The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 dezembro 2008

body and soul

calor dos diabos no planalto central do brazil
aquele bafo de verão pairando sobre o lago paranoá
nenhum vento, nenhuma brisa, as águas paradas
o lago fumegante, prestes a ferver, como um caldeirão
me atiro no chão, de cuecones, e subo o som na vitrola
sidney bechet ao sax soprano para "body and soul"
pra espantar essas moscas que não curtem jazz
te digo baixinho que o mississippi é aqui
esperando minha barca chegar para subir até the bayou
suando lento, derretendo devagar
como john fogerty, como um personagem de jim jarmusch

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i walk the line

considerações de final de ano. quer dizer, as resoluções...
a) inventar urgentemente uma forma simples e pouco agressiva de ganhar uma graninha qualquer que seja.
b) manter-me beat no coração e n´alma, apesar da resolução anterior.
c) dedicar-me mais à poesia urbana e à arte do amor.
d) chegar junto das gurias seminuas ali na piscina do the double tree park com elegância e decisão - ou chegar junto de, ao menos, uma (1) das gurias seminuas ali na piscina.
e) tratar o brito com mais tolerância.
f) completar a coleção de "two and a half men".
g) dedicar-me mais ao winning eleven, pra detonar o john pothead com maior freqüência.
h) consumir substâncias alteradoras de percepção com maior freqüência.
i) aposentar as tremas, e os acentos diferenciais.
j) aceitar the very kaos e assim levar a vida menos a sério, a começar por essas tantas resoluções.

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30 dezembro 2008

houaiss

e agora? onde meto a trema?
o que faço com teu acento diferencial?

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autobahn

gosto de andar de carro com os vidros fechados.
prezo por minha individualidade, minha privacidade.
vidros fechados.
pra ouvir rock and roll bem alto. pra fazer de sauna.
consumir substâncias alteradoras de percepção.
dirigir tranquilamente sem cinto de segurança.
e furar as blitze do detran em alta velocidade - sem me despentear

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dois mil e nove

e então? onde tu vai passar a virada?
qual tua praia de predileção?
onde vai pular o carnaval?

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anjos da noite

- ei, guria, tu lês eric hobsbawm?
de huddie ledbetter a thelonious sphere monk:
uma trilha sonora para o livro "história social do jazz"
hoje, às 22h, no 'anjos da noite', pela cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o 'anjos da noite' é um estudo social feito pelos antropólogos do TPB.

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29 dezembro 2008

sexta série

era uma aula de matemática,
equações do primeiro grau,
conforme queríamos demonstrar.
a vista comprida admirando
o roxinho
do biquinho do peito da cintia
por debaixo do uniforme branco
do colégio marista.
no dia seguinte,
a cintia apareceu de
soutien rosa com flores
bordadas.
era de se admirar cada pétala rendada
por debaixo do uniforme branco
do colégio marista.
eu olhava
quietinho
achando tão bonito o pudor da menina.

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a hard rain´s a-gonna fall

saudades d´aclimação?
pois te digo que aqui no lago sul não pára mais de chover. quer dizer, chover seria bakana até. aqui no lago sul não pára mais de garoar.
como na grand ciudad do sudeste. aquela água fininha e molhada, aquele vapor d´água que venta de todos os cantos, venta até de baixo pra cima, e vem se condensar nas lentes de teus óculos.
não chove, nem sai de cima. aquela garoinha pentelha a embaçar a manhã inteira, a noite inteira também.
te digo que hoje mesmo acordei faceiro, em grande forma atlética, naquele clima para dar uma saudável caminhada pelas arborizadas e bucólicas ruas do south lake. mas com essa chuva, a valer, ir até o alpendre já está louco de bom.
na agora distante aclimação sempre é plausível dar uma caminhada, troço chato, disfarçada de algo útil. ir até o metrô, ir até a paulista, ir até o centro cultural, ir até a liberdade, ir até o aclimation park, ir até a parada de baú, ir até o supermercado dany que seja. aqui em brazilya-df, no entanto, não tem dessas facilidades, não. tu não vai a pé fazer nada, não aqui no automotivo lago sul. reality bites.
ontem mesmo, oito da manhã de domingo, andei por cinquenta - contados - cinquenta minutos costeando a dom bosko freeway até topar com outro pedestre. foram kafkianos cinquenta - verdade - cinquenta minutos. não é modo de dizer. não é figura de linguagem...
não é exagero de retórica. parecia que eu entrara num universo paralelo, sabe?, um universo bizarro, onde os homens foram substituídos por máquinas semoventes de vidros fumê e carcaças blindadas, a rolarem pelo asfalto sobre compostos de borracha firestone.
eu vi o futuro, baby, e ele cheira a gasoline.
de modo que, encerro por aqui, sair pra dar aquela caminhadinha matutina neste aprazível lago sul, sob garoa e entre os carros do grande autorama, é mesmo um baita exercício de obstinação, tenacidade e espírito esportivo.
bueno. vou ali então. orgulhem-se de mim.

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28 dezembro 2008

jornalismo investigativo

the most amazing breaking news do noticiário de celebridades:
"Amy é viciada em sexo e drogas, diz ex-affair da cantora"
taí um troço que ninguém poderia imaginar.

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27 dezembro 2008

top of the pops

"ramblin´man", the allman brothers band
"lookin´out my back door", creedence clearwater revival
"killing floor", howlin´wolf
"stella mae", john lee hooker
"don´t start me talkin´", jimmy rogers com mick jagger e keith richards
"can you please crawl out your window?", the jimi hendrix experience

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who loves the sun

te disse que acordo cedo que é pra aproveitar todas as horas de sol
mas tem dia que acordo tão cedo que acordo antes do sol
então ligo a luz e aproveito todas as horas de luz elétrica enquanto
o sol não acorda

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26 dezembro 2008

the importance of being idle

"a única grande coisa que se pode ter na vida é o não trabalhar todo dia. porque quem trabalha tá fodido."
(john pothead)

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o melhor natal de todos

fui um bom menino neste ano que passou.
papai noel deixou na minha meia
a nova edição do "on the road",
um dvd do romário e uma caixa do seinfeld.
emossão.

