The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 abril 2007

frank sinatra

"i found my own true love was on a blue sunday
she looked at me and told me
i was the only one in the world
now i have found my girl
my girl awaits for me in a tender time
my girl is mine, she is the world, she is my girl"
(morrison)

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28 abril 2007

conto de outono

estranho aquilo nas minhas pernas. algo inusitado mas, ao mesmo tempo, familiar. apesar do cheiro de mofo. um cheiro discreto sob as gotículas ck one pulverizadas com malícia. vesti calças compridas pela primeira vez neste ano. minhas calças jeans. calças cáqui talvez. para bater perna no centro de são paulo. batucando sonic youth dentro do meu i-pobre. batucando até a praça roosevelt.
"time takes its crazy toll, and how does your mirror grow, you better watch yourself when you jump into it, 'cause the mirror's gonna steal your soul"
parado esperando o sinal vermelho na avenida são luiz. os ônibus tirando fino, fino de minha pança. os malas do anhangabaú, seus agasalhos de moleton, seu palavreado cruzado. a biblioteca mario de andrade deserta de livros, deserta de leitores, seus andares acesos e vazios. cataratas de pessoas apressadas tirando fino, fino de minha pança. centas de pessoas marchandp em sentindo contrário. marchando em retirada. evacuando o centro de la ciudad. lotando metrôs e baús. indo embora a qualquer custo. indo para casa. indo para bem longe. jaçanã. jardim ângela. terminal pirituba. morro doce.
"i wonder how it came to be my friend, that someone just like you has come again, you'll never, never know how close you came, until you fall in love with the diamond rain"
sozinho no meio da rua. equilibrando no gelo baiano, paraibano, pernambucano. esperando o sinal verde. aquecido pelas calças compridas. o guarda-chuva nas mãos guardando a chuva ali dentro. no rain, no rain, no rain. aqui me sinto protegido. guarda-chuva em mãos, tu se sente mais preparado pra vida. ninguém me conhece. ninguém olha na minha cara. nem sabe onde moro. nem sabe o que sei. o que fiz. o que sou.
"throw all his trash away, look out he's here to stay, your mirror's gonna crack when he breaks into it, and you'll never never be the same"
a cidade evacuada. as ruas enfartadas. a guerra dos mundos. e percebo que, nisso tudo, estou indo rápido demais. não estou indo para morro doce. estou indo pra logo ali. e tenho tempo. ninguém a me esperar. freio o passo. um engravatado tromba no meu lado. ajeito o auricular dentro do duto auditivo. aumento o som. uma nuvem de cannabis anuncia a esquina da praça roosevelt.
"look into his eyes and you can see, why all the little kids are dressed in dreams, i wonder how he's gonna make it back, when he sees that you just know it's make-belief"
levanto a tampa da privada com o pé esquerdo. botina impermeável. puxo meio metro de papel higiênico rala-coco. faço um travesseiro delicado com tão rude material. abrir o cinto, desabotoar as calças, baixar o fecho éclair. a poesia da língua francesa, mon chéri. baixo o cuecão, encosto os antebraços na parede, espicho a espinha e miro com destreza o centro do laguinho porcelânico.
"blood crystalized as sand, and now i hope you'll understand, you reflected into his looking glass soul, and now the mirror is your only friend"
dois tiozinhos furam a fila do theatre assim que toca o sino anunciando a sessão das dez. eles atravessam a boca de cena e se sentam ali, comparsas, no canto oposto. na primeira fila. aquele carecone de barba grisalha parece ser o líder da dupla. terceiro ato. o carecone sabia que ali, no canto de lá do palco, a atriz atroz levantaria a saia. deixando escapar a calcinha branca e as coxas lisas. consegui ver daqui. enquanto ela encavalava um papai-mamãe stanislavsko com o carismático ator famoso.
"look into his eyes and you will see, that men are not alone on the diamond sea, sail into the heart of the lonely storm, and tell her that you'll love her eternally"
ela levanta a saia. ele acende um cigarro. ela percorre o espaço até a sombra. ele vai atrás. apagam as luzes. a peça acabou.
e ninguém percebeu.
acendem as luzes, os atores saem do fundo do palco. eles se curvam polidamente à audiência. aí todo mundo aplaude forte, aplaude de pé. e assovia vivas.
"time takes its crazy toll, mirror fallin' off the wall, you better look out for the looking glass girl, 'cause she's gonna take you for a fall"
foi quando pensei em ti.
cruzando a cidade evacuada. atravessando o asfalto da são luiz sem nenhum ônibus para me atropelar. para me buzinar. às vezes, as luzes se acendem, e a gente não percebe que já acabou. que todos já foram embora. e esqueceram de te avisar.
"look into his eyes and you shall see why everything is quiet and nothing's free I wonder how he's gonna make her smile when love is running wild on the diamond sea."
não, não esqueceram de te avisar. tu não conhecia ninguém.

