The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

24 novembro 2007

do it clean

quase cinco da manhã de sábado
berna fritando na cama
alucinado, virando de um lado pra outro, socando travesseiro

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21 novembro 2007

rico em potássio

o velho brito sai do 1605 lá pelas nove da manhã. seu brito fecha a porta de casa e fica no corredor, encostado na parede, enquanto acende um cigarro. ali de pé fica espiando as manchetes do jornal na soleira de minha porta. quando tem algo que chama sua atenção - tipo as notícias da rodada nas manhãs de segunda - brito pega o jornal nas mãos e fica lendo mais detidamente os informes.
sei disso porque fico espiando pelo olho mágico.
esta manhã, no entanto, seu brito estava diferente. fechou a porta de casa e ficou encostado na parede a ler as notícias. mas não acendeu um cigarro, não.
o velho brito comeu uma banana. ali em pé, na porta de minha casa, o velho brito descascou e comeu uma banana. achei punk.

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20 novembro 2007

Try a little tenderness

- Eu achei que você fosse um pouco mais, assim, egocêntrico. Individualista. Radical. Hedonista. Drogado. Cínico. Perverso. Arrogante. Niilista. Sarcástico. Mas, não, até que você é um cara decente. Quase de família, eu diria.

- Minha querida, nunca confunda um homem com seu discurso !

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16 novembro 2007

feriado de mim mesmo

hoje tentei ser outra pessoa.
comprei outro tipo de óculos escuros, espelhados, botei uma roupa nova e penteei o cabelo. em vez do caminho de sempre, tomei outro itinerário para ir até a paulista avenue. passando pelo paradise viaduct, parei para fumar outra marca de cigarro, espiando a grande cidade cinzenta turbulenta como se fosse a primeira vez por ali.
não atendi o telefone. nem lembrei de ti.

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14 novembro 2007

o poeta da pequena área

"a morte é a perda maior na vida"
júlio césar, goleiro da seleção

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12 novembro 2007

dia nervoso no mercado

li que a bovespa está in crisis. tipo queda de quatro pontos.
parece mui grave. uma catástrofe se avizinha?
também li algo sobre fontes de energia, petróleo e gás natural.
parece mui grave. mas não tão iminente. será?
mas a baita notícia do dia foi esta...
"carolina dieckmann vê a cerimônia de circuncisão do bebê de angélica"
e a preta gil também estava lá.
mas o que será que eles fazem com o troço depois, hein?

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09 novembro 2007

the poetry as an obviously limited experience

- me diz, guria, então tu curtes poesia?
- sim. muito. curto muito.
- e que graça tu vês em poesia?
- ora. eu que pergunto. não é você o poeta?
- ah. mas eu não saberia te responder à minha própria pergunta. porque já nem sinto mais o que me difere de minha poesia.
- e você é bem metido a besta, não é verdade?
- bueno. esse é um modo de ver as coisas. verdade. porém, de outro modo, te diria que ao contrário, eu sou limitado em demasia.
- em que sentido?
- limitado a meus atos e sentidos. limitado à minha experiência. eu sou o limite de minha poesia.
- é louco...
- ah. infelizmente, não. infelizmente. porque se fosse louco, quem sabe, minha poesia poderia ser um tantinho assim maior. sou faker. esse é o meu limite. como diria lou reed, the final disappointment.

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act naturally

"Um espanhol identificado como Frederico Rosello Roca foi detido na manhã desta sexta-feira quando circulava só de cueca pelo Terminal 1 do setor de embarque do Aeroporto Antonio Carlos Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Ao ser abordado por um guarda municipal, ele reagiu agressivamente e acabou sendo levado para a subdelegacia da Polícia Civil no aeroporto."
li isso agora há pouco. e achei divertido.
porque foi pouco depois de topar com a empregadinha do 1603 no meio do hall dos elevadores. a empregadinha do 1603 limpa a casa ouvindo amy winehouse. mas hoje ela estava discreta.
só percebi que ela estava por aqui quando eu tinha ido jogar o lixo na lixeira. eu estava vestindo blusa e cuecas. normalmente eu sigo até a lixeira apenas de cuecas. mas hoje, por algum motivo, eu estava com uma blusa bordô também.
a empregadinha me surpreendeu no meio do caminho, já voltando da lixeira.
então lembrei do conselho do ringo, e agi naturalmente.
"boa tarde. tudo bem contigo?"
ela sorriu, de volta, sorriu faceiro: sim, tudo bem.
segui adiante. tranquilo. mas te digo que notei um ligeiro e cúmplice olhar da garota até minhas cuecas samba canção azuis.

