The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 agosto 2008

a trick they do with mirrors and with chemicals

seis da tarde de sábado. as primeiras luzes começam a acender pelas ruas d´aclimação, as gentes já se entocaram nos condomínios d´aclimação. uma calmaria de domingo pesa no ar do sábado. os caminhões da municipalidade já vieram e já foram embora. limparam a loureiro da cruz. como gigantes de aço mijando pelas ruas, seus jatos de água empurrando as tripas de peixe, lavando as tripas de peixe, empurrando as tripas de peixe até as bocas de lobo d´aclimação. elas voltam se chover pesado. um dia elas voltam. as tripas de peixe, um dia elas voltam nadando. enquanto isso, na loureiro da cruz, daquela feira barulhenta resta apenas o cheirinho de peixe. do canto dos pregoeiros, diria a carmem miranda, resta apenas um silêncio cansado no ar molhado. te digo que morar aqui no the double tree park é morar pertinho do mar. como em ubatuba. cheirinho de mar n´aclimação. mar e creolina perfumam as tardes de sábado. cheirinho de mar, cheirinho de creolina até terça-feira. ou até a primeira chuva chegar. e chover pesado. e transbordar teus esgotos. inundando as ruas ali de baixo. transbordando as ruas lá debaixo. as tripas de peixe nadando pela pires da mota até o glicério, até a rua lavapés. até os cortiços da lavapés. até as prostis, os traficas e os batedores de carteira. tripas de peixe para lavar pés.
a aclimação fica no alto do morro.

|

28 agosto 2008

my very life, the delivery way

3207-8876 para pedir um galão de água mineral, vinte litros
5572-8358 para a pizza, meia calabresa, meia portuguesa
3207-6854 para o pessoal da farmácia me trazer sal de frutas
3277-1480 para lavarem minhas roupas
3208-5451 para me curarem a solidão

|

26 agosto 2008

anjos da noite

hey, pequena, tu curtes elvis costello?
...Oh, if i could just become forgetful
when night seems endless
does the extinguished candle care
about the darkness
it´s funny how the memory
will bring you so close
then make you disappear...
hoje, às 22h, pela rádio cultura fm do distrito federal
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é uma presunção dos mods do tpb

|

segura na mão de deus e vai...

acordo meio atravessado. me acontece , às vezes, colchão kingsize. quero continuar ali atravessado, mas sinto que minha bexiga é um dique prestes a arrebentar sobre a nova orleans de minha pobre próstata. e me ergo num solavanco, um jump, audaz e felino, corro até o banheiro a balouçar minha bunda branca. eu e o celite, o celite e eu. sinto uma bela música a preencher o espaço entre mim e a louça. nessa cumplicidade de toalete, me entrego à simplicidade biológica daquele momento, a incontornável beleza dos gestos mais simples, o êxtase que se sobrepõe ao pensamento, à consciência e mesmo à linguagem do poeta quando apertado para dar um pipi matinal caudaloso.
te disse que sinto uma bela música a preencher o espaço entre mim e a louça. imagino a poesia das esferas celestes? maria rosa a lavar minhas panelas, a cantar para jesus, manhã de terça-feira.

|

24 agosto 2008

any given sunday

gosto de acordar cedo aos domingos. o bêbado da josé getúlio também gosta de acordar cedo aos domingos. não que o fato de ser domingo faça muita diferença para ele - ou para mim. olá, meu senhor, como vai?, o bêbado me saúda, cambaleante às portas da padaria madame, ele é um camarada gentil quando está sóbrio. reparo no seu olhar fundo e opaco. não muito sóbrio agora. e aí o senhor tem uma inteira pra um cafezinho? eu rio do palavreado dele, de leve, pra que não leve pelo pessoal. ele percebe e me sorrri de volta, pelo eufemismo da situação.

|

23 agosto 2008

blue: da última vez que vi ricardo

"The last time I saw Richard it was detroit in 68,
And he told me all romantics meet the same fate someday
Cynical and drunk and boring someone in some dark cafe
You laugh, he said, you think you´re immune, go look at your eyes
They´re full of moon
You like roses and kisses and pretty men to tell you
All those pretty lies, pretty lies
When you gonna realize they´re only pretty lies
Only pretty lies, just pretty lies..."
(joni mitchell)

|

the poetry as a charming behaviour

- bom dia, guria... me diz, tu curtes poesia?
- adoro.
- sou poeta, sabe?
- ah. você é poeta ou é charme?
- sou um poeta charmoso.
- acho que você está de papinho...
- nã. sou um poeta a valer.
- tu é jovem... deixa te dizer... com a idade, as pessoas mudam...
- eu não.
- você não será diferente... você mudará também.
- eu não. serei sempre poeta.
- ai... que lindo!
- lindo e charmoso.
- e o que o poeta faz além de poesia?
- nadja. a poesia me sustenta, me preenche e me ultrapassa.
- e você vive de poesia?
- não consegueria viver sem.
- bem... você me entendeu...
- eu não.