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dear old southland

saudades d´aclimação?
pois agora tem um canteiro de obras logo aqui ao lado da mansão beat de meus pais, brazilya-df. te digo que hoje de manhã parou pertinho do portão um daqueles simpáticos caminhões-betoneiras que têm feito da rua loureiro da cruz, lá em são paulo, uma espécie de segundo lar. chegou pouco depois das oito e meia - bem tarde pros padrões paulistanos. e então agora tem um caminhão desses aqui na arborizada e aprazível rua do south lake. a atravancar o tédio decembrino. como uma máquina de lavar de oito toneladas que ocupa metade da rua, faz um esporro dos diabos e ejacula cimento fresco.

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gomets

natal é dia de mascar
jujubas dormidas

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25 dezembro 2008

you´ve lost that loving feeling

lentilhas e romãs
nozes, castanhas
onde se escondem durante o ano inteiro?
o panetone? quem come panetone em fevereiro?
pão de mel
rabanada
a tâmara do teu afeto, onde tu escondes preciosa tâmara?

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papai noel: velho batuta

the breaking news do noticiário policial da lapônia:
"Um homem vestido de Papai Noel matou, pelo menos, três pessoas a tiros durante uma festa em Covina, no subúrbio de Los Angeles, na noite de ontem. A polícia suspeita que o autor dos disparos seja Bruce Jeffery Pardo, 45 anos, suposto marido de uma mulher que estava no local. Uma criança de 8 anos e uma mulher de aproximadamente 20 anos também foram atingidas e estão hospitalizadas. Uma terceira pessoa que estava no local chegou a ser encaminhada ao hospital, mas não foi baleada. Segundo a polícia, o homem abriu fogo por volta das 23h30, horário local. Ainda de acordo com as autoridades, o atirador chegou à festa vestido de Papai Noel, mas trocou de roupa antes de fugir. "

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groovin´

tento me acostumar com minha nova cama nova. três noites sem dormir direito. o marceneiro deve ter errado em seus cálculos. ou agora é moda as camas serem altas assim? serem altas tipo as camas de massoterapia, se tu me entendes. porque quase tenho que dar um salto - upa - para me deitar nesta cama aqui. verdade que estou acostumado com meu colchão beat. considero que uma cama é mesmo cousa de burguês, ou de jovens casais enamorados. eu prefiro colchão no chão. like jack. like the indians. mas te digo que esta minha nova cama é uma espécie de aconcágua das camas kingsize. mais alta. ela é mais larga, maior, mais comprida, mais funda. mas principalmente mais alta - bem mais alta. metros. cá estou esparramado sobre o colchão, olhando pro teto. medo de vertigem agora. se o controle remoto cair da cama, não mudo mais de canal, nunca mais. se o cobertor cair da cama, numa noite de inverno, terei que encontrálo apenas na manhã seguinte. se eu cair da cama, quebro o pescoço em dois.

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23 dezembro 2008

novocaine for the soul

talvez tu te sintas desconfortável em viagens aéreas. atochado numa estreita poltrona da classe econômica. talvez seja uma situação assaz incômoda se tu estiveres ali curtindo a plenitude de um surto de hemorróidas num vôo são paulo-brazilya. se tu me entendes.
te digo que fiquei ligeiramente zonzo, descompensando, depois que as portas da aeronave se fecharam. faltava-me ar, e a cabine ainda não estava pressurizada. o avião ali parado, na cabeceira da pista, parado. a chuva célere se aproximando nos céus de congonhas. eu sentado assim, meio de ladinho, ora um lado, ora outro lado, meio passado, mal passado. percebi num relance de lucidez que a última fileira de poltronas (vinte e três) estava totalmente desocupada - ali pertinho do banheiro. me esgueirei pelo corredor, a saltitar numa só perna, e me arremessei naquele último refúgio. a aeromoça estava atenta aos movimentos dos impacientes senhores passageiros e, coque empolado, bundinha arrebitada, veio ter comigo em um par de segundos.
"esta fileira possui o incoveniente de não reclinar os encostos", ela me segredou, guardando tal inconfidência num sorrisinho cúmplice. oh, bela guria, pensei, o encosto reclinável da melhor ergonometria possível em nossa aviação comercial não passaria de um luxo pequeno burgês caso tu te encontrasses suando de hemorróidas. nesse momento, pequena, as hemorróidas revelam o homem em sua essência. as hemorróidas separam os meninos dos poetas. pensei nisso tudo. não disse nada disso. apenas sorri ternamente.
tu és gentil em me avisar, bem gentil, mas gostaria apenas de esticar aqui minhas pernas por um momento ou dous.

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anjos da noite

- ei, guria, tu curtes fausto silva?
como diria o faustão: quem sabe faz ao vivo.
muita emossão no teu dial, sem gravações, sem overdubs.
hoje, às 22h, no 'anjos da noite', pela cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o 'anjos da noite' é mais um improviso dos entertainers do TPB.

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21 dezembro 2008

a housing in project hill

a chuva aperta sobre a grande cidade. os vagabundos gritam por conta da chuva, pegos de surpresa subindo a pires da mota, pegos de surpresa jogando bola no condomínio aqui defronte. bocejo. a chuva aperta e o vento encana sibilante pelas esquadrias das tuas janelas. subo o som da tevê um grau, me esparramo no sofá beat, cato meu cobertor xadrez grunge. penso comigo que baita desperdício um domingo sem rodada do campeonato brasileiro de futebol. dou mais um grau no volume da tevê. desenho animado, noticiário, as pernocas da eliana, beisebol universitário, a multidão de fãs da madonna gritando debaixo de chuva.
o aeroporto fechado, todos os vôos atrasados. as cidades distantes.

