The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 outubro 2006

the nice guys

o bush telefonou pro lula. deu parabéns e tal. o blair também.
imagino aqui como deve ser uma conversa desses caras.
- alô. e aí, bush, beleza?
- oh. como vai mister... lula? how are you?
- na tranqüilidade, companheiro bush. gradecido.
- congratulations aí pelas eleições, hein?
- estamos aí prajudar. o senhor sabe, nunca na história deste país um..
- ah. please, dê um jeito no señor morales, si?
- mas veja, companheiro bush, o povo boliviano é...
- thank you for your help. i need to go now. i´m sorry. bye.

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aclimação 30 graus

o horário de verão começa oficialmente no próximo domingo. mas, a julgar pelo bafo quente no asfalto e por minha pele avermelhada, o horário de verão já começou aqui n´aclimação.

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the rolling thunder revue

"you say you love me
and you´re thinkin´of me
but you know you could be wrong"
(sr zimmerman)

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evanílson

o dunga aprendeu rapidinho como se convoca uma seleção.
depois de vender jonatas (fla) e marcelo (flu) pros gringos, o dunga agora inventou um tal de carlinhos. reserva do santos.
o próximo deve ser o vanderlei, centroavante do gama, artilheiro da segundona.

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a racha da sasha

gosto de dentistas. reformulando, gosto de consultórios odontológicos. lá posso me esparramar no sofá ouvindo kenny g e me manter atualizado lendo edições antigas da revista caras. dia desses, li que a sasha (você sabe quem) saiu pela primeira vez sem mamãe. (só com uns cinco seguranças a paisana, mas isso a matéria não disse, evidente.) a sasha foi com uma amiguinha a um shopping da zona sul carioca. fez compras, pegou uma matinê de teatro e deu um rolê guerreiro.
"sasha já é pré-adolescente", concluiu a chamada da reportagem de capa.
a sasha tem oito anos de idade.

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cotidiano

não me levanto antes das dez.
não atendo telefone antes das onze.
não abro a porta de casa antes do meio-dia.
não dou "bom dia" antes da uma da tarde.
bolas, um homem não vai a lugar algum se não tiver um mínimo de princípios.

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zelador

mas lula é o camarada certo pra falar de andar de cima, andar de baixo.
ele tem um apartamento de cobertura em são bernardo.

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30 outubro 2006

zona de rebaixamento

depois de tantas eleições, até o alexandre garcia ficou sabendo que o brazil tem o segundo pior índice de crescimento entre os países da américa latina. atrás do brazil, só mesmo o haiti.
mas perceba: o haiti está sob intervenção do exército... brazileiro!

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a ingratidão do povo

pobre ribamar. só lhe restou o amapá.

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guiness

geraldo perdeu dois milhões de votos em um mês.
parabéns.

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sem teen no tim

não recomendado para menores de 16 anos.
tema: show musical.
contém horário inadequado, venda de bebidas alcoólicas, rock, funk, rap, música eletrônica e jazz.

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29 outubro 2006

evite os riscos do consumo excessivo de álcool

em homenagem à lei seca, abri mão de minha abstemia cívica.
abri uma garrafa de vinho tinto selección da marca carrefour. elaborado al pie de la cordillera de los andes con cepas seleccionadas.
un vino mendocino. mas que cousa chique.

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a plenitude do exercício democrático

e então?
já sufragastes hoje?

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28 outubro 2006

punker

nada contra a tia patti smith. imagine.
mas um dia ela toca no cbgb´s prestes a fechar as portas. no outro, se apresenta num megafestival promovido por uma megaoperadora de telefonia celular para nós da elite terceiro-mundista consumidora de telefonia celular.
há uma mensagem mui clara aqui, não?

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parsley, sage, rosemary and thyme

os feirantes vão embora às três da tarde. mas deixam lembranças à freguesia. os verdureiros deixam tomates podres e alfaces escuras. os peixeiros deixam cabeças de bagre. e tripas esbranquiçadas secando no asfalto. e um fedor que só vai embora na segunda-feira.
it´s okay to eat fish, cos they don´t have any feelings.

