The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 novembro 2006

Rambo II

Árdua missão. Fumar um e procurar uma lotérica para me declarar isento. É, do imposto de renda, porra! Este é um país maravilhoso. Você não ganha nada, mas também não paga. O que é uma injustiça, afinal, deveríamos pagar o dobro. E ser excomungados em praça pública. Feliz da vida, por esta nação abençoada por Deus, coloquei óculos verdes Hunther. É... pra não ser reconhecido na rua. Passar por porteiros, farmacêuticos, padeiros e demais colegas de bairro. Sabe como é, São Paulo é uma cidadezinha muito amistosa. Mas, infelizmente, quando estou doidão, não consigo me comunicar. E tenho, é claro, a árdua missão. Já vai ser difícil preencher pequenos espaços com caneta azul. Quanto mais falar com alguém.

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Id, ego e superego

Dizem que rio pouco. Que sou blasé. Anti-social. E até arrogante. Eu mesmo, nem percebo. Penso que sou alegre. E não me acho assim grandes coisas. Só não consigo convencer ninguém.

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29 novembro 2006

"L'état, c'est moi"

Sinto pena daquele cara. Com seu MP3 player. Pendurado no pescoço. Andando a pé. De metrô. No elevador. Ensimesmado. Em suas músicas. O MP3 player é o sujeito assumindo: não quero mais falar com ninguém. Não há como dizer “olá”, “boa tarde”, “como vai?”. Tenho coisas importantes a fazer. Como ouvir minha música. Só minha. Ninguém sabe o que toca aqui. A humanidade morreu.

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28 novembro 2006

economia popular

pesquisa... o que você vai fazer com seu décimo-terceiro salário?
a) quitar las deudas
b) gastar com tóxico e sexo
c) save for the children
d) décimo-o-quê?

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24 novembro 2006

Vida burguesa

Fico aqui de seis às duas. É o meu horário. Acordo às cinco da manhã. Arrumo um pão-com-queijo. Ou pão com manteiga. Daí o João. Sabe o João Batista da limpeza? Um magrinho. Ele faz café lá na copa. A gente compra o pó e o açucar. Aí como pão com a café. É bom. Forra o estômago. O Adriano traz café-com-leite da casa dele. Fumo quase uma carteira de cigarro quando estou aqui. Ajuda a passar o tempo né? Mas o movimento é grande. Toda hora tem gente entrando, gente saindo. Leio umas revistas velhas aí. E tem essa tevê também. A gente vai fazer uma vaquinha e comprar uma a cores. Essa aqui é muito ruim. De tarde vou pra casa, faço almoço. Arroz, macarrão, às vezes um frango. Isso aprendi a fazer. Só não sei passar roupa. Até hoje não consigo. Pago uma mulher pra lavar e passar. Às vezes fico aqui depois do trabalho. Tenho muito amigo zelador, porteiro, aqui no bairro. Fico conversando no barzinho de um camarada ali na Rua Saturno. Em casa eu limpo as gaiolas dos passarinhos. Tenho três passarinhos. Eles fazem uma sujeira... Depois, dou uma cochilada. Até a mulher chegar. Ela chega umas sete. Trabalha de doméstica na Vila Clementina. Daí eu janto, vejo uma novelinha. E então bate um sono. Sabe como é, a gente que acorda cedo. Dá um sono. No fim de semana, fico mais na tranquilidade. Esse sábado fui na casa do meu primo. Ele mora lá Amaral Gurgel. Lá no centrão. Sabe? Fazia tempo que não ia lá. A gente deixou as mulheres em casa e fomos no boteco. Eu tomei uma cerveja e ele um conhaque. Mas é só isso mesmo.

