The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 janeiro 2007

Relax! Take it easy!

- Para cada minuto de prazer, tome um ano de tédio.

- Porra, sacanagem.

- Sacanagem o quê, rapá? O prazer é muito bom. Imagine o prazer de ganhar na loteria, como recompensa, uma vida inteira de tédio.

- Cê ta de sacanagem, eu, se ganhasse na loteria, puta, ia comer muita mulher. Só pra começar. Ia viajar pra caralho. E comprar um Porsche. Só pra começar

- Ia morrer de tédio, sem dúvidas.

- Cara, nunca mais iria trabalhar. Puta que o pariu, seria muito bom.

- Trabalhar é o bicho, porra. Se você não trabalhasse, iria se matar com certeza. Por isso, eu inventei o trabalho.

(suspiro) - ah foi você é?

- Óbvio né, anta. Eu sou o todo poderoso. Quem crê em mim tudo pode. Nunca foi à igreja, nunca viu pastor na tevê? Meu poder é fodido, rapá. Dou no couro mesmo. Faço tsunami, desastre de trem e o caralho a quatro

- Caralho, você é um cara mau hein.

- Porra, tudo que faço é pro bem. “deus tem sempre razão”. Nunca viu na tevê?

- Porra, tu gosta de tevê.

- Sabe como é, quem não quer ser famoso hoje em dia?

- Cara você me dá tédio. E esses programas de tevê tipo R.R Soares também.

- Hahahaha. Aproveite o tédio. Bota um disco do New Order. Fuma um tiouso. Arruma uma trepada. Se case. Tenha filhos. Viaje pelo mundo. Se mata. E depois sinta tédio de novo.

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30 janeiro 2007

ibi

minha professora de inglês
nas aulas de verão
dispensava soutien
she did not wear bra
(not in the summertime)
just a plain t-shirt
justo uma blusinha hering branca

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discotecas help

"todo traveco da Atlântica
é como um carro
de farol desregulado
com silicone foscona lataria
e duas luzinhas vermelhas
piscando no rabo"
(bruna beber)

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29 janeiro 2007

the picles solution

há aqueles que descascam os pepinos
há aqueles que os deixam em conserva

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no entusiasmo da hora

mui gentil
ela me comunicou que os bicos de seus seios assim
(salientes)
não era por frio

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os cachorros molhados

sorte têm os meus amigos, os cachorros molhados. abandonados nos pontos de ônibus. sempre vem alguém entregar uma vasilha de água. uma porção de papita. sempre tem uma lata de lixo pra revirar. sempre tem um gato vesgo pra botar pra correr. os cachorros molhados se mantêm ocupados em dia de feira, cercam a barraca do pastel e fazem cara de cão sem dono. os cachorros molhados mantêm a forma na pista de atletismo do parque d´aclimação. regam as plantas e adubam o asfalto. sempre tem uma pomba manca pra botar pra voar.

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27 janeiro 2007

you will make me lonesome when you go

acendo mais um cigarro. pra pontuar a solidão. pra ouvir o clique do isqueiro. pra baforar na noite quente d´aclimação. os vagabundos na porta do bar me avisam que é noite de sábado. atiro o cigarro pela janela. só pra pontuar a calçada do double tree, que passaram a tarde a lavar.

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23 janeiro 2007

chapéu

ando levando toco até de prost

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19 janeiro 2007

pinheiros

muitos marginais
e duas marginais
os males de são paulo são

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diana

- pequena... me diz... tá vendo a novelinha ahora? páginas da vida e tal?
- desculpe. mas não estou vendo.
- não curtes manoel carlos?
- não conheço manoel carlos algum.
- percebo, percebo. tu é mais ligada na obra da maria adelaide amaral, não?