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bouncing with bud

gosto de andar a pé pela grande ciudad. depois que o sol baixa entre os edifícios e a temperatura fica mais amena. john pothead e eu, berna beat, ontem deixamos o grande tubarão bordô mofando na garagem do the double tree park e resolvemos ir pé dois até o parque do ibirapuera. o grande coração verde da pacata megalópole, o pulmão deste cancro cinzento. assim, tomamos o rumo do paraíso. passando pela castro alves, encompridando a rua vergueiro e quebrando logo depois do paradise viaduct. uma baita ladeira até o ibirapuera park.
- vamos tentar interagir com as garotas gostosas?
perguntei febrilmente ao senhor pothead, pois há muitas garotas gostosas pelas ruas do paraíso.
- vamos. vamos modernizar!
- tenho um plano. quando aparecer uma guria bem apessoada, você diz "parabéns" e eu aplaudo e grito "uh-hu". que tal?
- tudo bem. mas por que sou eu que tenho de dizer "parabéns"?
- porque tu é melhor no approach.
- ahn. mas o poeta aqui é você, não?
bueno. fiquei quieto. deixei quieto. tenho que perder a timidez, decidi interiormente, enquanto acompanhava com os olhos uma moça descendo a ladeira na direção do parque, enfiada numa calça de jogging, rebolando atleticamente pela calçada. "parabéns", pensei, baixinho, enquanto aplaudia levemente com a ponta dos dedos.
- cuidado!
me berrou o atento the pothead, detendo meu passo a três polegadas de um automotivo veloz que zuniu pelo asfalto diante de mim.
- você não tinha visto o carro?
- nã. não tinha visto o carro.
- tome mais cuidado, seu caipira. agora vamos entrar na zona militar.
disse isso e me apontou uma cerca, coberta com arame farpado e, do outro lado da rua, um muro de concreto com símbolos militares pintados como aviso aos caipiras do paraíso. um militar de verde-oliva vigiava o movimento de dentro de uma casinha de concreto.
- militar filha da puta. deixa esse rifle no chão e vem cuidar de mim na porrada!
nã. eu não disse isso. apenas pensei baixinho.
eu nunca digo o que quero dizer. pelo menos não na hora exata.
- militar filha da puta. deixa esse rifle no chão e vem cuidar de mim na porrada!
repeti, em voz alta, quando passava diante do laguinho do parque do ibirapuera, uns quatro minutos e dois quase-atropelamentos mais tarde. john pothead me olhou de lado, me achando meio esquisitão.
- me diz, pothead, e o que aconteceria se a gente acendesse the one? se agente acendesse um aqui, agora, na cara dura, na entrada do parque? o que aconteceria?

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my point of view

geraldo? luiz inácio? e william bonner?
oh, dá um tempo.
que tal herbie hancock pra presidente de la república?

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27 outubro 2006

nova iguaçu

acabei de resgatar uma nota de cinco e uma nota de um real. lá do fundo de minha lavadora consul. ambas estão em perfeito estado. um tanto úmidas, é verdade, mas com adorável fragância mon bijou harmonia.

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26 outubro 2006

bonner

para esquentar os ânimos no último debate presidencial, a mediadora poderia ser a fátima bernardes.
de maiô - porque ela é de família.

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25 outubro 2006

Living psychodelic

Meu aluguel, embrulhado num envelope, deslizou por baixo da porta. Provavelmente passará uns dias no chão, sendo pisoteado. Depois vou empilhá-lo com outras contas. Nunca abro contas. Sabe como é. Corta a onda.

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pelego

para melhor se promover em cima de felipe massa, o grande líder luiz inácio, que já trabalhou na volks, vestiu o boné vermelho da ferrari.

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24 outubro 2006

radical

o ilibado jorge bornhausen, baluarte da oposição, ameaça expulsar roseana sarney do pefelê.
ela anda se engraçando pra cima da classe operária.
roseana é a heloísa helena da direita.

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Onipresença

- E se Deus não quiser?
- Aí, fodeus

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vôo noturno

"eu juro, eu vou voltar
eu vou voar agora
vejo ao longe, montanhas azuladas
eu vou voar agora
vejo ao longe as luzes que cintilam na cidade fortificada
do céu, vejo as luzes que brilham na cidade machucada
do céu, vejo as luzes que brilham nas piscinas de brasília
as praias do rio de janeiro, no horizonte, a cidade ferida
o negro da madrugada me envolve
vejo as luzes e, sobre a terra, a madrugada
no horizonte, mais uma cidade sitiada
ninguém me espera na próxima cidade
depois da aterrissagem
eu juro, amor, eu vou voltar
estou voando agora
eu juro, amor, eu vou voltar
estou partindo agora"
(claudio bull)

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hopper

dona maria rosa lavou a janela de meu apê beat. abriu as persianas e deixou que o sol da tarde invadisse a sala. o sol forte das três horas. a luz inunda a varanda, lambe a parede e esquenta meu sofá. aquece o estofado puído de meu sofá fubanga.

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o homem sem defeitos

foi divertido quando um jornalista perguntou a geraldo alckmin qual era seu maior defeito como homem público. ele não soube responder. enrolou por quase dois minutos. antes de concluir com sabedoria: "devo ter algum defeito, devo ter algum".

