The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 julho 2007

meninos e meninas

as noites alucinantes do 903. hoje de manhã, ainda remelento e já assaz descabelado, arrumei meu saquinho de lixo orgânico (sementes de mamão papaia, casca de banana e papel higiênico usado) para tratar de despejá-lo na lixeira do nono andar. foi quando abri a porta de meu apartamento beat 901, e dei de cara com uma moreninha cheirando a xampu, com cabelos molhados e aquele ar sestroso de quem acaba de sair do banho. eu estava abrindo a porta do 901. ela estava fechando a porta do 903. com as chaves na mão, sorriu diante de minha hipster figura descabelada, eu que estanquei no trajeto da lixeira (não estando acostumado a cruzar com moreninhas perfumadas, ao menos não às nove da manhã). "bom dia", sussurei, num flerte audacioso. "como vai?", ela sorriu, pega no flagra, mas já indo embora, passando pela lixeira e chamando o elevador. e ela me deixou aqui pensando... a minha vizinha do 903, a joss stone, gosta de meninos e meninas.

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books for africa

porque eu tinha inventado de escrever mil cousas e aprontar frilas e agitar programas de rádio e marcar sessões de photos e programar viagens gonzo interestaduais de baú e conhecer pessoalmente novas gurias interestadualmente e telefonar pra antigas pessoas paulistanas que se lembrassem de mim e não me dessem como morto e perdido na grande ciudad.
porque eu tinha inventado de comprar sofá-mesa-banqueta e esperar o carreto da loja de móveis para decorar meu novo apê beat e tinha que desenhar um móvel pra tevê e devedê e playstation que fosse bonito e barato e bacana de encomendar pro marceneiro da rua apeninos e tinha que pedir pro joão batista subir pro 901 e ajeitar a válvula da privada que não se enche mais de água e tinha que ligar pro moço da consul pra ajeitar geladeira e microondas e tinha que ligar para a eletropaulo para saber o número da conta de luz deste mês que eu perdi esqueci larguei pra trás em algum sofá de três lugares da grande loja de dois andares onde eu fui comprar sofá-mesa-banqueta. e a conta de luz já vence amanhã.
porque tinha que desenvolver uma nova tática, fácil e rápida, de abrir a porta para a dona maria rosa, que chega muito cedo, cedo demais, tipo sete da matina de terça-feira, e não tem quem abra para ela a porta do 1604 se eu ainda estiver deitado e dormindo semimorto no colchão com os dois tampões de ouvido enfiados dentro das aurículas roçando nos meus tímpanos e fazendo reverberar em meus ouvidos o sangue que bombeia do coração para as artérias e as demais bifurcações do sistema circulatório que ainda me mantêm vivo.

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a garota de pinheiros

"in the pines, in the pines,
where the sun does never shine
and you shiver when the cold wind blows"
(leadbelly)

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salve o cinema

esse lance de fazer cinema, já era.
literalmente.
ontem morreu o bergman.
hoje morreu o antonioni.
e quem será o próximo?
nesse ritmo, o cinema acaba até domingo.

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30 julho 2007

william amendoim

o vendedor de amendoim descobriu a buzina. tipo chacrinha. daquelas buzinas de levar na mão e ficar apertando a extremidade de borracha para fazer pém pém pém estridente. o camarada sobe e desce a rua pires da mota a tarde inteira. empurrando uma bicleta com quilos de mendoim. ele passa buzinando alegremente pelo quarteirão defronte à minha varanda beat. ordenhando sua simpática buzina, que arrota seu agradável pém pém pém. incessante. o diabo é que eu nunca vi o sujeito vender um único pacotinho de amendoim. genial.

