The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

28 fevereiro 2008

the levee´s gonna break

o dia em que a lâmpada da sala queimar
vou ter que subir no banquinho
apoiar os dedos da mão no teto
sujando o teto de pontas de dedos
desatarrachar, desatarraxar
a pôrra da luminária moderna
e recolher as mariposas mortas
eletrocutadas
os cadáveres de mariposas
atirar pela janela
as mariposas mortas a voar

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meet me in the morning

não preciso mais de despertador pra acordar. não preciso mais nem dormir. pensei em ti quando jogava o lixo fora. um movimento em falso. queria que minha vida fosse como um road movie. um road movie da aclimação, repetia pra mim mesmo, enquanto descia a avenida turmalina. blowin´ down backroads headin´ south. mas eu já esperava que isso acontecesse. não dá pra bancar o durão o tempo todo no mundo. a emoção. o japonês verdureiro e a tia do revisteiro são vizinhos na pires da mota. os primeiros a chegar. e por que tu acordou assim tão cedo, vai à missa?

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27 fevereiro 2008

a coney island of the mind

"sou um pianista
num cassino abandonado
numa colina à beira-mar
em meio ao espesso nevoeiro
mas sempre a tocar"
(lawrence ferlinghetti)

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the poetry as an ethereal questioning

- com licença, guria... tu curtes poesia?
- como assim?
- a poesia, tu a curtes?
- quem é você?
- boa pergunta. há muitas respostas para uma pergunta dessas, não é mesmo?
- é uma pergunta bem objetiva.
- é uma pergunta em grande parte irrespondível. aliás, é uma pergunta substancialmente irrespondível.
- por que esses gracejos todos?
- porque a poesia, guria, te responde a essa pergunta de diferentes e intensas maneiras. e o trabalho do poeta é justamente estar atento para ouvir todas as respostas.
- cai fora, seu chato.
- o que também não deixa de ser uma resposta.

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26 fevereiro 2008

anjos da noite

e aí, guria, tu curtes roberto zimmerman?
bueno...
bob dylan é o cara.
bob dylan vem ao brazil pra shows na semana próxima.
os vagabundos do tpb aproveitam a chegada do messias beat para armar um programinha especial no 'anjos da noite'.
o programa mais cool da rádio cultura fm do distrito federal.
e que pode ser ouvido ao vivo (hoje, às 22h) por aqui...
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
(às vezes funciona, outras não, deve ser por causa da conexão.)
neste programa, teremos as raízes bluesy e folkie do senhor zimmerman.
e teremos artistas outros interpretando suas canções.
de joan baez a avril lavigne, de caetano veloso a neil young, de guns n´roses a rolling stones.
diversão para todos.

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25 fevereiro 2008

Me, myself and the oldman Brito

Nas minhas duas últimas visitas à mansão playba do Berna Beat, no décimo-sexto, tive o infortúnio de cruzar com a carcaça fétida do velho Brito. Sempre que o encontro, evito a fala, mesmo o cumprimento, porque nunca se sabe a reação: às vezes ele é até simpático, mas normalmente desvia o olhar ou rosna à guisa de “bom dia”.

Numa dessas vezes eu ia pro Berna e, ao cruzar a lixeira (meu apê fica na outra prumada), estava lá the oldman, sentado na escada, fumando um Galaxy. Ficamos nós dois naquele ambiente escuro e frio. Os olhares se encontraram num susto. O Brito disse “opa, tudo bem?”. Eu sorri amarelo em retribuição. Da outra vez, quando ia embora, dou de cara com o sujeito e, coisa desagradável, descemos juntos o elevador. Dessa vez eu disse algo (boa noite ou qualquer coisa do tipo) e ele rebateu com algum som gutural abafado.

Tenho medo do Brito. Sempre o vejo de manhã, ao realizar meus exercícios matinais regulares. É que a velha o bota pra fora de casa cedo. Umas sete da matina e ele já deve estar no oitavo Galaxy. Gosta de entrar, fumacento, na sala de ginástica e olhar as horas no relógio de parede. Direciona-me um olhar pidão, como quem quer conversar. Eu me enterro no Ipod.