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natimorto

procurando em são paulo
uma forma menos cinza
de viver
entre estas esquinas
seus postes
seus gatos de fiação elétrica
que amarram as ruas
como cadarços de um tênis velho
procurando em são paulo
uma poesia menos cinza
pra viver
entre estas esquinas
seus postes
seus mendigos imundos
que se deitam nas ruas
como tapetes que alguém jogou fora

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23 outubro 2006

quentes tardes na áfrica

"guarda, prenda esse menino
ele fala um dialeto que eu não conheço... agora
guarda, prenda essa menina
tá cheirando cola na minha frente
e o cheiro me dá dor de cabeça... agora
moça, mande outra carta
para o congresso em braile
anexada com um abaixo-assinado
para as pinturas dos muros
cheios de arte tribal
que picharam na sua rua.
esse calor me dá dor de cabeça
esses mosquitos labendo, mordendo o meu corpo
não posso agüentar
esse calor me faz sentir doente - e agora?
esse calor me faz sentir doente - e agora?
vivo me perdendo a cada instante
não sei quem sou a cada momento
fico delirando a cada instante
não sei quem sou a cada momento.
fale um pouco mais baixo
e a cidade se desfaz em ruas
tá todo mundo correndo perigo
nos limites sedados com a vida.
você grita e diz que aquelas flores fazem sua vista doer
você não gosta de arte tribal que picharam nas ruas
guarda, prenda todas as meninas negras do brasil a fora
esse calor me dá dor de cabeça
não suporto o grave desse tambor
esse calor me faz sentir doente - e agora?
esse calor me faz sentir doente - e agora?"
(claudio bull)
ps: superquadra, a melhor banda do brazil, embora ninguém pareça saber disso - agora

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muitas as emoções

pelo que eu entendi...
1. o alonso é bi
2. o massa é o melhor do mundo
3. o shumacher abandonou o esporte
4. e o rubinho chegou em sééétimo!

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carnaval na obra

não se pode confiar em mais nada neste mundo. nem mesmo na construção civil. ora, imagine que o setor entrou em crise. e isso na aclimação, bairro de vanguarda do centro de são paulo. pois ontem eu dormi tarde. fui dormir de madrugadão. tinha que acordar hoje bem cedo (tipo dez da manhã seria bacana) para trabalhar e tal, para dar uma disfarçada na minha rotina beat desleixada. para tanto, contava com o despertador natural que tem interrompido meus sonhos eróticos pontualmente às sete e meia da manhã de todas as segundas-feiras. todas. eu contava com os dois caminhões-betoneira gemêos que invariavelmente estacionam na loureiro da cruz, interditando meia pista e arruinando a calçada, para ligar sua máquina de fazer esporro e, assim, acordar todos os vagabundos deste próspero bairro. mas hoje os caminhões-betoneira gêmeos não vieram trabalhar. não veio nenhunzinho dos dois caminhões-betoneira gêmeos, nenhunzinho, porque às vezes até vem apenas um dos dois, quando o outro está resfriado ou de folga, mas hoje não veio nenhum deles, não veio ninguém da família. e já são quase duas da tarde. e já perdi a hora. e não sei a quantas anda a construção aqui defronte ao nono andar, em sua tentativa de atingir as nuvens tóxicas que protegem e arejam a grande ciudad. sei apenas que a costrução civil está em crise. algo está a acontecer aqui, mas tu nem sabes o que é, sabes, mr jones?

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22 outubro 2006

auto-controle

perdão
mas esse teu mamilo esquerdo
assim eriçado
desvia minha atenção

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misericórdia

deus é do pcc

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casinha de sapê

conheces a aclimação? the aclimation hill, no coração da selva tropical de cimento e telhados de zinco quente? fica pertinho do mar. fica a um engarrafamento do atlântico. te digo que a única brisa que bate aqui é bafo quente de asfalto no verão. mas o domingo é um dia bonito. todo dia é domingo se o sol consegue vencer a barreira de fuligem industrial.
te digo que sou poeta urbano. por isso gosto de asfalto quente e fuligem industrial e tal.
e acho infame as pessoas que ligam pra casa dos outros antes das dez da manhã.
"isso não é rock
isso não é rock and roll
morte ao playback, eu quero ver...
será isso rock?
será isso rock and roll?
será que é só?"
a corrida. entende, carrinhos e tal? acho estilo. o cheiro de gasolina queimada, de borracha ralando no asfalto. o esporro dos carros, os motores explodindo óleo na pista e as batidas toscas. é tudo poesia urbana. giancarlo fisichella. ah, sim. e a multidão também. o engarrafamento de pessoas e ônibus na saída de interlagos.
então tu curtes ficar sozinha? me disses que, se fizesse poesia, seria tipo um monet. o monet, o pintor? gosto de suas paisagens evanescentes em fiapos de memória. sua bucólicas paisagens de domingo. e como seria uma poesia monet? falar na natureza, escrever sobre a natureza.
bacana. acho o arcadismo necessário em dias industriais. bacana, te disse, e por isso gosto de caeiro. o guardador de rebanhos. um emprego demodê nowadays.
"eu quase não saio, eu quase não sei de nada
sou como rês desgarrada
nessa multidão, boiada caminhando a esmo"

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Sem melodias

Se eu pudesse te ver
Quem sabe não ocuparia
Com palavras vazias
E sem melodias
Aqui, esse espaço
Que justo agora
Você se ocupa em ler

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21 outubro 2006

uma nova carreira

vou abandonar meu emprego. vou largar minha família, meus velhos amigos. para poder me dedicar ao playstation dois.

