The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 junho 2006

o verão de cinquenta e oito

na última vez que o brazil ganhou da frança
numa copa do mundo
eu me lembro bem...
john coltrane tocava com a banda de miles
jean-luc godard escrevia crítica de cinema
brasília era um monte de cerrado e poeira
e eu era uma improvável projeção biológica

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all the lonely people, where do they all come from?

me bate uma dor de cabeça brutal. a caixa craniana implodindo de dentro para fora. os neurônios apagando um a um. os olhos. aquela conhecida vontade de estar em casa agora. um miles davis agora. minha cama agora.

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pós-moderno

a chuva quase levou o quadro da parede
a chuva quase lavou o quadro
assim num golpe, num happening

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meu disfarce

tua beleza me deixa meio constrangido
olho pro chão e não falo nada
como se tivesse te escondendo qualquer coisa
sinto como se tivesse prestes a ser descoberto
a qualquer, qualquer instante

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luísa mandou um beijo

é complicado. sentar aqui onde sento. passar horas de frente pra parede, de castigo. escrevendo nesta maquininha de fazer doido. é complicado sentar aqui do teu lado. e não deixar escapar o meu olhar pro rumo desses teus olhos verdes. volta e meia me escapa o olhar. assim, sou meio zarolho, sabes? pronto. te olhei de novo.

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28 junho 2006

statement

Sempre quis ser um cara durão. Desses "cold hearted". Inabalável. Ninguém se mete comigo. Ou na minha vida. Acho que já deu. Muita tolice de minha parte. Quero seguir a vida. Amando todo mundo

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pequenas epifanias de inverno

guria, a tristeza acabou
como num samba de cartola
como numa canção dos stones
won´t you send me dead flowers?

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meu amigo, o pâncreas

parei com as drugs. ou quase, ou quase tudo. birita agora só uma vez por semana. pro fígado não embaçar. e também não fumo mais cigarro. agora só filo morrete de amigo. pra fumar, bebendo na mesa do bar, quando aquela vez por semana chegar. ahn. parei com a diamba. mas parei só um pouco. um mês ou dois. pra relaxar. pra poder bater aquela baita onda quando a seca acabar.

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a condição humana

"existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta"
(camile claudel, por caio fernando abreu)

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não quero comer a fátima bernardes, agradecido

não sei. eu acho que deveria torcer pelo brazil. não por ser o que se espera de mim. as pessoas sempre esperam muitas cousas das pessoas, e isso é triste demais. mas acho que deveria torcer pelo brazil porque simplesmente é algo que me agrada em boa parte do tempo.
quando se trata de futebol, claro.
mas, às vezes, algumas cousas simplesmente me dão no saco. às vezes penso como uma vitória deste time do brazil que está aí se arrastando pelas tabelas é contrária a toda uma filosofia, uma visão de mundo que eu guardo. uma ética-estética que aprecio e defendo em todos os outros setores da vida moderna (uah).
bueno. eu adoro o ronaldinho. e passei a gostar mais dele nesses últimos dias, quando o gordinho foi lançado às feras da opinião pública e, aos poucos, parou de tropeçar e passou a meter gols em bambalas africanos e asiáticos. ronaldo é um herói trágico, como o maradona, e heróis trágicos fazem parte da tal filosofia que eu guardo para consumo próprio.
ahn, também gosto do kaká e do gaúcho e do robinho, porque eles se divertem pacas quando conseguem um pouco de paz e uma pelota nos pés, só por isso.
e só por isso acho tão triste ver esse time do brazil. esse time que é a cara de seu técnico, esse time vencedor, invicto, imbatível, 100% objetivo.
esse time fátima bernardes. esse time triste e burocrático e broxola. esse time covarde.
por isso tenho uma pena danada do kaká, do robinho, do gaúcho, do gorducho. porque eles já provaram que podem ser mais bem mais do que esse arrimo de patriotismo galvão bueno que chamam de pátria brasileira.
ah. tenho nojo do hino nacional.