|

22 agosto 2008

be like the squirrel, girl, give it a whirl

te digo que, nos últimos dias, eu continuei imbuído em meu projeto de becoming and old fart, tornando-me um véio. ensaiando a minha aposentadoria precoce nas tardes d´aclimação. agora há pouco saí pra dar um rolê pelas cercanias.
é necessária certa dedicação para que tu consigas dar uma banda realmente no estilo aposentado. uma tarde assim ociosa, de fato, lembra muito uma tarde em que simplesmente se dá o perdido no emprego. essa confusão é um erro muito comum nos jovens aposentados. perceba que a diferença, basicamente, é que aqui não há um emprego em que se dê o perdido. é nessa discreta diferença que reside toda uma outra motivação, e daí todo um diferente comportamento que se vislumbra facilmente até nos gestos mais cotidianos - tal como, por exemplo, dar um rolê pelas cercanias numa tarde de sexta-feira.
não seria o caso de se dar uma banda ligeira, apressada, de passos febris, olhar atento e espírito armado. isso é cousa de quem faltou ao trabalho e tenta descontar em um punhado de horas toda a semana estressante e vazia. isso é cousa de paulista. também não seria o caso de se escrutinar uma programação para as próximas horas: pegar a matinê das duas, descer até o aclimation park, alugar um filme na boulevard vídeo, dar um rolê consumista pela conselheiro furtado, sair com o cachorro. nanão. nada disso.
percebo o movimento dos old coreans d´aclimação, os hábitos de meu vizinho brito, sigo as velhas encurvadas fazendo compras no dany. muita observação em um campo de estudo bastante amplo, me levou a uma simplicidade tocante, que agora compartilho contigo.
que seja... take your time, dude.
o bacana duma tarde ociosa de um old fart e usá-la para... nadja.
disperdiçá-la ao vento. gastar longos minutos simplesmente arrastando minha carcaça beat pelas calçadas da pires da mota. esse lance de andar apressado e falar rápido é febre de juventude. be like the old corean. gestos lentos, movimentos lentos, um caminhar tranquilo. zen & a arte da manutenção de motocicletas.
assim, na maciota, desço até a banca de revistas tentação, na esquina com a josé getúlio. dou uma olhada nos lançamentos editoriais, folheio algumas revistas, dou uma paquerada na carol castro na capa da playboy - e não levo nada. repare como os oldies raramente levam algo que folhearam.
vou até a padaria madame e tomo um café preto de meio da tarde. aproveito pra me espichar no balcão da padoca espiando seu recém-adquirido pacote de tevê por assinatura. o português dono da madame sintoniza na rtp. parece piada ruim, de tão clichê, mas é vero.
e então vou no dany. aproveito e me perco por entre as gôndolas. lost in the supermarket. vou até os recantos menos percorridos do mercadinho, como o canto onde se escondem os copos duralex, os pirex e os panos de pó. a novidade de fazer as compras assim em ritmo old men me proporciona um par de realizações: me lembro de comprar um pacote de papel higiênico (vejam que a correria do dia-a-dia poderia me trazer problemas sérios quanto a limpar a bunda) e posso mesmo perceber que o pão de queijo congelado está em promoção (três e noventa e oito).
deixo a pacotaiada em casa - é chato andar por aí com rolos de papel higiênico.
então desço a pires da mota mais uma vez, agora sigo até a avenida d´aclimação. repito à tarde um troço que muito me entretem pelas manhãs: sentar no banco da parada de ônibus e espiar os malucos circulantes. decepção. porque de tarde fica tudo kind of boring, sem o lufa-lufa coletivo matinal de quem está atrasado para o mundo corporativo. sucks.
subo até a rua josé getúlio, novamente, porque a aclimação é um pequeno pedaço de chão, e agora dobro a esquina para o lado oposto. no rumo da lanchone açaí power. por algum motivo que me foge à compreensão, essa lanchonete tão comunzinha foi adotada em peso pelos jovens coreans d´aclimação. neste momento, eu sou o único ocidental ali sentado no açaí power. eu e o rapaz do caixa e a guria que bate os sucos. o resto é corean.
jovens coreans de cabelos espetados tipo spectromen. devem estar comentando sobre as finais do tênis de mesa em pequim. ou quem sabe comentem o cinema transgressor de kim ki-duk. sei que eles falam alto, aos berros, usam os celulares e se comunicam com outros coreans perdidos por aí. enfim, eles agem como os adolescentes de qualquer ponto do planeta i-pod, eu suponho do alto de minha estimada senilidade precoce. estes são histéricos e riem alto. contam piadas em seu idioma impenetrável e tudo me parece um grande circo meaning nothing. te digo que tanta juventude me cansa. bocejinho.
be like your old men, rapazes.

|

20 agosto 2008

lebowski

parece que, uma manhã dessas no leblon, a alessandra negrini acordou meio virada, olhou pro lado e caiu na real:
o que esse maconheiro cabeludo está fazendo aqui mesmo?
aí mandou o otto embora. agora deve estar atrás do cauã reymond.

|

19 agosto 2008

anjos da noite

é o groove, véio...
isaac hayes, wilson pickett, rufus thomas, otis redding...
a velha guarda da soul music de memphis, tennessee
hoje, às 22h, pela rádio cultura fm do distrito federal
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa "anjos da noite" é uma armação dos soulmen do tpb

|

intimidade

tirou as botas e levou os pés pra cima do sofá
trinta e seis, calculei
que estava numa enrascada

|

mormaço de inverno

e eu fico aqui sentando diante da minha mesa. o computador faz um barulho do cacete, tipo uma enceradeira ligada. uma pilha balouçante de cds e livros sobre a mesa. um copo de requeijão com traços de vodca no fundo, uma vespa voando a seu redor. as contas a pagar com suas datas de vencimento assinaladas em negrito. espio as contas daqui. elas me espiam de lá. preferia gastar minha grana no balneário vison. os encargos de pagamento efetuados após o vencimento serão cobrado (sic) na proxima (sic) fatura. a única cousa certa na vida é a próxima fatura. ela sempre chega, depois que aprende o caminho. nunca vi uma conta perdida, como uma guria, por ter-lhe faltado o caminho. e sempre há a segunda via.

|

18 agosto 2008

louro josé cai na real

breaking news do noticiário de celebridades:
"Ana Maria Braga e Tom Veiga (o dublador do Louro José), que trabalham juntos há onze anos, não estão em sua melhor fase. Comenta-se nos bastidores da Globo que os dois têm se desentendido. Louro José teria até ameaçado ir para a Record. Ana tem os direitos autorais do simpático papagaio. A assessoria de Ana Maria Braga nega. Diz que não há desentendimento nenhum. "

|

16 agosto 2008

o beat da bahia

"eu vou pra maracangalha, eu vou
eu vou de uniforme branco, eu vou
eu vou de chapéu de palha, eu vou
eu vou convidar anália, eu vou
se anália não quiser ir, eu vou só
eu vou só, eu vou só"
(dorival caymmi)

|

nove da manhã de sábado

gostaria de ser um cara feliz
com muito orgulho, com muito amor
estourando rojão n´aclimação
porque o brazil ganhou dos camarão

|

15 agosto 2008

like a rolling stone (or what?)