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beat cat

"observei que, nas brigas de gatos, o agressor quase sempre sai vencedor. se um gato está levando a pior em uma briga, não hesita em fugir, enquanto um cão pode lutar estupidamente até a morte. como meu velho professor de jiu-jitsu disse: se seu truque não funcionar, é melhor correr."
(william burroughs)

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25 abril 2007

Maria

Frei Galvão é o cacete. Quem deveria ser canonizada é a Maria Rosa, faxineira de vagabundos e beatniks moradores da Aclimation.

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24 abril 2007

bum

- hey, guria, como te chamas?
- pode me chamar de senhorita dalloway.
- oh. e cadê a virginia? voltou pra bloomsbury?
- não, infelizmente não aguentou o peso de sua vida e se matou...
- virginia woolf, sylvia plath, cesare pavese, kurt cobain, ian curtis, todos uns fracos.
- esqueceu a florbela espanca.
- fraquinha também.
- cada pessoa sabe de si.
- bueno, com todo respeito à sociedade dos poetas mortos, eu não sou robin williams.
- às vezes é preciso "se deixar morrer" mas para renascer novamente como a fênix.
- aí te digo, senhorita, se fosse certo que teria outra vida ali adiante então assim eu até toparia - bum - abrir mão desta aqui.
- oh, mas porque fazer isso? veja... hoje pode ser um péssimo dia, mas amanhã tudo pode ser diferente, sempre teremos altos e baixos na vida mas estamos aqui é para crescer e não para abreviar...
- por favor. páre. mais uma palavra de auto-ajuda e bum.
- não faça isso...
- ou, sim. bum em ti.

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quando paris alucina

"Há um século, surgia em terras de Carlos Botelho o Jardim da Aclimação. O antigo Sítio Tapanhoim transformava-se em bairro, que cresceria em torno do lago de águas que ondulavam ao ritmo de remos sonolentos. Ah! a infância deslizando em barcos conduzidos pela paciência do meu pai! E o zoológico que ali existiu, onde fui fotografado, cheio de susto, ao lado de pacato camelo que ruminava lembranças do deserto!"
remos sonolentos? pacato camelo?
"No coreto, pouco a pouco iam emudecendo os dobrados, e as valsas imigravam para os salões de chá do Mappin, da Casa Alemã e da Vienense. Carlos Botelho, filho do Conde do Pinhal, era primo de meu avô materno, Sebastião Lebeis, batizado com o nome do antepassado comum, Sebastião de Arruda Botelho, fidalgo açoriano que veio para Itu em 1654."
conde do pinhal? fidalgo açoriano?
"Carlos Botelho formou-se em Medicina em Paris e, em 1904, foi secretário da Agricultura. Os serviços por ele prestados à lavoura e à saúde pública são lembrados ainda hoje em várias cidades de São Paulo. Transplantou de Paris para São Paulo a idéia do Jardim d'Aclimatacion do Bois de Boulogne e instala no Sítio Tapanhoim granja de leite, parque de diversões e zoológico. O gado leiteiro que manda trazer da Holanda passa por uma aclimatação, que daria nome ao local."
parque de diversões? gado leiteiro?
"Na década de 30, foi um dos pontos elegantes de São Paulo, com salão de baile e música ao ar livre. Nessa época, o sobrinho de Carlos Botelho, Cândido Botelho, surge com uma das mais belas vozes de nossa terra. Sua esposa Carminha, concertista consagrada, o acompanhava ao piano nos saraus de outrora. Quando passo pelo Jardim da Aclimação espero ver surgir das águas verdes do lago a imagem do passado, onde um menino molha os dedos no reflexo do barco que singra para 2002, ano do centenário daquele local que ficou encantando na clareira das lembranças."
salão de baile? saraus de outrora?
pôrra, clareira das lembranças?
enfim - emerge do largo esverdeado - a verdade sobre o aclimation park.
ser beat nos anos trinta.