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20 outubro 2006

esquentando os tamborins

é carnaval. bem, quase. começaram os ensaios da unidos d´aclimação. daqui do nono andar, já ouço ao longe os tambores e repiques da bateria, aquecendo o samba-enredo do próximo desfile. este ano, quero sair na avenida. de passista. samba no pé, cerveja na mão e sorriso no rosto. quero sair como destaque da ala beatnik do grêmio recreativo unidos d´aclimação. vou fantasiado de hunter thompson: óculos ambervision, camiseta havaiana, bermudas, meião de futebol, tênis, chapéu australiano e cigarrilha. vou fazer tamborim com couro daquele gato preto que toma sol no telhado da pizzaria mulholland drive. vou passar uma cantada da madrinha da bateria. vou atravessar a ala das baianas e roubar a porta-bandeira do mestre-sala. vou acordar só na quarta-feira. vou virar pro lado e dormir até segunda-feira.

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à bout de souffle

patricia franchini: "qual sua maior ambição?"
parvulesco: "tornar-me imortal e, então, morrer."

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cantaloupe island

buscar no horizonte d´aclimação um novo tom de neon, uma nova luz no coração da megalópole. cinco da manhã, apenas uma janela de luz acesa em todaclimação.

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i cover the waterfront

- oh, gentil cavalheiro, o que você faz da vida?
- sou poeta.
- como assim?
- sou poeta, sabe?
- mas, sim, que belo. então quer dizer que escreve poemas?
- nã. eu não faço poemas. eu apenas sou poeta.
- como assim? me confundes...
- minha vida, pequena, minha vida é a minha poesia. viver é meu poema épico, minha obra-prima, minha tour de force, minha masterpiece para a posteridade. a minha obra é a minha vida.

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19 outubro 2006

Para ter todas as mulheres do mundo....

É preciso relaxar a moral. Largar princípios. Flexibilizar a ética, os valores. Abandonar preceitos. Deixar de lado os ensinamentos de minha santa avó.

Agora, arrancar lágrimas dos meus olhos, só você consegue...

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oráculo

"sensibilidade caótica e pesadelos podem atrapalhar sua atenção e foco nos assuntos do cotidiano. há poucas perspectivas de que o quadro se altere até o anoitecer. vá tocando, sem maiores expectativas. em breve, você sairá dessa freqüência atrapalhada e voltará à Terra com equilíbrio."

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engravatados buscam ouro no porão

vestir minhas galochas. e minha capa anti-chuva ácida. empunhar meu guarda-chuva anti-nuclear. para enfrentar as ruas da grande megalópole cinzenta. o céu plúmbeo paulistano, assaz ameaçador do lado de lá da janela, anuncia o meio-dia industrial. atrás da neblina permanente, o astro rei encontrou seu ponto de culmiância no zênite. cá embaixo, no nono andar, olho para cima e não encontro redenção, apenas a fuligem da construção civil, ao som de duas desembestadas betoneiras. me lembro de ter acordado no meio da madrugada. foi esta noite ou a noite passada? me lembro de ter acordado com o som de escavadeiras rasgando o asfalto selvagem da rua pires da mota. me arrastei até a varanda, sonado e descabelado, de onde vi homens da municipalidade estuprando a esquina da pires da mota com a loureiro da cruz. eles abriam rombos com dentes metálicos e depois diligentementeb tapavam o próprio crime com uma crosta nova de asfalto, imprensado pela patrola contra o solo. mas não saberia te dizer se vi tudo isso mesmo, entre as emissões de gasolina crua que a patrola peidava regularmente, ou teria apenas visto algo semelhante, quem sabe teria apenas sonhado com essa cena noturna tardia. porque agora de dia, olhando daqui do nono andar a mesma esquina, não vejo mais os sinais do sucedido. homem nenhum na pista. deve ser obra de minha mente. deve ser a grande cidade se manifestando no oco de meu cerebelo naquele par de horas antes da vigília. deve ser esquizofrenia. deve ser insônia. deve ser dostoiévski e suas longas orações por são petersburgo. estou lendo demais, dormindo de menos. e agora preciso de meu par de galochas (o proxeneta!) e de minha capa e de meu guarda-chuva e de muita coragem para abandonar meu casulo beat na segurança asséptica do the double tree park e tomar novamente the very streets desta minha aprazível ciudad. preciso sair de meu bunker, antes que a bomba coreana exploda, antes que o pcc tome conta do país, antes que esteja condenado a passar o resto de meus dias trancafiado em um condomínio de classe-média e alta segurança. te digo que preciso juntar minhas forças físicas e ideológicas para atravessar cannabicamente the aclimation hill até, do lado de lá, já próximo ao atlântico, encontrar o platô da paulista avenue. a grande avenida da latino-américa. o coração do brazil. the wall street, esperando pelos boeings da gol seqüestrados por bin laden em foz do iguaçu. enquanto marcola não vem, vou invadindo a avenida paulista prali cometer a maior contravenção que pode ser cometida impunemente frente às patrulhas estacionadas sobre as calçadas: vou levar minha pesada silhueta para a calçada da avenida paulista e lá vou andar vagarosamente, apreciando a paisagem, desviando dos mendigs e decifrando os hieroglifos hostis deixados pelos grafiteiros nos muros pálidos. vou desfilar minha figura, esta minha alegoria anticapitalista, diante da pirâmide da fiesp. afrontar os engravatados com minhas bermudas. afrontar os executivos com minha aparência mendicosa. afrontar o grande capital pegando um cineminha às duas da tarde. afrontar o espírito do meu tempo com meu existencialismo anarquista niilista demodê e confortável. afrontar a locomotiva cocainômana sem rumo que leva este país pra frente em aceleradas fungadas rumo ao precipício. viva geraldo alckmin!

