o banheiro deste meu novo apartamento beat não tem janelinha basculante.
de modo que quando o trabajo é mais intenso, o cheirinho do labor paira sobre o apartamento, como uma nuvem cinzenta, até que a brisa serena da manhã o leve, aos poucos, janela a fora.
(digo brisa serena da manhã porque essa é a hora do dia em que me dedico mais detidamente a esses assuntos de lavabo. se tu me entendes.)
o banheiro deste apartamento 1208, já sabes, não tem basculante. mas tem uma espécie de ducto interno escondido dentro de seu forro de gesso, é um ducto que vara todo o residencial the double tree park.
de modo que o banheiro é uma pequena caixa de ressonância do prédio.
one of these mornings, por exemplo, estava justamente tratando de colocar em dia minha conversa com o celite quando senti o sexteto de miles davis a reverberar pelas entranhas do prédio. kind of blue. não deu outra: era o john pothead, meu vizinho do décimo-primeiro andar & grande entusiasta de john coltrane, a deixar sua vitrola no último volume.
lembro dessa história porque estava a contar sobre o ducto interno do double tree, que paira sobre meu banheiro. esse mesmo ducto jazzy traz também uma delicada e sugestiva marolinha cannabika, volta e meia, a adentrar meu lar hipster. nada de exagerado fumacê, nada disso. apenas uma mui discreta presenza. não que tu a percebas de imediato, mas o bom cão farejador já se vê treinado presse tipo de situação.
será que essa também é obra y graça de meu amigo john pothead?