The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 outubro 2007

the poetry as a necessary silence

porque qualquer coisa que a gente escreva soa
tola
diante da poesia

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25 outubro 2007

o toró

às vezes me pergunto se, de fato, tornei-me paulistano.
digo, paulistano na índole.
agora basta eu pegar o baú pro rio de janeiro que...
desaba um grosso toró (não me refiro ao refinado centro-campista do flamengo) por dias a fio.
pra tu teres uma idéia, a manchete da primeira página de 'o globo' de hoje: "cidade interditada".
um par de horas engarrafado na via dutra e cá estou, batucando estas no catete.
e todos os hotéis do catete estão lotados. menos o riazor hotel - que, em verdade, não é bem um hotel.

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23 outubro 2007

bonnaire

spray bom ar, da air wick, sabor brisa fresca.
preciso comprar mais um tubo.
o meu está quase no fim.
de tanto espalhar pelo corredor, pra diminuir a catinga do velho brito do 1605.
mas brisa fresca é pouco pro velho brito. vou tentar flores do campo.

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alexandre pato

mais um passo involuntário no exercício de me isolar do planeta.
meu interfone morreu. para sempre. quem me avisou foi o john pothead, telefonando à noite, dizendo que o porteiro do the double tree park estava me chamando pra ir pegar o telepizza lá embaixo. então peguei a pizza. "boa noite, não ouviu o interfone, senhor poeta?", queria saber o porteiro, diante do portão. eu não, deve estar estragado, o maldito, para sempre. "quem sabe você apenas não escutou?", ele insistiu, apesar do meu pijama, do adiantado da hora, da pizza esfriando. como se eu pudesse não ouvir o interfone tocar, o pato rouco do interfone.
ele ficou de me ligar pelo intertelefone mais uma vez. viu como não tocou?
acho que devo avisar ao zelador, sobre o pato morto na minha cozinha. mas não agora.

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horário de verão

são paulo chove, e não chove.
preguiça de chover.
preguiça de céu cinzento e guarda-chuvas apressados pelas calçadas.
preguiça de futebol na tevê, de amy winehouse, de pizza sadia.
preguiça de teatro amador, preguiça de ir ao rio de janeiro.

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i just came here for the beer

john pothead e eu encontramos caixas de cerveja na lixeira do décimo-primeiro andar. achamos que alguém naquele andar se afastava da bebida for good. levamos as cervas pra casa. como faria o velho brito. depois, só depois, john pothead descobriu que as latinhas estavam com a validade vencida. por isso, então, a lixeira.
bueno, te digo que eu não quis nem saber.
apesar da validade, a cervejinha desce bem macia, bem geladinha, no chuvisco paulistano.
like buk, gosto de pensar, like buk.

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22 outubro 2007

compromissos de segunda-feira

8h - bate-bola (reprise)
9h - sportv news
9h30 - redação sportv
12h - bate-bola
14h - arena sportv
16h - zona de impacto
17h - paraguai x uzbequistão (futsal)
18h30 - sportv tá na área
19h30 - seinfeld
20h - loucos por futebol (reprise)
21h - bem, amigos!
22h - "apimentadas: tudo ou nada"

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15 outubro 2007

Copos de cristal

Hey babe, se lembra daqueles copos de cristal que compraste na Benedito Calixto? Beges e finíssimos. Sempre recebem elogios das visitas. “Poxa, bonito seu copo!” Eu apenas fico calado. Finjo que o bom gosto é meu. Ou digo a verdade: “ah, foi a minha ex que comprou. Ela foi embora, mas os deixou aí”. E dou um sorriso amarelo. Semana passada a Maria Rosa quebrou um deles. Com sua mão pesada de quem carregava enxada desde os seis anos de idade. “Esses copo (sic) é muito fino!” ainda reclamou. Hoje, agora mesmo, quebrei outro lavando a louça. Cortou minha mão em dois lugares. Foi sangue à beça. Misturou-se ao Limpol sabor laranja. Não tinha mercúrio ou mertiolate, então botei álcool mesmo. Parei de lavar pratos e pensei que, em breve, seus copos de cristal, que um dia seriam parte de uma bela casa, serão extintos.

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14 outubro 2007

the labour of love

- então você não está em são paulo?
- bem, neste momento não estou, né? estou aqui.
- claro. mas como está são paulo?
- são paulo vai bem. tudo tranqüilo por lá.
- tranqüilo?
- verdade. são paulo é mais tranqüilo. fico mais sossegado por lá.
- e o que está fazendo em são paulo?
- estou fazendo, estou levando, sabe como é.
- mas trabalhando?
- diariamente.
- com jornalismo?
- também.
- trabalhando pra quem?
- pra mim mesmo, pra pagar as contas e tal.
- sim, mas trabalhando para onde?
- ah, trabalhando praqui e prali, trabalhando por aí.
- bacana. bom te ver.
- com certeza, camarada, vamos nos trombar por aí.
- abraço.
- minhas estimas pra ti.