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kassab

meu apê beat é tão bacana, mas tão bacana
que recebi dois iptus pra pagar este mês, dois.
412,49 + 433,16 = 845,65

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em são paulo, dezoito horas

cinco da tarde. horário de verão. é quando o sol, acalorado e entediado após mais uma tarde paulistana chinfrim, se embica rumo ao oeste para se pôr entre o concreto armado ali atrás da bela vista. é nesse exato momento, exatinho nesse momento vespertino, quando o sol já desce na banguela pelo zênite poluído, que seus raios enfim conseguem perfurar a crosta de fumaça industrial para aqui iluminar e aquecer e acalentar minha varanda beatnik sobre a rua loureiro da cruz, esquina com pires da mota. aproveito essa breve quentura de verão para esticar minha mofada carcaça na varanda. sento no chão da varanda e acendo um cigarrinho lights. tiro a blusa e, com o peito nu tal qual numa canção de caetano, sinto o ventinho da liberdade subir pela rua tamandaré e acariciar meu abdomem cabeludo. aproveito para pegar uma corzinha de camarão. mas com cuidadinho. espalho sobre minha tez nórdica o nivea fator azul, o mesmo de gisele bundchen, e aprecio cá de cima a bucólica paisagem d´aclimação. os operários da construção civil começam a guardar seus equipamentos e começam a fazer fila na porta do boteco da miriam atrás de nova schin a dois reais e noventa.

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18 janeiro 2007

deixe o verão p´ra mais tarde

"não entendo por que as pessoas gostam tanto de viajar. pegar engarrafamento na rodovia só pra ir até a praia? eu prefiro muito mais o supermercado pão de açúcar. tem um aqui perto de casa e é muito divertido. posso ficar horas só apreciando a seção de frios."
(lourenço mutarelli)

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17 janeiro 2007

Da irrelevância da arte

Este último post, de Berna Beat, resume a existência humana. Nada mais me resta a declarar. Nada.

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da inutilidade da arte

nada interessante a ser dito

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13 janeiro 2007

the big lebowski

http://www.imdb.com/title/tt0118715/quotes

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beirute, 21h

"o teu desespero é vazio"

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da necessária ruptura (agora)

a arte narrativa está morta. e cheirando mal.

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12 janeiro 2007

divertlândia

claro que eu notei a coxa nua e notei também a barriguinha, a barra da blusa revelando o umbigo... é tudo muito animador mesmo... mas esses teus peitinhos...

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curtes poesia?

"os poetas são os legisladores não reconhecidos deste mundo"
(shelley)

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11 janeiro 2007

malibu

pois com esse barulho todo, meu ventilador mallory mais parece um monomotor em chamas.

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cachorros molhados

"beber caracu é beber saúde"

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cinco carreiras de futuro

. banqueiro
. político
. concessionário de rodovias
. trafica
. herdeiro

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enxaqueca

meus neurônios estão a dar uma rave dentro de minha caixa craniana.

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the human condition

tão frustrante é peidar e não feder.

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10 janeiro 2007

dominiquea

- me diz, pequena, você anda nua em casa?
- às vezes.
- mas em que momento curte andar nua?
- quando estou sozinha no quarto. de noite.
- mas então anda nua com as luzes acesas?
- não. deixo acesa só a luz do abajour. e a luz do banheiro.
- tu deve ser um espetáculo de mulher.

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09 janeiro 2007

My dear friend human being

O ser humano faz um monte de coisas. Detona na balada. Fuma. Bebe. O ser humano é zen. Medita. Até levita, dizem. Embora nunca tenha visto. O ser humano trepa o quanto é possível. Ouve rádio, vê tv, compra ipod. O ser humano, oh meu deus, ele ama. O ser humano ama várias pessoas. Até cachorros, dizem. O ser humano sabe ler e escrever. O ser humano trabalha – este conceito abstrato. Ele escala, esquia, patina. Ele deita, senta, levanta. E faz tudo isso de novo. Ad infinitum. Até a morte. Porra, por que o ser humano faz todas essas coisas? Por que apenas não se deita e espera?

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civilização de imagens

how amazing, de fato, a revolução do you tube. podemos ver o novo vídeo do bob dylan. a execução do saddam hussein. e a trepada da cicarelli.
aforismo youtúbico:
o homem é aquilo que baixa.

