gosto de andar a pé pela grande ciudad. depois que o sol baixa entre os edifícios e a temperatura fica mais amena. john pothead e eu, berna beat, ontem deixamos o grande tubarão bordô mofando na garagem do the double tree park e resolvemos ir pé dois até o parque do ibirapuera. o grande coração verde da pacata megalópole, o pulmão deste cancro cinzento. assim, tomamos o rumo do paraíso. passando pela castro alves, encompridando a rua vergueiro e quebrando logo depois do paradise viaduct. uma baita ladeira até o ibirapuera park.
- vamos tentar interagir com as garotas gostosas?
perguntei febrilmente ao senhor pothead, pois há muitas garotas gostosas pelas ruas do paraíso.
- vamos. vamos modernizar!
- tenho um plano. quando aparecer uma guria bem apessoada, você diz "parabéns" e eu aplaudo e grito "uh-hu". que tal?
- tudo bem. mas por que sou eu que tenho de dizer "parabéns"?
- porque tu é melhor no approach.
- ahn. mas o poeta aqui é você, não?
bueno. fiquei quieto. deixei quieto. tenho que perder a timidez, decidi interiormente, enquanto acompanhava com os olhos uma moça descendo a ladeira na direção do parque, enfiada numa calça de jogging, rebolando atleticamente pela calçada. "parabéns", pensei, baixinho, enquanto aplaudia levemente com a ponta dos dedos.
- cuidado!
me berrou o atento the pothead, detendo meu passo a três polegadas de um automotivo veloz que zuniu pelo asfalto diante de mim.
- você não tinha visto o carro?
- nã. não tinha visto o carro.
- tome mais cuidado, seu caipira. agora vamos entrar na zona militar.
disse isso e me apontou uma cerca, coberta com arame farpado e, do outro lado da rua, um muro de concreto com símbolos militares pintados como aviso aos caipiras do paraíso. um militar de verde-oliva vigiava o movimento de dentro de uma casinha de concreto.
- militar filha da puta. deixa esse rifle no chão e vem cuidar de mim na porrada!
nã. eu não disse isso. apenas pensei baixinho.
eu nunca digo o que quero dizer. pelo menos não na hora exata.
- militar filha da puta. deixa esse rifle no chão e vem cuidar de mim na porrada!
repeti, em voz alta, quando passava diante do laguinho do parque do ibirapuera, uns quatro minutos e dois quase-atropelamentos mais tarde. john pothead me olhou de lado, me achando meio esquisitão.
- me diz, pothead, e o que aconteceria se a gente acendesse the one? se agente acendesse um aqui, agora, na cara dura, na entrada do parque? o que aconteceria?