bueno... te digo que, noutra encarnação, fui um jornalista rocker. tipo aquele moleque do filme 'quase famosos', tu sabe como é.
tudo bem que eu fui jornalista rocker nos anos noventa, e em brasília, e sem a kate hudson por perto, o que empana um pouco a magia do troço. mas, enfim, como dizem os gringos, being there, done that, estive lá e fiz isso.
desde moleque eu queria ser jornalista rocker. desde que comecei a ouvir música a valer, no verão de 1990, descobrindo bob dylan e rolling stones e led zeppelin. meu pai, antes disso, tinha todos aqueles vinis dos beatles, claro, mas por isso mesmo, beatles não valem. e te confesso que bon jovi era bem bacana, quando eu tinha doze anos, e bon jovi me levou aos guns n´roses e a outras bandas de má índole. mas foi apenas quando o zeppelin, os stones e o velho bob entraram na parada - fitinhas cassete compradas nas lojas americanas nas manhãs de sábado - é que esse troço de rock ficou sério.
anos mais tarde, quando fui fazer jornalismo, me parecia natural, evidente sobre o que eu ia escrever e tal.
me lembro, de passagem, da tarde mais memorável de toda minha carreira como periodista. quando fui pautado para fazer uma resenha sobre uma coletânea do led zeppelin, a 'remasters', que recebia nova edição em cd nacional. olha só, não pude deixar de pensar naquele instante, 'communication breakdown' nas caixas de som, estou aqui sendo pago para ouvir as músicas que eu ouvi durante todo o meu segundo grau em vez de estudar matemática-física-química. ou o sistema está errado, muito errado, ou sou mesmo um sujeito de sorte e consegui achar uma brecha pra mim na sociedade civil, no mundo adulto, no mercado de trabalho. enfim.
porque sei que tem gente que foi fazer jornalismo por causa do elio gaspari, por causa do caco barcelos, por causa da monica veloso.
meu pai é jornalista para valer, daqueles que cobrem a esplanada e tal. mas minha influência maior no jornalismo eram os caras da finada revista 'bizz' - principalmente aqueles entre o final dos anos oitenta e meados dos anos noventa: josé emilio rondeau, ana maria bahiana, fernando naporano (que tive a honra de conhecer), andré barcinski, andré forastieri, rogério de campos, carlos eduardo miranda, essa turma.
a 'bizz' era bem lúdica e bem instrutiva. mais do que isso, era essencial naquele mundo sem internet, sem mtv. porque meu pai não é roqueiro, não. nunca tive irmão mais velho pra me ensinar como funciona.
então eu lia uma resenha do guns n´roses que falava do led zeppelin - preciso ir atrás.
lia uma resenha do zeppelin que falava do jimi hendrix - preciso ir atrás.
lia uma resenha do hendrix que falava do cream - preciso ir atrás.
lia uma resenha do cream que falava do - bem, tu entendeu...
aprendi rock assim, por escrito. de big star a the stooges.
depois rolou a 'rolling stone' nas bancas brasileiras. os doces anos fhc e a taxa de câmbio a zero faziam com que a bacanuda 'rolling stone' chegasse nas bancas mais barada do que a 'ele ela'. hoje está evidente pra mim que a revista já vinha ladeira abaixo (capas com a gwen steffani, com o bill clinton), mas, de certa forma, era o que restava da mítica 'rolling stone' de hunter thompson e ben fong torres e jann wenner.
então a 'bizz' ficou brega e quebrou. tentou voltar e voltou ruim e quebrou de vez.
e a 'rolling stone', a franquia de jornalismo, ganhou edição nacional. pois lá fui eu, berna beat, o antigo foca do jornalismo rocker, a comprar uma por uma, todo mês, empilhar as revistas no armário. iggy pop na capa. bacana. keith richards & johnny depp na capa. bacana. dava até pra deixar passar as resenhas sobre as novas bandas emo e toda a babação na pitty.
mas, ôpa, espera um pouco... os caras estão apelando...
rodrigo santoro na capa da revista, ivete sangalo, grazi, fausto silva, nx zero... e as matérias puxando saco desses pulhas... entrevistas com fernanda lima e alessandra ambrósio, esses luminares da cultura nacional, para justificarem as photos peladas.
de buena... te juro que tentei. em homenagem ao finado berninha rocker de catorze anos de idade, juro que tentei. mas os camaradas, este mês, tiveram o culhão de mandar para as bancas uma revista com o mago paulo coelho na capa.
ah, mas vai pra pôrra. deu pra mim. como diria o poeta, pode usar pra limpar a bunda.
pobre muddy waters, pobre bob dylan, que inspiraram o nome desse catálogo de compras. hunter thompson, que era esperto, meteu um fuzil na boca por menos que isso. abraço.

|

tangled up in blue

"she opened up a book of poems and handed it to me
written by an italian poet from the fifteenth century
and every one of them words rang true and glowed like burning coal
pouring off every page like it was written on my soul"
(roberto zimmerman)