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27 junho 2006

o vencedor e suas batatas

"a história fala dos campeões"
(carlos alberto parreira)

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26 junho 2006

marlboro lights

esse teu cigarro, por favor... não, tu não podes fumar aqui. esta é uma área livre de fumaça. não se pode fumar em shopping centers, bares e restaurantes. nem em hotéis e vôos transatlânticos. nem mesmo em salas de cinema que passam filmes da nouvelle vague. ou em clubes que tocam jazz. não se pode fumar em prédio de escritórios. não se pode fumar dentro de empresas. e me refiro a fumar cigarro mesmo, tabaco, não pode.
antes podia, numa boa, legalize total. mas lá pelas tantas, não sei direito quando, as pessoas passaram a fazer cara feia. fungavam, tossiam, espirravam. os governos criaram leis garantindo a pureza do ar em nossas cidades de cimento e carros e fábricas. primeiro nos states. depois aqui, que o brazil é mais avançado do que a provinciana europa.
o primeiro passo foi criar áreas restritas para fumantes. ali, ao final do corredor, perto do banheiro. ou no segundo andar, passando pela área de serviço. por favor, ao lado da lixeira. ou lá na calçada, debaixo da chuva, agradecido.
de tal maneira que o próximo passo, não tardará muito, será a obrigatoriedade de cada fumante andar pelas ruas com uma estrela marcada na roupa. sobre o braço direito, bem visível. para os fumantes passivos poderem avistar, a uma segura distância, quem são os fedulengos tabagistas proscritos que ainda têm cara de pau para zanzar em espaços públicos.
como essa norma, infelizmente, acaba tolhindo as liberdades individuais de todos nós, cidadãos livres, o passo seguinte será uma abertura bem mais democrática. será a remoção dos estrelados fumetas para áreas específicas da cidade a eles destinadas. como o centro de são paulo, perto do minhocão. ou um assentamento próximo a samambaia sul, aqui no planalto central. nessas áreas os fumantes poderão exercer seu vício livremente, sem serem incomodados, sem incomodar ninguém. é o estado trabalhando para o indivíduo.
mas, cá entre nós, o fato é que existem mais fumantes do que seria agradável supor. eles, esses fumantes todos, vão acabar se reproduzindo entre si e se apertando no centro de são paulo, no loteamento de samambaia, uma explosão demográfica.
cabe ao estado zelar pela quailidade de vida. os tabagistas, assim, serão paulatinamente trasferidos para zonas mais afastadas das grandes cidades. para o interior de goiás, por exemplo, onde terão mais espaço para trabalho, lazer, mais espaço para os seus. mais espaço para fumar. mais ar puro.
os tabagistas viajarão em trens velozes que cruzarão linhas férreas recém-construídas. vagões e vagões lotados. os tabagistas nunca mais serão vistos.

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25 junho 2006

federação internacional de futebol amador

cansei do english team
cansei do parreira
cansei do inglês do vanderlei...
te digo que meu futebol é de várzea
é mengão e fast clube, de manaus
um três a dois de virada...
futebol é angola
jamba, lebo lebo e mantorras
zé kalanga e andré macanga...
cansei de david beckham
de ronaldinho gaúcho
kaká, cafu, dida...
quero a retranca de trinidad, de tobago
quero gana, togo e burkina-faso
e a tunísia - que tunísia também é áfrica...
quero um contra-ataque
um contra-ataque de costa do marfim
um último gol a dois minutos do fim

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the big town old blues

há tempo não vejo teu cimento
que não me empurro nos metrôs
as calçadas andam tão vazias
que todo dia é feriado

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segundo clichê

até os velhos bares perdem sua graça
nas mesmas conversas que já sei de cor
a monotonia de mais uma cerveja gelada - igual à primeira

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penalidade máxima

a bolinha de papel posicionada sobre a mesa. o dedo indicador num peteleco, assim meio de lado. ali no canto esquerdo, exato, rasteiro. indefensável.