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a true christmas tale

paulistas agem de maneira estranha. o garcia e a dandan estão aqui em são paulo. madonna e tal. então os camaradas foram bater um rango com o berna beat numa cantina tosca aqui no bixiga. passeando de taxi, por entre os viadutos da grand ciudad, te digo que achei assaz peculiar o congestionamento pleno & absoluto da avenida vintetrês de maio no sentido ibirapuera. engarrafado demais pras nove da noite de um sábado, mesmo pelos padrões paulistanos.
um par de horas mais tarde, onze e pouco, voltávamos para a aclimação e, olhando pra baixo no viaduto, percebi que o trânsito da vintetrês não melhorara um milímetro.
- como pode?, não me contive.
- é o natal, respondeu o sábio taxista.
- o natal?
- sim, a árvore de natal do ibirapuera. o pessoal vai até lá para vê-la.

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19 dezembro 2008

you want somebody you don't have to speak to

gosto de procurar novas trilhas urbanas. como um cortázar d´aclimação. todas as manhãs, a zanzar pel´aclimação. liguei o bob dylan em meus auriculares, the reincarnation of paul revere's horse, but the town has no need to be nervous. desci pelas escadas. se o brito faz isso todo dia e o brito é velho bem velho, então esse deve ser mesmo um bom exercício. desci pelas escadas até o átrio do the double tree park. uma vantagem das escadas de incêndio é que por ali, ao contrário dos elevadores, não há câmeras de vigilância interna. modo que o porteiro adriano ficou assaz surpreso ao me ver lampeiro já em frente ao portão da rua. dei-lhe bom dia, being polite & casual, e tomei a loureiro da cruz. a loureiro é uma rua que muito me enfastia, então quebrei na primeira esquina e tomei a paralela, a rua castro alves, a rua do poeta negreiro. a castro alves começa feia e suja e beat, nas cercanias maltrapilhas do hospital do servidor público, então ela cruza a pires da mota e então sai da índia para a bélgica, vai ficando mais penteada, asseada e dândi à medida que se aproxima da aclimation avenue, do aclimation park. tu desce um ladeirão engrenado em segunda pelas calçadas quebradas da grand ciudad e, lá pelas tantas, resolvi me desviar pela topazio street, evitando o aglomerado de coreanos saudáveis a trotar pelo parque da aclimação nas manhãzinhas de sol industrial. qual cortázar, resolvi arrastar minha carcaça beat até a praça general polidoro, refazendo hoje o mesmo caminho aleatório que tomara ontem em semelhante rompante. a revisitar meu caminho recente, a paisagem urbana ainda freska em minha memória, me peguei a pensar a respeito da impossibilidade da completa repetição. o déjà vu é uma falsa impressão, tu viu? não sou o kamarada que fui antes. agora ouço zimmerman, ontem ouvia cat power a esta hora, nesta esquina. ontem ainda era um jornalista empregado, e hoje não sou mais. a própria rua, em tão pouco tempo, já não é de toda sorte a mesma rua que foi ontem, anteontem. o caminhão de lixo passou e levou aqueles sacos plásticos. o mendigo foi fazer ponto no outro quarteirão. a parada de táxi está vazia. o dia da marmota, te digo, é uma farsa. disso me apercebo naquele instante. e não sei te dizer se a sensação que fica agora é de conforto, ou de vazio. subo então a alabastro, refazendo a trilha que já não há. e fico a me perguntar, tal cortázar again, qual foi mesmo o rumo que tomei? onde me desviei?

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the gospel according to zimmerman

(em livre tradução)
deus chegou para abraão e disse: “mate-me um filho teu”
abe disse: “cara, tu deves estar me gozando...”
deus disse que “não”, e abraão disse “o quê?”
deus disse: “bem, pode fazer o que quiser, sabe?,
mas da próxima vez que me ver, melhor correr”
então, disse abraão: “onde tu queres essa matança?”
e disse deus: “lá embaixo, na rodovia 61”