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sunny morning

as crianças me despertam aos berros. jogando bola e se jogando contra os muros do colégio integração. retiro os tampões do ouvido e salto do colchão ao chão num passo desordenado. arrasto a carcaça despenteada até minha varanda beat. tropeço na persiana e grito ao vento. vão estudar, seus sacanas! desisto de acordar cedo, de caminhar no parque, de fazer uma série de alongamentos no balcão da cozinha. desisto de parar de fumar. acendo um cigarro. cato o controle remoto entre as almofadas puídas do sofá junkie. ligo no sportv. esportes de ação às oito da manhã. ação é com os outros, penso baixinho, espiando o rush da pires da mota além da janela. imaginando uma maneira de escapar agora.

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la urbe

"a cidade me excita todos os dias, como uma nova namorada"
(reinaldo moraes)

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23 abril 2007

Une Femme est Une Femme

Você, que me atiça o coração
Que vai e volta
Brinca com o tesão

Você, que agora lê
Pensa que é você?
Não, não é não

É outra

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20 abril 2007

inapto ao convívio social

"em entendimento a determinação da sra síndica, vimos por meio desta solicitar vossas providências em relação ao que se segue: tem sido motivos de inúmeras reclamações de vizinhos o barulho excessivo promovido por vossa unidade, principalmente após o horário de silêncio 22:00 horas, inclusive com pronunciamento de palavras de baixo calão. fica vossa senhoria ciente, que na reincidência, de tal fato, vossa unidade estará passível de multa sem prévio aviso."

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19 abril 2007

the hippie inside

- oi, guria. tu é hippie?
- nã... por que hippie?
- às vezes penso em ser hippie. nunca pensou nisso? queria abandonar as grandes cidades, percebe? procurar uma vida mais simples. poder me dedicar à poesia.
- eu não quero não. imagina... ficar sem tomar banho...
- mas você pode tomar banho. pode tomar banho de mar, de rio, de cachoeira, pode até tomar banho de chuveiro. eu não seria um hippie sujo. seria cheirosinho. com incenso e talquinho.
- vá morar com os indios.
- mas foderam com os índios, não acha? com televisão e shorts e cachaça...
- eles ainda têm lá suas ervas, suas infusões.
- verdade. mas não anda mais pelados.
- o que tem de importante andar pelado?
- se eu fosse hippie, deixaria o cabelo crescer. andaria pelado o tempo todo. ficaria queimando fumo e fazendo mapa astral. ouvindo grateful dead e the magic numbers. faria poesia todas as noites.
- pensando melhor... posso ser hippie também?
- claro. mas tem que depilar as pernas e o sovaco, tá?

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jogar futebol de botão com seu avô

- me diz, guria, queres ouvir de mim uma poesia?
- você é poeta?
- te faço aqui uma poesia. agorinha mesmo.
- ah... assim você me faz lembrar daquela canção: eduardo e mônica.
- curtes legião então?
- muito da minha época...
- então quantos anos tu tinhas lá por oitenta e seis?
- devia ter uns quize, uns dezesseis.
- é verdade que as pessoas eram bem pôrra-loucas nos anos oitenta e cheiravam feito aspirador de pó e viravam todas as noites e praticavam amor livre à vontade?
- mentira! os anos oitenta eram decentes perto de hoje!
- puxa. os anos dois mil são bem caretas. pelo menos aqui n´aclimação.
- nunca usei drogas.
- mas rolavam aquelas festinhas tipo cazuza com todo mundo nu e cocaine no espelhinho... nã?
- não que eu saiba. eu nunca fui em uma assim. papai não deixava.
- pois só rola poesia com as filhas dos outros.