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18 outubro 2006

la dolce vita

acordei às 11h.
em tempo de escrever uma cascatinha e mandar por e-mail, ouvindo prot(o) na vitrola.
em tempo de pegar o jornal e ler o caderno de esportes ali, sentado no celite.
depois, dar um rolê pela aclimation avenue, vendo as árvores verdes, os muros cinzas e os garotos amarelos.
então passar no supermarket, pra agitar a geladeira.
é quarta-feira. então, dia de matar uma feijoada no capellini.
então dar um bode no sofá. fumando cigarrinho e vendo tevê.
até a hora de chelsea vs barcelona, direto de londres, com gol do drogba a um minuto da etapa complementar.
e tomar um banho. ficar cheiroso. pra variar.
fumar outro cigarrinho e morgar diante do "gazeta esportiva" (diariamente às 18h10).
então, quem sabe, escrever uns quatro ou cinco poemas urbanos. curtinhos.
aí ver palmeiras e vascão na tevê. jogaço. para ver com john pothead, the smokin´ one. viva a rede globo, que antecipou uma partida da rodada do final de semana apenas para abrilhantar minha quarta-feira. grato.
portanto, é só levar um papo com o heitor.
e amanhã tem mais.

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o invasor

- quem é você?
- ahn. em que sentido, guria?

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post-mortem

Acordar no frio da madrugada. Dolorido. Pensar na vida. Que estranha. Que bizarra a vida! Ei, vocês, o que estão fazendo aí? Parem de correr tão ferozmente rumo ao caixão. Por que não se debatem com a bizarria da vida? Vocês loucos, com seus empregos masoquistas e seus planos mirabolantes. De felicidades irrealizáveis. Seus pretensos amores eternos.

E o futuro? Madrugada úmida. Primeiros sons. De uma avalanche industrial. Tentar não pensar no futuro. Na sobrevivência. Sobrevida para quê? O futuro, o futuro! No futuro quero um balde. Sempre a meu lado. Para vomitar.

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Sick

Meu corpo, a máquina. Parou. Não sei quando volta à ativa. Dele, extrai bons momentos. Que agora, me são cobrados. Com juros e correções monetárias. E isso é só o começo.

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17 outubro 2006

the freakin´ nights

o poeta do asfalto desceu a pires da motta de escapamento aberto e faróis desligados. "volta pra cadeia, seu filha da p*ta", gritou a mulher na porta da pizzaria mulholland drive, em tom de despedida. "vai arranjar outro homem pra ti, tua vagabunda", respondeu o poeta do asfalto, em versos livres, saindo da pizzaria, atravessando a calçada mijada, prestes a abrir a porta da brasília verde oliva ali estacionada torto. "vou arranjar um homem de verdade", ela jurou, quando o poeta já fechava a porta da brasília numa porrada enferrujada. "vai embora, seu bêbado! vai embora!", apareceu o terceiro elemento - possivelmente um homem de verdade, e sóbrio o suficiente para só entrar na querela quando o poeta já batia em retirada. a brasília (roubada?) ainda engasgou duas vezes antes de, num solavanco alcoólico, descer a pires da motta rasgando a madrugada num flato aerodinâmico de seu motor. "filha da p*ta", a mulher ainda repetiua esmo, envolvida numa nuvem de gasolina queimada e fuligem volkswagen. "vem pra dentro", conciliou o homem de verdade, num abraço carinhoso, levando a titubeante pinguça pra dentro da pizzaria mulholland drive, pouco antes de baixarem as portas de ferro.

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auto-reverse

carrego tua voz
microcassete maxwell MC-60UR
no bolso da calça

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igual a tudo na vida

- então você faz poesia?
- nã. apenas poemas urbanos.
- e qual é a sua formação?
- jack kerouac e jean-paul sartre.
- digo, qual curso você fez?
- ah. jornalismo.
- puxa... mas que maravilha.
- nem tanto.
- não gostas?
- tem lá seus momentos.
- claro. a perfeição não existe.
- existe. mas apenas em pequenos versos.

