The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

29 setembro 2006

o cat de jack

"tentando estudar os sutras
o gato deita na página
dizendo me escuta"
(jack kerouac)

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28 setembro 2006

as estações na cidade

ouvi dizer que a primavera chegou. li em algum jornal. e me lembrei disso agora. fui lá na varanda espiar a pires da mota. os muros continuam cinzas, as nuvens continuam cinzas. as pichações continuam ilegíveis, o dirigível da goodyear ainda segue o mesmo caminho de sempre. john pothead comentou que viu um beija-flor esta manhã. um beija-flor zanzando entre árvores floridas. lá no sumaré. pode ser que a primavera já tenha chegado no sumaré. não sei. mr pothead usa drugs. pode ter surtado com beija-flores. sabe como é, psicotrópicos. espio a aclimação aqui do nono andar. e espero algum beija-flor beatnik se extraviar entre a primavera em flor e vir parar aqui na minha varanda. não sei se beija-flores têm tamanha autonomia de vôo.

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shelter from the storm

o brilho do sol atravessa a persiana. o esporro das máquinas atravessa as paredes. a hora já vai tarde. mas meu colchão beat ainda é o lugar mais macio de toda esta megalópole solitária.

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27 setembro 2006

heartbreakers

e o coronel do carandiru foi vítima de crime passional.
assim como o pecê farias.
curioso como grandes canalhas despertam grandes paixões.

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o profissional

desculpem, desculpem.
saiam da frente tucanos e petistas, esses amadores.
não tem pra ninguém!... ele pode até não se eleger (o eleitor, esse ingrato)... mas já é seu o melhor slogan das eleições 2006. assim...
"faça justiça! quem fez tanto por são paulo vai fazer mais. vote em maluf"

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sad bastard songs

"what came first? pop music or misery?"
(rob fleming)

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agradável

em são paulo só não faz frio do cacete quando faz um calor dos diabos.

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coleguinhas

você confiaria em um jornalista que tem assessor de imprensa?

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26 setembro 2006

a educação constrói um novo país

as crianças estão perfiladas. uniformes engomadinhos, cabelos penteados e sapatos lustrados. as crianças são vigiadas e mantidas em fila pelos mestres. as colunas ocupando boa parte da quadra poliesportiva do colégio integração, cravada milimetricamente entre três muros altos, diante de um alambrado e sob o manto de sombrite industrial cinzento que protege os infantes dos estilhaços de construção civil que despencam da obra ali ao lado. a quadra não é grande, mas os alunos também não são muitos. e estão bem comportados, ordeiros, quietinhos, tipo os menores da febem rendidos numa tarde de sábado, detentos que bem poderiam estar ali também, mas não deram essa sorte de estudar na aprazível aclimação. um professor, possivelmente o diretor da escola, ou melhor, a secretária do diretor da escola, ou quem sabe o ajudante da secretária do diretor da escola, aperta o play do toca-fitas e a barulheira dos operários em seus andaimes é abafada pelos acordes estridentes do hino nacional. as crianças, com empolgação brainwashed de fazer corar os publicitários e de deixar ejacular o galvão bueno, entram todas ensaiadinhas no compasso exato do ouvirundum. as vozinhas infantis se fazem ouvir até o nono andar do the double tree park, de onde me assusto com tamanho alarde patriótico desarrazoado. meto o cabeção na varanda e fico aliviado ao perceber que, ao menos, as crianças não estão com o braço direito estendido fazendo a saudação nazista. anauê.
tamanha degeneração me faz lembrar as manhãs púberes do colégio marista de brazília. com banda marcial, com hino nacional e hasteamendo do pavilhão pátrio. a troco de quê?, eu me perguntava então, mascando chicletes. a troco de quê?, eu me pergunto agorinha mesmo, acendendo um camel light. no marista, me recordo, era bem pior. além de convidarem os pais para testemunharem os delírios patrióticos dos padres, eles ainda começavam todas as aulas, a cada manhã, invariavelmente, com uma "ave maria" puxada e trasmitida ao vivo em rede interna de rádio e tevê. eu repetia as palavras sagradas baixinho - seja vós entre as mulheres? - reparando os peitinhos adolescentes da cintia, torcendo pra ladainha não acabar, torcendo pra uma "ave maria" puxar a outra e puxar mais uma e se transformar num terço, numa novena, numa romaria à pôrra do vaticano. porque quando a "ave maria" acabava - agora e na hora de nossa muerte, amém - logo a aula começava. "abram seus livros na página 273", cuspia o obeso e mal barbeado professor de biologia, engrenando a leitura de um parágrafo qualquer. "aqui no meu livro eu sublinhei este parágrafo sobre o complexo de golgi e marquei com dois asteriscos", ele indicava para o aluno espertinho que entedesse sua genial pista. gente fina. eu cansava de admirar a distância os peitinhos da cintia e olhava perdido pela janela, de onde via apenas mato, mato alto, e o teto da embaixada do iraque. eu suspirava em direção ao iraque.

