The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 julho 2006

the one

me lembro de outro dia desses. show do supergrass em atibaia. num hotel-fazenda. no meio do mato. green grass e tal. onde, lá pelas tantas, no meio da noite, uma guria atravessou o gramadão e chegou direto em mim. e eu estava meio fumado, meio lento, demorei a entrar no espírito. "ei, você tem seda?" ahn. puxa, não, não tenho...
lembrei disso porque ontem rolou parecido. não foi em atibaia. foi no sesc pompéia. pouco antes do show dos forgotten boys. uma guria atravessou a pista e chegou direto em mim. "ei, você fuma?" ahn, socialmente... "mas fuma qualquer coisa?" ahn... como assim? "é que tenho um beque apertado aqui', ela confessou, numa risada graciosa. "você tem isqueiro?" puxa, não tenho...
sei não. desconfio que tenho cara de quem usa drugs.

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30 julho 2006

forgotten boys

os beats se arrumam para ir ao showzinho.
berna beat de chapéu e cachecol chileno. john pothead com camisa da itália tetracampeã comprada de camelô.
- e aí, pothead? vai cair no pogo hoje ou vai ficar pagando de tiozinho?
- vou ficar de tiozinho mesmo. tô com torcicolo.

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28 julho 2006

the backup files

meu computador beatnik deu pau. numa bela manhã de julho, ele simplesmente morreu. recusou-se a funcionar. para sempre. a tela escura, muda. com seu cérebro eletrônico em coma, devem ter ido para as cucuias cibernéticas algumas arrobas de poesia urbana e de prosa revolucionária - além de um tanto de cinema libertário, independente e transgressor (clit).
então, dá pra processar bill gates por perdas & danos causados por uma cópia pirata de windows sei-lá-o-quê?
(mr pothead acha que foi um vírus dalgum site de putaria.)

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once in a lifetime

abri a porta do elevador. e dei de cara com a joss stone, a moça do novecentos e três. ela estava chegando do supermercado hirota. algo assim. sacolas de plástico na mão, abrindo a porta de casa.
- oi, tudo bem?
ela me sorriu, com seu perfume de california dreaming.
- ahn mslpsahhj...
eu respondi, com minha característica verve diante de loirinhas faceiras.
joss sorriu. e se fez de casual antes de entrar e fechar a porta.
- como anda quente este inverno, viu?
- um bocado.
oh. sim. foi exatamente o que eu disse. "um bocado." ainda pensei um pouco antes de me sair com essa. e depois completei com um sorriso panaca. "um bocado." eu sou f*da, ahn? podecrer.

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the life in loureiro st

the double tree park possui ampla área de recreação. churrasqueira. piscina com deck de madeira. salão de festas. academia de ginástica. sauna mista.
les alpes possui quadra poliesportiva para a prática de futebol de salão, basquete, handebol e queimada. e churrasqueira. piscina com pérgola de granito. um parquinho para as crianças.
(não há crianças no the double tree park. nã. mentira. há crianças. mas são poucas. até dá pra evitar.)
the buckingham palace possui vasta piscina. mas nunca vi ninguém a se banhar nas águas de buckingham.

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if you could wear my shoes

estou no apê beat de john pothead. entrei porta a dentro porque tenho a chave reserva. de tocaia por aqui, décimo primeiro andar do the double tree park, espiando o movimento pela janela. aqui estou seguro, aqui ninguém me descobrirá. nada como uma mudança de mocó para despistar os agentes da contrarevolução.
um apartamento com vista para a rua josé getúlio. é chique o apartamento de mr pothead, the corporative beat man. fico de olho na josé getúlio. espio o movimento em frente à capeline rotisserie. nem preciso me levantar desta cadeira beat onde sento para batucar estas linhas. apenas estico o pescoço e - com cuidado pra não dar um mau jeito no lombar - posso espiar a calçada e parte da rotisserie. às moscas. tem andado assim desde que o tiozinho português sumiu (quem sabe foi pego por agentes da contrarevolução). às moscas, a rotisserie. tem sido assim desde que troquei seu balcão cheirando a álcool e clorofórmio pelo almoço novecentos e um da grelha george foreman.
daqui do mocó pothead também posso espiar o movimento em frente à churrascaria rod luz, ali abaixo na josé getúlio, pouco depois da igreja universal, da padaria madame. sob o toldo cinza da rod luz, um flanelinha escapa do calor trinta graus.
o movimento é intenso na josé getúlio. ali bem diante ao supermercado dany. mr pothead me disse, outro dia, que os dois irmãos da lial cabelereiros são baianos rubro-negros. tenho pensado em cortar o cabelo desde então. mr pothead me falou, outro dia, de sua cisma com o bar do mordestino zé quebrado. pode ser um negócio de fachada. pode ser. nunca se vê clientes por lá. apenas zé quebrado e seus amigos jogando cartas sobre a mesa de bilhar.
nunca vi uma partida de sinuca no bar do nordestino zé quebrado.
penso nisso tudo, nesses fragmentos de pistas da contrarevolução, sem tirar os olhos de meu celular beat motorola. que já vai tocar, já vai tocar, já vai tocar. aguardo importante ligação. tem algo a ver com poesia urbana. mais do que isso não posso adiantar, papito, sobre o telefonema que cá espero. algo me diz que a poesia urbana pode mudar minha vida. nossas vidas.
talvez por isso eu tenha me mudado para o apê pothead.
espio o movimento em frente ao bazar fenícia. te digo que é estranho ver as calçadas da pires da mota assim, desse jeito, vazias e melancólicas numa sexta-feira.
preciso ir para a varanda. quero fumar the careta one. mas a dona maria rosa chaveou a porta da varanda. dona maria rosa chaveia a porta da varanda do décimo primeiro andar.