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23 junho 2006

Meu querido avô morreu

Descobri de vem os filmes de terror. Dos sonhos. Estou sozinho. Numa velha casa aqui em sampa, onde meus avós moram há décadas. Três, quatro ou cinco décadas. Olho pela janela. Raios de sol atravessam as copas das árvores. Lá, é assim até hoje. Um clima de interior a poucos metros de uma avenida movimentada e cinzenta. Fecho a janela. Tudo fica escuro. É uma casa de pouca luz. Sempre fria. Mesmo no verão. Abro de novo, pouco depois e agora é noite sem estrelas. Fico aflito. Cadeados e fechaduras não oferecem segurança. São antigos. Corro para todas as aberturas, portas e janelas. São muitas. Tudo range. Tudo parece prestes a desmoronar. De repente, ouço um barulho. Vem da lage, lá de cima. Um pequeno espaço com chão de piche seco. Tem uma caixa d´água e um varal de arame. É meu avô. Ele mesmo, de shorts e camiseta regata. Está fazendo flexões. “aqui é só para a elite”, ele diz. Não entendo. Ele dá uma corridinha. Tipo daqueles atletas de salto em altura. Pula da lage e se esborracha no chão. Fico sem acreditar. O que ele fez? Desço pra dar uma olhada. Seu rosto está esmagado no chão. Estou nu. Tento me vestir ao mesmo tempo em que a polícia chega. Minha tia e minha vó chegam também. Estão com um sorriso sarcástico no rosto. Acordo.

Ps: meu avô está vivo, embora doente. Acho um custo visitá-lo. Em meu mundo egoísta as únicas coisas que importam são meu emprego, meu futuro, meu corpo, minhas mulheres e meus pensamentos canábicos delirantes.

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cromos autoadesivos

hoje foi um dia importante para meu álbum de figurinhas da copa. hoje completei inglaterra, portugal e paraguas. além de ter conseguido o polonês miroslaw szymkowiak.

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estereofônico

o cerume no auricular também sou eu

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da cor de teus sapatos

teu rosto vazio
num sorriso frágil
olhando pro chão

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22 junho 2006

pois há escritores que não curtem escrever

é bom escrever, sabe?
te distrai um pouco, faz passar o tempo
te dá uns trocados, paga as biritas
e mesmo que o tempo não passasse
ou mesmo se eu não mais bebesse
escrever seria bom
mesmo assim
seria bom pra ter o que ler
pra ver as palavrinhas miúdas
pra fingir que sou outro
sendo o que sempre fui

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freshen up

goma de mascar con centro líquido sabor yerbabuena

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21 junho 2006

alone again or

às vezes nasce um calafrio que me gela por dentro e faz suar um bocado aqui no alto da testa. tem vezes em que engulo um punhado de ar, pela boca aberta, sinto o peito travar. às vezes apanho o casaco e acham que tô doente por apanhar o casaco nesse calorão, não sentes? tem vezes em que me sobe um frio dos pés e fico peladão metido num par de meias vermelhas. às vezes acordo suando com o frio da madrugada, as cobertas no chão, o pau duro indecente. tem vezes em que fecho bem os vidros e ligo o ar gelado do carro até a garganta estalar. às vezes nem percebo a temperatura baixar e sinto frio ao sair do cinema.

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diretoria gerencial

"já são nove e meia da noite."
disseram atrás de meu ombro esquerdo. nem me virei pra ver quem. passou da hora.

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the samambaia bluesy

quando penso na aclimação
penso no meu apartamento
quando penso no apartamento
penso nas plantas crescendo
escapando
florindo
secando
caindo
dos vasos da aclimação

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the pillow talk

quando pensei em ti
de manhãzinha ao acordar
não estavas aqui e
pude sentir teu cheiro no ar

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amizade

tento me esconder ali perto da parede, atrás da pilastra, debaixo do chapéu. óculos escuros à noite. para fugir dos olhares - manter a planície aqui sob controle diante de meus olhos ambervision atentos sem piscar. preciso ser ligeiro. e te ver chegando antes de você me ver te vendo chegar. preciso ser casual. fingir surpresa. um sorriso, como vai? também preciso um pouco de tempo para fazer direito: um sorriso, como vai?

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saideira

quando apagam as luzes do beirute
às duas da manhã
me bate a saudade de chegar em casa

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níquel náusea

pesam no meu bolso
cinco moedas de um centavo
cinco moedas não compram uma balinha de hortelã

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20 junho 2006

auto-ajuda

Há duas formas de ver o mundo: a poética e a pragmática. Uma te faz se foder. A outra, se dar bem na vida. Uma te faz ser livre. A outra, resignado. Uma é Telê. A outra, Parreira. A primeira é um eterno viajar. A segunda, um fincar de pés no chão. Já fui à lona várias vezes por conta da poesia. Fui pragmático para levantar e seguir em frente. Há pouco tempo, pensei que estava bem. Adulto, por haver escolhido o caminho do meio, a terceira via, o budismo. Mezzo pragma, mezzo poet. Não deu certo. Os objetivos e racionais querem roubar meu coração, minha alma, só para eles. Nada de poesia, enquanto houver burguesia. Quer saber? Vou mandar se foder novamente. Fazer o quê? Um dia eu morro e tudo se resolve.