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territorialidade

hoje me bateu vontade de correr
sair correndo pel´aclimação
quero correr até chegar ao mar

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25 setembro 2006

grandes momentos da adolescência beat

eu me lembro...
eu tinha uns 13 anos e pagava tesão por uma loirinha que fazia judô comigo na julio adnet. nós sempre vestíamos juntos os quimonos, antes de cada aula, o que me deixava com a cabeça cheia de idéias. certa feita, me bateu uma cara de pau instantânea e disse pra ela que gostaria de chupá-la. ela me olhou com nojo. eu disse que queria beijar e lamber o corpo dela inteiro. e enfatizei o "inteiro". ela se levantou e foi embora. nunca mais falou comigo. saiu da turma antes mesmo de terminar o semestre.
acho que hoje ela sabe o que perdeu.

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limpeza 2

(das agências internacionais, enviada por caponildo à redação tpb)
O guitarrista Keith Richards, da banda britânica Rolling Stones, apareceu totalmente alcoolizado no set de filmagem da produção "Piratas do Caribe 3". Richards atua como pai do personagem de Johnny Depp na terceira parte do filme. Segundo informou a revista especializada "Empire", ele não se lembra das gravações devido ao excesso de álcool. Bill Nighy, que atua como Davy Jones no filme, contou que Richards estava tão bêbado quando os produtores o chamaram para atuar, que teve de ser ajudado pelo diretor Gore Verbinski. Após ser acusado de falta de profissionalismo, o músico de 62 anos gritou a todos: "Se queriam alguém direito, pegaram a pessoa errada".

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23 setembro 2006

coleta seletiva de lixo

achei um livro na lixeira do décimo-primeiro andar, introdução à filosofia, levei pra casa, pra deixar empoeirar ao lado de ecce homo, edição de bolso, na pilha de volumes jamais lidos. achei um outro livro na lixeira do décimo-primeiro andar, introdução à economia, e me perdoem os economistas, esse deixei por lá mesmo.

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l´humanité

- não sei por que me olhas assim. sou jornalista profissional há dez anos.
- excelente profissão. parabéns.
- brigado.
(silêncio. acendo um cigarro. silêncio.)
- meu querido, devo estar tomando seu tempo...
- nã. por que dizes isso? só porque não compartilho de teu aparente entusiasmo por minha profissão?
- e você não esta procurando algo diferente?
- é preciso ganhar dinheiro, não? como diria o frank zappa, "in it for the money", estou nessa pela grana.
(silêncio. apago o cigarro. silêncio.)
- ai... você é maluco...
- brigado. isso sim é um cumprimento. grato.
- gostou? não acredito...
- bueno, carolina, as palavras são relativas. las palabras son relatíbas. les paroles são relatives.
- mas então me diz...
- igual a tudo na vida.
- você é doidinho de tudo...
- carolina, me diz, na sincera, tu curtes poesia urbana?
- gosto de ler, mas não sei nenhuma de cor.
- poemas urbanos não são fórmulas matemáticas, não precisamos tê-los decorados.
- mas se você falar de poesia de amor...
- sou poeta, carolina, pôrra.
- ahn. então me diz. uma. sou muito romântica.
- o amor na grande cidade cinzenta/ sem mapa/ te perdi na esquina da minha rua/ l´amour/ ou teria sido apenas tesão/ carência urbana na grande conurbação/ na grande cornubação.
- ai... que poeta... acho que vou chorar...
- de tão ruim assim?
- não, não. é maravilhosa. pode fazer parte da academia. da academia paulista de grandes escritores
- desculpa, carolina, mas academia pra mim é onde os anabolizados puxam ferro enquanto descolam mais um pico de hormônio de égua.