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18 dezembro 2008

the aclimation chainsaw massacre

a aclimação frios e laticínios é exatamente isso que seu nome leva a crer. não tem segredo, não tem mistério. quer dizer: tem sim, tenebrosos, sob o manto insuspeito de mais um comércio local prosaico e pacífico, um comércio que aparenta ser tão somente o que seu nome nos leva a crer. a aclimação frios e laticínios parece ser uma espécie de secos & molhados. uma mercearia de pequenas necessidades. daqueles comércios medievais que existiam lá pelos anos trinta, quarenta, antes dos grandes mercados, supermercados, shopping centers. a aclimação frios e laticínios fica aqui à rua pires da mota, bem do lado do residencial the double tree park.
a julgar pelas precárias instalações do prédio, a aclimação frios e laticínios já ficava aqui na pires da mota quando a aclimação era ainda uma fazendola nas cercanias de são paulo.
recentemente, e apenas recentemente, eles resolveram investir em propaganda & marketing. por conta daquela lei "cidade limpa" do grande kassab, esse visionário, a aclimação frios e laticínios teve de mudar sua fachada. assim como outras lojas d´aclimação. me lembro quando os homens vieram e arrancaram da parede aquele antigo letreiro de luzes opacas, interditando a calçada, fazendo barulho, levantando quilos de poeira, aspergindo mopho num raio de quilômetros. o antigo luminoso, que nem acendia mais suas luzes broxas, foi substituído por uma placa novinha e pequenina (aclimação frios e laticínios), assaz discreta, do mesmo shape, do mesmo modelo, nas mesmas cores das placas dos emprendimentos vizinhos aqui na pires da mota, como o bazar fenícia e a oficina piovesan.
e os camaradas certamente aproveitaram esses novos ares das cercanias e mandaram para a graphica um folheto publicitário. recebi um aqui no double tree: aclimação frios e laticínios, uma família servindo a sua família. eis o slogan.
sou um beat. um deadbeat. um outsider. clint eastwood d´aclimação. não tenho such thing as a family. the wanderer. não tenho tal coisa como uma família. i cast no shadow. não deixo vestígios por onde passo. mas, caso tivesse uma família, certamente não deixaria que os meus freqüentassem a aclimação frios e laticínios. aquele não é um lugar para amadores.
te digo que a família que toca a aclimação frios e laticínios é um arremedo local da família de leatherface naquele filme "o massacre da serra elétrica". me refiro à versão original, anos setenta, do tobe hopper - claro - e não àquela porquêra que fizeram há pouco. o personagem do leatherface, belo e maldito, foi inspirado em um serial killer de verdade, o texano ed gaines, que costumava retalhar a pele de suas vítimas para usá-la como estofado de sofás e embelezar outros móveis de sua casa, como abajures e mesinhas de centro. na versão romanceada de tobe hopper, a família inteira é de lunáticos de semelhante monta - e a vovó é um cadáver que fica sentado na cadeira de balanço até ser levado à mesa para o jantar.
a família da aclimação frios e laticínios, te digo aqui, me lembra muito a adorável família de leatherface. você entra ali na lojinha e se vê cercado pela família de comerciantes. o filho é um maganão branquelo, alto, corpulento e meio lento, um tanto grisalho já entrando nos quarenta e poucos anos. seu olhar é levemente crazie e ele sempre está por de trás da máquina cortadora de fiambres. certa feita pedi pra ele duzentos gramas de presunto. ele me perguntou se eu curtia fatias bem fininhas.
a mãe dele também trabalha na loja. é uma senhora baixinha, de olhar cativante e espírito afetuoso, sempre a dar "bom dia", sempre sorridente e sempre ágil em contar as moedinhas do troco. talvez por isso ela fique atrás da máquina registradora. quando entramos na aclimação frios e laticínios e ela não está atrás da registradora, prontamente emerge de um corredor escuro, corredor que dá para as outras dependências da kasa onde eles moram. ela chega secando as mãos no avental, solícita e humorada, oferecendo seus préstimos. imagino que, nessas ocasiões, ela deve ter deixado a janta cozinhando em fogo brando.
há ainda dois senhores na aclimação frios e laticínios. um deles parece ser o pai dessa senhora, ou seja, o avô do leatherface. mas pode muito bem ser o marido dela, logo, o pai do leatherface. às vezes creio mesmo que ele seja ambos. bestial.
o quarto elemento é um senhorzinho baixito e pançudo. de pele uns tons mais escura que a alemãozada ao redor. deve ser uma espécie de tio torto. um antigo amante. um parente adotado. ou mesmo uma vítima, uma das primeiras vítimas da família, antes mesmo de eles terem aberto a aclimação frios e laticínios. alguém que foi poupado com vida. mas que sofreu os danos permanentes do que lhe aconteceu. por isso o olhar perdido, os movimentos vagarosos, o aspecto descuidado. como se tivesse sofrido um trauma muito muito grande. ou uma lobotomia.
eles são uma família feliz. a happy family.
sempre juntos ali na aclimação frios e laticínios. sempre a trabalhar. sempre com a lojinha vazia. nas raras vezes que me aventuro porta adentro, sou sempre o único por ali. me pergunto como podem se manter funcionando nesse esquema, se frios e laticínios forem realmente a única razão para aquilo tudo.
dia desses, me espantei, eles contrataram um garoto para ajudá-los. como se precisassem de ajuda naquele estabelecimento entregue às moscas. era um neguinho de olhar infantil e espírito alerta. fingindo interesse num pacote de fubá, tentei manter conversação com o moleque, para alertá-lo, mas logo a senhora sugiu por detrás do balcão e nos apartou. o moleque foi contar os sacos de feijão. eu comprei uma farofa yoki e me mandei de lá ligeiro. nunca mais vi o garoto. nunca mais. deve ter virado picadinho num almoço de domingo.

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summertime blues

já estou me preparando para quando o verão chegar.
fui no lial aparar a juba. dar uma tosqueada nos pêlos.
aqui no lial, o corte sai por dez real.
me livrar de minha cabeleira hippie.
bem mais leve agora.
bem mais fresquinho.

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16 dezembro 2008

anjos da noite

- ei, guria, tu curtes soul music?
eli "paperboy" reed, john legend e os melhores soulmen do pedaço.
hoje, às 22h, no 'anjos da noite', pela cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o 'anjos da noite' é mais uma contribuição do TPB à sociedade.

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15 dezembro 2008

as luzes de natal

sempre achei esse troço de natal uma bregalhada. quando em família, ainda aceito a hipocrisia de papai noel & presépio. mas agora que moro sozinho há um tempo, tomei aversão pelas renas e tal. já me basta o brito com seu papai noel pendurado aqui à porta do 1605. em meu cafofo beat não há nenhuma menção decembrina.
- ah, poeta, não curte natal?, me perguntam as gurias que me visitam à noitinha.
- oh, sim, como não, não vês minhas luzinhas de natal?, respondo ligeiro, para não haver desapontamento.
onde as luzes? elas me perguntam. eu lanço minha vista para além da janela, apontando com as sobrancelhas. elas correm para a janela, a ver as luzes. como assim? as luzes aqui do prédio vizinho? essas luzes fajutas?
nanã. me refiro às luzes todas, às luzes da grande cidade. aqui do décimo-sexto andar, quando cai a noite, a grande cidade acende suas luzinhas de natal. amarelas, vermelhas e brancas a piscarem em minha janela noites adentro. o ano inteiro.

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13 dezembro 2008

the dark end of the street

a rua pires da mota começa pertinho do paraíso. e vem descendo, descendo pelos morros da aclimação até bater lá em baixo, até bater nos pés da baixada do glicério. eu fico aqui em minha varanda beat, no alto do décimo-sexto andar do residencial the double tree park, eu fico espiando a pires da mota se perder nos baixios da grand ciudad. rolou uma baita confusão lá por aquelas bandas indômitas. helicópteros da polícia vazaram os céus d´aclimação. como já se fazia noite, as duas máquinas voadoras da polícia ligaram seus holofotes para iluminar a cidade ali embaixo. e as máquinas voadoras ficaram assim, voando em círculos, disparando suas luzes, como mariposas ao contrário. como duas abelhas que se encontram numa brisa de primavera e pretendem daqui pra pouco partir para a cópula. deve ser divertida a cópula em pleno ar, em pleno vôo. mas antes que as máquinas voadoras pudessem exercer sua libido aérea, a pires da mota ferveu em fulgurantes cores. porque viaturas policiais desceram a pires da mota em desabalada carreira. acho bela a desabalada carreira das viaturas policiais, suas luzes de capô, vermelhas e azuis, a vararem os prédios ao redor. assustando criancinhas e moças donzelas. a polícia com a discrição de suas sirenes e buzinas, os acesos faróis piscantes, aquele espírito de que se foda se for contramão.
li os jornais do dia seguinte. para tentar saber o que se passou ali na pires da mota naquele lusco-fusco policial. não encontrei palavra.