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Te troco por outra rapidinho

Tarde de calor em sampa. Mui hot. Aqui, no vigésimo primeiro andar – o escritório. Neurônios se arrastam para dar cabo desta sexta-feira. O peixe do almoço nada em minha entranhas. Quer sair. De volta à vida. Eu também. Quero respirar. Penso em mil coisas. Para o tempo, oh tempo, passar mais rápido. Sim, uma típica tarde de tédio. Nada mais. O que a torna mais tediosa é a expectativa de que tudo acabará. E amanhã será sábado. Mas, agora, é mais slow motion do que nunca. Não fumo mais cigarros, o melhor amigo dos momentos modorrentos. Sinto falta do velho (hábito) amigo. Tudo bem. Tudo passa.

Há, sim, algo a fazer. O nobre trabalho. Muitos números, a economia anda. Empresas ganham dinheiro. Não me furto ao trabalho. Eu, não. Não sou louco. Sou consciente de que nasci pra servir. Pra produzir. O que seria do mundo sem minha produção? Fim dos tempos, sem dúvidas. Produzo. Produzo. Adoro a palavra: produção. Não me importo com os sorrisos tristes dos trabalhadores. Com os rostos sulcados. Por estas rugas, passam pulgas. Do hálito amargo de café e cigarro. Do tesão ressecado. Não. Produzi como um cavalo no último ano. Vou só dar um tempo no final de semana. Sacar minha espada e cortar umas cabeças. Just have fun, pra variar.

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27 julho 2006

o único rubro-negro da aclimação

aconteceu lá pelos vinte e oito minutos da etapa inicial. foi o leo moura quem pegou a pelota próximo à risca da grande área e soltou aquela bicuda. o chute bateu no corpo de um defensor e sobrou lá nas imediações da meia-lua. a bola espirrou assim meio torta, meio quadrada. mas o juan apareceu vindo de trás e, no caminho, acertou a passada para pegar de primeira. sem chances para o arqueiro oponente. forte. e a redonda morrendo mansinha na costura do filó. no cantinho.
me levantei num pulo. quase derrubei a televisão. dei um passo e abri a porta da varanda num empurrão. me lancei pro lado de fora, debruçado no parapeito.
"campeão! campeão! campeão!"
me esgoelei. berrei cousas que já não me recordo, cousas outras, na euforia da vitória.
fiquei rouco e desabei sobre o sofá.
lá fora, nenhum grito. nenhum agito. nenhum fogo de artifício. nenhuma carreata. nenhum bêbado na porta do bar da miriam.
dormi feliz. na alegria solitária inexplicável de ser o único rubro-negro da aclimação.

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25 julho 2006

palpitações

aquela escadaria
pra praça josé cury
me dá taquicardia

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24 julho 2006

the slightest of nods

vi tuas coxas
as duas coxas
pude reparar que eram duas

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a nova era dunga

ah! fodeu, cara! fodeu... agora fodeu mesmo! ah, fodeu de verdade! fodeu tudo.

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how soon is now?

the very gates of the aclimation park se abrem para a entrada da tiazinha coreana acompanhada por seu poodle cagão. oh, que é aquilo? um cachorro ou um rato? o camundongo canino esticou suas canelas finas, apressadas em direção ao primeiro arbusto verdulengo na entrada do parque. levou um tranco no caminho, num quase ganido abafado por sua educação pet shop. a extremista madama coreana botou seu ratinho de estimação em rédea curta. demorou o tempo de umas quatro passadas coreans até o quadrúpede poder esvaziar sua bexiga delicada entupida de mijo papita. os orientais, assim tão zen, passeam pelo aclimation park às cinco da tarde com seus ratinhos de estimação.
mas eu tenho pressa, cara, tenho pressa.
escurece rápido em são paulo. driblo o poodle e sua dona, aceno para a loirinha do cooper, que nem me vê, entretida em seu i-pod auricular anaeróbico cavalgante, e escapo de mansinho pelos early gates do aclimation park.