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the absent poetry

- te ver aqui assim.. sozinha... me dá uma baita vontade de fazer poesia.
- então faça. me faça uma poesia. como seria?
- entenda. não é assim, guria, não é assim que funciona a poesia.
- como não?
- o universo como vontade e como representação.
- mas você disse que me ver aqui, assim sozinha, te dava uma baita...
- te disse. e és la verdad. uma vontade que me dá.
- então...
- se pudesse, pequena, se pudesse te fazia uma poesia. te fazia agorinha mesmo. pode crer. seria bela, a tua poesia.

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o poeta do meio dia

gosto dessa idéia de poesia com hora marcada, sabe?
tipo poeta profissional. que dá expediente e cumpre metas de produção.
que respeita os horários e bate cartão. que não trabalha além da hora tal, tipo seis da tarde. que recebe décimo-terceiro, plano de saúde, inss, vale-transporte e tíquete-refeição. poeta de carteira assinada e nome na porta da academia de letras.
a qualidade de vida.
leis de incentivo. baseadas em renúncia fiscal e reserva de mercado.
pense no poeta como um operário.
o trabalho escravo, como os bolivianos das confecções.
o pulmão apodrecido nas minas de carvão.

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18 abril 2007

pedofilia é crime

acabei de ler no noticiário do terra:
"angélica está grávida de outro menino"
michael jackson perde.

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13 abril 2007

friday night

assinei a tevê a cabo
ganhei um i-pod
não preciso mais ter uma vida social

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10 abril 2007

exploding nipples inevitable

bueno. permita que eu te conte uma história sobre esse tema... de quando ainda era moleque, sabe? e estudava no colégio marista. uniformes de camiseta branca. eu tinha uns 13 anos. tipo sétima série. treze anos, talvez. eu era muito a fim da cintia, minha colega cdf, que praticamente não tinha peito, naquela época peitinho não era tão comum assim e ela era magrinha. a cintia alternava, de acordo com as vontades dela, usar ou não soutien no colégio. quando ela vinha de casaco, normalmente estava sem soutien. então ficava de casaco até depois do meio-dia. um dia ela estava na carteira dela, eu na carteira da frente, olhando pra ela, como eu fazia nas aulas de geografia. naquela manhã, acho que era março, ela estava sem casaco, sem soutien. quando ela se abaixou pra pegar um livro na mochila. nesse movimento, pude ver o biquinho do peito dela. sabe? através da gola larga, pude ver direitinho.
- acho que imagino o que representou para você...
- sabe o mais legal? o biquinho dela tava durinho. o biquinho direito. estava assim inchado, bem pontudo. e era roxinho.
- na verdade, quando estamos sem sutiã, o bico raspa na blusa e ele geralmente fica assim.
- exatamente. mas naquela época, claro, eu nem sabia nada disso. nem imaginava como funcionava. apenas vi aquele biquinho de peito. quando ela pegou o livro na mochila e olhou pra mim, eu estava ali. com uma cara de mamão. tão encantado que ela riu...
- ah. que legal. isso marca mesmo...
- nã. inventei isso agora. na verdade, ela ficou puta da vida e não falou mais comigo naquele dia. ela ficou puta. acho que nunca mais foi pro marista sem soutien. de soutien e casaco.

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You know, there is a girl

Oh sim. Uma bela poeta de olhos claros. De 21 anos. Que adora palavras sarcásticas. Pra me desmoralizar. Eu acho isso o máximo. Mulheres sarcásticas são como, sei lá, trufas brancas dos Balcãs. Elas não existem, praticamente. Mas isso não é o melhor da poetinha, amante de Sylvia Plath.. Não, não é isso. Nem o fato de ser poeta - o que ela de fato é. Não é porque gosta de Virginia Wolf e acha que vai se matar um dia. Não, coitada, não é isso. Nem os belos olhos. Poderia ser, mas existem muitos belos olhos por aí. Como os de uma italianinha que conheci outro dia. É que ela gosta mesmo é do Mr. Antonioni. Poor Baby. Poor me. Mr. Wannabe Antonioni faz dela o que quer. Se isso me frustra? Não, me encanta. Acho que vou passear no parque e pensar no pobre destino da poetinha. E pensar que eu poderia me apaixonar por ela. Preciso me apaixonar por alguém, por alguma coisa qualquer.