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the procrastinator

deixar tudo pro último momento.
me espera um pouco, mais um pouco não faz mal.

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16 outubro 2006

Post feliz

Que viva o estado letárgico da chapação. Suas ondas de melancolia da boa safra. Chet Baker e Neil Young – e os demais non happy. Que vivam as belas mulheres – todas com pelo menos um charme especial. Que me fazem crer na humanidade. Sim, bola pra frente. Enquanto houver uma mulher bonita, há esperanças. Que viva o tempo livre, os tempos mortos, os longos intervalos. Quero viver num eterno intervalo. Que viva a dúvida. O pensamento que vagueia. As duas, três ou mais opções. Que vão para o inferno todas as notícias de jornal. I´m alive!

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confissão

estive nos braços de outra mulher

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15 outubro 2006

what is happening here (now?)

aulinha de gaita bopper. acompanhando de cá o sexteto de wynton marsalis ali na vitrola. minha harmônica folker flying eagle. afinada em dó. suponho.

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perdulário

acho elegante torrar todo o dinheiro em livros. pilhas e pilhas de livros. que vão chegando em carrinhos de mão. que demoro para ler tantos e quantos. acho elegante decorar o apê beat com pilhas e pilhas de livros sobre as mesas, em cima das cadeiras, em todo o canto. me protegem do mundo, me apresentam o mundo. me fazem companhia.

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the nonstop sounding machine

os passarinhos mutantes d´aclimação são insones. the freaks. eles começam a piar lá pelas cinco da manhã de domingo, certamente por conta de algum distúrbio genético, começam a piar muito antes de o sol se esgueirar por entre os edifícios cinzentos.
quase cinco da manhã. quando terminei de ver um filme francês pôrra-louca e ultraviolento para - me sentindo em avantajada paz dominical - esticar minha carcaça beat no colchão kingsize. em dias normais, colocaria às pressas os tampões de ouvido, pois em um par de horas (às sete em ponto de la matina) os operários da construção civil saudariam o sol com estrondosas marteladas e - nas manhãs mais alegres - uma betoneira estacionada no meio da loureiro da cruz. porém, como até os operários e as betoneiras sossegam aos domingos, julguei - por descabida ingenuidade - que pudesse prescindir de meus tampoons auriculares. ao menos por uma noite.
foi quando entraram em cena os passarinhos mutantes d´aclimação. promovendo uma algazarra primaveril nas duas árvores que batizam o assim chamado the double tree park. alguns andares acima dos ninhos aviadados desses entusiasmados passarinhos, eu não conseguia conciliar o sono. o canto dos bichos me importunava sobremaneira. de tal modo que, numa atitude de bestial desprezo com a natureza que ainda se esconde nos oásis floridos da saudável megalópole industrial, saquei da gaveta meus anestésicos tampões de espuma e pressionei-os tubo ouvidal adentro com tamanho ímpeto que quase me acertaram os tímpanos. tive de afrouxá-los para modo de não ouvir meu próprio sistema circulatório. e assim, a meia bomba, os tampões me blindaram o sono ao longo da manhã dominical.
ao acordar, mais pra perto do meio-dia, destampei minhas vias auditivas e - plop, plop - me levantei do colchão kingsize para encarar a modorra opiácea de mais um dia. com certa alegria distingui as cordiais buzinadas na pires da mota. buzinadas dominicais que - por favor - não podem se confundir com as buzinadas da every day life. estas buzinadas são bronqueadas, estressadas, psicóticas e, se pudessem se traduzir em vocábulos, diriam algo medonho, do tipo "anda logo, seu corno filha da p*ta". ao passo que aquelas buzinadas outras, as buzinadas de domingos e feriados, nada mais são do que automotivas versões dos educados e gentis "bom dia"... "como vai o senhor?"... ''oh, como estás? na tranqüilidade?"... e ainda "prestativo garagista, por obséquio, levante o portão para que eu possa ganhar as ruas neste domingo de sol".
debruçado na varanda, poucos andares acima das árvores double tree, contemplo o admirável domingo paulistano. um dia de paz, serenidade e forró no bar da miriam. um dia de passarinhos mutantes no cio. um dia de carinhosas buzinadas a cada esquina.

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13 outubro 2006

boom

e um viva ao mercado editorial brazileiro.
enquanto continuarem relançando os velhos livros de jack kerouac, william burroughs e henry miller, não morro de fome.

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12 outubro 2006

Lógica

Pessoas religiosas não trabalham em dias santos. Eu, como legítimo ateu, não trabalho em dias pagãos.

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o prédio atravessou a rua

será que os pilotos do legacy resolveram sobrevoar manhattan?

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11 outubro 2006

dia santo

ouvi dizer que amanhã é feriado. grande. não vou trabalhar.