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bright lights, big city

choveu. percebo a calçada molhada da paulista avenue. os sobretudos ainda gotejantes trombando-se aparvalhados pela calçada cheia de gente a passar e a me ver ali paradão acendendo pelo filter um marlboro reds. choveu e escureceu e parou de chover. as cousas não param de peitar seu lugar no mundo só por que tu estás lá amarrotado numa poltrona de cinema por três horas sem estalar os joelhos diante de um filme francês de época em preto-e-branco exibido precariamente em reprodução digital dolby stereo surround por oito pilas a meia.
bright lights, big city
gone to my baby's head
bright lights, big city
gone to my baby's head
esqueço o cigarro suicidal numa poça d´água urbana e sigo em frente. meu cellphone nokia vibracall avisa: faltam vinte minutos pro soar do terceiro sinal da peça. shakespeare, papito, shakespeare na grande noite paulistana. sozinho atravesso por entre faróis acesos zunindo macios em ambos os sentidos. todos muito atrasados sempre. acendo outro cigarrillo na altura da terceira faixa. ainda há tempo. quinze minutos pra chegar ao prédio da fiesp. sim, papito, andam encenando shakespeare na fiesp.
i'd tried to tell the woman but she doesn't believe a word i said
go light pretty baby...
gonna need my help some day
it's all right pretty baby...
gonna need my help some day
you're gonna wish you listened to some of those things i said
me lembro agorinha de um blues antigo. cantarolo mick jagger baixinho em minha mente. chutando as pernas num estilo richards, estalo os joelhos cansados de tanto cinema francês. penduro o cigarro na cordinha da guitarra, the air guitar, numa afetação clapton. as gurias saindo da escada rolante das profundezas metroviárias me olham assim meio enviesado, meio seduzidas, assaz excitadas por tão supimpa destreza. mas não perdem a passada rolante. medo de chuva. medo da noite. medo do mendigo ali sentado. medo de meu par de all stars vermelhos. my red suede shoes.
go ahead pretty baby
oh, honey knock yourself out
go ahead pretty baby
oh honey knock yourself out
a pirâmide da fiesp. a ruína maia. o apogeu de uma era. guardando os tesouros e as múmias putrefas do empresariado nacional. sou o indiana jones do teatro elizabetano e exijo passagem, oh bravo segurança marombado de paletó e gravata. deixe-me passar, por obséquio, oh nobre cidadão do proletariado cooptado pelo patronato, que já são horas do primeiro sinal. qual peça o senhor vai ver? oh, o timão de atenas. qualquer cousa sobre o curingão de sócrates e casagrande. a peça já começou, sinto muito, e faz uma hora. meu ingresso amassado molhado quase rasgado no fundo do bolso comprova o que o zeloso guardião da fiesp me diz ali de pé, barrando minha entrada entre cordinhas vermelhas esticadas ante os passantes anti organizações criminosas.
sem nada a fazer ali, acendo um marlboro reds, atravesso no sinal vermelho e tomo o rumo da augusta, centro. o distrito vermelho da bucólica megalópole chuvosa.
bueno, i still love you baby, cause you don't know what it's all about
bright lights, big city
gone to my baby's head
bright lights, big city
gone to my baby's head

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limpeza

LONDRES - Keith Richards disse que desistiu de vez das drogas porque a qualidade anda muito baixa e já não sente a mesma satisfação. "Eles cortaram o barato geral. Não gosto do modo como fazem efeito só na área do cérebro em vez de agir através do sistema circulatório. É por isso que não tomo mais e quem fala é uma pessoa que entende do assunto. Eu só tomo drogas agora quando o assunto é grave, como ter minha cabeça aberta. Usei morfina durante algumas semanas. Eu dei uma cantada na enfermeira da noite e consegui umas doses a mais, ela era muito compreensiva."