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Freudiana

Hoje sonhei com meu Ipod. Que poderiam ter lhe feito algo de mau. Acho que já posso considerá-lo um ente querido. Like family.

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09 abril 2007

the poetry beyond words

- sempre me perguntam a função da poesia em minha vida...
- e respondes o quê?
- primeiro um certo silêncio se impõe. então desisto de brigar com as palavras. e deixo ficar assim. minha resposta é o silêncio.
- silêncio ecoa poesia, as palavras com seu barulho maltratam-na. poesias me engravidam, criam vida em mim...
- percebo, guria. e aqui te diria que a poesia é o esperma que lubrifica sentimentos.
- néctar que faz o beija-flor prender-se na sua flor encarnada.
- tu percebes o quanto é tolo tentar objetivamente expressar o que sente o poeta?
- sim. o quanto eu o sei... o quanto é triste e denso ser poeta... poesia é a expressão da vida.
- eu sempre me pergunto se, um dia, um dia qualquer, a poesia me abandonará? me virará as costas, apanhará a bengala e irá embora. com o mesmo ímpeto, com o mesmo fulgor com que chegou sem nada ter avisado.
- a poesia faz ver o sol da meia noite. ela me faz chorar a morte de uma folha de outono. ela me faz, eu sem mim. mesmo assim, gostaria que a minha poesia se fosse embora. ela me aprisiona, me fragiliza, me consome.
- eu sinto que a poesia é como uma veste, uma vestimenta, uma roupa que quanto mais nova, mais se parece necessária, mais temos vontade de exibi-la. e com o passar do tempo, com o passar das palavras, com o exercício diário do tempo e da palavra, essa roupa vai deixando sua alteridade, sua autoridade, vai deixando assim as cores originais e vai assumindo em nós o caráter de uma segunda pele. então a poesia será desnecessária para o poeta. pois o poeta, ele próprio, será sua poesia.
- é bonito isso o que disse. é bonita essa percepção. é quase religiosa.
- sim, guria. acho que estou me transformando na poesia. estou prestes a ser um punhado de versos livres. ou estaria prestes a voltar a ser um soneto? qual seria a forma final da poesia que perde sua identidade e assume vida? que assume a minha vida. qual seria? qual seria essa última poesia?

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08 abril 2007

bilaque

- e qual o sentido da vida?,
perguntou-lhe a bela guria
- oras, o sentido é a poesia,
respondeu o grande poeta
para o olhar de espanto da guria:
- mas como? a poesia?
o poeta, sábio, suspirou:
- sim, pequena, a poesia. pra poder comer as guria.

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abandonar

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the legendary blues singer

tocando violão às margens do paranoá
esperando a cheia do ribeirão do gama
levar meu blues away

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lacta

o coelhinho da páscoa coloca ovos de chocolate
tamanho vinte
deve ter doído pra dedéu

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todo cuidado

fechar a janela para não entrar mosquito
fechar a porta para não entrar mendigo
e fechar a tampa antes de dar descarga

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le bronhel

das agências internacionais:
"O candidato de ultra-direita à Presidência da França, Jean-Marie Le Pen, defendeu no domingo sua recomendação para que os jovens sejam encorajados a se masturbar ao invés de receberem camisinhas. "Quando eles me perguntaram se eu concordava com a distribuição de camisinhas a jovens crianças do Ensino Médio, eu disse, escutem, eles podem sempre usar o método 'manu militari"', afirmou. "É muito menos perigoso que usar camisinhas."