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12 dezembro 2008

working class heroe

acordei pra dar um pipi. no caminho entre meu colchão beat e o amigo celite, meio que me perdi pelo apartamento. fui até a janela da sala. cinco e meia da manhã. uma neblina úmida cobria a grande cidade e gotejava na janela. conferi a hora de novo: cinco e vinte e sete da manhã. incrível. a dona da banca tentação já estava ali, no meio do fog, a erguer as portas de ferro do revisteiro.
a única luz acesa d´aclimação.
devo estar imaginando cousas. preciso voltar pra cama.

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10 dezembro 2008

ain´t life grand?

me diz, guria, então tu curtes um shopping center?
pois te digo que, tarde dessas, fui visitar um amigo poeta que mora lá na barra funda. aproveitei o rumo para matar um tempo e bater um filme do woody allen no mais novo shopping paulistano. o bourbon. um shopping que ficou famoso antes mesmo de ser inaugurado, estrelando matérias histéricas no noticiário metropolitano por estrangular de vez o trânsito das cercanias. fica a um quarteirão do estádio do palmeiras. e a quatro da casa do poeta.
enfim, uma hedonista tarde de consumismo & poesia.
no bourboun, a gente se lembra do porquê de os paulistanos adorarem um shopping center. imagine que tu podes bater perna por lá durante horas e horas sem precisar encontrar um mendigo, um guri cheirando cola ou mesmo um flanelinha. não é adorável? me lembro de ter visto um único negro por todo o bourbon. um negro alto dois metros, largo cem quilos, extremamente bem vestido, terno bem cortado e gravata combinando. segurava um aparelho comunicador. era um segurança. claro. de resto, não vi nem mestiço.
(devem abater os negrinhos que chegam perto a tiros de fuzil.)
o bourbon é um shopping de elite. quase uma redundância. mas tu percebes a vocação do troço ao passear pelas alamedas de mármore e entre as vitrines de lojas de marcas internacionais. o diabo veste prada. ali no canto, terceiro andar, tem uma livraria cultura de trocentos metros quadrados, que me deixou em estado de pânico. me coloquei porta a fora em menos de oito minutos, para não gastar além dos duzentos exorbitantes dinheiros que tinham se evaporado febrilmente naqueles poucos instantes de desatenção.
o bourbon é um shopping de elite. e isso tu percebe principalmente pelas aprazíveis poltronas que ficam espalhadas pelos corredores. onde outros shoppings colocariam desconfortáveis bancos de madeira cercados por seguranças de ar hostil, o bourbon oferece aos endinheirados mui aprazíveis poltronas. pela soneca que tirei, te digo que é melhor que a minha poltrona hipster aqui do the double tree park. em avançado estado de depressão pós-consumo, me afundei numa daquelas poltronas e aumentei o som dos ramones nos auriculares.
Indian giver, Indian giver,
You took your love away from me
Indian giver, Indian giver,
Took back the love you gave to me
a poltrona ao meu lado, enquanto isso, era atacada aos pulos por uma garotinha que fazia do troço seu mosh pit particular. verifiquei se os ramones não estavam vazando de meus potentes auriculares, mas não, a guria pogava mesmo sem música. punk. fiquei reparando na família dela. duas peruas doiradas e uma pequena peruinha adolescente bem encaminhada.
muitos adolescentes no bourbon. rapazes espinhentos com ar de bocó que certamente devem passar por apertos no colégio. mocinhas aprendizes de perua a deslizarem pelos tamancos tentando nervosamente fazer com que esse deslizar pareça remotamente sexy.
um senhor se esborracha no sofá ao meu lado, aquele recém-pisoteado pela riot girl de seis anos de idade. o incauto deve ter deixado o cartão de crédito a bailar por ali. agora se senta aqui ao meu lado em nervoso silêncio. compartilho de seu pesar. será que ele conhece ramones?
acordei agora. neste filme do woody allen, tu já deves saber disso, o javier barden pega a scarlett johansson e a penélope cruz. juntas. e ainda come uma terceira guria, de lambuja. ain´t life grand?
volto pr´aclimação de baú. para tentar compensar. se tu me entendes

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caetano veloso é o verdadeiro marcelo camelo

"a minha voz tão fosca
brilha por teus lábios bundos
a malha do teu pêlo
dongo, congo, gê, tupi, batavo, luso, hebeu e mouro
se espalha pelo mundo
vamos refazer o mundo
teu buço louro
meu canto mestiçoso
tu, onça, tu
eu, jacaré, eu"
(caetano)

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starbucks

por falar em padaria madame...
agora há pouco passou-se o seguinte:
adentrou um almofadinha porta a dentro da padaria. aquele tipo de almofada que trabalha como, digamos, relações públicas no prédio da unimed aqui ao lado, e então já acorda de terninho preto e escovadinho. causar boa impressão. entra na padaria falando ao celular.
nem oito da manhã.
(era a namoradinha. quer que te leve algo da padaria, amor?)
o desavisado chegou ao balcão e fez o pedido.
- me vê um expresso.
- não. aqui não tem isso
o chapeiro corinthiano, a lavar louça na pia, nem levantou os olhos diante do acinte. o almofada, sempre ao telefone, não perdeu a bossa.
- me vê um café preto então.
nosso brother chapeiro serviu o café pelando no copo americano mal lavado. como de hábito.
- me passa o açúcar?
- aqui já vem açúcar.