|

14 agosto 2008

tânia maranhão

curtes olimpíadas?
te digo que estava entusiasmado. mas o fuso horário e a imprensa ufanista me deixaram meio cansadinho de todo esse circo fascista armado pelos chinas reaças. além do fato de o brazil só levar ferro, claro, o que empresta ao fuso e à cobertura da mídia um certo ar sado-masoquista vira-latas terceiro mundo. enfim...
estava falando de olimpíadas só por que me lembrei do handebol. taí um esporte que sempre me intrigou. sempre me pareceu um arremedo de basquete, um arremedo de futebol que, juntando aspectos de ambas as modalidades, se mostra incapaz de chegar a bom termo por si só. note-se, por exemplo, um placar típico do handebol... digamos 34 x 29. cá entre nós, puta números chatos. o placar do handebol nem é sofrido como o do futebol (2 x 1), nem é impactante como o do basquete (91 x 87). nem lá, nem cá. no meio do caminho. o handebol me parece exatamente assim. um puta troço chato.
eu poderia simplesmente ser indiferente ao handebol. como sou indiferente quanto à peteca. mas te confesso que peguei nojo de handebol por causa da educação física do colégio marista de brasília, primeiro grau. os quatro bimestres da educação física, duas vezes por semana, eram dividos entre quatro esportes simultâneos para os meninos e as meninas - em quadras separadas, claro, os meninos e as meninas, se não virava putaria em colégio de padre.
num bimestre, para começar, fazíamos atletismo. nem preciso comentar como meu desempenho era patético nesse bimestre, correndo na pista de brita do maristinha, saltando jadel gregório na caixinha de areia cheia de craca atolada. depois tinha o voleibol, que era melhorzinho, pois as nossas turmas eram numerosas e dava pra ficar escondido no time de próxima. tinha ainda o bimestre do basquete. esse era quase bacana, pois eu fazia um pivô pivô. estilo le bron james. volta e meia muquetava um desses boyzinhos na boca do garrafão. boa.
por fim... o quarto esporte do maristinha era o... handebol.
sim, raios. nada de futebol, não. porque tinha o handebol. a turma ficava puta, caramba, como assim handebol? isto é cousa de guria: queimada, handebol, essas pôrras. homem joga futebol. dá carrinho, leva bolada, rasga a calça, rasga o joelho na quadra de cimento.
não, não. nada disso. futebol só no recreio, quinze minutos corridos, antes de a gente voltar vermelho e esbaforido para a aula de história. nós, artistas do ludopédio, estávamos privados de exercer nossa arte justamente na aula de educação física, que teoricamente existia para tanto. tínhamos que jogar handebol. dando munhequinha na bola, dando pulinhos pra sair da marcação.
amendoim foi o nosso professor de educação física na sexta, sétima série. ele tinha um outro nome, não me lembro qual, o chamávamos de amendoim, sem nem saber o por quê. amendoim dizia que a gente praticava handebol porque as meninas, na quadra ao lado, tinham que praticar o mesmo esporte que nós, ogros do esporte estudantil. e elas não jogavam futebol, claro, não havia pretinha ou tânia maranhão no final dos anos oitenta. só bebeto e renato gaúcho.
enfim, nós, craques do futebol, éramos obrigados a jogar handebol por conveniência daquelas meninas frescas que não conseguiam chutar um objeto esférico.
hoje, vinte anos depois, não posso deixar de rir ao ver, lá de pequim, o resultado dessa política da educação física de nossos colégios. desempenho cretino do handebol brasileiro, masculino e feminino.
e pensar na marta, que teve que aprender a jogar bola bem bem longe do maristinha.

|

13 agosto 2008

don´t eat stuff off the sidewalk

tu nunca sabes ao certo se os mendigos estão vivos ou mortos.
nestas madrugadas frias de dias escaldantes, eles se deitam na calçada e se cobrem inteiros. ficam encolhidos em posição fetal no cantinho mais abrigado da calçada. se encolhem todos e se cobrem com o cobertor imundo dos pés até o cocuruto da cabeça. embrulham a cabeça inteira, sem nem deixar uma frestinha pra respirar.
então tu passa pela calçada e vê aqueles embrulhos de gente.

|

12 agosto 2008

anjos da noite

hey, guria, have you ever been to new orleans?
uma noite em nova orleans:
jazz de cabaré, rhythm´n´blues de puteiro, canções do mardi gras.
hoje, às 22h, pela rádio cultura fm do distrito federal
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa "anjos da noite" é uma improvisação dos malandros do tpb

|

the books in my life

hoje é dia de maria rosa. então tive de dar um perdido de, pelo menos, um par de horas. fui zanzar pelas cercanias da paulista avenue. disposto a matar tempo. meus passos me levaram até a livraria cultura. por hábito, por costume. resisti bravamente às ofertas de dvd e aos lançamentos do mercado editorial às vesperas da bienal do livro de são paulo - nem mesmo o disco da amy winehouse em LP importado, setenta pilas, me falou ao bolso.
como te dizia, eu resisti bravamente, resistia bravamente até...
dar com um novo livro de charles bukowski ali na estante dos autores estrangeiros, altura da letra b. novinho em folha, "ao sul de lugar nenhum", edição da l&pm.
uêbas. um livro novo do bukowski.
mas, tu dirias, com razão, charles bukowski não é morto? como assim um livro novo de charles bukowski?
eu te responderia, de boa, em verdade, este é um livro antigo, é a tradução recente de "south of no north", e não poderia mesmo ser diferente, uma vez que charles bukowski é morto.
mas como eu nunca li esse livro, então é um livro novo do bukowski. como não?
(tenho sido surpreendido ultimamente com filmes novos de ingmar bergman e livros novos de jack kerouac. filmes e livros recém-lançados. inéditos para a minha pessoa. bergman e kerouac e o velho buks estão tão vivos quanto eu e você - mais até do que muitos de nós.)
felipe campbell, estimado leitor do tpb, outro dia mesmo estava a perguntar qual livro do bukowski deveria tomar para ler. sugeri uns quatro. porque tentei ser sintético e objetivo. aproveito e digo agora pro elipe que me esqueci do "hollywood", que é um dos últimos dele, é bom pra c*ralho e tem uma edição de bolso bacana e baratinha.
não sei quanto a ti, mas eu não consigo comprar um livro novo e esperar até chegar em casa para poder lê-lo. ali mesmo, dentro da livraria, joguei fora a sacola de plástico e o comprovante fiscal, e abri o livro para ler. um livro de contos. o primeiro começa assim:
"edna estava caminhando pela rua com sua sacola de compras quando passou pelo carro. havia um cartaz na janela lateral: procura-se mulher."
me meti a ler, andando por entre as pessoas, paulistas andam o tempo todo, tropecei numa senhora de idade, antes que trombasse em alguém com conseqüências mais sérias, sentei num banco. tive de terminar de ler o conto. depois peguei o metrô. e ler no metrô é chato. sacoleja. mas deu pra ler as duas orelhas do livro (bem ruins, cheias de clichê, "sobre personagens que desistiram da sociedade", "bukowski empresta sua voz áspera de cigarros e destilados", até eu faria um serviço menos porco.) desci na estação vergueiro, procurei outro banco pra me sentar, no centro cultural são paulo, e li então mais dois dos contos de buks.
seus personagens que desistiram da sociedade estavam ali nas páginas do livro e também ali na vida real, ali ao meu lado, um mendigo sentado fedendo suando sobre o banco da praça, aliviando-se na sombrinha de duas das tarde neste inverno de trinta e seis graus. hey, isto aqui é bukowski em tempo real, e não-editado, me lembro de ter pensado.
"eu estava sentado em um bar na avenida wester. era perto da meia-noite e estava metido em uma das minhas habituais confusões. quero dizer, você sabe, nada dá certo: as mulheres, os trabalhos, a falta de trabalhos, o tempo, os cães. por fim, você simplesmente senta em uma espécie de estado de transe e espera como se estivesse no banco da parada de ônibus aguardando a morte."
charles bukowski me fará companhia para esta tarde. e para mais uns tantos dias. assim que chego em casa, tiro os sapatos e me esparramo de meias no meu sofá beat. interrompo a leitura num salto, apenas pra bater essas palavras ligeiras aqui, mas já deu no saco, já ficou comprido, já disse o que tinha que te dizer.
com a tua licença...