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28 julho 2007

the habit

o cheiro de incenso (sândalo, creio) perfuma o nono andar

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27 julho 2007

the elevator blues

minha vizinha, a joss stone. hoje dei de cara com a joss no elevador. eu estava distraído em mais uma de minhas viagens elevadorísticas. levando minha mudança beat pro 1604. quando abriu a porta do nono andar e dei cara com joss. eu ia descer ali mesmo, no nono andar, mas fiz que não. dei "boa tarde" com cortesia e virilidade. ela perguntou se eu estava descendo, e se ela podia entrar. eu me apertei no cantinho e pedi pra ela se espalhar por ali. joss sorriu. cúmplice. e entrou no elevador. num ímpeto de luxúria, disparei o botão de emergência e o objeto semovente estancou sua trajetória vertical. fizemos sexo febril embaçando os espelhos e esmurrando as paredes, chacoalhando o ascensor prestes a despencar buraco abaixo, testando a elasticidade dos cabos de aço. enquanto o porteiro e os aposentados do double tree park a tudo espiavam pela câmera do circuito interno de tevê.
mentira. eu estava no elevador, elevando minha mudança beat pro 1604. quando abriu a porta do nono andar e dei cara com joss. ela disse "oi". eu disse "hjaknjpfn". ela sorriu. eu desci da máquina de ascensão predial. ela entrou. eu fui pro 901 arrumar minha tralha beat. e ela foi embora.

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campeã moral

e os jogos panamericanos?
pois a seleção da jamaica, no maracanã, perdeu a final do futebol para o equador. o time estava ganhando. mas deixou empatar. e deixou virar para 2 x 1, no finalzinho, quando o beque jamaicano (êpa) fez pênalti. enfim...

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esfíncter

toda semana começa uma nova construção n´aclimação. agora é ali adiante, na rua castro alves, quase esquina com pires da mota.
daqui dá pra ver o bate-estacas perturbando o japão.

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26 julho 2007

cão sem dono

atravessando a rua augusta, indo para o cinema naquela friaca de três da tarde, longe da faixa de pedestres, driblando buzinas e escapamentos, mirei a calçada do lado oposto e segui reto, sem me importar, nem por um momento, em olhar pra esquerda, pra direita, sem me preocupar em olhar, me sentindo estranhamente febrilmente inexplicavelmente seguro e tranqüilo, me sentindo em casa.

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don´t start me to drinking

do noticiário nacional:
"Fiscais da prefeitura de Juiz de Fora (MG) apreenderam, ontem, 1,2 mil liltros de cachaça imprópria para o consumo. O produto seria distribuído em estabelecimentos da cidade e vinha da cidade de Rio Pomba. De acordo com os fiscais da prefeitura, a cachaça não tinha o selo de inspeção do Ministério da Agricultura e estava sendo transportada em galões de agrotóxico."

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25 julho 2007

to smoke dope

"Maconha não é uma droga. É apenas uma erva que a gente fuma."
a verdadeira joss stone
(ainda melhor que a minha vizinha)

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mussarela

fechou a pizzaria mulholland drive.
por duas vezes, nos últimos três anos, eles tentaram subir o preço da pizza de mussarela de R$ 9,90 para R$ 11,90. não conseguiram. até que agora, fecharam.
mas o que fazer com os cupons de promoção que eu estava guardando?

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the wuthering highs

não quero mais sair de casa. o vento, quando dobra a esquina da pires da mota, passa ventando muito forte. nunca tinha reparado. no alto do décimo sexto andar, o vento da pires da mota assovia mais alto que as britadeiras d´aclimação. percebi ontem de noite. duas da manhã. enquanto o fog cáustico descia do céu derretendo as antenas de tevê e derrubando helicópteros. abri a porta de meu avarandado beat e petrifiquei na espinha ao colocar os pés do lado de fora. o vento rachando pelas paredes do the double tree park. fechei a porta e o vidro pareceu estufar às minhas costas, embarrigando, quase rebentando de tanta pressão. encolhido sob o edredon hipster de meu quarto, selado e vedado e isolado acousticamente, conseguia espiar dali o vento ventando de longe até bem pertinho... pude espiar pelo som que o vento levantava, fazia zunindo entre os arranha-céus paulistanos. arranha-céus, arranha-ventos. o décimo sexto andar é muito alto para um beat do planalto. too high, too dry. nunca mais sair de casa.