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09 dezembro 2008

as gurias da madame

assim que me mudei pr´aclimação, e nem faz tanto tempo assim, me recordo de ter tido uma má impressão a respeito da padaria madame. essa padaria aqui pertinho do the double tree park, à rua josé getúlio. não sei te dizer exatamente o por quê dessa impressão. eu meio que achei o ambiente esquisitão. meio sórdido. acostumado, talvez, com as panificadoras mauricinhas do lago sul - acho que tu me entendes.
então preferia ir até a orquídea pérola, a padaria lá da rua castro alves. agora há tempos não vou à pérola.
passei a freqüentar a padaria madame nesta última temporada. assim como não saberia te dizer o que me afastou de lá num primeiro momento, também não saberia apontar as razões que me levaram a reconsiderar a madame em meu itinerário urbano, em meu imaginário afetivo. bueno, tu bem podes me dizer, talvez simplesmente existam coreanos demais ali na pérola. verdade.
de qualquer forma... agora vou todas as manhãs até a padaria madame. é como caminhar no parque d´aclimação. um saudável começo para mais um dia de poesia urbana & flaneurie. e nesse processo diário tu acabas por se acostumar, se familiarizar e quiçá nutrir mesmo certo carinho pelos lugares & seus personagens.
na padaria madame, por exemplo, conheci o seu madeira. o verdadeiro hipster d´aclimação. já tive a oportunidade de contar sobre o madeira aqui, e se não falei mais sobre ele é devido a sua extravagante e arisca personalidade. ele às vezes está de boa, de prosa faceira e sorridente. mas quando fica de maus bofes, chuta cachorro na rua. literalmente. que o diga aquele vira-lata que volta e meia desce a josé getúlio vestindo uma puída camisa alvinegra do corinthians, sempre a caçar pulgas e sempre no encalço de seu dono, o guardador de carros (flanelinha) oficial do quarteirão. enfim, gosto do seu madeira. mas reconheço que esse sim é esquisitão - e não apenas na primeira impressão. mas ele deve estar bem pimpão por estes dias.
que ele é são-paulino.
na padaria madame, já percebi, alguns kamaradas ficam ali só de onda. ficam ali pra acompanhar o movimento dos barcos, como diria o poeta jards macalé. a dizer: ficam ali pra acompanhar o entra e sai do mulherio.
como qualquer padaria, a madame é muito freqüentada pelas mulheres. as dods, claro, são o núcleo principal das habitués. e a turma fica ali, batendo um café, falando de futebol, e vendo as gurias. agora que está chegando o verão, esse movimento masculino tende a engrossar. neste calorão industrial, as dods estão a cada dia mais e mais vestidas como a carla perez. menos e menos vestidas, por assim dizer.
eu estava lá, hoje de manhã na madame, a bater meu corriqueiro desjejum dos campeões (café preto & bolo de carne). quando resolveram pilhar seu arthur em flagrante. o seu arthur é um senhor de idade. um aposentado d´aclimação. lembra muito o zagallo. lembra o zagallo de uns dez anos atrás, que já era um sujeito bem velhinho, porque o zagallo é mesmo velho a valer. então o seu arthur se veste naquele uniforme zagalliano dos aposentados: calça cáqui, cinto, camisa de linho abotoada no estilo véio. e tênis rainha.
uma simpática dods adentrou a madame e, cruzando o balcão da panificadora, foi até o padeiro. depois cruzou o balcão de volta, passou pelo caixa e saiu à rua com seus pães quentinhos.
ela foi mui discreta e detidamente observada por toda a rapaziada durante o minuto e meio que durou esse trajeto. e pelo seu arthur também. que a dods, eu já a tinha visto vez ou outra pela josé getúlio, te digo que parece mesmo a irmã mais novinha da mulata globeleza. ainda vestida, verdade, mas sem nenhum truque do hans donner.
o seu arthur ficou lá de pé acompanhando a guria no olhar até ela ir embora. o movimento de levar o copo de café até a boca detido em pleno ar, o gesto estacado, o copo na mão, o braço a meio caminho.
aí, seu arthur, hein? só de olho na mulherada... quem provocou foi o gentil, o tosco chapeiro cearense-corinthiano. seu arthur poderia rir e, pronto, estava de boa, todo mundo reparou na guria. mas seu arthur, como sabemos, parece o zagallo. então ele aprumou a espinha, largou o copo de café no balcão, bateu na barriguinha de oldie e murmurou qualquer cousa que não se entendeu. ajeitou o cós da calça sob o cinto e foi ali bater papo com o português do caixa.
o gentil pegou o pano de limpeza, deu uma torneirada, passou o pano no balcão à minha frente, recolheu os pratos vazios e me piscou o olho. sagaz. o balcão ficou meio pegajoso.

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08 dezembro 2008

o bom velhinho

mês de dezembro. chega esta época do ano e não tem jeito...
sempre rola essa p*rra toda de natal. um saco.
me faz lembrar aquela canção dos raimundos:
"ela gosta de natal, então pega no meu panananana"
mas o natal bate no coração de todos os homens.
até mesmo, veja você, no coração do velho brito.
está aqui, dependurado na porta do 1605, um singelo enfeite natalino em vermelho e doirado. o papai noel, gorducho e friorento, acena para mim quando passo pelo corredor.
me deseja um "merry, merry christmas". simpático.

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da arte de atirar dinheiro pela janela

duzentos e oitenta e sete reais.
foi o cheque que eu passei. o cheque que eu tive de passar. tive ainda de escrever isto por extenso: duzentos e oitenta e sete realezas - cada palavra doendo fundo em minh´alma beat.
para pagar o conserto da máquina de lavar roupas.
para o conserto de uma máquina que nem é minha - veio junto com o resto do apartamento e dos eletrodomésticos a sua volta.
quanto tempo ela tem de uso?, me perguntou o profissional que veio consertá-la. nem faço idéia, meu senhor, respondi, e ele me olhando estranho, achando muito hipster da minha parte não fazer idéia da vida útil de meus próprios eletrodomésticos.
a máquina nem é minha, achei sensato explicar, está na minha mão faz um ano e pouco, mas vá saber o que lhe aconteceu antes disso.
aproveitei para contar sobre os hábitos da máquina de lavar.
ela costuma sair por aí, disse.
o camarada me explicou que ela dá essas voltas pela cozinha porque tem um vazamento lá atrás. é um comportamento típico entre essas máquinas. porque o tal vazamento derrama água lá atrás. então a máquina perde atrito com o chão. e sai andando na hora em que começa a bater a roupa. sai andando e tropeça no meu armário da área de serviço. molha o chão, tipo cachorro vira-lata. mas molha limpinho, água com sabão omo e amaciante fofo.
quer que eu arrume o vazamento? sai mais oitenta e cinco reais.
melhor não, meu senhor, melhor esperar dar pau.
porque aquelas duzentas e oitenta e sete pilas, eu tinha outro destino para elas. ia gastar tudo no puteiro. com uma moça do balneário vison. agora fiquei na mão.