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equadas

é bonito, o futebol.

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plantão

outro dia descobri que dá pra sair da redação ali nos fundos. escapar pela porta de emergência. nas escadas de incêndio. ali perto das escadas tem uma passarela. dá pra sair do prédio, sentir o vento frio, ver o horizonte. dá pra ver as luzes lá longe, de noite, as luzes da pista do aeroporto.

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educação artística

passei pelo portão do maristão acelerando o golzinho. o retorno da L2 sul. no portão do maristão esperando os exames de recuperação. há tantos tantos anos atrás. jogando truco e ouvindo guns´n´roses e pensando nas gurias de sutiã rendado que não davam pelota pra mim. não davam pelota, não. mas dava pra ver quase tudo através do uniforme branco da educação física.

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limite branco

o golzinho playboy riscando o asfalto novo. madrugada do planalto central. again. o golzinho playboy que peguei da minha mamãe. com seu alarme eletrônico fin-fón. com suas calotas cromadas, sua saia rebaixada, seu vidrô semifumê que não abre por conta da pane elétrica, seu estilo lago sul rebimbando as camadas de ar polar nas madrugadas de junho. seu estofado novinho. experimento traçar algumas novas aventuras urbanas riscando o asfalto novo com o bólido branco injeção eletrônica um ponto oito motor macio de ronronar distante. dá pra tirar uma onda no farol. dá pra acenar pras gurias e acelerar na subidona da ponte. dá saudades de meu gozinho fubanga 1991 prata lunar. penso no fubangate na garagem de casa, descansando um bocadinho, depois de anos de serviços prestados à causa cinética. tipo zidane. não consigo me acostumar com este motor macio de ronronar distante. minha bunda sente falta dos solavancos.

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vinte e quatro horas

"subir a serra de ônibus é diferente. subir a serra de ônibus, à noite, é diferente. e se é noite de julho, e você vai na janela sem ninguém ao seu lado, e no ônibus ninguém fala e você só ouve o ronco suave do motor (ônibus novo), e se não há neblina, e se no seu peito há algo como um piano tocando chopin por conta própria, então tudo é tão diferente que é quase como se o mundo tivesse sido criado há coisa de vinte e quatro horas." (adriana lisboa)

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18 junho 2006

tiro de canto

gosto do mundo visto de ali próximo da bandeirinha de escanteio. assim meio de lado. quase indo embora. gosto do mundo espiado de soslaio. no cantinho. em dois passos, cruzar a pelota para a grande área. o objeto redondo pelo ar, caindo no meio do tumulto. a grande confusão. quem sabe, ainda pegar um rebote espirrado. só para fazer tudo de novo, de três dedos agora. quem sabe acertar de primeira. gol olímpico. tipo petkovic.

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16 junho 2006

Avante hermanos!!

Amigos, a Copa do Mundo já tem solução. Vamos todos torcer pela Argentina. Aquilo sim é futebol. O contrário do esquema “retenção da posse de bola” do Barreira. O Pekerman, técnico deles, não tem obrigação de escalar inúteis como Cafu e Roberto Carlos. Aliás, deixou o Zanetti assistindo ao torneio pela TV. Fez muito bem. E bota quem quiser em campo. Sangue novo, porra! Tem caras que destroem no banco brasileiro, Robinho, Juninho, Mineiro, Cicinho, mas nunca serão titulares. A agonia de ver o time de Barreira e Gagallo é similar a uma prisão de ventre. O negócio simplesmente não sai. Pra mim já deu. Avante hermanos!!!