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um corpo para o crime

não esqueço mais
a dobrinha
do teu joelho

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sunny afternoon

a luz do verão
embaça as lentes coloridas
uma infinitésima partícula de pó
parece mil
amplificada pelas lentes coloridas

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a morte da nobre senhora

todos os dias mais e mais livros são editados. livros esotéricos, livros de auto-ajuda, livros histéricos. como passar em concurso público. como passar no vestibular. como vencer na vida. como emagrecer e ser feliz. como comer alguém. como sair impune dessa. livros e livros, pilhas de livros que nem te rendem uns trocados no sebo. porque até os sebos da asa norte têm mais critério que o marcado editorial. e eu te pergunto, quantas árvores são necessárias para fazer um livro? quantos hectares foram gastos com o paulo coelho, hein?

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08 janeiro 2007

jornalistas

"nunca trabalhei como jornalista, e não gosto dessa profissão. é um modo promíscuo de ganhar a vida. assim como um advogado não tem amor à verdade que se compare ao seu apego aos interesses de seu cliente, um repórter não tem respeito algum pela nuance. o sentido de uma situação não é o que ele explora, na verdade ele freqüentemente evita a atmosfera, já que é difícil capturá-la num texto escrito às pressas. suas tentativas juvenis de procurar o espírito de um evento foram decapitadas anos atrás na mesa do editor de texto; desde então ele foi adestrado a buscar fatos, ainda que invariavelmente os compreenda mal. é sutilmente incentivado, quando trabalha numa matéria, a depender de tudo, menos da sua escrita. é por isso que poucos repórteres escrevem bem.
na verdade, é pior que isso. daqui a alguns séculos, a inteligência moral de uma outra época talvez contemple com horror a história implantada nas pessoas do século xx por meio da imprensa. uma corrosão do cérebro coletivo é uma das conseqüências. outra é a deformação da consciência de qualquer líder cujas ações estejam constantemente nos jornais, pois ele foi obrigado a aprender a falar unicamente sob a forma de frases citáveis e autoprotetoras. teve também de aprender a não ser interessante demais, uma vez que suas idéias, nesse caso, seriam deturpadas, e seu comportamento, criticado (...) evidentemente, os heróis que aprenderam a respeitar as limitações dos repórteres talvez nunca venham a ter de novo um pensamento original. com o intuito de se comunicar com os comunicadores, eles renunciaram a qualquer vestígio de uma filosofia pessoal."
(norman mailer)

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rotina

fumando um cigarrinho no alpendre. escuto o o telefone tocando em algum lugar longínquo, no fundo tempo-espaço da grande sala. logo virão me berrar o nome. perdido. esqueço o cigarrinho na poça da chuva. espero ser berrado.

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certificado de registro ou averbação

número registro: 363.325
livro: 671
folha: 485
obs: este certificado protege à literalidade do trabalho apresentado, e não as idéias nele contidas

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Life is such a mess

Renasci hoje. É, tinha morrido umas duas semanas. Gosto disso, tirar umas férias da vida, da existência. Ficar assim, morto. Entendo por que Jesus fez o mesmo alguns anos atrás – uns dois ou três mil, não lembro ao certo. Não importa. O fato é que as pessoas – as famigeradas common people - acham a vida muita curta. Querem viver intensamente. Amar loucamente. Realizar sonhos. Construir obras. Ah. Eu prefiro tirar férias. Que diferença faz alguns dias modorrentos a menos?

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06 janeiro 2007

mauvais sang

cansado de tanto verde. da chapada diamantina pro lago paranoá. cruzando o agreste baiano até o cerrado goiano. tanto verde assim, fora da travessa de salada, deve até fazer mal. sinto falta da desnatureza d´aclimação. de seus muros pichados, de suas árvores cortadas, de suas calçadas regadas por bêbados e cachorrinhos de madama. roubaram o cinza de minha vista. meus pesados brônquios catarrentos sentem falta da tua fumaça de óleo diesel. meus surdos ouvidos cerumosos se calam na distância das britadeiras. tanto verde assim, alface rúcula e agrião, deve fazer um mal danado.

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05 janeiro 2007

the freak flag

"almost cut my hair
it happened just the other day
it's gettin kinda long
i could have said it was in my way
but i didn't and i wonder why
i feel like letting my freak flag fly
cause i feel like i owe it to someone"
(david crosby)

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