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pedimos desculpa pelo transtorno

Sua solicitação levou muito tempo para ser concluída. Isso normalmente é apenas um erro temporário devido a grande tráfego da rede ou ao uso intensivo do Blogger.

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06 dezembro 2008

madonna é uma pentelha

the breaking news do noticiário do show business:
"Madonna quer proibir cigarros e bebidas alcoólicas em show
A Lei Seca e a lei Anti-Fumo vão imperar nos shows que Madonna fará no Brasil. Na última quinta-feira à noite, no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos AIres, não houve fumaça nem cerveja à vista durante o primeiro show de Madonna na América Latina. Por recomendação do escritório da cantora, é proibido fumar próximo ao palco e vender qualquer tipo de bebida alcoólica. Das 20h, quando começou o set do DJ londrino Paul Oakenfold, até o último pulo e acorde da noite, lá pela meia-noite e meia, não houve nenhum atendimento por excesso de bebida."

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05 dezembro 2008

still water runs deep

eronildes consertou o vaso sanitário.
mas o banheiro continua a alagar.
a máquina de lavar simplesmente parou de funcionar.
a porta do armário da cozinha emperrou.
este computador aqui dá uns espasmos e desliga sozinho.
ele faz isso há uns dois meses.
e o brito nunca mais apareceu.

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03 dezembro 2008

black water

agora deu pra minar água em meu banheiro beatnik.
isso nunca tinha me acontecido antes. chego lá no banheiro e tem uma baita de uma poça d´água justinho em frente ao vaso sanitário. (sim, já verifiquei: é água mesmo, só água.) exatamente onde a gente tem que botar os pés na hora de bater aquele papo amigo com o celite. mas sou um kamarada tranquilo, então passo o pano, seco a poça, e boa. mas depois, um par de horas depois, volto ao banheiro e lá está uma outra poça d´água no lugar da anterior, novinha e molhadinha a se espalhar lentamente pelos ladrilhos hipsters do banheiro, vertendo de lugar algum, como uma espécie de milagre desnecessário de algum santo pentelho. então a operação se repete.
não sei o que se passa ali, mas há três semanas, quando viajei, estava tudo em ordem.
já verifiquei se não é a água do box, na hora do banho, que vaza para fora. nã. também verifiquei o registro debaixo da pia, que bem poderia estar meio troncho. nanã. e verifiquei mesmo se não era uma água que escapava da privada, limpinha ou sujinha, antes ou depois de puxar a descarga. nananã.
vou viajar agora em dezembro, para o natal e tal, espero que tudo se resolva sozinho na minha ausência.

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02 dezembro 2008

rimbaud d´aclimação

sou um poeta cuja obra-prima é a própria vida.

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sommarlek

nada como uma manhã de dezembro com aquele solzinho de rachar.
as gostosas do the double tree park, em polvorosa, deixaram suas unidades e lotaram os elevadores do prédio vestindo seus roupões de algodão, os roupões protegendo os trajes sumários, os trajes que muito desleixadamente cobrem as partes mais íntimas e mais líricas de seus corpos juvenis branquelinhos.
reparei a intensa movimentação logo cedo, quando fui à padaria madame para o desjejum dos campeões (café preto & bolo de carne). tão logo voltei ao meu recolhimento beat, aqui no alto do 1604, me esgueirei até minha infame sacada. da varanda pude espiar, lá embaixo, as moças a tomarem sol.
uma das gurias, talvez a mais saliente, cruzara comigo no saguão do double tree park. notei que ela segurou o olhar, e o sorrisinho doce, três átimos de segundo a mais do que prevê o código não-escrito da amabilidade entre vizinhos solteiros. entendi essa demora como um convite, um quase-convite?, para que fosse me juntar a ela ali na pérgola da piscina de nosso residencial.
mas sou sujeito tímido. o poeta é também um sujeito tímido.
de modo que me escondi aqui no meu avarandado beat. suando pelo sol de dezembro. suando pela tesão abortada. espiando a guria, ali embaixo, já fora de seu roupão. espiando seu biquini de duas peças, se bem que todo o biquini é de duas peças, devo dizer, mas o biquini dela tem duas peças que não combinam entre si. pelo menos não aqui de longe. decerto, lá de perto, tudo faria sentido. a parte de cima, marrom e cinza, e a parte de baixo, alva e resplandecente, certamente se uniriam em harmonia por adornarem tão gracioso corpo.
o poeta é um esteta. te digo isso e te digo que meus pensamentos se deixam cortar pela chegada de outras duas garotas. são amigas. elas arrastam as espreguiçadeiras - um polissílabo de veraneio pra ti, espreguiçadeiras, essa tua cedilha obscena a escapar num olhar furtivo.
as duas amigas se riem e se tocam e se despem e se admiram.
e o poeta a tudo admira, calado, sabendo que as palavras são tolas. tolas.
as duas gurias fazem daquelas feminices que duas gurias fazem quando juntas numa manhãzinha de primavera-verão. elas conversam sobre filtros solares e, se não me escapa a imaginação muito para além do ocorrido, elas se lambuzam com creminhos hidratantes e cheiram as pontas dos dedos. elas passam creme uma na outra, certamente cientes mas maravilhosamente esquecidas, se fazendo de esquecidas, de toda a grandeza lúbrica daquele gesto delicado.
a outra guria, aquela que atiçou o poeta primeiramente, se mantém sozinha do lado oposto da piscina. talvez incomodada pela efusiva alegria das vizinhas, dá-lhes as costas e se vira deitada de costas para doirar de sol o bumbum pálido e diminuto, como dois pãezinhos quentes que voltam ao forno ligeiro só para corarem por mais um par de minutos. teu bumbum, costumeiramente tão discreto e escondido nestes dias de semana, agora é o coração da manhã de terça-feira d´aclimação.
enquanto as outras duas garotas riem de uma piada primaveril e fecham os olhinhos por conta do brilho do sol.
estariam elas três alheias ao poeta?