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21 setembro 2006

o cachorrinho riu

fazendo hora na livraria. folheando um livro do norman mailer caro demais pra levar pra casa. o norman falando algo a respeito do jeitão cafa de kennedy nas eleições americanas quando... "oi, vocês têm algum livro do john fante?" meu detector beat interno foi acionado ao ouvir este nome: fante. atenção! levantei os olhos do livro, deixando o norman quieto por um instante, e focalizei de imediato uma pequena criaturinha wanna be beat. uma loirinha chave-de-cadeia, com mochila a tiracolo, rabo de cavalo, jeans e tênis all star. fante, balbuciei. "pergunte ao pó", leu claudicante a vendedora por trás da tela de consultas. "é este mesmo", respondeu a guria, num sorriso de genuíno entusiasmo.
eu sorri sozinho. eu sou arturo bandini!

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experiência

"mexer com bandido não dá certo"
nosso guia

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20 setembro 2006

cala a boca, galvão!

ginásio do ibirapuera lotado. pro jogo do brazil. pude contar exatos quatro policiais fardados no recinto. todos os quatro em pé cercando a baia da rede globo na tribuna de imprensa. escoltados por dois seguranças brutamontes de terno-e-gravata.
devidamente protegido da gentalha pelos seis gorilas, a boneca galvão bueno era iluminada por um par de holofotes industriais globais. não parava quieta, não parava de gesticular, soltando lustrosos perdigotos na tela de um computador piscando números e estatísticas, para o visível constrangimento (visível até do lado oposto das arquibancadas) da hortência.
"cala a boca, galvão viado!", berrei com veemência, com gosto e retumbância.
galvão fez que não ouviu. mas uma guria de seis anos, sentada atrás de mim, teve as manhas de perceber a importância do momento: "galvão viado!", ela confirmou de imediato.

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the man

quero ser pereio

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goteiras

chuva ácida em teto de zinco quente

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mil aclimações

john pothead é um aventureiro. descendo a rua pires da motta à toda, rasgando o silêncio d´aclimação com o grande tubarão bordô, mr potdriver freou bruscamente e dobrou à direita na rua nilo. oh, fuck. o que se passa?, perguntei, aturdido com a mudança de rumo. potman nem me respondeu, tão transtornado quimicamente estava ele atrás do volante bordô. descemos a rua nilo e chegamos a um trecho inexplorado d´aclimação. parecia o brooklin. parecia pinheiros. parecia outro bairro. um bairro arborizado, de casas com quintais e mansões protegidas por aquele ar pacato próprio dos muros eletrificados. céus, um bairro burguês, que pôrra é essa? a rua nilo desaguou num largo cheio de carros bacanas estacionados em frente ao tennis clube paulista. tênis? e onde estão as britadeiras d´aclimação? as buzinas? um silêncio impenetrável abraçava aquelas ruas. nunca mais chegaremos em casa, nunca mais. terei que abandonar a vida beat e me tornar um grã-fino que joga tênis nas tardes de quarta-feira. meu delírio foi interrompido com a visão alvissareira de uma placa: rua urano. bueno. respirei aliviado. enfim, não tínhamos deixado o sistema solar. mais adiante, à medida que as casas ficavam para trás, dando lugar aos grandes prédios residenciais da especulação imobilária, aquelas ruas me pareciam mais familiares. pude ficar feliz novamente ao avistar a fachada da padaria orquídea pérola. cruzamos a castro alves e, por sorte, lá estava a loureiro da cruz. lá estava o imponente the double tree park residential complex fincado na esquina. onde sempre esteve.