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23 julho 2006

the spiritual guide: a transporting aromatic experience

guide your mind to celestial heights
transport your spirit to heavenly moods
and spread the fragance of peace

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22 julho 2006

always takin´a dump

sempre que toca o telefone
eu estou no banheiro
toca telefone
estou sentadão

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21 julho 2006

the naked kiss

- guria, gostei de ti. mas queria te fazer uma pergunta. na sinceridade.
- tudo bem. diga...
- tu beija bem?
- sabe... nunca reclamaram. falam que beijo bem. mas só vendo pra crer.
- creio que sim. mas como tu beija?
- ah, sei lá.
- de olhos abertos? de olhos fechados?
- fechados, né, meu bem?
- pra quê? pra se concentrar melhor?
- sim. ai, seria horrivel beijar de olhos abertos...
- e o que tu faz com os braços, as mãos, quando tá beijando?
- os braços eu deixo atrás do pescoço dele, às vezes, se não...
- se não...
- esquece.
- tudo bem. acho que entendi.
- entendeu o quê? entendeu no bom ou no mau sentido?
- e tem algum mau sentido aqui?
...
- camila...
- ahn.
- acho que tu beija bem, sim.

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Lições capitalistas

Se quiser crescer a base de clientes, sua rentabilidade fatalmente será menor. É inevitável, folks.

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20 julho 2006

the incredible building machine

o grande caminhão tremendo as calçadas, espantando as crianças, engarrafando o trânsito. ejaculando hectolitros de milk shake sabor cimento. espirrando seu sêmem industrial sobre o desnudo esqueleto de ferro. fecundando um novo andar de concreto armado. o décimo andar. erguendo as paredes na altura exata, calculada, para tapar mais um tanto o pôr do sol n´aclimação.

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Beautiful

A doce menina de olhos azuis cintilantes. E pele de alabastro. Escondendo a beleza num coque de cabelo. Passava por ela. Nem notava direito. Um dia passei pelo seu computador. Estava lendo algo sobre Bergman. Aquele, o Ingmar. O sueco. Eu mesmo não vi muitos filmes do cara. Vi Morangos Silvestres. Talvez seja o suficente para a pequena. Gosta de Bergman? Não sei, não conheço, respondeu. Mas quero ver essa mostra. Atônito, respondi. Você não tem cara (carinha de anjo, de 18 anos) de quem vai gostar. E ela: ah, mas eu gosto de filmes lentos, em que as cenas demoram e não acontece nada. Ah, respondi, então você vai gostar. Depois desse dia, ela soltou para sempre os cabelos cacheados. E eu com aquilo na cabeça. Por que, agora, os cabelos soltos?

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19 julho 2006

tchau, parreira

e qual será a nova comissão técnica da seleça?
faça sua aposta...
a) paulo autori & zagallo
b) felipão & murtosa
c) vanderlei & sua manicure
d) leão & falcão
e) berna beat & john pothead

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teoria geral do processo

acho que os irmãos cravinhos vão puxar prisão perpétua.
e a suzane vai ser capa da playboy de setembro.

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18 julho 2006

hicc-outs

cuecão
no inverno
dá soluço

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big neuras

o rancor é um isolante térmico

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irmãos cravinhos

cansei de são paulo, sabe? muito estresse aqui. muita violência urbana. muita insegurança. muito caos todo dia sempre. deu no saco. não vale a pena. quero me mudar prum lugar mais tranqüilo. um lugar mais civilizado. para eu poder escrever meus poemas pseudos. meu lance agora é qualidade de vida. me mudar pra um lugar bem distante. tô pensando no líbano. mas o iraque é sempre uma opção.

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reação

cineminha às duas da tarde.
essa foi minha atitude diante do atropelo da vida moderna.

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17 julho 2006

terceira divisão

ôpa. deu no noticiário esportivo do cachaceiro vanucci:
"parreira deve formalizar sua ida para o fluminense nos próximos dias"
hehe. bem-feito.

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novecentos e três

joss stone voltou de turnê internacional. há semanas e semanas não via joss. saudades. joss stone é minha vizinha de porta, mas, sabe como é são paulo, um cá e outro lá, aglomerada solidão, como diria o poeta tom zé. acaba que a gente nem vê o vizinho de corredor. mas pude acompanhar a chegada de joss em casa. hoje. me espichado atrás de minha porta. adoro esse troço, olho mágico, mas que grande idéia para o voyeurismo urbano, não? a guria loirinha chegou fazendo um esporro danado, uma barulheira com o carrinho de compras. tive o talento e o tempo de chegar sorrateiramente à porta e ali me debruçar voyeuristicamente. pude reparar que joss deu uma bagunçada no cabelo e agora tá parecendo mais a mariana ximenes do que a joss stone. não chega a ser um mau negócio, não. quase abri a porta e ajudei a guria com as mercadorias. quando quero, posso ser um gentleman beat, que isso fique claro pra quem ainda não se tocou do quanto sou afável e cordial a um simples gesto. mas hoje não tive a presença de espírito para tanto. em verdade, quase nunca tenho presença de espírito diante de loirinhas que parecem a joss stone (ou a mariana ximenes). então fico por lá. atrás da porta. espiando em silêncio contrito a elegante graciosidade de uma guria que não sabe que está sendo observada. deve ser meu instinto documentarista. somado à minha bunda-molice.