Nos últimos tempos, no entanto, venho criando uma simpatia pela criatura. Tenho vontade de conversar com o Brito, saber sobre sua vida, o que acha da política, futebol. Que tal seu Escort? Aliás, a caranga do Brito, com a pintura descascada, é a segunda pior do The Double. O "The Worst" é o Verona “poça de óleo” do dentista-japa-solitário-hippie. Muito tosques. O meu digníssimo Tubarão Bordeaux, desde que tomou uma porrada na bunda, o friso caiu e o escapamento praticamente encosta no chão, ocupa uma honrosa terceira colocação

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22 fevereiro 2008

the big sleep

choveu a cântaros na grande cidade. (e noto aqui que poucas cousas são tão dadas a acontecer "a cântaros" quanto a chuva.)
mas eu nem notei, nem senti.
choveu pacas. alagou o cambuci e o ipiranga. o tietê devolveu para a grande cidade todo o esgoto que recebe diariamente.
eu nem percebi.
passei a noite de ontem chapado. dormindo no meu colchão beat. dormindo por horas e horas. sleeping around the clock. dormir assim, uma noite inteira direto, deve ser um pouco como morrer.
tu nem percebe.

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há tempos não vejo...

as pessoas me páram na rua e me perguntam:
- mas onde anda john pothead?
está até meio chato pagar de beat n´aclimação.
- e que fim levou mr. pothead?,
me perguntam os hipsters em andrajos na josé getúlio.
berna beat é o último beat d´aclimação. mentira. dia desses encontrei john pothead na área comum do the double tree park. pothead alega ainda ser beat. um pouco. foi na manhã de hoje quando the potman me disse que largou the drugs. disse isso enquanto puxava ferro na academia do double tree. the pot one acrescentou ainda que está dedicando suas horas ao mundo corporativo. "vendi meu cérebro", ele admitiu, sem, no entanto, demonstrar qualquer arrependimento. "quando eu voltar a ter cérebro, voltarei a escrever."
(como se precisasse de um para fazer o TPB)

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20 fevereiro 2008

the folk implosion

mallu magalhães já era.
este japinha descontrol aqui cantando "hey, jude" é que é indie...
http://www.youtube.com/watch?v=fqXYwNDrU8k

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ó o auê aí, ô!

das agências internacionais:
"O pré-candidato à Casa Branca Barack Obama venceu o cáucus democrata do Havaí, derrotando mais uma vez a adversária Hillary Clinton na disputa pela indicação do partido à eleição presidencial, informa a imprensa americana."
- aê, obama, hein?
- muito louco.
- pode crer...
- maneiro, aí, maneiro.
- representou!

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casey jones

há um gato selvagem na esquina da pires da mota com a avenida d´aclimação. the wild cat d´aclimação.
bueno. não é um gato. é uma gata. na verdade, é uma gata. e não é tão selvagem. na verdade, não é nada selvagem. nem é ao menos uma gata vira-lata, embora seja uma street cat. tu percebes que é bem cuidada, o pêlo fornido e a coleira no pescoço, dada a cafunés.
a gata a ronronar nas tuas canelas, cinco e pouco da manhã. se atira no chão pra que tu coce-lhe a barriga, sem demora. só se assusta com os faróis do carros que sobem a pires da mota na contramão. casey jones, you know, that notion just cross´d my mind.

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the poetry as a ever-changin´ mood

- bom dia, guria, me diz.... tu curtes poesia?
- logo a esta hora da manhã?
- penso que não há hora certa para a poesia.
- tudo bem. mas sempre acordo de mau humor.
- isso porque te falta a poesia na vida.
- e tu, então, poeta, nunca acorda de mau humor?
- às vezes me acontece, é bem verdade.
- então...
- então te faço uma poesia torta, atravessada, maleducada, grossa.
- tipo genet?
- tipo materazzi.

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19 fevereiro 2008

aposentadoria

o companheiro fidel agora poderá, enfim, se mudar pra miami.

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anjos da noite

os vagabundos do TPB agitam um programa semanal na rádio cultura fm do distrito federal.
o 'anjos da noite' toca blues, soul, jazz e outras mumunhas mais.
todas as terças-feiras, das dez da noite à meia-noite.
e parece que agora é possível ouvi-lo ao vivo pela internet.
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
tomara que funcione.
porque hoje teremos um programa de marvin gaye. seus primeiros compactos na motown, seus maiores hits de passeatas e motéis, suas músicas gravadas por outrem e um punhado de canções de seu crássico 'here, my dear', relançado há pouco. será divertido.

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18 fevereiro 2008

balcãs

e agora? o que a sérvia vai fazer kosovo?

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17 fevereiro 2008

some way out of here

"there are many here among us who feel that life is but a joke
but you and i, we´ve been through that, and this is not our fate,
so let us not talk falsely now, the hour is getting late"
(dylan)

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16 fevereiro 2008

levinsky

já me decidi. vou votar na hillary.
a natalie portman está fazendo campanha para ela. viva.

