The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

02 agosto 2008

sobre o décimo-segundo andar do edifício eneide

uma das minhas grandes frustrações urbanas era a de nunca ter tido uma vizinha gostosa no prédio ao lado, uma vizinha gostosa que eu pudesse espiar pela janela. tipo james stewart.
o john pothead, por exemplo, tem uma vizinha assim. que gosta de passar as roupas, lenta e gentilmente, de fronte à janela, vestindo apenas uma blusa justinha e uma calcinha. o pothead é um cara de sorte com as gurias. até pela janela, discretamente, ele tem as manhas. e eu te confesso que, sim, sentia muita inveja de mister potman e sua vizinha gostosa. mas não sinto mais, não mais...
acontece que minha varanda beat, no décimo-sexto andar do residencial the double tree park, tem um ângulo assaz privilegiado para a atenta observação de tudo que se passa no último andar, o décimo-segundo, do edifício ao lado na rua pires da mota, o edifício eneide. foi o próprio john pothead quem, certa feita, queimando fumo em meu avarandado beatnik, surpreendeu minha vizinha peladaça lá no eneide.
porque o apartamento dela é uma espécie de cobertura, que tem um puxadinho estilo greenhouse e uma comprida varanda, que liga o apartamento a esse puxadinho. no meio dessa varanda, estão um singelo varal de roupas e - inadvertidamente - uma excitante ducha ao ar livre.
e a guria estava lá... tomando banho com o namoradão - juntos, naquele flagrante clima de intimidade pós-coito para o qual os dias de domingo são tão propícios.
o chalub, por coincidência, estava aqui no 1604 justamente nessa hora. e ficou de tocaia com pothead, espiando o casal assim de ladinho, os dois voyeurs mui tranqüilos, espichando o pescoço na varanda. eu não me contive, me lembro disso agora, e gritei "gostosa!" pela janela, deixando chalub e pothead bem p*tos comigo.
o cara acabou percebendo, mais tarde, que a vizinhança estava de olho na garota pelada ali ao seu lado. e nem se importou. continuou sua ducha. a guria meio que ficou sem graça e tentou se esconder precariamente atrás de uma portinhola de ferro. mas não interrompeu o banho. afinal quem colocou aquela ducha ali naquele lugar queria mais é brincar de big brother n´aclimação.
ela continua por lá, minha vizinha gostosa. e continua sem roupa.
hoje cedo, agorinha há pouco, ela estava peladinha a retirar do varal os lençóis que secaram ao vento da noite passada. ela sempre usa lençóis brancos.

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