o céu cinza me faz ficar em casa. mentira. fico em casa mesmo no auge do verão paulistano. enfim. o céu cinza me faz ficar em casa, e espiar pela janela a ciudad lá fora. a ciudad distante.
bafejo meu vapor de chá de carqueja na janela gelada. queria que embaçasse a janela. mas nem está tão frio assim. maria rosa há tempos deixou de lavar esta janela da sala, onde esfrego meu nariz. então a visão turva é por conta de vapores outros, de outros condensamentos na atmosfera da grande cidade distante. gases em suspensão.
ouço o velho brito abrir a porta de seu apartamento. um animal de hábitos, o velho brito, nove e dez da manhã. o primeiro cigarrinho do dia é na lixeira do décimo-sexto andar.
sentirei saudades do old man, quando eu tiver ido embora. sentirei saudades da grande cidade, infinita para além de meu avarandado beat, espalhando seu ocre até os pés das serras ao redor.
sentirei saudade do céu cinza, ainda maior que a grande cidade, a se espalhar para além das serras ao redor, sempre acolhendo os aviões, helicópteros e dirigíveis que sobrevoam la grand ciudad como moscas ao redor de uma goyaba. raios e trovões.
sentirei mesmo saudade dos fedores indizíveis que escapam da cozinha do velho brito.
it´s not dark yet, but it´s getting there.
daqui pra pouco, sentirei apenas o cheiro das minhas frituras, dos meus vapores, sentirei apenas os meus próprios fedores. daqui pra pouco o céu estará alguns metros mais distante, chova ou faça sol.
e de minha sacada só se verá o prédio ao lado, suas varandas, crianças a correr atrás da bola.