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a full time job

te digo que omtem e hoje mal saí de casa. só um pulinho ali na esquina pra espiar o movimento humano. sabe o crime organizado? bueno. nada a ver com o crime organizado. fiquei dando uns tapas nuns textos. poesia urbana e tal. esse lance de ser beat, sabe? ser beat é um troço que te ocupa um bocado.

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16 julho 2006

ânderson lima

estralei mais uma latinha de skol. num arroto fechei a geladeira. burp. desviando das garrafas no chão, encontro o caminho até o colchão. enquanto são caetano e santos empatam na televisão. o sol baixando atrás dos edifícios da aclimação. acendo mais um cigarrinho e conto tuas estrelas de plástico estraladas no teto. são quatro. com todo cuidado. pra brasa não cair no edredon herchcovitch.

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jockey full of bourbon

acordo a uma da tarde. cansadinho ainda. uma fome cavalar me golpeando nas costas. umedeço os olhos na pia do banheiro. pago pipi no celite. esqueço de puxar a descarga e subo a bermuda. catando uma blusa no chão, entre as bitucas de cigarro. arrasto a senil carcaça até o elevador, espantando o azedume de ressaca num golpe meio muhammed ali, me jogando contra as grossas paredes do the double tree park. consciente, consciente, é preciso estar consciente. num golpe de sorte, o elevador está vazio. ajeito minha cara no espelho enquanto o caixote de aço desce verticalmente em velocidade avançada. menos um. saio pela porta da garagem enquanto tento murmurar "e aê, boa tarde, tá na tranqüilidade neste aprazível domingão? que bão" ao garagista mas ainda não estou bem certo do queconsegui expressar na verdade. calculo os passos sonados até a esquina da rua josé getúlio. aquela idéia permanente de matar um churrascão no rod luz. mudo de calçada e tomo o rumo de casa quando percebo a aglomeração à porta da churrascaria. é bem bacana morar em são paulo. o chato é que sempre trezentas e vinte pessoas têm a mesma idéia de diversão que você. nada de almoço de domingo no mais sofisticado restaurante da rua josé getúlio. resignado com o meu destino urbano, entro na padaria madame e peço um pedaço de pizza, uma coca-cola lite. minha vida bem que parece um filme, volto a pensar, parece um filme do jim jarmusch. com tom waits na trilha-sonora. a idéia me agrada. familiar como assistir a um filme preto e branco às três da manhã. a idéia me agrada.

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15 julho 2006

don´t you ever bother calling me

meu celular não funciona. deve ter algo a ver com o sistema de créditos da telefonia móvel pré-paga. deixa pra lá. celulares explodem anyway. e eu tenho outro número, tu sabes, o número do véio telefone fixo. pode ligar. mas a secretária eletrônica light, cuidado, é uma pegadinha. porque não sei mexer no troço. nunca soube. me foi oferecido pela telefônica - simpática - a módicos cinco reais e alguns centavos mensais. depois de muito insistir, consegui que não me cobrassem mais essa taxa por um serviço que nunca pedi. bueno. não cobram mais. minha conta tá aqui, não cobram mais. nem por isso desligaram minha secretária eletrônica light. ela continua ali, a espera de tua ligação, com sua desperta eficiência robótica. e eu continuo sem saber como funciona a bagaça. às vezes, tarde da noite, toca o telefone. e eu arrasto minha sombra pela vastidão de meu quarto-sala. não é ninguém. é apenas minha secretária eletrônica light, virada sem dormir, com sua infalível cortesia metálica pré-gravada. "há nova mensagem em sua caixa postal. favor digitar a senha", ela me avisa, cordial, em seu loop de voz femina, quiçá uma atraente operadora de telemarketing de vinte e poucos anos que mora com a família em pirituba noiva de um policial militar. puxa. brigado, querida secretária eletrônica light, brigado por se importar assim com meus tantos recados. mas qual é a senha?

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14 julho 2006

tarkovski

às vezes penso na minha vida como um longa-metragem. de baixo orçamento. cada dia é um longo plano-seqüência cheio de tempos mortos. o ator principal é um sujeito meio canastra. mas algumas coadjuvantes são simpáticas e bem apessoadas. tu pode reparar: alguns figurantes aparecem em cena e ficam olhando pra câmera. total cinema verité. quando eu durmo, troco o rolo de filme. quando eu acordo, improviso mais um plano virtuoso de meu espetáculo.

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a liga das senhoras católicas da aclimação

bueno. mudando radicalmente de assunto... tu viu a novela ontem? a nova novela das oito? deu polêmica. a ana paula arosio fez um striptease pro edson celulari. ela pagou peitinho. quero dizer, ela ficou nua. e deu o maior rebu. as senhoras católicas de são paulo, amigas do serra e eleitoras do alckmin, mandando suas cartas iradas pra rede globo. e quilos de e-mail nos sites noticiosos -não viu? e tudo por causa de um par de seios. eu fiquei aqui pensando. o que um peitinho, dois peitinhos não fazem, né? a ana paula arósio é uma moça tão bonita. que mal tem? pequenos e bem delicados os peitinhos da ana paula. tão discretos. devem ser macios, te digo. mas ela mostrou só um pouquinho. e mostrou um pouquinho do bumbum também, assim de ladinho. bonito de se ver. tu não viu a novela, né? perdeu.