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15 fevereiro 2008

brahma

piada pronta:
lula embarcou para a antártica

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obina

já me decidi. vou votar no obama.
a scarlett johansson está fazendo campanha para ele. viva.

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anyone can play guitar

eu tenho um contrabaixo elétrico. quando eu era um magnata perdulário do jornalismo político brasiliense, queimei meu primeiro holerite num baixão ibañez e num amplificador fender do tamanho de um frigobar.
e também tinha (tenho) um pedal master fodão com fuzz e outras distorções thurston moore.
claro, eu nunca consegui tocar nadja. chegamos a fazer uns três ensaios, os giseles, com john pothead na guitarra e andré de garcia à bateria. um power trio tipo cream, tipo nirvana. mas garcia logo saiu da banda, porque ele tocava muito muito melhor do que seus colegas losers.
lembrei disso agora porque garcia, em sua carreira internacional, mandou aos brothers suas novas músicas lá de madrid. agora ele toca com pessoas que sabem tocar também.
e eu fico aqui puto com minha inabilidade e minha preguiça musicais. nem para tirar um blues eu sirvo. mas dia desses eu mando trazer lá do planalto o meu baixão beat e seu trovejante amp. para animar estas tardes bundas d´aclimação. the double tree park nunca mais será o mesmo. oh, no.

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futebol de botão com meu avô

por conta dos relâmpagos e dos trovões, estava lembrando do meu avô noite dessas. e percebi como the old man era um camarada que antecipava tendências. ele usava sandálias havaianas, muito antes de gisele bündchen, quando usar havaianas era cousa de pedreiro. e ele usava tênis all star, muito antes dos indies, quando o bacana mesmo era usar tênis da redley sem meia. meu avô era beat. será?

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13 fevereiro 2008

ramblin´ man

- aê, poeta? me diz, você tá ouvindo o quê ultimamente?
- tô ouvindo muito allman brothers.
- tu já ouviu mallu magalhães?
- nã. o que é isso?
- é uma cantora folker paulistana. ela tem 15 anos. estourou no my space. o lucio ribeiro e o fabio massari são fãs dela... ela vai tocar no studio sp neste final de semana... e ela foi capa da ilustrada, não viu?
- nã. é tipo o gregg allman?
- não, acho que... mas e tu ouviu o novo disco do of montreal?
- nã, eu tenho ouvido "brothers and sisters".
- ah?
- do allman brothers.
- bacana. e já ouviu i´m from barcelona?
- quem é de barcelona?
- aquela banda...
- nã. tô ouvindo mesmo allman brothers.
- sei.
- mas, me diz, tu já ouviu the allman brothers band?

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12 fevereiro 2008

the sheltering skies

gosto de minha varanda hipster. ela dá bem uma idéia de o quanto blade runner é esta apravízel megalópole. os prédios se estendem até o horizonte, cinzentos e silenciosos, até trombarem com um recorte azul formado lá longe pelas serras que circundam nossa pacata ciudad. john pothead gosta da minha varanda hipster para ficar fumando seu cigarillo e conjecturando em silêncio as doidas idéias que ele pensa. eu gosto da minha varanda hipster para ficar espiando as gurias tomando sol na pérgula da piscina do the double tree park. isso quando faz sol. eu também gosto da simplicidade tão imediata e tão pouco existencialista que é uma varanda hipster no décimo-sexto andar, perceba - porque é só colocar o pé pra fora da mureta e adiós, sem erro, sem considerações metafísicas desnecessárias e deselegantes, porque no décimo-sexto andar uma questão metafísica assim se torna apenas física. mas o que eu mais gosto de minha varanda hipster é simplesmente poder ficar lá paradão assistindo aqueles instantes antes da chuva. quando ainda não começou a pingar n´aclimação, mas o céu já fechou e começam os relâmpagos circundantes aqui e acolá. gosto de ver essas descargas elétricas riscando o céu plúmbeo e acendendo e desaparecendo tão breve e fortuitamente e aleatoriamente quanto tudo o mais. gosto da iminência da chuva e penso que os relâmpagos são como os fósforos de deus. meu avô gostava de ficar sentado no alpendre de sua fazenda e ver o céu relampiando. é assaz poético.

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um hai kai de verão

estou com sede
está muito quente
quero beber cerveja

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11 fevereiro 2008

free jazz

a-ha, u-hu, o brito está de volta.
sandálias de couro, bermudão bege, camiseta regata preta puída.
o brito, versão verão zero oito, está de volta ao the double tree park.