|

we do not serve dope fiends

levanto no meio da madrugada. simplesmente acordo e me levanto no meio da madrugada. faço um pipi para acordar, tiro as remelas dos cantos dos olhos. que sujeito freak me espia ali no espelho? puxo a descarga devagar, de mansinho. porque ainda é cedo. já é bem tarde. cato os restos de telepizza & cigarros no balcão da cozinha, passo um pano úmido, para a maria rosa não se assustar quando chegar de manhã. arrastando os chinelos, old brito style, vou até a lixeira sem acordar meus vizinhos, cinco apartamentos de luzes apagadas, portas trancadas e trincos passados. um dos elevadores está parado no térreo. o outro, no sexto andar. as luzes de segurança do the double tree park acendem sozinhas pelo corredor e iluminam meu caminho solitário pois detectam em seus infravermelhos a passagem de minha silhueta mortiça. até a lixeira. posso ir até a lixeira de cuecão. quatro da manhã. acendo a tevê. calculo pela janela outros apartamentos, ao redor, com suas luzes azuis e esverdeadas piscando através das janelas em impulsos via satélite. basquete, handebol, canoagem, judô e voleibol na tevê. três da tarde em pequim. acendo o fogão, preparando um chá verde, a chama azul do gás que sai de dentro das paredes. até a varanda beat. ouvir melhor esse silêncio d´aclimação. a rua pires da mota está vazia,e stá deserta, está abandonada. nenhum vagabundo, nenhum homeless. cinco, seis quarteirões até lá adiante, ermos, no rumo da baixada do glicério. onde as noites são mais escuras e algum lou reed está a andar pelo wild side. os faróis de trânsito a imporem luzes vermelhas para o nada. para carro algum. a chaleira a fumegar. apenas luzes amarelas distantes a deslizarem em velocidades impensadas pela radial leste, sentido centro. a friaca paulistana da madrugada. cinco apartamentos acesos no edifício eneide. mais sete ali adiante, oito, perto da padaria madame. acendo um cigarro espiritualmente. trago in my mind. chá verde. os combates se ampliam na geórgia. espicho os olhos e consigo contar exatas onze estrelas nos céus d´aclimação. ou seriam planetas? um planeta é uma forma de estrela. rua urano, rua saturno. acho que vi vênus n´aclimação.

|

11 agosto 2008

Breaking the law

Deu nas agências de notícias: o Brasil é o terceiro país do mundo em número de advogados. Perde para os EUA e a Índia.

Acho que vou me mudar para um lugar mais cool, tipo a Ossétia do Sul.

PS: dentre os estados brasileiros o DF é o que tem o maior número de advogados per capita.

|

10 agosto 2008

pequim

pôrra...
mas e a questão da
ossétia do sul?

|

09 agosto 2008

she wore blue velvet

david lynch esteve em são paulo na quinta-feira.
queria ter visto. deve ter sido assaz divertido ver o cineasta freak na grand ciudad surreal. um pleonasmo terceiro mundo, te diria, ainda mais quando o ambiente úmido industrial chuvoso voltou com força sobre nossa metrópole bucólica. mas não deu pé ir lá ver david, não deu, não.
david lynch recebeu os fãs na livraria cultura na avenida paulista e, depois, à noite, me parece que ele falou aos alunos da faap, aqueles burgueses filhinhos de papai metidos a artista. pobre lynch. mais um desavisado caiu no conto do gringo otário.
não fui ter com lynch. a cobertura noticiosa me traz o alento de que, conforme eu previra, foi tudo uma balbúrdia, um grande programa de índio, programa de indie. tipo comprar ingressos pro show do joão gilberto. esparramaram-se filas homéricas à porta da livraria, distribuição de senha muitas horas antes, obrigando os fãs a ficarem lá de pé a tarde inteira, pagando mico que nem um bando de trekkers esperando spoc no meio de um shopping. se ainda fosse a naomi watts...
lynch, o pôrra louca, tratamento de popstar aqui entre os tupinambás, recebeu aplausos incontidos a cada frase de sua-sapiência-audiovisual que estava, aliás, tentando empurrar um livro sobre meditação transcendental. (hey, isso é lynch deveras!)
hoje vou rever eraserhead em homenagem tardia a david lynch, que já foi embora. quer dizer... vou tentar ver eraserhead, de madrugadão, entre os jogos de handebol masculino e as competições de adestramento por equipe no hipismo.
(em tempo: a feira de todos os sábados aqui na rua loureiro da cruz hoje passou sem uma de suas mais melindrosas protagonistas. me refiro à anã-corcunda-cigana-quiromante que senta em seu caixotinho ali na esquina da loureiro com a rua urano. ela não apareceu hoje. como assim? fiquei realmente muito incomodado com a ausência da anãzinha freaky, mais incomodado do que costumo ficar em sua presença. desde que me mudei para o the double tree park, há mais três anos, a anãzinha está sempre ali. sempre. sem erro. imagino se david lynch, o óbvio criador daquele ser sinistro, não deve a ter levado volta para los angeles, de volta para o acostamento da mulholland drive. se for isso mesmo, ela fará falta, a aclimação perde um de seus encantos. a conferir.)