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rompante

a vida me disse
- vai me viver ou o quê?
respondi
- sofro de paralisia
- paralisia porra nenhuma. sou um poço profundo e você é o único que quer me explorar. esqueça os ratos, eles não incomodam
- vou fazer churrasco desses ratos
- rasgue os quadros. quebre a louça. injete na veia. escreva poesias. esporre na cara.
- é isso
- só se for agora
- é agora

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23 novembro 2006

música popular brasileira

pura diversão. passei duas horas e meia deitado olhando pro teto, de boca aberta, com um sugador de saliva pendendo do lábio. dentistas são uma baita diversão. rádio ligado rolando lenine, paulinho moska, oswaldo montenegro e skank durante duas horas e meia. a melhor parte era quando o barulho da broca ligada abafava o som do rádio. e ela ficou ligada bastante tempo, perfurando meu dente, cavando um buraco bem fundo, tão fundo que quase saiu pelo queixo.
dizem que anfetamina fode com os dentes.

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22 novembro 2006

Real people from Topeeka

Pessoas de verdade. De carne e osso. Quentes. Com pelos. Com cheiros. Hálitos. Pessoas com braços e pernas. Onde elas estão? Só vejo pessoas granuladas. Fora de foco. Photoshop. Em três por quatro. Vejo um cão. Um São Bernardo. Um skatista. No MSN.

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três, quatro da manhã

tornei-me um ébrio
ali na cento e nove sul
mais uma madrugada ao sereno
(liberdade poética: sereno já não há nas madrugadas de novembro)

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feito um pequeno universo

"então, que seja doce. repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. tudo é tão vago como se não fosse nada."
(caio fernando abreu)

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19 novembro 2006

too darn hot

queria poder dormir. um par de horas. quinze minutos. mas está quente demais. quente demais pra relaxar.

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tipo dylan

"at first when i see you cry,
yeah, it makes me smile, it makes me smile
at worst i feel bad for a while,
but then i just smile i go ahead and smile"
(lily allen)

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poltergeist

gosto de me locomover às escuras. andar pela casa, à noite, sem acender a luz. assim fecho a porta da cozinha, sigo pelo corredor, dobro à direita, atravesso a sala, subo as escadas e entro no meu quarto com os passos calculados. feels like coming home. pois sei onde fica cada móvel, não corro risco de topadas e tropicões. acho que já é um bom teste caso eu go blind quando ficar velhinho. a única cousa que me incomoda ao entrar o quarto é aquela luzinha verde piscando em intervalos irregulares, esverdeando a parede branca e refletindo ali no teto. é o modem do computador. mas imagino que, em verdade, seja algum espírito do além tentando se comunicar de volta ao mundo dos vivos. algum espírito de luz (verde) perdido no cyberspace. puxo o fio da tomada, desligando o troço. agora não, senhor spirit, já está tarde, acabei de chegar da rua e creio que estou meio mamado. perdones.

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18 novembro 2006

Vaivém

Sou feliz, num momento
Que tento segurar
Que quer me escapar

Vai, vai momento
Seja feliz, longe de mim
Que venham outros
De tempos em tempos

Povoar minha rotina
Tão extrema
Em sua rotinice

Vem, vem você também
Com todo seu amor
Irrigar minhas artérias
E a vida vale a pena

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17 novembro 2006

winterlong

o relógio deste blog beat não segue o horário de verão punhetinha

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informações ao usuário

- abrir o recipiente girando a tampa do frasco no sentido anti-horário.
- colocar o material dentro do frasco coletor sem tocá-lo para evitar contaminação.
- após colocar o material no frasco coletor, fechar o frasco no sentido horário.
- recipiente não reutilizável (descartável).
- produto não tóxico.
- mantenha o frasco em temperatura ambiente.
- mantenha o frasco sempre fechado.
- abra apenas na hora de usar.
- proteger da luz e manter em lugar seco.
(duqueplast ltda)

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o senhor garcia

ser expulso do beirute. às duas da manhã. degas e eu. certas cousas não mudam. nunca.

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the sunshine underground

meus amigos me consideram the freaks.
só porque uso o mouse à esquerda do teclado e não sou canhoto.

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15 novembro 2006

assumir o controle do jogo

futebol é bola de pé em pé. cabe às vezes uma bola esticada, uma jogada individual. mas futebol é esporte coletivo. de pé em pé. e exige contato físico. sem uma boa marcação, não tem como dar pé.