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08 novembro 2007

metrô de berlim

"a garota italiana, sozinha, desenha e escreve num bloco enorme. os peitinhos soltos debaixo da camiseta. os mamilos imensos, duros. não estavam assim dez minutos atrás, quando subiu a bordo em assmanhausen. o que a teria excitado?"
(ignacio de loyola brandão)

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the past is a grotesque animal

num momento almost on acid, decidi passar meu últimos momentos no rio (de janeiro) no aprazível jardim do palácio do catete, debaixo de jambeiros e caramboleiras. ali, numa tarde ensolarada, ouvi de longe um samba. de início pensei ser pagode. mas não. eram antigas canções, entoadas por um preto velho e seu cavaquinho. o público era notável. velhas senhorinhas, de cabelos brancos, lábios de batom, vestidos floridos domingueiros.

há tempos não ouvia aquela do altermar dutra: “sentimental eu sou/ eu sou demais/ eu sei que sou assim/ por que assim/ ela me faz”. seu vicenzo empunhava o instrumento – e anunciava canções e cantantes. “ah... e agora, dona lurdinha! que fez uma turnê no interior do estado em cinqüenta e seis”

lurdes cantou cavalgada como num cabaré da urca – embora quase sem voz, com gestual magnânimo: “vou cavalgar por toda a noite/por uma estrada colorida/usar meus beijos como açoite/e minha mão mais atrevida”.

os mais jovens não se aproximavam. compravam pipoca ou andavam com seus cachorros. ao longe. evitavam aquela gente velha, que parecia doente. com bengalas, cadeiras de rodas e andadores. mas, não. estavam mais sãos do que nunca. sadios pois perto da morte. do aconchego do lar.

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06 novembro 2007

Comfortably numb

Você chegou e trouxe logo uma notícia ruim. Ficamos assim, sem saber o que dizer um ao outro. Transamos ouvindo Cat Power, Billie Holiday, Johnny Cash, Cowboy Junkies. Cada um mais triste que o outro. Mas foi bom, intenso e sereno. A tal notícia ficou ali, pairando sobre nossas cabeças. Continuamos bebendo um pouco de vinho. Fumei três cigarros e você, apenas um. E só para me acompanhar, pois não gosta de cigarros na realidade. Ficamos olhando pela varanda a chuva fina e o ventinho frio. Nos escondemos debaixo do edredon. Esquecemos de acender a luz. Então ficou escuro. E nos esquecemos também da notícia ruim.

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05 novembro 2007

each man kills the thing he loves

tomar um ônibus pro rio pequeno ali na estação vila mariana do metrô.
775n-10, são fáceis de decorar as linhas paulistanas, não é verdade?
o 874c10 também me serve, sentido parque continental.
esperando clarear o céu ali entre as nuvens tão cinzas. me falta agora um gabardine tipo bogart.
mas vou fechar a porta e me perder por uns instantes na grande cidade.
sempre tentando ler as placas em movimento, ordenando o chaos.
"procurando uma forma menos cinza de viver"

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03 novembro 2007

as margaridas não falam

então fui bater um pastel de bacalhau na feira da loureiro da cruz. porque hoje é dia de feira na loureiro da cruz. mandei um caldo de cana por cima da bagaça. passei pela barraquinha dos condimentos, pedi o obséquio de me moerem pimenta do reino. e mais um quilo de pêssegos.
quando voltava ao the double tree park, em frente ao portão da garagem à rua pires da mota, o garagista joãozinho me avisou do recente infortúnio.
"estamos sem luz, senhor poeta, não adianta nem pegar a escada." bueno, camarada, mas são apenas dezesseis andares de escada, dezessete partindo aqui da garagem, vou num pulo. "não, não adianta, porque nem as luzes de emergência das escadas estão funcionando", completou joãozinho. então percebi a enrascada.
joãozinho estava parado na calçada diante do the double. porque seu posto (o comando do garagista ao lado do portão) estava ocupado pelo fétido senhor brito, amarelo e descabelado, acendendo um cigarro n´outro. comentamos, joãozinho e eu, sobre o campeonato brasileiro por pontos corridos em turno e returno, e suas peculiaridades, sobre o corinthians e o mengão, sobre o são-paulino john pothead. então eronildes, o zelador, chegou com a ordem do dia e colocou joãozinho pra trabalhar.
sem poder subir as escadas, no breu permanente das portas isola fogo, fui tratar da vida. em algum lugar longe do the double tree park. fui o obrigado a tomas as ruas. conhecer melhor a aclimação. bati um pé ligeiro até o aclimation park. parando no caminho para tomar um ar, sentado na parada de ônibus, espiando o movimento dos barcos, digo, o movimento (lento) dos baús pela aclimation avenue.
todos os porteiros e garagistas da rua josé getúlio estavam nas calçadas, atônitos, diante dos portões emperrados por falta de energia elétrica, diante das grades eletrificadas sem eletricidade, diante das grades inúteis e dos inúteis avisos de cuidado, alta tensão, risco de morte.
o aclimation park, no entanto, continuava primaveril em seu sonho de floresta tropical, ali perdido em meio à grande cidade cinzenta. os patos nadavam na lagoa, driblando os coliformes fecais, sem se importarem com a eletropaulo. a guria bacana passava trotando em círculos pela pista de cooper, curtindo seu ipod, wireless, alheia à inatividade das correntes elétricas.
foi quando pensei em virar thoreau. ser hippie, mais uma vez.
pisei na grama, descalço, e tentei puxar papo com um canteiro de margaridas.
me calei quando um totó veio regá-las prontamente, quase me acertando as canelas.
queixo-me às margaridas. mas que bobagem.

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dear doctor

"oh, help me, please doctor, i'm damaged
there's a pain where there once was a heart
it's sleepin, it's a beatin
can't ya please, tear it out,
and preserve it right there in that jar?"
(jagger e richards)

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01 novembro 2007

the poetry: modo de usar

massageie sobre a pele molhada até formar espuma. em seguida, enxágue com água em abundância.
mantenha fora do alcance de crianças.

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