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07 abril 2007

michelle

- oi, guria.
- oi. então... você vai me perguntar de novo se eu gosto de poesia?
- nã. só queria te perguntar se tu é loira.
- claro que sou. não tá vendo?
- ah. vejo bem. mas, sabe como é, tem loiras e louras.
- sou loira desde que nasci.
- puxa. incrível isso. já nasceu assim, loira. e de olhos verdes?
- olhos verdes.
- essa é uma das grandes frustrações de minha vida, percebe?
- olhos verdes?
- loira de olhos verdes. nunca namorei uma loira. muito menos de olhos verdes.
- nunca namorou? não gosta?
- adoro. nunca tive a oportunidade.
- mas por que não?
- caramba. acontece isso desde quando eu era moleque, sabe? tipo 12, 13 anos. e eu queria namorar a michelle pfeiffer. queria modernizar em hollywood e tal. com a michelle pfeiffer... então loira, de olhos verdes, sempre me pareceu a michelle pfeiffer... e eu fico só admirando.
- tá brincando...
- até pago ingresso pra ver.
- e tu pensa em namorar com a michelle pfeiffer até hoje?
- nã. hoje não. hoje seria apenas sexo casual.

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05 abril 2007

morphine

teu nome é um anagrama
um labirinto
palíndromo
um cacófato
teu nome é um pleonasmo
um estorvo, um embaço
a dirty word
teu nome
uma expressão riscada do dicionário

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woke up in between memory and a dream

bueno, "amor verdadeiro" é este aqui que sinto por ti neste instante, e no próximo já nem sei mais. there´s someone i use to see, she doesn´t give a damn to me. batucando tom petty aqui agora. batucando no ipobre. turn the radio loud. i´m too alone to be proud. and you don´t know how it feels... mas valeu. você é bem simpático. e feliz páscoa. ah.
(people come, people go, some grow old, some grow cold)

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04 abril 2007

vasco do gama

e quantos gols faltam pro marcelo uberaba chegar a mil?

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sittin´ on a barbed wire fence

"a gente se mete a escrever porque uma garota linda lhe disse que gostava de escritores, porque precisa de um álibi para não trabalhar, porque isso o faz sentir-se superior, porque leu uns romances de caubóis e quer entrar na concorrêmcia, porque é um caubói sem oeste, porque escriturários como vargas llosa o fazem, porque não tem voz, porque não tem ritmo, porque está farto de bater punheta, porque quer trepar com uma mulher mas não sabe como, porque pensa que tem alguma coisa a dizer, porque descobre que as garotas bonitas dizem que escritores são ternos mas saem com mafiosos, porque não o deixam dar amasso na vencedora do concurso nacional de beleza, porque é magro e não tem remédio, porque tem medo de morrer sem ter metido numa garota linda, porque se um puxa-saco hipócrita como vargas llosa escreve qualquer um pode fazê-lo, porque sabe que o cinema é tempo perdido, porque tem inveja dos micos que aparecem na tela e ganham milhões, porque na falta de melhores oportunidades quer ser como bukovski."
(efraim medina reyes)

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03 abril 2007

famílias

- mas e, então, guria... tu pensa em ter filhos e tal?
- puxa. mas que pergunta mais delicada...
- teria as manhas?
- claro, adoraria.
- e quantos filhos tu teria? quantos gostaria?
- quantos deus mandar.
- mas a questão não é apenas com deus, né?
- claro que não.
- tu usaria anticoncepcionais? métodos contraceptivos?
- se for preciso, sim.
- se for necessário?
- sim. no início, pra curtir um pouco. e depois.
- depois?
- depois de ter filhos.
- filhos?
- dois ou três.
- três?
- acho um bom número, não?
- ah. melhor que quatro.
- eu também queria adotar.
- adotar?
- gosto dessa idéia, sabe?
- claro. adotar mais uns dois ou três. seria cool.

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brazilia

like LA, with trees

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02 abril 2007

Mama, you should not make me cry

E você, o que quer?
O mais elevado dinheiro?
A mais singela poesia?
A mais estonteante beleza?


Quero tetas
Gimme tits
Dê-me seios
Pra acariciar e sorver

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