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o gordão, o bundão e os interesses internacionais

o único gesto digno que resta a carlos alberto parreira, técnico da seleção brasileira de futebol, é um pedido público de demissão.
a saber...
a seleção brasileira vivia num conto de fadas, de treinos aprazíveis em tardes ensolaradas na suíça, cercada por tietes (loirinhas e garotinhos), policiais gentis e bajulações da imprensa. ronaldo, o fenômeno. ronaldinho, o maior do mundo. kaká, o grande garoto. adriano, o imperador. robinho, o jovem pelé. cafu, o capitão. roberto carlos, o sorrisão. lúcio, o xerife. zagallo, o velhinho folclórico. etc.
até que a seleção brasileira estreou na copa do mundo. porque um dia ia estrear mesmo. fez uma atuação lamentável diante de um adversário que já entrou em campo rendido, esperando cair de três, quatro, cinco - mas perdeu de um mísero gol apenas, nascido numa única jogada individual. e olhe lá. na exibição patética, salta aos olhos a triste figura rotunda de ronaldo, uma sombra disforme do artilheiro de quatro anos antes. um sujeito que mata a bola nas canelas e não consegue dar um pique de cinco metros entre os beques adversários. um sujeito que deixa o gramado arfante em meados do segundo tempo. "que pôrra é essa?", perguntam imprensa e torcedores, acordando numa só porrada das duas, três semanas de férias na suíça.
bueno... aconteceu alguma coisa, estava acontecendo alguma coisa nesses últimos dias, está acontecendo alguma coisa. mas tu não tem a menor idéia do que seja, não é, mr jones?
como pôde o ronaldão apanhar da pelota em campo? como esse herói do futebol pôde pagar vexame em rede mundial de rádio e televisão? ele não tem amigos?
vem cá, quem escalou esse gordo?
ah, foi o parreira, não foi?
foi o parreira. foi ele quem convocou, avaliou, treinou e escalou um cidadão sem a menor condição física para praticar um esporte profissional. ele e a comissão técnica por ele agregada e por ele chefiada - ou seja, foi o parreira, um camarada experiente que já treinou selecionados nacionais e, vejam só, chegou a ser campeão mundial em 1994. além de preparador físico da lendária seleção brasileira de 1970.
como pôde um técnico esclarecido e experiente como parreira colocar ronaldão em campo naquela partida contra a croácia?
e mais um pouquinho ainda... porque parreira e sua comissão técnica não conseguem informar ao público duas ou três cousas singelas como o peso de um atleta, seu percentual de gordura ou o estado clínico que o levou a se afastar de seguidos treinos e até a se submeter a exames noturnos em um hospital alemão?
é isso. e aqui os pensamentos atropelados nos últimos quatro dias de espanto e delírio se dividem em dois campos de idéia/filosofia opostas, mas não exatamente excludentes. assim...
a) parreira escalou ronaldo. o técnico brasileiro lavou as mãos. viu que o camarada estava fora de forma mas apostou nele, afinal é o artilheiro maior da equipe, o grande responsável pelo caneco de 2002 e tal.
b) ahn, parreira não escalou ronaldo. o técnico brasileiro foi obrigado a mandá-lo pra campo. mesmo com o camarada fora de forma, a confederação brasileira de futebol (de ricardo teixeira, esse notório homem probo) teve que - mais uma vez - honrar seus compromissos com a rede globo, a nike, a vivo, o guaraná antarctica e o escambau.
...na primeira opção, parreira é um incompetente, um covarde. porque não assumiu a condição de técnico de um time de futebol, mas sim a de gerenciador de egos (embora ele prefira se chamar de "gerenciador de talentos"). não teve peito para barrar ronaldão. ou não teve o tato para segurá-lo fora do time durante as primeiras rodadas e só colocá-lo pra jogo quando estivesse inteiro, ou quando não houvesse outra desesperada tentativa. aliás, nada que ele próprio não tenha feito antes. por exemplo, com o branco em 1994. mas é bem mais fácil segurar a onda de ter um lateral reserva fora de forma do que a de ter um centroavante titular afastado por motivos físicos, não?
... na segunda opção, parreira é um incompetente, um covarde. porque aceitou esses supostos arreios. tanto que o treinador até estrela brilhantemente comerciais de patrocinadores, usando de todo seu carisma. em vez de chamara imprensa e dar logo uma entrevista esclarecendo que não há mesmo grandes coisas a serem feitas em relação a esse time que se vê em campo, afinal a seleção brasileira não mais pertence ao brasil, pertence aos "intereses internacionais", como diria leonel brizola. aliás, não seria nada que não se tivesse comentado antes. por exemplo, quem escalou o ronaldo naquela final de 1998? o zagallo, chapa e ídolo de parreira, deve saber a resposta.
... ou seja: parreira é omisso ou parreira é conivente. como um certo presidente da república conhecido nosso.
a assumir uma atitude digna de um técnico profissional, parreira preferiu dar um passinho para o lado e deixar ronaldo se queimar em praça pública. agora parte com chantagens e ameaças. deu um ultimato ao fenômeno gorduchinho: ou arrebenta a austrália no meio ou vai se sentar no banco de reservas. parreira agora quer barrar o ronaldo! ele não tem esse direito, tem?