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14 novembro 2006

Dream on

cuide sempre para que seu sonho nunca se torne realidade. é a pior coisa que pode te acontecer. sonhos realizados engordam e causam depressões múltiplas. é foda pensar em outro sonho depois.

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Dream on

cuide sempre para que seu sonho nunca se torne realidade. é a pior coisa que pode te acontecer. sonhos realizados engordam e causam depressões múltiplas. é foda pensar em outro sonho depois.

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13 novembro 2006

menschmaschine

as pessoas
de la ciudad
olham pra frente
apressam o passo
olham pra frente
vão direto ao assunto
as pessoas
en la ciudad
não sorriem
não te dão bom dia
não sorriem
vão direto ao que interessa
as pessoas
aqui ali
não têm mais tempo
a perder
já têm muito mais
a fazer

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11 novembro 2006

looking trough you

de tanto te olhar
minha miopia
subiu um grau

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köln, january 24, 1975, part IV

a única janela
acesa
do teu quarteirão

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antigas velhas salas empoeiradas

compre uma buzina
e traga pr´aclimação
venha bubu buzinar
nos faróis d´aclimação

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asma, pneumonia, sinusite e alergia

queria ter uma memória adesiva. que aderisse completamente. sem espaço pra imaginar. sem distorção. sem esquecimento. queria ter uma memória adesiva. para agarrar tipo superbonder. para grudar na pele. queria ter uma memória adesiva. que ofendesse a pele ao ser puxada, que arrancasse os pêlos e te deixasse um lanho vermelho no corpo.

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tuas love stories de amor

"queria poder contar uma história, mas ela se perdeu no ar. guardava seus segredos de amor para o futuro que não quer chegar. eu não vou mais dançar, não vou mais sair de casa. guardava seus segredos de amor para o futuro que não quer chegar. eu não vou mais dançar, não vou sair de casa antes que ele possa chegar. as histórias de amor sempre acabam."
(claudio bull)

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i´ll take care of you

the john pothead tem uma teoria a respeito dessas cousas que somem.
acredita que os objetos desaparecidos, em verdade, foram pegos pelos duendes. pegos emprestado. "é como se fosse uma arte, uma espécie de brincadeira", compara the smoked one. "isso explica aqueles objetos que somem por horas, por dias, e depois você os encontra num lugar óbvio. isso acontece com todo mundo, né?"
isso faz muito sentido.
os duendes do 901, para ilustrar, andam se divertindo um bocado. vendo filmes de surfe, ouvindo herbie hancock e lendo paul bowles.
"na verdade, quem me disse isso foi uma bruxa."

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10 novembro 2006

política externa

bush agora admite não saber o que fazer com o iraque.
... aceita uma sugestão?

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09 novembro 2006

hard

sonhei com balinhas soft. baniram as balas soft do mercado há alguns anos. crianças de quatro anos tentavam o suicídio engolindo balinhas soft.

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08 novembro 2006

Memória ausente

Vontade de parar de fumar maconha. Pra lembrar. Do que já esqueci. Se era bom ou ruim. Já não sei mais.