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a matemática exata de teus movimentos

"fiz um móbile cheio de algas marinhas
para guardar até bem tarde
esperando você chegar
entre o poente e o nascer do dia
fiz um móbile cheio de máscaras negras
para te oferecer
você me faz viver a vida de forma tão intensa
que esqueço de que vou virar pó..."
(claudio bull)

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18 setembro 2006

esses homens probos

salve, simpatia. paulo maluf, orestes quércia, valdemar costa neto e professor luizinho são apenas algumas das sumidades que aparecem diariamente na televisão. como é bom o horário eleitoral. não nos deixa perder de vista os antigos conhecidos.

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a qualidade de vida

um peso. para a porta da varanda não bater com o vento.
um cabide. para desentupir o ralo do banheiro.
um incenso. para não dar mais bandeira.
um unhex. para não ficar parecendo o zé do caixão.
te digo que é impressionante o que uma loja de um-e-noventa-e-nove pode nos oferecer.

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the double tree park: uma constatação

não sabia como o barulho da porta da lixeira poderia ser excitante.
até conhecer minha vizinha.

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16 setembro 2006

Fernando Henrique Cardoso

Esqueçam tudo que escrevi anteriormente. O amor é lindo.

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14 setembro 2006

the levee´s gonna break

no céu, lua minguante
e o sol
crescente, crescente

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nuit et brouillard

duas da tarde n´aclimação. o sol de inverno entra pela janela, doirando a varanda e aquecendo o sofá aqui onde me estiro pra ler um jornalzinho, completar as palavras cruzadas. para espantar o calor, tiro a blusa, fico de uecas. prendo o cabelo e acendo um cigarrinho. vou regar as plantas.

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Baladas tristes para garotas alegres

Sinto falta daquele setembro de 2006. Das tardes preguiçosas n´Aclimação. Dos filmes em preto-e-branco na casa do Berna. Dos baseados enrolados com tempo e capricho. Dos jogos da Champions League. Do sol e da piscina do Double Tree. Dos beijos açucarados e inocentes de Pitilinha. Dos almoços saborosos feitos em casa. Do novo de Bob Dylan e dos velhos discos de vinil. Até hoje não resgatei aquela boa sensação - de setembro de 2006.

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crianças felizes

bem-vindo ao phone center do hsbc. disque os números de sua agência bancária e de sua conta corrente ou disque nove para...
disque a sua senha...
o que você faria por um mundo mais feliz? peça seu cartão do instituto hsbc solidariedade. você usa e ajuda muitas crianças a conquistarem um futuro melhor. peça agora mesmo para uma de nossas operadoras.
seu saldo é... quarenta e dois... reais e... trinta e seis... centavos... disponível.

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13 setembro 2006

o canto dos tucanos no cio

- boa tarde. é da casa do senhor bernardo?
- sim.
- gostaria de falar com o senhor bernardo.
- sim.
- é o senhor bernardo?
- sim.
- boa tarde, senhor bernardo. aqui é da assessoria do zé aníbal...
- não.
- ... gostaríamos de estar confirmando o endereço do senhor...
- não, obrigado.
- ...para estarmos encaminhando um material de campanha...
- obrigado. mas nem se dê ao trabalho.
- ... do zé aníbal...
- nem se dê ao trabalho. eu não voto em são paulo, não.
- ... o senhor não vota em são paulo?
- não. meu título é de brasília.
- ... brasília...
- mas, entenda, se por acaso eu votasse em são paulo, certamente não votaria no josé aníbal.
- ... não...
- percebes? agradecido. passar bem.

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ibirapuera

está rolando o campeonato mundial de basquete feminino aqui em são paulo. oh, emoção!
me faz lembrar os jogos internos do maristão, a performance das gurias em quadra. placares elásticos do tipo 11 x 6, 7 x 2.

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mormaço

comprar cigarro na rua josé getúlio. nove e tanto da noite, quase dez, apenas a padaria madame aberta. voltando ao double tree, notei o ar parado na noite quente de inverno d´aclimação. tentava puxar um tantinho de ar para dentro de meus cavernosos pulmões canábicos. mas o ar estava morto no ar. no mormaço de inverno. nenhum vento soprava. nenhuma árvore se mexia. barulho nenhum na quente noite escura da josé getúlio. apenas um mendigs dormindo enrolado no cobertor sobre a calçada.