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15 junho 2006

suécia x paraguai

estalei o joelho direito: tréc
estalei o joelho esquerdo: tranc
e já estou pronto para a próxima partida

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lombalgia

dois dias resfriado. espirrando. com aquela costumeira tosse de cachorro molhado. gripe clássica de ar condicionado de redação de jornal. ou, se preferir, minha aversão extrema a redações de jornal. em geral. uma espécie de rinite jornalística. uma alergia brutal que me empipoca a pele, entope o nariz, trava a garganta e encatarra os pulmões. bueno. passei dois dias brabos por conta desse jornalismo old school - pretty old se me perguntas. sobrevivendo à base de remedinhos. pills, thrills and bellyaches. dois dias sedado. under the influence. ouvindo em mono e reagindo lentamente aos estímulos externos. trabalhando debaixo de uma forte onda de drugs farmacológicas legalizadas. uma combinação de resfenol, novalgina em gotas, xarope melagrião, marlboro lights e pastilhas valda; além das bolinhas usuais, minhas bolinhas de sempre, bolinhas queridas que me mantêm de pé. dois dias em topor opiáceo. por assim dizer. tipo ronalducho entregue à marcação. chapando na frente dos jogos de futebol, três por dia, mais os vetês e os debates esportivos. ainda tentando entender as coisas que as pessoas me diziam, pois deviam ser importantes pra mim. e escrevendo qualquer cousa a respeito de futebol. sempre. redator gonzo. esporte é saúde. e agora estou, de leve, despertando da overdose de medicamentos químicos e peladas internacionais. poderia sentar e escrever algo brilhante sobre a vida do lado de lá, sobre a alquimia que me alterou as funções vitais. mas sinto apenas uma dor forte nas costas, tipo cold turkey. e uns flashbacks mais e mais distantes. assim ocasionais. poderia escrever, sim, minhas canábicas memórias de viagem. mas o que me lembro desses dois dias felizes não vem exatamente ao caso agora e me aborreço só de pensar em me encompridar por mais uma linha que seja. é só.
preciso de mais um resfenol. ou dois.

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dwight yorke and his friends

trinidad e tobago já é a campeã moral da alemanha-2006.
e não importam todos os demais jogos.

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taffarel

quando eu era moleque, pegava no gol. sem luvas. poque usar luvinha é cousa de goleiro baitola. goleiro de verdade ataca a bola com as mãos limpas. num elástico. berna banks. usava minhas velhas calças compridas de moleton roxo. tipo zetti. as calças rasgadas na bunda, de tanto me lançar em carrinhos, cobrindo os zagueiros de finais de semana, levantando poeira. catar a bola no susto, de primeira, encaixar no peito e lançar o ponteiro num mortal contragolpe. com a bunda ainda marrom de terra. não acredito em arqueiros que não se jogam no chão, não levam chute na cara, nunca tomaram uma bolada no meio do peito. ficar sem ar.
nadja mais agradável do que ouvir a pelota estourando o ferro do travessão num baque surdo - pam - quando tu estás arregaçado no meio da terra, com uma pá de grama entre os dentes.