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barton fink

sento na cadeira e puxo minha máquina de escrever pra diante de meus olhos. quero dizer, ligo o computador. acendo um cigarrinho, pra arejar as idéias. a página de papel em branco ainda. quero dizer, a tela do word em branco ainda. tenho que escrever um roteiro. ou dois. ou três. ou mais. quero revolucionar a narrativa cinematográfica. fazer cinema libertário, independente e transgressor. ateio fogo nos meus volumes de syd field. e ateio fogo nos meus volumes de buñuel também. porque sou anarquista. já escrevi uma cena. um longo plano-seqüência. preciso de um diálogo. de um diálogo atroz. acendo outro cigarrinho. o último antes de parar de fumar. arrasto minha carcaça welles até a varanda.
as crianças brincando na quadra poliesportiva.
percebo a cena chave que me falta:
e cadê a poesia, pôrra? cadê?

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i´ve got a bike, you can ride it if you like

quando era moleque - e bem moleque - eu posso me lembrar agora que tive aula de música, aula de educação artística. mas nunca me apresentaram a syd barrett no colégio. nem a miró ou a pollock. da mesma maneira que nenhum professor de literatura mandou ler john fante. nunca mandaram ler salinger.
temos que descobrir por nós mesmos o que é realmente bom.
ou dar a sorte de ter um irmão mais velho, pais hippies, um tio maconheiro.

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nono andar

tem aquelas que não páram de falar
tem aquelas que te dizem "bom dia"
tem aquelas que se olham no espelho
tem aquelas que falam baixinho, que é pra tu não ouvir
tem aquelas que fingem não te ver, ali olhando pro chão
são estranhas as pessoas no elevador

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13 julho 2006

the very amazing uptight silence tonight

ou "a paz por trinta e oito centavos o par".
dia desses dei uma banda lá no setor de indústrias sul, o gueto mais urbano da bucólica brasília, df. entre caminhões e carretas e poluentes caminhotes para comprar tampões de ouvido numa loja de ferramentas e altas engrenagens da construção civil.
tentei um par de tampões de silicone, sabe?, assim, em forma peniana, que penetram no canal auditivo e ficam lá dentro - metidões - enquanto teoricamente abafam o esporro sonoro a teu redor. teoricamente. bueno, podem ser de muita serventia quando tu tiver lá na construção, segurando a britadeira, rompendo com furor metálico cada centímetro de concreto armado.
mas aqui, deitado sobre meu colchão beat kingsize no piso gelado do nono andar do the double tree park, tentando desesperadamente esticar por mais quinze minutos minha noite de soninho gostoso, interrompida às sete da manhã com a paquidérmica sutileza de um grupo de operários pontuais, esses tais tampões de silicone - de tecnologia pomp, conforme avisam os fabricantes na embalagem - são tristemente useless. eles ficam lá em meus ouvidos, socadões socadões, dando uma coceirinha enjoada e um certo incômodo anatômico na hora de fechar os olhos e tentar dormir um bocadinho.
o pop-pop-pop-trac-pamp-traaan eterno da construção aqui defronte. raios. puxo a cordinha alaranjada, a cordinha de emergência que se prende na ponta do tampão e num só golpe - pop - tiro a rolha de meu cerumento duto auricular.
não deu.
second try, papito, porque não desito fácil. vou apelar agora para um par de tampões de silicone, novamente, mas estes advindos de uma tecnologia desportiva. a tecnologia speedo. desenvolvida para os nadadores olímpicos. é o mesmo tampão do ian thorpe, do pieter van den hoogenband. deve ser bonzinho. comprei o conjunto tampônico aquático numa loja de material esportivo. lembro ainda agora de minha melhor pose de nadador de 400m peito ao solicitar pra sorridente mocinha bronzeada por de trás do balcão: gostaria, por obséquio, do mais vedante entre os tampões desportivos. ela me alcançou um conjunto de quatro tampões speedo (dois titulares, dois suplentes) num gesto de estudada cumplicidade, mal imaginando que ideais fetichistas selvagens aquele aparentemente prosaico material me ajudaria a atingir. sorri de volta, eningmático e sedutor.
podem ter sido de baita serventia esses tampões speedo no parque aquático de atenas... mas são perfeitamente dispensáveis cá em meu aconchego quitinete do the double tree park. descobri, tal qual um laboratório de física, que água e ar são elementos de diferente constituição e que, acredito em fabricantes, os mesmos tampões que isolam a água não impedem que o ar e as brutais ondas sonoras que nele viajam me afoguem sobremaneira.
guardei os tampões speedo na caixinha e guardei a caixinha numa gaveta no banheiro. é um troço bom de se ter às mãos para quando as calotas polares derreterem e o sertão virar mar.
não deu.
one last try, papito, porque não sou mesmo de desistir fácil. então pude me lembrar daquela camarada, vendedor da loja do setor de indústrias. ele me deu, de cortesia, de camaradagem mesmo, um par de tampones de espuma. não botei muita fé. espuma. nem ele mesmo botou muita fé. me deu de graça. o preço de fábrica é trinta e oito centavos; mas "vou te dar como teste, pra ver se funciona". não deve realmente funcionar ao lado de uma britadeira.
mesmo assim, num gesto de última e exausta tentativa, arrombei o saquinho de plástico que protegia o troço. tipo uma embalagem de camisinha. melhor: tipo uma embalagem de biscoito da sorte do china in the box.
entre uma e outra martelada metálica, meti pra dentro os dois bastõezinhos amarelados. pop, pop. e fechei os olhos. esperando a próxima martelada. a próxima martelada. que virá a qualquer instante esmigalhando meu córtex cerebral. a próxima martelada... só acordei agora há pouco. com aquela sensação marcos pontes de estar encapsulado no espaço sideral.
o grande silêncio de deus me espreitando para além desta manhã invernal na loureiro da cruz.
floating in the most peculiar way...