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12 julho 2007

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09 julho 2007

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08 julho 2007

"tive sorte de perceber logo que havia duas formas de enriquecer na cultura americana. a primeira era trabalhar muito e ganhar dinheiro para satisfazer as minhas necessidades. escolhi a segunda forma: não precisar de muita coisa".
(jim dodge)

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07 julho 2007

do 901 para o 1604
pois, enfim,
subi na vida

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04 julho 2007

the poetry as a refusal to indulgence

- bom dia, guria. tu curtes poesia?
- adoro.
- que bacana. pois sou poeta.
- então faça uma poesia pra mim.
- desculpe. mas não funciona assim, né?
- como então?
- primeiro eu teria que te conhecer. ou, pelo menos, entrar em contato com uma parte de tua personalidade que desperte em mim o instinto poético. entende? do contrário, seria apenas poesia pré-fabricada e não aquilo que deve ser um poema em verdade, a expressão poética do que tu passas para mim, do que sinto por ti... a expressão poética de algo, de qualquer coisa entre nós dois..
- mas isso demanda tempo. demanda uma relação...
- não te disse que ser poeta é um trabalho fácil.
- mas por que simplesmente não inventa uma rima para mim e coloca palavras bonitas?
- porque, então, a poesia estaria longe daqui.
- nada. a poesia seria bela.
- seria uma farsa.
- seria romântico.
- verdade. seria. mas acho que sou parnasiano.

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03 julho 2007

holy spirit howl

despreocupado, sou um sujeito despreocupado. gosto de me perder por la gran ciudad. ando pel´aclimação a admirar as árvores, a falar com os passarinhos, a cheirar as bostas de totó. gosto de me misturar com meu habit. descendo pela aclimation avenue, tomava o rumo ancestral da turmaline avenue, repetindo os trajetos de tantas febris tardes... quando meu intrépido espírito de marco polo urbano me fez virar à esquerda e descer pela rua do espírito santo. ali na altura da pizzaria macro. oh, nunca tinha feito isso, tomado esse passo enviesado, dobrado a esquina justamente onde deveria seguir reto. senti esse thrill de emoção percorrer minha espinha e avermelhar minhas hemácias por dentro das artérias femurais. a aclimação me será um lugar distinto após este detour, pensei cá comigo, e segui em frente, ao mesmo tempo ansioso pelo porvir e mui desperto para quaisquer novidades urbanas. saberia que, dali pra frente, estaria sozinho a descer pela rua do espírito santo. seriam outros os passarinhos a me seguir, assim como seriam outras as árvores a abrigar seus ninhos. até mesmo as matérias fecais epidêmicas pelo calçamento teriam vindo da bunda de outros, de diferentes, de nunca antes vistos totós. tudo era novo. e tudo se ilumina. um mundo selvagem ainda a conhecer.
o que fazes aqui?, me perguntou o mendigo david lynch sob a rota marquise.
procuro o espírito santo, respondi assim de imediato, com o som de minhas próprias palavras tomando novos e inauditos significados para meus próprios ouvidos.
não esperes encontrar em outros quarteirões aquilo que, em verdade, carregas dentro de ti.
o mendigo david lynch me disse isso e ao me dizer me olhou fundo em meus olhos tal como se percebesse ali toda minh´alma. por um breve instante, não sabia mais onde estava, nem com quem falava, já me faltavam as palavras que sempre me foram abundantes por todavida.
o mendigo david lynch, abocanhando duma única dentada a metade de uma pizza macro bolachenta de mussarela amarelada amanhecida, assim pontuou com um sonoro peido o fim de sua ponderação. tu não te foges de ti.
dei as costas e voltei, em silêncio, aos quarteirões conhecidos da avenida da aclimação.

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01 julho 2007

vintém

“there’s no money in poetry; but then, there’s no poetry in money.”
(robert graves)

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