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a mão de deus

diego (ou diogo) é um jovem zagueiro do cruzeiro. 20 anos de idade. dia desses, num treino na toca da raposa, teve um piripaque e desabou no chão. enfarte. sorte que o time dele é o cruzeiro. e não o planaltina, o olaria, o flamengo. então os médicos logo perceberam o troço sério. um médico ficou fazendo massagem cardíaca & respiração boca a boca, enquanto o outro médico foi catar um desfibrilador nos vestiários. em menos de três minutos, o cara foi eletrocutado de volta à vida.
hoje diogo (ou diego) recebeu alta no hospital. deu uma longa entrevista coletiva. celebridade.
"agradeço a deus por estar vivo."
que bacana. é bacana mesmo ele pensar em deus nessas horas.
deveria ter agradecido também aos médicos de sua equipe, ao desfibrilador, ao clube, etc.
agradeceu a deus. bacana da parte dele.
mal sabe diego (ou diogo) que se dependesse de deus...

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o verdadeiro beat paulistano

"setenta adolescentes fascistas do Colégio Objetivo criaram
no laboratório de química (com auxílio de alguns
professores) uma substância hipnótica cuja finalidade é
levar a vítima ao arrependimento seguido de crises de
misticismo histérico.
Essa substância foi testada no bairro operário da Mooca &
Durante 2 meses às 6 horas da tarde na avenida Paes de
Barros os operários se reuniram para rezar."
(roberto piva)

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11 setembro 2006

Sometimes I think I love you, but I know is only lust

Belo dia de sol e continuamos na mesma. Procurando o grande sentimento. O amor. Sim, o bom e velho aquecedor dos dias de frio. O amor é ternura, só isso. Ternura que passa e vira indiferença. O amor é pau duro e boceta molhada. Provavelmente, a combinação mais amorosa de todos os tempos. Desesperamo-nos. Queremos ser sempre duros e molhados. Mas, não rola. O amor desabrocha e depois brocha. Eis aí uma lei da natureza, tenho dito. O amor só não morre dentro de nós. Ele está sempre à espreita. Basta surgir uma carne nova, uma idéia nova. Sangue nas veias e viço nas membranas.

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10 setembro 2006

sem radinho de pilha, sem pay per view

Começa a partida no Maracanã. As duas equipes estão próximas da zona de rebaixamento e querem sair de qualquer jeito. O Botafogo é o décimo colocado com 30 pontos e o Flamengo é o 18º com 24 pontos e na zona de rebaixamento. O Maracanã tem um bom público, mas longe de estar lotado. Cruzamento da esquerda e a defesa do Botafogo afasta. Renato Augusto é lançado na direita e cruza em cima da marcação. Luizão faz falta no meio-campo e recebe o amarelo. Ruy lança Junior Cesar na área. O jogador cruza rasteiro e Lima não consegue chegar na bola. Encerrado: Paraná 1 x 0 Fluminense. Renato passa para Obina na esquerda que cruza rasteiro. Luizão se esforça, mas não consegue alcançar a bola. Ruy recebe na esquerda e manda a bola para a área. A bola desvia na zaga e vai nas mãos do goleiro. O Botafogo não consegue criar no meio-campo e está mal defensivamente. GOOOOOOOOOOOOLLLLLLL DO FLAMENGO!!! Renato Augusto escapa pela ala direita e cruza rasteiro da linha de fundo. Luizão não consegue alcançar, a bola bate no joelho de Rafael Marques e entra no gol botafoguense.
(oh, acompanhar futebol pela internet é muito mais emoção!)