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12 julho 2006

verde e amarelo na aclimação

verde e amarelo são as cores da estação.
verde e amarelo são as cores da seleção.
as cores dessa seleção p** no c* que ficou pelo meio do caminho e nem voltou para casa. porque não tem casa. fica todo mundo lá espalhado pelas ôropa.
nossos heróis não voltaram pra casa e perderam de ver o belo espetáculo armado na aclimação. as belas cores roubando o cinza de nossa cidade.
fâmulas pátrias em verde e amarelo pendendo dos postes da rua castro alves. barbantes varando a rua de lá pra cá e cá pra lá, ziguezagueando aéreos sobre as calçadas, disputando espaço com as linhas de luz e os cabos dependurados.
o sol desbotou as bandeirinhas brasileiras.
o verde tá meio amarelo e o amarelo tá meio branco.
seja lá quem pendurou as bandeirinhas entre os muros e os postes e os carros da castro alves, achou por bem deixá-las por lá mesmo. como o triunfante registro de todos nossos fracassos. as testemunhas de nossos sonhos mais pueris.
as bandeirinhas ainda estão ali enquanto aqui escrevo, tremulando com o vento.
molhadas pela chuva, esbranquiçadas pelo sol, cagadas pelos pombos.
as bandeirinhas estão ali. esperando a próxima copa do mundo. esperando a próxima eleição. esperando um salvador da pátria qualquer.

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Deu no New York Times!

Para aqueles que acham que há muitas notícias para ler, eu vaticino: Não há nenhuma. Leio os jornais, todo santo dia. Faz parte do meu ofício. Aliviado estarei, o dia em que partir. E deixar para trás as notícias inúteis. Que me ocupam. Que te ocupam. Ocupam almas já pobres e mesquinhas. Não, não. Você já leu a mesma notícia dez, quinze vezes no mesmo dia? Na TV, no rádio, no jornal, na internet. No SMS do seu celular? Já passou por isso? Já viu a cabeçada do Zidane 50 vezes. Os ataques do PCC. A final de Belíssima. As pesquisas eleitorais. Pois bem, já viu, reviu. Olhou de novo. Pra confirmar. Caríssimos amigos, queridas amigas, libertai-vos. E rejubilai-vos com a falta de informação, a maior dádiva que o homem do mundo moderno pode alcançar. Olhe para você mesmo, pobre coitado.

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11 julho 2006

the lunatic is on the grass

"i know a mouse, and he hasn't got a house
i don't know why, i call him gerald
he's getting rather old, but he's a good mouse"
(syd barrett)

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10 julho 2006

Blind Cold Turkey

Vez ou outra passo por fases clean. Sem maconha, sem cigarro. Álcool já não bebo muito mesmo. Sem remédio. Sem lexotan, sem nada. Sinto uma estranha sensação de lucidez. Sou pleno nestes momentos. Apesar do tremor nas mãos. Do medo de mim mesmo. Mas sou mais físico, instintivo. Capaz de escalar grandes alturas. Basta me manter são, o que é mais complicado. A mente é selvagem, quer se desgarrar o tempo todo. Costumei sedá-la, envolvê-la, entorpecê-la. Agora, livre, ela está mad. Sem amarras. Sem crença ou religião. Sem amor da minha vida. Sem empreguinho de carreira. Sem com quem eu me preocupar. Só livre, solta, selvagem e perigosa.

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08 julho 2006

too old to fuck

tem uma casa de repouso na rua apeninos, lá perto de casa. será que me aceitam? será que aceitarão? será que me darão bolinhas pra serenar? será que me servirão sopinha? me darão banho quentinho e me deixarão dormir antes de a novela terminar? será que poderei jogar dominó? um banho de sol pela manhã na ladeira da apeninos?