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new day rising

esta é a aurora de um novo homem: berna 2008.
quando abandonarei em definitivo todos os maus hábitos e os pequenos vícios que impedem ainda hoje minha plena realização pessoal, afetiva, profissional, poética, lúdica e sexual.
abandonarei esta vidinha besta de sofá-cama-televisão. abandonarei minha preguiça macunaíma, meu destempero, meus wild mood swings. abandonarei as manhãs desperdiçadas, as tardes ociosas, as noites vãs. abandonarei meu caos, minha confusão, minhas desculpas, meus álibis.
abandonarei a marijuana, as substâncias sintéticas, as droguinhas mil. abandonarei os cigarettes e o alcohol. abandonarei as pizzas e as massas, os pães e os farináceos, as guloseimas e os laricones, as feijoadas e os virados à paulista. abandonarei também as carnes vermelhas for good. abandonarei o q-suco e os refrigerantes. abandonarei meu mau-humor, meu sarcasmo, minhas ironiazinhas, meus preconceitos, minhas noções precárias. abandonarei esta náusea existencialista. abandonarei todo meu life style auto-destrutivo. meu arsenal de versos pré-fabricados. abandonarei em definitivo minha auto-indulgência beatnik. abandonarei as prosts e as imposturas. abandonarei meu superego elvis, meus recalques e meu ego descontrol. logo atingirei o bom senso.

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10 fevereiro 2008

tragar ou não tragar

breaking news do noticiário internacional:
"Um artigo publicado no jornal New York Times destacou uma particularidade de Barack Obama, pré-candidato democrata à presidência dos EUA: seu hábito de consumir drogas quando era estudante da Occidental College, em Los Angeles, entre 1979 e 1981. A antiga prática não era segredo. Em uma autobiografia, escrita em 1995, Obama descreve um episódio no qual fumou maconha no alojamento de um colega. Conta ainda que teria experimentado cocaína antes da faculdade, numa escola do Havaí. O consumo exagerado de álcool também não ficou de fora. Não se sabe como esse histórico pode influenciar o voto dos conservadores. "

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09 fevereiro 2008

she once was a true love of mine

duas e pouco da tarde. fim de feira na loureiro da cruz. os caminhões dos verdureiros descem engrenados pela pires da mota, soltando seus flatos mecânicos de gás carbônico, rolando em tempo de pegar o sinal aberto. o vendedor de cds genéricos desce a pires da mota com seu alto-falante altíssimo rebimbando um funk, e não era james brown. as japonesas descem a pires da mota em passos miúdos puxando seus carrinhos de compras esturricados de verduras e legumes porque elas esperam até última hora pra comprar tudo pelos preços mais camaradas. a kombi do pastel também está de partida, descendo a pires da mota, deixando para trás um trilho de óleo gorduroso, vestígios de caldo de cana ainda se fazem notar na esquina. as crianças brincam na calçada diante do edifício pedro rachid. elas descem a pires da mota na pauleira, berrando, chorando, esperneando. não importa pra elas se é dia de feira, porque é sempre assim, correndo e urrando até as onze da noite.
vejo a guria de biquini laranja se espreguiçando debaixo do sol de janeiro, alheia a tudo isso, alheia até ao pancadão do funk na pires da mota, pegando um bronzeado vertiginoso na piscina do the double tree park. biquini tão apertado. me deixa pensando se é adepta dessa moda recente de depilação total.

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poesia ainda que tardia

a poesia me acordou logo cedo
cinco e meia da manhã de sábado
a poesia é um troço pôrra-louca
deixa a gente aflito, faz perder o sono, ganhar fama de esquisitão
a poesia é uma cortesã cheia de caprichos
te deixa aqui, mareado, olhando pros lados
te deixa fumando um cigarro
quando já foi embora, tomou o rumo da rua, nem disse se volta