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o céu de lisboa

num sacolejo, o airplane mergulha mais algumas centenas de pés rumo à grande maquete ali embaixo. a cidade de são paulo, vista da jaleninha de um boeing em alta velocidade, não é muito mais do que esta imensa legoland de luzes coloridas. num sacolejo, o airplane desaparece dentro da espessa camada de neblina e poluentes atmosféricos que paira sobre la grand ciudad. abaixo a cabeça, encosto a testa na jaleninha latejante e sinto minha fronte tremer a seiscentos quilômetros horários. lá no bico do airplane a sensação térmica bate em esfuziantes cento e dezessete graus negativos. o gélido bico do airplane rompe com carinho e persistência os espessos flocos de algodão industrial que pairam sobre a megalópole blade runner. através da esbranquiçada jaleninha, consigo distinguir no furor glacial uma luz de alerta na ponta da asa. uma luz vermelha que brilha e apaga e brilha como respondendo àquelas todas luzes amarelas, difusas, lá embaixo. as luzes automotivas emoldurando nas duas marginais engarrafadas o derrame plúmbeo e vazio do rio tietê. sua silenciosa escuridão. num sacolejo, o airplane desaba mais alguns milhares de pés. o suficiente pra fugir da aglomeração aleatória de gases nobres e permitir uma visão maior desta bucólica megalópole. suas artérias de sangue vermelho. suas veias de sangue amarelo. faróis indo e vindo, centro-bairro, bairro-centro, num fluxo constante, bombeando seus glóbulos pelo urbanismo enfartado. de longe, de cima, já se percebe o monumental fracasso da grand ciudad. se há de fato um deus das metrópoles, se há em algum lugar un san pablo a abençoar sua ciudad, eles pouco podem fazer. tanta neblina atrapalha a visão. num sacolejo, o airplane ameaça roçar sua barriga metálica no cocuruto de um prédio residencial, tira um fino das tristes antenas da tevê, quase se enrosca nas linhas de eletricidade e desce num rasante entre os outdoors que nos protegem e nos guiam pelas alamedas de tua ciudad. quando toca as rodinhas no asfalto úmido, quando as janelas embaçam com a garoa, quando os freios roncinantes me arremessam pra frente, fecho os olhos em tua ciudad.

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o futuro é uma câmara de gás

acordo empesteado
com o cheiro de tuas bitucas
mortas no cinzeiro

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07 novembro 2006

Post right on time

A caneca. Que bela invenção. Própria para líquidos fumegantes. Ou muito gelados. Tanto faz. Grande invenção. Ergo minha caneca contra a luz. A fumaça avança para a janela. Tem sol lá fora. E uns sujeitos martelando e ladrilhando no prédio ao lado. O caminhão dos ovos (ele realmente existe) grita. Mas, para mim, a fala é mansa. Tudo se resume a uma tarde sonolenta. Adiei uns dez problemas pra resolver. Eram de imediato. Sim, isso eram. Troquei-os por um pouco de vida útil. Ah, viver. Como é bom.

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06 novembro 2006

atenção senhores controladores de vôo

jatinhos particulares, por obséquio, saiam da frente!
pego um avião da gol logo mais às 18h40.

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velho oeste

e o saddam foi condenado à forca.
o xerife bush, claro, achou o bicho.
é isso aí. vamos dar uma lição de civilidade àqueles muçulmanos escr*tos.

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04 novembro 2006

área de segurança nacional

pois bem...
quem foi o companheiro aloprado que vazou as photos do lula de sunga na praia?

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aparecido não mora mais aqui

hoje descobri que o josé aparecido mora(va) na rua ribeirão pires.
ele é o antigo proprietário do 3208-54**. mas continua muito popular. a telefônica me empurrou esse número há 20 meses. mas o desaparecido zé aparecido continua muito popular - a despeito de não pagar as contas, ou até por isso mesmo.
- alô.
- alô. por favor, o senhor josé aparecido?
- bom dia. o zé não mora aqui.
- ahn. como?
- comprei este telefone há dois anos.
- dois anos?
- dois anos. e há um ano parei de anotar os recados pro zé aparecido. obrigado.
(exagerei um pouco, é verdade, mas foi para causar impacto.)
- só confirmando o endereço do senhor... o senhor mora na rua ribeirão pires?
- não. como te disse, comprei o telefone. apenas o telefone.
- não é a rua ribeirão pires?
- nã. é outra rua, outro zé e o mesmo número. verdade: é o mesmo número. mas já é outra rua e já sou outro zé. o senhor sabe, né, dois anos...
- entendo.
(respondendo algo inconsolável diante da natureza inexorável do tempo e desligando em silêncio.)
a rua ribeirão pires, acabei de consultar, não consta do mapa do centro expandido de são paulo.