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maria rosa ouve rádio

maria rosa, às vezes, esquece o radinho de pilha para trás. outro dia, deixou seu sony am/fm aqui no balcão da cozinha. deu-se conta quando já estava a subir no ônibus. então deixou para lá, ela me explicou, se tivesse percebido pouco antes, voltava para vir buscar. porque maria rosa gosta de trabalhar ouvindo sua rádio católica. costuma até mesmo deixar um copo cheio de água do lado do aparelhinho, que é para a água ser benzida radiofônicamente pelo padre-radialista.
acho que depois ela bebe a água. sei lá. não sei se não seria heresia beber água benta. mesmo que seja benta por ondas sonoras de ampla freqüência.
maria rosa hoje ficou sem rádio. again. esqueceu o rádio em casa ainda pela manhã. então maria rosa trabalha cantando baixinho os cantos que o rádio cantaria para ela. as canções de louvor.
meu deus, eu quero é te louvar, quero é te adorar, a honra, a glória...
maria rosa frita um bacon e uns dentes de alho na frigideira.

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don´t come knockin´

seu madeira é o verdadeiro hipster d´aclimação.
cinquentão, cabelos brancos estilo barba de milho, barba por fazer na cara grisalha. blazer branco, calça de linho, camisa do são paulo por debaixo do paletó. seu madeira é o hipster clássico: o cara que sempre se veste bem, mesmo que a roupa seja meio amarfanhada/fedida, ainda assim se trata de blazer, de calça de linho.
como um personagem de sam shepard.
seu madeira gosta de comprar briga no meio da rua. desce a pires da mota falando alto, freakin´ out no meio de la calle, vociferando sobre qualquer cousa - e te olhando com cara de p*to se tu achar a cena meio doida. certa vez, vi seu madeira comprando briga com um chofer de ônibus. tipo dez e pouco da manhã e ele soltando um chute na lataria do baú. o motorista respondeu com um palavrão e saiu do ponto rasgado, deixando como lembrança um peido de gás carbônico automotivo.
hoje eu estava ali de pé na banca tentação, folheando sem graça as revistas do revisteiro, comentando about the weather com a dona da banca, exatinho na esquina da pires com a josé getúlio. quando o seu madeira apareceu na calçada, vindo mui provavelmente da padaria madame.
- bando de corno, safado, filho de uma rapariga.
sim, sim, certamente era seu madeira, com seu palavreado hipster de botequim. seu madeira no mood das nove da manhã. perceba que ele ainda não estava exatamente p*to, estava chegando perto.
e aí, seu madeira, como vai o senhor? arrisquei o cumprimento, já que o camarada vinha em minha direção.
- você nem imagina o bando de safado que tem aqui nessa pôrra.
me respondeu e foi adiante, chutando o ar.
seu madeira, às vezes, também é um sujeito de poucas palavras.

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01 dezembro 2008

conheça os parques suíços

esqueça obama.
o mundo continua karetinha.
the breaking news do noticiário internacional:
"Realizou-se ontem um referendo na Suíça onde foi colocada em questão a liberação da maconha. Segundo dados oficiais, 63,2% dos consultados reprovaram o uso, a posse e o cultivo da erva canábica, para uso pessoal, lúdico-recreativo. O mencionado referendo resultou de proposta, acompanhada por 600 mil assinaturas, nascida nos denominados cantões suíços germânicos. Os conservadores fizeram forte campanha para reprovar aberturas e endurecer a legislação. Os suíços foram bombardeados de informações a respeito da falida política liberal sobre locais abertos para consumo (parques das cidades). Os parques, até a revogação da norma de autorização, foram ocupados por imigrantes de várias partes da Europa, que de lá não saíam. Em áreas vizinhas aos parques, traficantes negociavam a droga que seria consumida nos chamados locais abertos."

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getting away for the summer

oh. estou de volta às bukólicas alamedas d´aclimação. te digo que sinto essa estranha sensação de pertencimento cada vez que desabo novamente aqui na grande cidade. como se fosse realmente meu lugar no mundo estar aqui assim, tão fora de esquadro, vagabundo. posso até passar muito bem um punhado de dias em terra estrangeira, um punhado de dias na antiga cidade, mas depois de duas semanas, sei lá, sinto falta do gás carbônico, da buzina do vendedor de amendoim, sinto falta do bafinho de gordura das frituras de seu brito cada vez que abro a porta do ascensor vertical aqui no décimo-sexto andar do the double tree park. pensando nisso, pensando estar em casa away from home, levanto minha paulistana carcaça e vou até minha varanda beat, deixo o sol industrial da grand ciudad tostar minha tez esbranquiçada. de leve. as janelas, milhares de janelas, ao meu redor janelas despontando de prédios novos, recém-erguidos, despontando de prédios antigos, de reboco caindo, prédios francamente sinistros, putrefatos, como uma varsóvia depois da guerra. a varsóvia do coração industrial do brazil. sempre é guerra aqui na grande cidade. não conto mais as baixas. acho natural. estendo a bandeira branca de minha rendição. acendo um cigarrinho, acendo on my mind, e baforejo pequenas nuvens de vapor existencialista. imaginando como seria o mundo para além do parque da aclimação. fico de cuecas dentro de casa, é o que se espera de um homem civilizado: estar de cuecas n´aclimação. sob o sol de dezembro. te digo que este verão vai ser de lascar.

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