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06 fevereiro 2008

seus amigos, seus vizinhos

o velho brito saiu de férias. e levou a velha junto. nunca pensei que isso fosse possível. de certa forma, devo admitir, me sinto traído por meus vizinhos escr*tos. been cheated. nunca imaginei que o velho brito simplesmente pudesse sair de férias. mas é verdade. não ouço mais seus passos pelo corredor. acordo de manhã e minha sala não está cheirando feito um cinzeiro de boate. não ouço mais as discussões do simpático casal. almoço no início da tarde quando minha sala não está cheirando a gás de cozinha que escapa do apartamento vizinho. há tempos não encontro mais o brito revirando as lixeiras do décimo-sexto andar. então é isto mesmo: o velho brito saiu de férias. aquele filhadap*ta. ele nem trabalha e ainda sai de férias?
imagino aqui onde o casal brito deve passar as férias. roma? nova iorque? london town? creio que não. talvez algum hotel-fazenda de atibaia. talvez o sesc de bertioga. quem sabe caldas novas...
deve ser do c*ralho o carnaval em bonifácio.
outro dia john pothead estava conversando com o zelador eronildes sobre o velho brito. não sei porque falavam sobre the old man. mas eronildes disse que o brito tem 82 anos de idade. oitenta e dois. john pothead ficou de cara. eu fiquei de cara. brito até está bem então. acho que vou passar a fumar três maços de cigarro por dia. pra ficar saudável e pretty old que nem ele. qual será a marca do cigarro do velho brito? deve ser um mata-rato brabo, pelo fedor.
saudades do velho brito fedorento em pijamas. oh. too old to fuck. volte logo, senhor brito.

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dedicação exclusiva

Vou ler aqueles textos que me pediu, “por alto”. Vou me dedicar àquele job, mas só um pouco. Vou prestar atenção, mas não muita. Vou te amar, mas de longe. Vou te ajudar, “se der”. Vou levantar a grana que te devo, mas não tudo. Vou resolver todos os problemas, parcialmente. Serei seu amigo fiel, por algumas horas. E o filho perfeito – mas não para sempre.

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onde andará mayara magri?

oh, o carnaval.
pois te digo aqui que, de todos os longos e insuportáveis dias do carnaval, a quarta-feira de cinzas é meu dia de predileção, é o único que eu tolero ano após ano. por causa do próprio nome, já me parece bem poético. bem mais poético do que, sei lá, terça-feira gorda, não é verdade? quarta-feira de cinzas parece até cousa escandinava, eslava, britânica. não combina com nosso temperamento latino, nosso desbunde tropical. me lembra morrissey, mas me também lembra vinicius com nara leão (fernanda takai)...
acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa brincando feliz e nos corações saudades e cinzas foi o que restou...
porque outra riqueza poética dessa quarta-feira, a maior de todas, é o esquema de feriado funcionar pela metade. feriado apenas até o meio-dia. não me lembro de outra data assim semelhante. ninguém trabalha na tarde de primeiro de janeiro, na tarde de vinte e cinco de dezembro, na tarde de sete de setembro (fora os recos).
nenhum outro feriado, já percebia vinicius, encarna em si, no passar das horas de um único dia, o eterno retorno, o perpétuo recomeçar da vida. a fugacidade da felicidade. essa é a riqueza poética que passará despercebida aos fanfarrões do bacalhau do batata, despercebida aos foliões da escola campeã do carnaval carioca.
e no entanto é preciso cantar, mais do que nunca é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade...

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03 fevereiro 2008

até o dia em que o cão morreu

"não havia nada de errado com aqueles sonhos, mas eu duvidava que eles um dia pudessem se tornar realidade. isso eu não dizia pra ela, claro. as exatamente quanto da vida ela estaria disposta a sacrificar com um trabalho que a fazia sentir-se humilhada, conviver com gente que não suportava, passar semanas inteiras dormindo mal? todos os sonhos dela estavam marcados pra dali a três, cinco, dez anos. nenhum deles valia pra agora, pro dia em questão. me dava agonia ver alguém se preparando constantemente pra começar a viver. eu não conseguia fazer isso. parecia bem mais adequado permanecer exatamente onde eu estava, aceitando que minha vida era aquilo mesmo. eu não precisava de muita coisa. gostava de ir à janela do meu apartamento e olhar a cidade lá embaixo. dezessete andares me separando da civilização, apenas o murmúrio dos carros me chagando aos ouvidos. na água do guaíba e no horizonte, eu enxergava uma tranqüilidade ao meu alcance no presente, ali dentro do apartamento. era só acender um cigarro e esvaziar a cabeça de qualquer expectativa, eu a sentia. acabei me viciando nessa tranqüilidade. são as expectativas que fodem tudo."
(daniel galera)

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01 fevereiro 2008

mocidade independente d´aclimação

momento propício para o habitual post de carnaval aqui no TPB.
assim...
"eu não gosto dos G.R.E.S.
mas em fevereiro
tenho que suportar os G.R.E.S.
o carnaval
com seu espírito de festa
suas cabrochas na avenida
churrasquinho podro
é uma imposição absurda"
(pato fu)

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how does it feel, hein?

e então, amigo beat?
pagar 700, 900 paus pra ver o cara que compôs "like a rolling stone"...
é o chamado custo brazil.

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