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tattoo you

acho que vou fazer uma tattoo. antes, acho que vou fazer logo duas tatuagens. o escudo do mengão no bíceps direito. a língua dos stones no bíceps esquerdo. pra me olhar no espelho. pra andar sem camisa no verão da aclimação. pra tirar onda na praia de ubatuba. pra facilitar o trabalho da equipe de reconhecimento de corpos caso sofra um acidente de avião sobrevoando o cerrado.

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10 outubro 2006

highlands

noite de segunda-feira no coração da aclimação. my heart is in the highlands, e uma viatura policial desce macia a rua pires da mota, com os cops empoleirados atrás das portas de lata, arma quente no coldre, espiando pelas janelas, encarando os cidadãos do tipo suspeito ali na porta da pizzaria mulholland drive. o forró escapa pelas chaminés da pizzaria e, misturado à fumaça de carvão, chega ao nono andar do the double tree park. uma distância segura, de onde mr john pothead encara de volta os guardas on parede. apresenta o dedo médio e ergue o braço empunhando o sinal obsceno como quem brande um instrumento de libertação. "enfia na b*nda, cop coalira", sugere the potman, algo perturbado diante dessa cena alckiminiana. acendo um cigarrinho - the marlboro lights - e comento, em tom apaziguador, "be cool, man, be just like the relax man". logo eu falando isso, the angry young man do double tree. para abafar tamanha contradição e embaçar o forró mulholland, estico o braço e aumento bob na vitrolinha. my heart is in the highlands, i will go there when i feel good enough to go. "que dia é hoje?", pergunta the pothead himself, apoiado na balaustrada beat. hoje é segunda-feira. hoje é dia nove de setembro, digo, de outubro. mas e daí? vai comentar agora que oh-o-ano-já-está-acabando-não? e daí? "não importa a data. todo dia é igual ao anterior, é igual ao seguinte", conclui the pots, o olhar vermelho perdido no asfalto selvagem onde antes deslizavam arredios the cops. por um momento, receei silenciosamente que o camarada estivesse sentido falta de seu old job, falta do mercado corporativo, falta da mídia eletrônica em tempo real. algo assustado com a hipótese, respiro fundo e encho os pulmões de neblina, tomando fôlego para a inevitável pergunta e... "vamos cair na estrada. cair na estrada. sem grandes emoções. só ver gente. pelas cidades do interior. ficar em pequenos hotéis. ver gente de verdade, the real people, sei lá qual é." my heart is in the highlands, the only place left to go.

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09 outubro 2006

i don´t know how much longer i can wait

ando descalço pelo apê beat. tipo hippie. sinto a sola do pé grudando nas camadas de poeira urbana que cobrem o piso de fórmica industrial. tem alguma eca úmida e grudenta melecada na cerâmica do chão do banheiro. alguma eca em que pisei em cima.

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08 outubro 2006

pudor

estava deitada na cama. um bustiê rosado, apertado, escapava um tantinho da auréola direita. quando notou que era observada, puxou um lençol pra disfarçar a barriguinha. e deixar as coxas brancas nuas. deixar os louros pêlos nus.

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céu

plúmbeo. da cor do chumbo. plúmbeo. pesado e tristonho. qual a cor do céu de são paulo?, me perguntou john pothead, debruçado na varanda do nono andar. plúmbea. a cor do céu de são paulo, em noites de neblina, é plúmbea. mas nem sempre é assim. nas tardes quentes de verão, o céu de são paulo desbota num azul lavado. estourado. e no finalzinho da tarde, especialmente em algumas tardes de primavera industrial, o horizonte fica cobre, um cobre hieronymus bosch. quando não chove, claro, quando não chove. aquelas chuvas "no fim do período", como anuncia a moça bonita da tevê, com terninho bem passado e cabelo de laquê. nesses dias, no fim do período, o céu fica verde granito. mas quando cai a noite, o céu plúmbeo protege são paulo e suas estrelas vermelhas piscando no alto dos edifícios.

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tua serventia

minha lembrança amarelada
num recorte de jornal
foi parar no fundo da lixeira

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a mulher de todos

"se seu corpo ficasse marcado
por lábios ou mãos carinhosas
eu saberia, ora vá mulher,
a quantos você pertencia"
(monsueto)

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praia do paiva

mandar um de boa
numa tarde vazia
numa terça-feira de abril
a praia vazia, exceto por
por um burrico a pastar

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06 outubro 2006

Pra qualquer um

A vida me pegou correndo
Me enxotou saindo
Me enganou no momento
Que te vi de novo

A vida me deu um tempo
E tomou de volta
A filha da puta
Não tem pena de mim

À vida, um brinde
Um esporro, um escarro
Um jato, de escárnio
Pra mim, pra você

Pra qualquer um

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04 outubro 2006

the new york times

"terroristas islâmicos infiltrados no brazil sequestram boeing e o arremessam contra jatinho de repórter estadunidense."
george bush estuda possibilidade de invadir o brazil.