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trilha estreita ao confim

baixô, baixô!
grita a peixeira da feira
chamando mais clientes
bashô, bashô!
grito eu na varanda
invocando um hai kai

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noites brancas

levei meu edredon pra passear. sábado de manhã e as cousas as serem feitas después de uma laboriosa semana. levei meu edredon pra lavar. ali na leader clean, quase esquina da pires da mota com a josé getúlio, do lado do boteco sem nome onde os porteiros do the double tree park costumam falar de futebol e mulher tomando conhaque e ouvindo blues. já tinha meu edredon há mais de ano. simplesmente tinha esquecido que precisava lavar o troço. e ele nem cabe em minha lavadeira automática consul cinco quilos. então levei meu edredon pra passear. mas foi só pra me manter útil mesmo. coberto de fuligem industrial e suor noturno, tenho bem noção de que meu edredon beat já caminharia sozinho pelas ruas selvagens d´aclimação.
"edredon queen size vermelho", anotou o sujeito da lavanderia, duvidando abertamente da masculinidade de meu edredon beat.
"passados 45 dias e não tendo sido a roupa retirada, a mesma será entregue a alguma instituição beneficente."

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03 novembro 2006

ap.

"na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
e batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
e no tédio que é
essa falta de paixão."
(bruna beber)

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02 novembro 2006

that´s what salvation must be like after a while

dia de finados. e parece que a cidade inteira finou-se. ou está trancada em casa com medo do silêncio. ou desceu pra praia. ou subiu pra puta que a pariu. eu não viajo nos feriados. sou um exilado poético e sei que tenho pena a cumprir nesta prisão de cimento e fuligem negra. e ocmparo meus feriados paulistanos com as manhãs de sol no carandiru. pra fumar um cigarrillo na varanda e espreitar o vazio dos andaimes. atravesso a pires da mota pelo asfalto, andando na contramão, esperando que alguém venha me atropelar o mais rápido possível. em qualquer dia normal, já teriam me buzinado, já teriam me alcançado, já teriam me paçocado no chão molhado por trinta e sete horas de garoa incessante. mas não no dia de finados. ando pela contramão até o pórtico do the double tree park. são paulo tem muitos cemitérios, percebo, são paulo tem muita gente. e gente não faz outra cousa a não ser morrer, pouco a pouco, a cada dia, ou assim de repente, sem avisar, estatelada no asfalto depois de não ouvir tua buzina.

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momento meligeni

vontade de apertar um fininho no dia de finados

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01 novembro 2006

há vagas

vou abandonar o jornalismo. vou abandonar o beatnik.
vou virar controlador de vôo. eis uma carreira em ascensão.
posso ficar lá sentadão no airport vendo as bolinhas verdes piscando na tela do computador. ficar ali de boa controlando o tráfego aéreo.
moleza.
dá até pra relaxar. fumar unzinho e ficar ouvindo coltrane nos auriculares.

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"sério que você é poeta?"

reclamava que ela puxava sempre o cobertor.
lembrei dela quando conheci outra.
- tu gosta de dormir junto?
- bem agarrada!
- tu dorme nua?
- depende.
- depende do tesão?
- depende do frio.
- tu puxa pra ti as cobertas?
- não. eu tiro as cobertas.
- e o frio?

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there´s more to the picture than meets the eye

hoje acordei pensando na natureza da imagem. acordei pensando se bastaria a natureza estética intrínseca a uma imagem para validá-la etimologicamente em sua plenitude. ou se antes a verdade da imagem se reporta menos ao signo aparente e mais ao significado latente, sendo a real expressão de seu valor artístico não a estampa que se apresenta, mas o que seu interior guarda a ser desvendedado. no entanto, elaborei o óbvio, ocorre que essa segunda instância de fruição é menos independente e espontânea, mais indeterminada ao autor, por logicamente depender do repertório individual de um espectador externo. e cada espectador tem repertório próprio e distinto - criando nessa aparente desarmonia nada mais do que a dinâmica de sentimentos e reações que a grande arte deve criar. o turbilhão da arte. o que vale dizer: a imagem, por si só, é nada. somos nosotros que lhe atribuímos significado, importância e validade. neil young estava certo. claro.

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formador de opinião

"nunca na história deste país se leu tanto o TPB"
(luiz inácio)

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