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barking at no one else but me

acordei meio torto. tem dia que a gente acorda assim. meio descompensado. acordei mais pesado que o ronalducho. estalei os joelhos e fui dar uma volta pelo south lake. o bairro nobre de brasília-df. tipo sete da manhã. me senti meio the freaks andando sozinho pelas ruas avenidas do south lake tipo sete da manhã. as pessoas não andam a pé por aqui. andam em carros bacanas. ou em baús lotados. apenas os cachorros ferozes atrás das cercas. se arremessando nas cercas quando eu passo pela calçada. latindo para mim. barking fucking loud. lanço perdigotos. e aceno o dedo médio para os belos totós. cachorrinhos me saúdam no amanhecer. um frio do cacete. espicho as pernas até a banca de jornal. mas não quero ler notícia nenhuma. apenas pelo prazer de tomar um ventinho gelado na nuca. o prazer de andar a pé entre carros enfumaçados de gás carbônico e escapamentos abertos. apenas pelo prazer de acenar o dedo médio para esses pittbulls sanguinários, em chamas, do lado oposto da cera. "enfia", como diria um amigo poeta. "enfia."

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14 junho 2006

Children, wake up!

O Barreira achou o resultado do Brasil excelente. Holanda, Inglaterra e Portugal também comemoraram o 1 x 0. Villa, da Espanha, meteu dois gols e foi substituído (poderia fazer mais, praticamente um desrespeito com o adversário). E por aí vai. O discurso cauteloso impera. Não é só a Copa, mas o mundo, de forma geral, me decepciona. Ninguém quer extrapolar, passar dos limites, enfiar o pé na porta, mandar se foder essa porra toda. Vou ter que fazer tudo sozinho?

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13 junho 2006

brazil

...rumo ao vexa!

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09 junho 2006

trigonometria

o respirar baixinho
a cada pequeno movimento
sem te acordar
o coração bater devagarinho
a cada pequeno suspiro
sem te acordar

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de passagem

me disse "um beijo"
num sorriso tão úmido
que até levei a sério

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menta americana

este teu beijo
sabor chiclete velho
sem gosto, como meu desejo

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minha vida sem mim

o autorama do plano piloto. o asfalto recapeado ano eleitoral. o asfalto desliza macio sob as rodas inquietas de meu golzinho fubanga. o bólido prateado risca a noite vazia do planalto central. em silêncio. o toca-fitas engasgado não emite ruído algim. como não sei dirigir sem um rock pesado pra me acalmar, acelero o golzinho mais um bocado. riscando a grande pista deserta reta entre as luzes de mercúrio. como a decolagem de um boeing, daqui pra depois. acelero, já não me importam os pardais. os sensores de radar baterão em minha carcaça metálica e serão rebatidos para o infinito da noite escura. ou assim me parece no silêncio ruidoso de meus pensamentos antigos. tento emprestar novos significados pras velhas avenidas, presse desgastado cotidiano. viver again uma vida que não é mais minha. preciso vivê-la again. indefinidamente. como o personagem de um video game fora de linha. penso e te digo como sou este grande traidor de mim mesmo, grande traidor de nenhuma outra causa a não ser a minha própria. fecho os olhos e sinto o volante entre os dedos. meu game. viver em brasília é uma experiência automotiva. não saberia andar a pé pela asa sul. me perderia nas tesourinhas. jamais chegaria ao lago sul. aqui tão distante das ruas enfartadas de são paulo. do ar poluído. do constante esporro na aprazível aclimation. de seus mendigos, aleijas e cachorros vira-latas. as vozes dos bêbados da pires da motta tarde da noite uma vez mais. acelero um tanto mais. um pouco mais não faz mal. minha vida sem mim. tanto silêncio assim me incomoda. fazer aquela curva sem frear. dois minutos e quinze segundos para abrir o portão de casa. a minha casa sem mim.

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um ato de violência

o trabalho ofende o ser humano.

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memória esfumaçada

eis o post de número 100 neste novo lar TPB.
para ler os posts antigos (porém eternos)...
www.thepotheadblues.blig.ig.com.br
TPB é muito mais emoção!

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working like a dog

estagiárias. como trabalhávamos sem elas?

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06 junho 2006

they shoot horses, don´t they?

não consegui firmar o nobre pacto entre minha alma pura e o sistema capitalista periférico. assim amarrar um bode a manhã inteira. acordar suado no meio da madrugada. beber dois litros de água durante a noite. quase desistir. mas any beat needs uns coins. para pagar o boteco. o disco dos magic numbers.