|

08 agosto 2008

embodiment of evil

batman e robin é o escambau.
zé do caixão voltou! emoção!

|

07 agosto 2008

a good woman is hard to find

Tem aquela garota. Novinha. Branquinha. De lábios sempre vermelhos. Fartura de coxas à mostra. Barriga de fora. Que, ao sentar-se, não cruza as pernas. Para que todos vejam a calcinha rosa. As mulheres a olham com ódio. Não há outra palavra. Ódio. Talvez desprezo. Certamente inveja. “A puta”. Os homens são mais simples. Apenas a desejam desde o primeiro minuto. “Que puta”.

A garota me olhou. Deu um sinal. Fui atrás. Como um cachorro. Me deu a mão, no meio da multidão. E enfiou entre suas nádegas. Não queria me dar. Apenas queria minha mão na sua bunda. Segurei firme. Meu joelho entre suas coxas. Bem no meio. Não queria me dar, de novo. Uma pena. Aquela garota, que puta, é um templo inexpugnável.

|

06 agosto 2008

drink and drive

lei seca, ainda se pode falar de lei seca?
desculpe. é que só agora me deu vontade.
te digo: eu não bebo, não fumo, não cheiro.
só minto um pouquinho - como o tim.
mas não posso deixar de notar como todos os noticiários estão falando sobre a lei seca. o número de mortos em acidentes automobilísticos caiu de maneira entusiasmante. as pessoas estão felizes com a redução das fatalidades... uêbas, digo eu.
e sugiro algo ainda melhor que a lei seca.
assim: por que não fecham as montadoras de automóveis e proíbem a importação?
aposto que o número de mortos em acidentes automobilísticos cai para zero em duas, três décadas. não é verdade? pronto. está dada minha parcela cidadã de cooperação para um brazil melhor. estimas.

|

cidade alerta

dados da secretaria municipal de segurança pública divulgados ontem.
crimes registrados no quinto distrito policial, aclimação, no primeiro trimestre de dois mil e oito.
um homicídio, dois estupros.
378 roubos, um roubo a banco, dois roubos de carga, 28 roubos de veículos, 768 furtos, 67 furtos de veículos.

|

o robertinho

um cara boa-praça. meio lento, mas simpático a valer. simpático até demais, se tu me perguntares. deve ter sofrido um stroke, vá saber, ou caiu do berço quando bebê. talvez já tenha nascido assim. o fato é que ele é meio lento, meio bobão, bem, tu me entendes. sorriso infantil no rosto, a manha de puxar papo com desconhecidos no meio da rua, dicção meio atrapalhada, espírito desarmado, mão estendida para te cumprimentar, bom dia. sempre bom dia.
já tinha percebido robertinho no aclimation park. sentado no banco de cimento, de costas para o lago, puxando papo com os passantes. depois dei de cara com ele na padaria madame. ele me reconheceu de imediato e veio puxar papo comigo, esta figura hipster pouco afeitas a amizades e cordialidades sociais. queria saber meu nome. eu me chamo zé roberto, ele se apresentou, mas pode dizer robertinho. contou que todo dia, acorda cedo mesmo, vai até a madame comprar pão para a mãe, depois dá um rolê pelo parque. mas antes de ir ao parque, deixa o pão para mãe, para o café da manhã da mãe. e queria saber de mim, o que eu fazia, se eu ia sempre pro parque. pergunto isso porque tinha me visto por lá algumas tantas vezes. eu sou poeta, disse, vou ao parque com certa frequência para buscar um poemeto ou dois. robertinho não achou estranho eu ser poeta. robertinho é um cara que take it as it comes. sem neuras.
encontrei com ele mais duas ou três vezes na madame. olá, bernardo, bom dia para ti. robertinho nunca esquecia meu nome. vinha me cumprimentar e perguntar sobre o parque d´aclimação. vai bem, o parque vai bem. numa dessas, tomou a liberdade de comentar que me acha um cara bem forte. não sou forte, não, robertinho, sou gordo mesmo. ele riu sem graça.
há tempos não via robertinho. apenas tinha espiado sua figura sui generis, certa feita, a subir pela pires da mota. vindo lá das bandas da conselheiro furtado. renatinho com o cabelo curto, bem penteado, os óculos cdf de aro fino, a camisa polo abotoada, a calça moleton e o tênis de atleta. franzino e fracote, uns trinta e tantos anos. cheiro de talco johnson. segui robertinho de longe, intrigado, para ver se ele existia de verdade, se ele existia mesmo quando não sabia que estava sendo visto, se existia mesmo quando não estava puxando papo com desconhecidos no meio da rua. robertinho dobrou a esquina com a josé getúlio, andando ligeiro, e tomou o rumo da madame - comprar pão para a mãe.
hoje encontrei robertinho no meio da aclimation avenue.
oh, bernardo, bom dia. oh, buenos, como vai o senhor? você não tem ido mais ao parque, não é mesmo? não, não tenho ido. e os poemas? vão bem, robertinho, acordando meio tarde, mas ainda dá para pentear. boa sorte para ti então. obrigado, robertinho, obrigado. estou indo para o parque agora. tchau.

