the poetry as a necessary silence
porque qualquer coisa que a gente escreva soa
tola
diante da poesia
poesia beatnik e pensamentos nihilistas
às vezes me pergunto se, de fato, tornei-me paulistano.
spray bom ar, da air wick, sabor brisa fresca.
mais um passo involuntário no exercício de me isolar do planeta.
são paulo chove, e não chove.
john pothead e eu encontramos caixas de cerveja na lixeira do décimo-primeiro andar. achamos que alguém naquele andar se afastava da bebida for good. levamos as cervas pra casa. como faria o velho brito. depois, só depois, john pothead descobriu que as latinhas estavam com a validade vencida. por isso, então, a lixeira.
8h - bate-bola (reprise)
Hey babe, se lembra daqueles copos de cristal que compraste na Benedito Calixto? Beges e finíssimos. Sempre recebem elogios das visitas. “Poxa, bonito seu copo!” Eu apenas fico calado. Finjo que o bom gosto é meu. Ou digo a verdade: “ah, foi a minha ex que comprou. Ela foi embora, mas os deixou aí”. E dou um sorriso amarelo. Semana passada a Maria Rosa quebrou um deles. Com sua mão pesada de quem carregava enxada desde os seis anos de idade. “Esses copo (sic) é muito fino!” ainda reclamou. Hoje, agora mesmo, quebrei outro lavando a louça. Cortou minha mão em dois lugares. Foi sangue à beça. Misturou-se ao Limpol sabor laranja. Não tinha mercúrio ou mertiolate, então botei álcool mesmo. Parei de lavar pratos e pensei que, em breve, seus copos de cristal, que um dia seriam parte de uma bela casa, serão extintos.
- então você não está em são paulo?
Preguiça de viver. Do mundo. E das pessoas, principalmente. Da urgência dos jornais. Da calma das repartições. Daquilo que tem de ser feito para ontem. De ficar de stand by. À espera de um telefonema. Preguiça das fortes emoções. Dos amores ardentes. Do tesão muito louco de todo mundo por todo mundo. Das propagandas. Do futebol. De todos os problemas de todo mundo que não são os meus. Preguiça dos meus. Preguiça de abrir a porta de casa. De sair para rua. De almoçar. De pensar no que vou comer. Preguiça de ganhar dinheiro. Das chorumelas. De que sou isso ou aquilo. De que tenho medo de me apaixonar. Preguiça de me apaixonar. Vontade de fumar um. E ouvir música.
Acordar sábado de manhã, bem cedinho. Com o sol morno afagando seu rosto. Com o gosto pelo infinito de Baudelaire. Com o buraco da existência preenchido por instantes. Com a maravilhosa solidão, sua amiga-mor, soprando belas palavras nos ouvidos. Com Amadou, Marian e Amy. Com vontade de correr quarteirões coloridos paulistanos. Com a ilusão, com a ilusão, com a ilusão. Com as palavras do velho Buk. Desta vez não tristes e amargas. Mas redentoras.
Não tenho uma vista sampa skyline tão fucker quanto Berna Beat, do 1604. Ou a de Fred, “The Turkish”, do 1705. Moro no 1107. Da minha janela, o astral é mais blade runner, com os prédios enrugados de fuligem batendo à cara. A vantagem? Dá pra ver a vida das pessoas. Especialmente dos moradores da José Getúlio Street. Tem uns velhos doentes e seus cachorros. Um sãopaulino fanático que deixa duas camisas do time (uma reserva e outra titular) expostas no sofá em dias de jogos. Mas o hit of the summer é um casalzinho jovem. O sujeito sai pra trabalhar e sobra pra mim a garota, of course. Não dá pra ver direito seu rosto, mas tem um belo corpo, de hard workin people. De fato, ela trabalha duro. Serviços do lar. É esse cotidiano que me encanta. Acordar, arrumar a cama, varrer a casa e principalmente lavar roupa. Como nos velhos tempos. Seu uniforme predileto para o trampo é uma camiseta branca comprida, dessas que mulheres adoram. Meio transparente, deixando vazar curvas generosas e underwear. Certa vez, num calor intenso, estava só de calcinha. Turkish e Beat estavam aqui em casa, queimando um diíndio, e deliraram. Apagamos a luz e ficamos a observar o espetáculo dela estendendo roupas no varal. Deveria ter cobrado ingresso. Mas ela se cuida. São raras essas oportunidades. Sempre fecha as cortinas para momentos mais íntimos. Uma única vez a vi tirando a calcinha, por poucos segundos, para logo depois correr pra dentro. Normalmente a vejo quando vou fumar um cigarro na varanda. Nada premeditado. Apenas acontece. E como estou dois andares acima, ela não me vê. Me sinto seguro para observar. Só que, recentemente, por duas vezes, tive a nítida impressão que ela me viu. Que olhou nos meus olhos. Fiquei sem graça. Saí. Mas ficou uma dúvida cruel. Se, ao olhar, me reprovava... ou provocava?
"isso é superpessoal. mas ele é supergentil, delicado e tem atitudes sedutoras"
é o programa de rádio que os camaradas do TPB estão fazendo.
"Estamos na madrugada da cidade, pelos bares bebendo conhaque e cachaça vagabundos. Jogamos bilhar, ouvimos Lou Reed, vamos a puteiros de quinta categoria pra pechinchar. Gostamos de Sam Peckinpah e Lee Marvin. O velho Chinaski é nosso padrão de comportamento."
maria rosa ouve rádio. gosta de fazer faxina ouvindo uma rádio católica, não sei qual. alguma dessas em que o padre prega contra as células tronco, que eu já ouvi isso. maria rosa canta junto os hinos de louvor enquanto faz os serviços da casa. maria rosa usa pano de chão.