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09 outubro 2007

These days

Preguiça de viver. Do mundo. E das pessoas, principalmente. Da urgência dos jornais. Da calma das repartições. Daquilo que tem de ser feito para ontem. De ficar de stand by. À espera de um telefonema. Preguiça das fortes emoções. Dos amores ardentes. Do tesão muito louco de todo mundo por todo mundo. Das propagandas. Do futebol. De todos os problemas de todo mundo que não são os meus. Preguiça dos meus. Preguiça de abrir a porta de casa. De sair para rua. De almoçar. De pensar no que vou comer. Preguiça de ganhar dinheiro. Das chorumelas. De que sou isso ou aquilo. De que tenho medo de me apaixonar. Preguiça de me apaixonar. Vontade de fumar um. E ouvir música.

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06 outubro 2007

You sent me flying

Acordar sábado de manhã, bem cedinho. Com o sol morno afagando seu rosto. Com o gosto pelo infinito de Baudelaire. Com o buraco da existência preenchido por instantes. Com a maravilhosa solidão, sua amiga-mor, soprando belas palavras nos ouvidos. Com Amadou, Marian e Amy. Com vontade de correr quarteirões coloridos paulistanos. Com a ilusão, com a ilusão, com a ilusão. Com as palavras do velho Buk. Desta vez não tristes e amargas. Mas redentoras.

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04 outubro 2007

i wanna live like common people

Não tenho uma vista sampa skyline tão fucker quanto Berna Beat, do 1604. Ou a de Fred, “The Turkish”, do 1705. Moro no 1107. Da minha janela, o astral é mais blade runner, com os prédios enrugados de fuligem batendo à cara. A vantagem? Dá pra ver a vida das pessoas. Especialmente dos moradores da José Getúlio Street. Tem uns velhos doentes e seus cachorros. Um sãopaulino fanático que deixa duas camisas do time (uma reserva e outra titular) expostas no sofá em dias de jogos. Mas o hit of the summer é um casalzinho jovem. O sujeito sai pra trabalhar e sobra pra mim a garota, of course. Não dá pra ver direito seu rosto, mas tem um belo corpo, de hard workin people. De fato, ela trabalha duro. Serviços do lar. É esse cotidiano que me encanta. Acordar, arrumar a cama, varrer a casa e principalmente lavar roupa. Como nos velhos tempos. Seu uniforme predileto para o trampo é uma camiseta branca comprida, dessas que mulheres adoram. Meio transparente, deixando vazar curvas generosas e underwear. Certa vez, num calor intenso, estava só de calcinha. Turkish e Beat estavam aqui em casa, queimando um diíndio, e deliraram. Apagamos a luz e ficamos a observar o espetáculo dela estendendo roupas no varal. Deveria ter cobrado ingresso. Mas ela se cuida. São raras essas oportunidades. Sempre fecha as cortinas para momentos mais íntimos. Uma única vez a vi tirando a calcinha, por poucos segundos, para logo depois correr pra dentro. Normalmente a vejo quando vou fumar um cigarro na varanda. Nada premeditado. Apenas acontece. E como estou dois andares acima, ela não me vê. Me sinto seguro para observar. Só que, recentemente, por duas vezes, tive a nítida impressão que ela me viu. Que olhou nos meus olhos. Fiquei sem graça. Saí. Mas ficou uma dúvida cruel. Se, ao olhar, me reprovava... ou provocava?

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o superbacana

"isso é superpessoal. mas ele é supergentil, delicado e tem atitudes sedutoras"
(da jornalista monica veloso, sobre o senador renan calheiros)

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02 outubro 2007

anjos da noite

é o programa de rádio que os camaradas do TPB estão fazendo.
já está no ar há algumas semanas.
é um programa de blues, jazz e soul. e também tem rock, porque a gente gosta de rock.
são duas horas de música direto - sem intervalos comerciais, sem jabá e sem emocore.
todas as terças-feiras, às 22h.
na rádio cultura fm de brasília - 100,9 mhz.
(esta noite, temos apenas pianistas de jazz, de tom waits a fats waller, de monk a brad mehldau, de nat king cole a jelly roll morton, e tem também ray charles, nina simone, duke ellington, esse tipo de troço, sabe como é.)

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october song

"Estamos na madrugada da cidade, pelos bares bebendo conhaque e cachaça vagabundos. Jogamos bilhar, ouvimos Lou Reed, vamos a puteiros de quinta categoria pra pechinchar. Gostamos de Sam Peckinpah e Lee Marvin. O velho Chinaski é nosso padrão de comportamento."
(pierre porpeta)

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i stay up, clean the house, at least i´m not drinking

maria rosa ouve rádio. gosta de fazer faxina ouvindo uma rádio católica, não sei qual. alguma dessas em que o padre prega contra as células tronco, que eu já ouvi isso. maria rosa canta junto os hinos de louvor enquanto faz os serviços da casa. maria rosa usa pano de chão.
a dods do 1603 usa aspirador de pó. ela usa aventalzinho de dods e faz um barulho absurdo com o aspirador de pó. hoje pela manhã, ela estava ouvindo amy winehouse no último grau, enquanto aspirava a casa inteira.
we only said goodbye with words, i died a hundred times, you go back to her, and I go back to...

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