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nestão

mil e uma maneiras
pra passar a tarde de sábado
invente uma

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soft drink

duas doses de tequila
um dedo de melancolia
te deixam acordada a noite inteira

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the first cut is the deepest

tipo uma felpa em meu dedo
bambuzinho debaixo da unha
tipo corte de folha de papel
microssangramentos capilares
tipo picada de marimbondo
que incha incha incha e roxa
amanhã tô bom

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vinis senis

não quero festinha rocker
não quero showzinho punk
tu me deixou sem canções

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segundo grau

escrevia led zeppelin
nas carteiras do colégio
decalque dos stones
no caderno de espiral

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super furry animal

teu cabelo, teu pêlo, teu rabo-de-cavalo. tua crina selvagem descendo pelas costas. tua nuca nua. essa tua mui rara pelagem. tua pele macia. tu me desperta instintos de taxidermista.

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genéricos

tantos remedinhos saem caro. e nem me dão barato. me mantêm de pé. esse é o barato.

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the books you read

achei bonito quando tu me falou que leu caio fernando abreu. te achei bonita pacas. não sou só eu.

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the very urban poetry

te disse que faço poesia urbana. tu me olhou meio achando graça. que pôrra é essa? - me perguntou. e fingi não te entender desta vez. olhando pro vinco de minhas calças. enquanto inventava uma besteira qualquer.

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às claras

óculos escuros ambervision. o coreano que me vendeu disse que não tinha erro com aquelas lentes roxas. que eu poderia olhar pra ti novamente. sem me cegar.

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dead embryonic cells

estava distraído. quase pisei no teu feto abjeto. esquecido ali no lixão da estrutural. pensei em mim. nas minhas brilhantes idéias abortadas.

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can you hear the grass grow?

te digo que dá pra ouvir o ar se movimentando.
ventando pelos intestinos do grande prédio. murmurando pela tubulação. gemendo dentro das paredes. dá pra ouvir o vento chegando chegando até ventar cuspindo pela saída do ar condicionado.
te digo que dá pra ouvir o ar se movimentando.
descendo pelas fossas nasais entupidas. chiando até meus pulmões cavernosos de nicotina e cannabis e poluição industrial. dá pra sentir o ar ventando nos alvéolos. dá pra ouvir, daqui de perto, os glóbulos sanguíneos trocando o gás carbônico fossilizado pelo novo oxigênio lubrificado com os melhores poluentes automotivos.
te digo que dá pra ouvir o ar se movimentando no meu respirar baixinho. o folêgo é curto.

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06 julho 2006

cineminha

deitada no meu ombro
agarrada no meu braço
ronronando baixinho
macio na sala de cinema

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teu conceito de biodegradável

aquele chiclé tutti-frutti mascado grudado debaixo da mesa. duas latinhas de skol atrás da porta. cerveja morna. bolinhas de papel pelo chão. um saco plástico de doritos. o cotonete amarelo esquecido aqui debaixo do sofá. entre pequenas ovelhas de poeira azul da cor dos teus olhos. quatro ou cinco amendoins pelo chão. o cinzeiro cheio. uma pontinha guardada escondida malocada ainda fumegante dentro da caixa de cd the strokes.
comendo um pedaço de pizza portuguesa pimentão-ovo-calabresa caminhando pela sala pisando nas minhas próprias lascas de unha, unhex, deixadas para trás esquecidas pisadas no tapete manchado de cerveja. aquela mancha amarelada de pôrra.
por onde passo, deixo rastros. não consigo evitar.
a natureza é lenta lenta lenta para me absorver.
me absorve, aos poucos, a natureza.

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Homem dos mares

Sou o Chamberlain de Xogum. Em minha barba habitam histórias. Lindas histórias. Meu barco passou da tormenta. A sereias, as mesmas que arrasaram a tripulção de Ulisses, tentaram me seduzir. Resisti, me salvei, como o herói grego. Mas não sou grego. Sou Chamberlain. Holandês em barco inglês. Barco arrasado pela tempestade. Mas de pé. Sempre de pé. Só preciso fazer uns trabalhos de carpintaria. Uns consertos aqui e ali. E seguir feliz. Mordendo maçãs. Que me protegem do escorbuto. Rumo ao oriente. Onde os homens são cordiais. E as mulheres: lindas e cordiais. Aos que ficam, que enterrem seus pés.

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you can make my motor run

Costumo ter uma certa pena das pessoas sem tesão. Dá pra ver na cara. Quer dizer, não é que elas não tenham tesão (sexual), apenas o direcionam para outra coisa qualquer. Menos importante, é claro. Geralmente trabalho. Pessoas sem sexo tem que trabalhar muito, horas e horas a fio. São briosas e competentes. Geralmente tem olheiras, rugas profundas e austeras. Eu disse ter pena, mas talvez não devesse. Essas pessoas geralmente tem dinheiro, são ambiciosas. Sexo não é pra esse tipo de gente. Sexo é pra quem é descompromissado com a vida. Digo isso do sexo saudável, aquela coisa gostosa de corpo, de comunhão e do encontro casual. Não do sexo psicótico e ansioso do yuppies e workaholics. Estes conseguem competir até na cama, o que é lamentável.