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09 setembro 2006

a última do bob

"... well, the moon gives light and it shines by night
when i scarcely feel the glow
we learn to live and then we forgive
for the road we're bound to go
more frailer than the flowers, these precious hours
that keep us so tightly bound
you come to my eyes like a vision from the skies
and i'll be with you when the deal goes down..."
(roberto zimmerman)

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efeito johansson

pois o novo disco de bob dylan, "modern times", foi o álbum mais vendido nos states na última semana. no topo da parada. como é possível? será que os fãs de bob são uns hippies velhos que não sabem baixar música e ainda compram disco no wal-mart? ou será efeito scarlett johansson, por causa do clipe de "when the deal goes bad"? uau.
e cadê a kelly clarkson?
de qualquer forma, é para se ter esperança novamente nos estados unidos.
...aqui no estranho mundo de berna beat, bob dylan foi o campeão de downloads do mês.
mas o estranho mundo de berna beat é estranho mesmo. aqui sonic youth toca todo dia nas caixas de som - e as melhores bandas do brazil são prot(o), walverdes e superquadra.
está rolando um revival forte de divine e maskavo roots n´aclimação. e de raimundos também.
"pois foi antônio, filho de josé pereira, que no meio da bagaceira olhou pro céu e a rezar pediu pra santo antônio, são pedro ou padim cícero ou pros filhos do canisso que viessem ajudar"

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dona xêpa

hoje é dia de feira. comprei tomate, cebola e alface. comprei mamão papaia e um cacho de banana. também bati um pastel de carne, por que apenas com hortaliças e frutinhas, beat nenhum pára em pé.

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08 setembro 2006

cacildis

sobis no betis.
cadê o mussum?

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the faker

berna beat é uma farsa.
acabo de adquirir uma megacadeira para escritórios.
tipo a do roberto justus.
agora posso me dedicar mais confortavelmente ao tpb.
agora posso fazer poesia transgressora sem doer no lombo!

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07 setembro 2006

pra quê o jardim?

intenso tráfego aéreo dentro de meu apê beat. duas moscas girando pela sala. voando macias de paraglider. o sol de verão entrando pela janela. sol sem calor. ouvindo bois de gerião, para esquentar a aclimação. e as duas moscas aqui planando. lentas no paraglider. assim meio chapadas. aproveitando os poucos minutos de sol. até as moscas chapadas curtem um feriado. a girar, a girar.

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06 setembro 2006

she said she was ambitious, so she accepts the process

"at home he feels like a tourist
at home he feels like a tourist
he fills his head with culture
he gives himself an ulcer
he fills his head with culture
he gives himself an ulcer"
(francisco ferdinando? nã. gangue dos quatro.)

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observatório da imprensa

diz o noticiário internacional em tempo real:
"frança bate itália e devolve derrota da copa"
perdão, prezado redator, mas aquela derrota não será devolvida.
jamais. pergunte ao zidane. pergunte ao materazzi.

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poesía porteña descabida

te trago
um tango
num trago

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05 setembro 2006

restos de ressaca deram um tombo na madrugada

fumar na varanda
tão frio, tão frio
que a brasa apagou

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umedecendo o chão

sete graus na madrugada d'aclimação. fez dois graus (negativos) em campos de jordão, me disse o porteiro, esta manhã, enquanto esfregava as luvas nas coxas. ouviu no rádio. deve ser frio pra c*ralho campos de jordão, concordamos, esperando o elevador. subi pela escada. terceiro andar. deve ser mesmo frio pra c*ralho em campos do jordão, pensava, suando dentro do cachecol de llama chilena.

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01 setembro 2006

marienbad

se o tempo e o espaço são nossas duas dimensões
como se faz o tempo das lembranças?
o espaço do passado?

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vistas embaçadas

tomou os óculos de minhas mãos.
- as lentes estão arranhadas - afinal, era ele o oculista.
arranhadas e sujas, fritaram um ovo nessas lentes.
- você enxerga bem com estes óculos?
bem, enxergo aqui do meu jeito.
- a lente direita está arranhada bem no centro focal. exatinho no centro focal, aqui ó... como você consegue enxergar?

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snapshot

velhas fotografias não desbotam
foi você, então,
foi você quem desbotou

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never seems to find the time

o sol baixa cada dia mais cedo
cada dia mais quente
o sol cansado

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brasília, 30 graus

ipanema acabou
brasília acabou
acabou
um brazil
que não é mais o teu
que não é o meu
nem nunca foi

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