|

anyone can play guitar

Legal Notice
If you´re a potential Class Member in the V*** Check/Master Money Antitrust Litigation, the deadline to receive benefits from the Settlement has been extended to September 15, 2008.
Click Here To Learn More

|

05 agosto 2008

elvis

john pothead me ensinou a mexer neste troço. apesar de beatnik, nosso camarada pothead tem muito as moral das traquitanas eletrônicas. me ensinou a mexer aqui no soulseek neste final de semana. baixar músicas e tal. passei a tarde mandando descer os antigos vinis do elvis.
o elvis costello, claro.
welcome to the working week, ele cantava, elvis, na primeira faixa de seu primeiro disco, 1977, creio. boa música para uma segunda-feira ao sol d´aclimação. no sentido poético, claro, porque choveu pacas nesta terça-feira n´aclimação.
e eu fiquei aqui, cozy em meu cafofo beat, a ouvir elvis costello.
como diria outro poeta urbano, lobão do leblão, chove lá fora - mas aqui dentro cai a chuva.
It´s at times such as this she´d be tempted to spit, if she wasn´t so ladylike. She imagines how she might have lived back when legends and history collide. So she looks to her prince, finding he´s so charmingly slumped at her side. Those days are recalled on the gallery wall, and she´s waiting for passion or humour to strike. What shall we do, what shall we do with all this useless beauty?
elvis pra te salvar o dia.
What shall we do, what shall we do with all this useless beauty?
All this useless beauty...

|

anjos da noite

e então, guria, have you got the blues?

"Seen the arrow on the doorpost
saying This land is condemned
all the way from New Orleans to Jerusalem.
I traveled through East Texas
where many martyrs fell
and I know no one can sing the blues
like Blind Willie McTell..."
(robert zimmerman)

arqueologia bluesy no programa 'anjos da noite'
o blues do mississippi ao longo das décadas de 1920 e 1930
os dias de charley patton e blind willie mctell
hoje, às 22h, pela rádio cultura fm do distrito federal
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é uma armação dos blueseiros do tpb

|

04 agosto 2008

poltergeist, o fenômeno

minha máquina de lavar roupas tem vontade própria.
te digo que eu até já estou acostumado com seu temperamento. eu vou lá e mando ela trabalhar numa boa, lavagem curta para tecidos normais, com dois enxágues, por favor. alimento o troço com sabão em pó omo e amaciante fofo. aí vou tratar da vida. e a máquina aproveita. se enche de água e depois dá uma mijada esvaziando-se no tanque ao lado. se enche de água de novo e passa a ronronar, ruminando as roupas em seu ventre. nessa hora ela já começa a se movimentar em demasia, às vezes alagando o chão da área de serviço.
então ela se sacoleja toda, faz mais barulho que as hélices de um helicóptero em pane, como se atacada por um poltergeist. e sai andando por aí.
certa feita, flagrei a máquina no meio da cozinha. acho que ela pensava em espiar a geladeira. não gosto de deixar o troço ligado e ir para a rua. temo pela integridade de meu apartamento beatnik. temo que vá parar no banheiro.

|

der himmel über berlin

te digo que sofro de claustrofobia. mas não sei te dizer se é uma condição genética. se é ressaca espiritual acumulada depois de anos e anos em inferninhos à meia-luz com rock and roll em volume extremo. se é simplesmente um desvio de minha conduta habitual acentuado pela idade avançada. ou se foram meus abusos químicos que me levaram a esse insuportável sentimento de opressão física e psicológica cada vez que hoje me percebo encarcerado em algum night club.
noite dessas, então, a turma desceu lá para o clube berlin, na barra funda. poderia ser pior. poderia ser a famigerada rua augusta, ali no sarajevo ou mesmo naquele lugar apropriadamente denominado inferno - provável referência à qualidade artística de suas atrações musicais.
mas era uma banda bakana, o kill karma. e a banda despencou para essa gig, como anunciou o mestre de cerimônias john pothead ao respeitável público, "directo de madrid". e o pessoal da banda ficou aqui no the double tree park tocando o terror internacional neste respeitável e familiar residencial, on booze n´aclimação, european way.
ah.. e o baterista da mencionada banda é nosso brother andrés de garcía, el tema del día. e garcia é irmão. então... berlin.
a primeira hora em berlin foi bacana. dava pra ignorar o som ruim, com um jesus and mary chain perdido ali no meio. o pé direito alto, até dava pro ar circular, até dava pra respirar. mas o tempo foi passando, e o lugar se encabeçando. se aquilo lá era berlin, então eu era um judeu polonês.
quando o dj mandou na sequência joy division (isolation) e cyndi lauper (girls wanna have fun). fiquei incomodado. era bipolaridade demais pra mim. me levantei da mesa em protesto.
pedi uma long neck. só tinha stella artois. como em bruxelas.
antes do kill karma "subir" ao "palco" tinha ainda uma banda de curitiba cantando em inglês e tocando por insupórtáveis trinta minutos, parece que felizmente não tinham repertoire para mais tempo. me pergunto como é possível tantas bandas ruins saírem do paraná. pensei em boi mamão. era o momento de uma prison break.
arrombei a porta do berlin. o segurança deu um passo em minha direção. desculpe, senhor, mas só vim respirar um bocadinho de ar puro aqui fora, portanto te pergunto se seria possível.
o cordial leão de chácara me deixou escapulir até a calçada. nunca tinha percebido como é fresco e puro, higiênico e saudável, revitalizante e primaveril o ar da pacata cidade de são paulo. meus fatigados pulmões quase sofreram uma alveolar overdose de oxigênio, fartando-se com tanto ar. tanto ar.
minhas pernas bambearam. fiquei tonto. quase perdi o equilíbrio. me encostei na parede imunda antes que desabasse na calçada.
ah, a juventude. um grupo de youngsters esbaforidos e entusiasmados bate à porta da berlin naquele instante. falam alto, gritam uns com os outros, ligam aos berros para amigos distantes em celulares pré-pagos. duas gurias provocam um camarada que, te confesso de passagem, me lembrou o jovem berna beat, ainda entregue a seu juvenil apetite por destruição.
sério que você meteu na bunda?, uma das garotas pergunta para o rapaz. gostou de meter?, a outra garota atravessa, sem esperar resposta, provocando o camarada, puxando pelo braço. sim, claro, enfiei na bunda - ele admite com a singeleza de um franciscano - mas antes passei um bocado de sabão de coco por fora. ah, sabão de coco?, as gurias quase têm um troço. sabão de coco, daqueles da pia da cozinha, de lavar prato, para poder penetrar, um supositório de sabão de coco. a palavra "supositório" deve ter chamado a atenção dos outros três amigos, que se acercam para ouvir melhor. tu fez um supositório de cocaína? e deu certo? risadas. o syd barrett (melhor, o fernando collor) daquela turminha de infantes on drugs sorri de leve. ah, a soberba. ele não disfarça o ar de superioridade diante dos coleguinhas descrentes. sibila a resposta com a melodia dos profetas iluminados... claro que deu onda, derreteu lá dentro, deu uma onda forte e...
mas pingou para fora?, alguém pergunta.

