquei tonto. quase perdi o equilíbrio. me encostei na parede imunda antes que desabasse na calçada.
ah, a juventude. um grupo de youngsters esbaforidos e entusiasmados bate à porta da berlin naquele instante. falam alto, gritam uns com os outros, ligam aos berros para amigos distantes em celulares pré-pagos. duas gurias provocam um camarada que, te confesso de passagem, me lembrou o jovem berna beat, ainda entregue a seu juvenil apetite por destruição.
sério que você meteu na bunda?, uma das garotas pergunta para o rapaz. gostou de meter?, a outra garota atravessa, sem esperar resposta, provocando o camarada, puxando pelo braço. sim, claro, enfiei na bunda - ele admite com a singeleza de um franciscano - mas antes passei um bocado de sabão de coco por fora. ah, sabão de coco?, as gurias quase têm um troço. sabão de coco, daqueles da pia da cozinha, de lavar prato, para poder penetrar, um supositório de sabão de coco. a palavra "supositório" deve ter chamado a atenção dos outros três amigos, que se acercam para ouvir melhor. tu fez um supositório de cocaína? e deu certo? risadas. o syd barrett (melhor, o fernando collor) daquela turminha de infantes on drugs sorri de leve. ah, a soberba. ele não disfarça o ar de superioridade diante dos coleguinhas descrentes. sibila a resposta com a melodia dos profetas iluminados... claro que deu onda, derreteu lá dentro, deu uma onda forte e...
mas pingou para fora?, alguém pergunta.

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