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05 junho 2006

crie o bicho solto

manhã de outono na aclimação. resolvo comprar o jornal, para fazer palavras cruzadas. saio do double tree park com a roupa do corpo. atravesso a rua de cuecão samba-canção, preguiça de vestir moleton. ninguém olha na tua cara mesmo. chego na banca e peço a folha. a tia da banca fuzila o olhar pra minha região pélvica. e se faz de indignada.
- ei, isso é uma ueca!
- não, isto é uma ermuda!

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04 junho 2006

whatever colors you have in your mind

já reparei como bob dylan está em todo lugar. me espalhando entre são paulo-sp e brasília-df. tenho duas casas, metade dos bobs em cada casa. se tivesse três, um terço de bobs. se tivesse quatro, cinco, variações proporcionais infinitesimais de bobs por aí. pra nunca mais estar sozinho. porque, bueno, tu sabes, most likely you go your way, and i´ll go mine. then i´ll go mine.

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03 junho 2006

garotinha ruiva

- olá, buenas.
- boa noite...
- desculpa chegar chegando. assim meio abrupto. mas atravessei o salão pra...
- para o quê?
- bem, poderia te fazer uma pergunta?
- claro.
- eu percebi que você está de soutien sem alça...
- sim. e daí?
- você poderia tirar a blusa?
- por quê??
- pra fazer aquele jogo bacana de mostrar-esconder.
- se quiser jogar, posso baixar um pouco meu decote.
- seria um começo.
- pronto. agora me diz, o que tanto você queria ver em mim?
- essas tuas sardas.
- você notou as minhas sardas lá do outro lado do salão?
- notei mais.

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um amor n´aclimação

a tua chuva infiltra pelo forro
os dedos pelas varizes da parede
contando cada furinho das veias picadas
teu sangue coagulado nos canos de cobre
empoçando no buraco do elevador
entre a ratazanas do teu antigo amor
entre tuas cicatrizes manchadas de mofo
a cicatriz do teu aborto

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ladeira da memória

romper a calçada de cimento
revirar a terra vermelha
reencontrar ali o que resta de mim

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happening

o guia de são paulo em minhas mãos. o guia cultural folha de são paulo. tantos shows para ir. tantas peças de teatro. concertos sinfônicos. espetáculos de dança. exposições de arte. museus e vanguardas. tantos clubs, boates, inferninhos, baladas. tantas intervenções urbanas. tanta urbe. mil happenings. tantos poetas beats. tantos poetas líricos. tanta poesia concreta. tanta prosa. tantos restaurantes franceses, italianos, árabes, indianos, alemães, japoneses, coreanos, chineses, taiuaneses, hongkonguianos, gregos, troianos, mineiros, baianos, pernambucanos, paraíbas, vegans. churrascarias. rodízios. tantas pizzarias, tantos motoboys levando the very junkie food. tantos e tantos bares. tantos e milhares de botecos. mais de cinquenta mil bares, restaurantes e similares pela grande noite de são paulo. tantas luzes, tão feéricas. tantos programas culturais. tantos passeios. eventos gratuitos. parques e reservas ecológicas. tanto ar. tantas árvores, canteiros de flores cinzas. as feiras e brechós e antiquários e artesanatos e galerias do rock. tantas caminhadas. tantas aventuras urbanas. tantos bairros, vilas, ruas, vielas e quebradas. tantas avenidas e marginais. tantas bocas de fumo, tantas drugs. tantos jogos de futebol. tantos lazeres para o final de semana. tantos balneários, tantos puteiros. tantas mulheres a cada quarteirão. tantas gurias bonitas, mamãe.
vou até acender um cigarro.
espiar a pires da motta aqui de minha varanda.
vou ver se passa alguma coisa na televisão.

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suspenso

tento cochilar no intervalo entre as marteladas da construção. again.

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02 junho 2006

the last picture show

cansei de legendas miúdas
quero pensar em imagens
tela panorâmica de drive in

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the very necessary

decidi que só vou fazer o que exigem de mim. nem um pouco além. apenas o exigido. mas, primeiro, me cubram de porrada. pra eu ter certeza do que é realmente exigido de mim.

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01 junho 2006

metrônomo

gosto do formato das palavras
em linhas curtas
gosto do cheiro das palavras
recém-escritas
gosto do som das palavras
tento achar meu ritmo
no som do bate-estacas da construção

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