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delivery status notification (failure)

te perdi de vista
te larguei pra trás
esqueci teu nome
e telefone
enjooei do teu perfume
de te ouvir
as mesmas velhas histórias
e agora vá amolar outro
grato

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02 outubro 2006

a day for night

quando cai a noite industrial
neste céu sem estrelas
apenas luzes vermelhas a piscar do alto de edifícios

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segundo turno

e então? tu preferes bambuzinho debaixo da unha ou choque elétrico no culhão?

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01 outubro 2006

vox populli

um dia a democracia representativa brazileira estará tão evoluída que votar será desnecessário. as pesquisas de opinião indicarão os eleitos.

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efeito permanente

do noticiário eleitoral:
Depois de entrar na sala de votação e derrubar seus documentos no chão, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) percebeu que não sabia o número dos candidatos em quem iria votar e teve que ir consultar a lista de concorrentes exposta no corredor da escola onde estava. Ele demorou cerca de quatro minutos para achar os números dos candidatos a deputado federal e estadual.
"Está complicado. A lista de candidatos é grande, não é?"

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voto em legenda

qual é o número do pcc?

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heitor

"o atacante camaronês samuel eto´o, contundido, ficará cinco meses sem jogar e fará muita falta ao barcelona. a única solução para substituí-lo é contratar o obina."
(tostão)

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lei seca

os camaradas se enfileiram diante do bar da miriam. uns sete ou oito deles. alguns em pé. alguns outros sentados no meio fio. dois deles zanzando em círculos silenciosos pela calçada. o rádio está desligado. as feições desanimadas, as palavras escassas, os olhares perdidos.

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how do justify the vote

como bons cidadãos brazileiros, mr john pothead e berna beat embarcamos no grande tubarão bordô. desgovernados, descemos a rua pires da mota na banguela. ao chegar trovejando lá embaixo da ladeira, the potman brecou de repente e, num cavalo de pau, estacionou diligentemente a banheira em um lugar prohibited. "vou ali e já voto. digo, vou ali e já volto."
exercitar o músculo democrático. por aquelas bandas, um arruinado colégio público funcionava como zona eleitoral. ali, de frente à padaria redentor, à sobra de um squat de seis andares com a fachada completamente pichada (hieroglifos pós-modernos pós-punk) e janelas de madeira apodrecidas. oh, a democracia representativa. cabos eleitorais pagavam boca de urna. uma cidadã de maus bofes ameaçou chamar a polícia para tocar dali uma fiscal do prtb (?) que, assustada, saiu reclamando do destempero alheio. cousas com as quais temos que conviver em uma saudável democracia. espalhados pelas calçadas, santinhos do pv justificavam a existência do partido verde: suas cores primaveris emprestavam um ar menos cinzento à infecta urbe.
a vida no degredo. exilados estéticos que somos nós dois, pothead e eu, nos embrenhamos com detreza gonzo naquele ambiente decrépito, orientados pelos cartazes de cartolina com a palavra "justificativa" rasurada por algum analfabeto funcional (escola pública, papito, escola pública). estávamos ali, na plenitude de nosso espírito beat patriótico, para justificar nosso voto. pra modo de não haver complicação futura com a justiça eleitoral, pro nada consta de nossa ficha se manter alvo e íntegro, de modo que possamos tirar o passaporte - este que é o mais importante documento para um brazilian citizen.
justificar o voto. depois de copiar diligentemente o número de meu registro eleitoral nas duas vias de minha justificativa, atinei, de pé na fila, o quão cretina é esta expressão "justificar o voto" para o que fazíamos ali naquele instante de providencial ufanismo democrático.
oras, conheço várias maneiras de justificar um voto. do tipo: voto no lula por que ele é um camarada ético. ou: voto na heloísa helena pois ela me parece uma mulher equilibrada. e ainda: voto no cristovam por que ele é um estadista. talvez até: voto no eymael por que acredito na democracia cristã. sinceramente, todas essas seriam justificativas, insanas talvez, mas justificativas. seriam justificar o voto. até mesmo dizer que voto no geraldo para mudar este país. para moralizar.
isso tudo, amigos, seria justificar o voto.
nada parecido com copiar teu registro eleitoral, rascunhar teu nome completo um par de vezes, declinar o nome da mãe (apenas da mãe; o pai não importa aqui, pois não se sabe ao certo, é assunto delicado em terra de bastards) e imitar num papelzinho aquela assinatura púbere que tu fez impensadamente há anos no registro geral desta república federativa.
de qualquer maneira, john pothead e berna beat cumpriram a contento seu "direito" como cidadãos. agradeço, assim, ao governo federal e às instituições democráticas por possibilitarem mais uma vez este nobre momento.

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a tragédia do vôo 1907

o pessoal da tam deve ter comemorado.

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don´t come knockin´

"fuck forever, if you don't mind
i'm stuck forever into your mind"
(pete doherty, o drogadão)

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