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05 julho 2006

the finest worksong

tenho que parar de uma vez com esse negócio de trabalhar. parar com isso. trabalhar é um troço que não dá futuro. trabalhar nunca deu camisa pra ninguém. trabalhar é uma agressão. trabalhar não tem a menor graça. não há nenhuma poesia em tanto trabalhar. basta!

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trabalhar na sauna

meus óculos embaçados
o ar condicionado estragado
o ar descondicionado

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04 julho 2006

Já se sentiu assim hoje?

“Os que sabem observar-se a si mesmos e guardam a lembrança de suas impressões, os que souberam construir seu barômetro espiritual, puderam notar, no observatório de seu pensamento, belas estações, dias felizes, minutos deliciosos. São dias em que o homem se levanta com um gênio jovial e vigoroso. Com suas pálpebras livres do sono que as selava, o mundo exterior se oferece a ele como um relevo bem marcado, uma nitidez de contornos, uma riqueza de cores admiráveis. O mundo moral abre suas vastas perspectivas, cheias de novas claridades.

O homem agradecido por esta beatitude, infelizmente rara e passageira, sente-se ao mesmo tempo mais artista e mais justo, mais nobre, para dizer tudo em uma só palavra. Mas o que há de mais extraordinário neste estado excepcional do espírito e dos sentidos, que posso sem exegeros chamar de paradisíaco, se o comparo às pesadas trevas da existência comum cotidiana, é que ele não foi criado por nenhuma causa visível e fácil de ser definida...

Prefiro considerar esta condição anormal do espírito uma verdadeira graça, como um espelho mágico onde o homem é convidado a ver-se belo, isto é, tal qual deveria e poderia ser; uma espécie de exalatação angelical, um apelo à ordem, de forma cerimoniosa.”

(charles baudelaire)

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03 julho 2006

grau aumentativo

solidão, tamanha imensidão, já vem em ão

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matinês

bukowski e john fante
nos cinemas da cidade
pena que
os cinemas da cidade
há tempos perderam
suas fachadas de neón

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la premier bonheur du jour

tu botou silicone de ontem pra hoje
ou esse é teu soutien sustentateur spécial?

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till the morning comes

o futuro na marca de cerveja
numa mesa molhada de bar
li o futuro no meu copo vazio

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02 julho 2006

o camelo e o dromedário

“olha lá quem acha que perder é ser menor na vida
olha lá quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar"
(marcelo camelo)

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bar fly, condenados pelo vício

subindo a cento e
nove sul vinte por
hora e bar fechado
luzes apagadas
mesas recolhidas
os garçons a pé
duas da manhã

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if you close the door, the night would last forever

- senta e fica quieta um pouco. toma um drinque e relaxa. já é tarde pra cacete. mas poderia ser pior. poderia ser lei seca. poderia ser cirrose.
- o que você quer comigo? você é muito novo. não sou pedófila.
- e eu não sou estuprador. e bebi demais para ter um hard on. não te preocupes.
- este é teu senso de humor?
- o que nos resta, pequena ébria ofendida, é tentarmos ser abertos e sinceros e cordiais para superar todo esse rancor e abafar por um momento ou dois nossa grande solidão.
- você é bem amargo para um garoto.
- bueno. te disse. eu não queria te dizer as verdades. mas elas estão aí. pendendo do teto, voando ao redor das lâmpadas, caindo sobre as mesas, lambendo as poças de cerveja, se arrastando entre os copos vazios, entre as banquetas, fazendo fila para entrar no banheiro, mijando nas tampas das privadas e saindo sem lavar as mãos, sem dar a descarga, a última gota de mijo secando na cueca. as verdades estão cheirando mal a esta hora da madrugada.
- o que aconteceu pra te deixar assim? você não foi na balada? não pegou garotinha esta noite?
- não. não fui na balada. gosto de ficar em casa. gosto de beber. e não gosto de garotinha. gosto de mulher.
- mas nem velho me dá bola. só consigo um guri metido a poeta. metido a buk.
- nossa grande solidão. bem-vinda.

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te arrisquei a poesia

cansastes das grandes cidades?
ela me perguntou, ao me ver de novo no bar de sempre.
cansei da cidade, não, cansei da humanidade.
e enxuguei o restinho de cerveja morna no fundo do copo americano com marca de batom e dois dedos de gordura.

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restrictly area - do not open

um amor de cinzeiros vazios
na grande metrópole cinzenta
é proibido fumar

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almoço nu

minhas fantasias de meias rendadas, cinta-liga e corpete
assim ao meio-dia
na vitrine de lingerie

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inverno

teus grandes olhos
castanhos
da cor do teu casaco

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alento

num domingo de céu azul
um paulinho da viola
na vitrola
um dia inteiro pra ver soprar as nuvens

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01 julho 2006

the bad luck day

lance de bola parada é f*da.
oh, que azar.

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boa mazinho, boa

tirambaços
a janela tremer
vai cafu!

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