|

people rollin´ round on the carpet

"I've been up to Villiers Terrace
To see what's a-happening
There's people rolling 'round on the carpet
Mixing up the medicine
I've been up to Villiers Terrace
I saw what's a-happening
People rolling 'round on the carpet
Biting wool and pulling string
You said people rolled on carpet
But I never thought they'd do those things..."
(echo and the bunnymen)

|

02 agosto 2008

sobre o décimo-segundo andar do edifício eneide

uma das minhas grandes frustrações urbanas era a de nunca ter tido uma vizinha gostosa no prédio ao lado, uma vizinha gostosa que eu pudesse espiar pela janela. tipo james stewart.
o john pothead, por exemplo, tem uma vizinha assim. que gosta de passar as roupas, lenta e gentilmente, de fronte à janela, vestindo apenas uma blusa justinha e uma calcinha. o pothead é um cara de sorte com as gurias. até pela janela, discretamente, ele tem as manhas. e eu te confesso que, sim, sentia muita inveja de mister potman e sua vizinha gostosa. mas não sinto mais, não mais...
acontece que minha varanda beat, no décimo-sexto andar do residencial the double tree park, tem um ângulo assaz privilegiado para a atenta observação de tudo que se passa no último andar, o décimo-segundo, do edifício ao lado na rua pires da mota, o edifício eneide. foi o próprio john pothead quem, certa feita, queimando fumo em meu avarandado beatnik, surpreendeu minha vizinha peladaça lá no eneide.
porque o apartamento dela é uma espécie de cobertura, que tem um puxadinho estilo greenhouse e uma comprida varanda, que liga o apartamento a esse puxadinho. no meio dessa varanda, estão um singelo varal de roupas e - inadvertidamente - uma excitante ducha ao ar livre.
e a guria estava lá... tomando banho com o namoradão - juntos, naquele flagrante clima de intimidade pós-coito para o qual os dias de domingo são tão propícios.
o chalub, por coincidência, estava aqui no 1604 justamente nessa hora. e ficou de tocaia com pothead, espiando o casal assim de ladinho, os dois voyeurs mui tranqüilos, espichando o pescoço na varanda. eu não me contive, me lembro disso agora, e gritei "gostosa!" pela janela, deixando chalub e pothead bem p*tos comigo.
o cara acabou percebendo, mais tarde, que a vizinhança estava de olho na garota pelada ali ao seu lado. e nem se importou. continuou sua ducha. a guria meio que ficou sem graça e tentou se esconder precariamente atrás de uma portinhola de ferro. mas não interrompeu o banho. afinal quem colocou aquela ducha ali naquele lugar queria mais é brincar de big brother n´aclimação.
ela continua por lá, minha vizinha gostosa. e continua sem roupa.
hoje cedo, agorinha há pouco, ela estava peladinha a retirar do varal os lençóis que secaram ao vento da noite passada. ela sempre usa lençóis brancos.

|

01 agosto 2008

writer´s block

ou meus vizinhos do décimo-sétimo praticam sexo intenso
às oito e vinte da manhã de uma sexta-feira
ou deu infiltração de novo na cobertura do the double tree park

|

Holy Tuesday

Desde que assinei TV a cabo passei a adorar as terças-feiras. Isso faz pouco tempo. Achava que TV a cabo era um supérfluo desnecessário. Que apenas me faria passar mais tempo à frente da TV.

Bem, e realmente o fez. Troquei Dostoievski, Faulkner e TV Fama por Two and a Half Men. O seriado apenas não é melhor que o mítico Seinfeld, pois, oras, nada é melhor que Seinfeld. Mas chega bem perto. Confesso que foi o vagabundo Beat do 1604 que me apresentou esse vício nefasto.

Não vou descrever o seriado. Apenas digo que todos seus personagens são cínicos e adoráveis. Na terça-feira, o canal Warner nos brinda com duas horas de torpor, de alienação depois de um dia de trabalho inútil.

Primeiro, às 19h, dois episódios seguidos de Two and a Half Men, o que por si só já seria um deleite. Mas isso também acontece às segundas. Depois vem o melhor. Temos o único episódio da semana de outro sitcom genial, The Big Bang Theory. Quatro nerds e uma vizinha gostosa. Como se não bastasse, logo após, temos outro episódio inédito de... Two and a Half Men.

Como cada um deles dura meia hora, é isso que temos, duas horas sem sair de cima do melhor que a existência pode oferecer a um cidadão honesto e trabalhador. Chapado no meu sofá cama beat, não costumo atender ligações entre as 19 e 21h.

Na última terça, assistindo um pouco mais à Warner, descobri que Big Bang Theory passa também às 23h30. Lógico que fiquei acordado, afinal restava dúvida: seria um episódio inédito ou reprise do que passou mais cedo? Era reprise, mesmo assim assisti ao capítulo inteiro e ri de todas as piadas. Qual não foi a minha surpresa quando, logo em seguida, à meia noite, vinha outra reprise de Two and a Half Men?? E logo o episódio do Charlie Waffles...

|