The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

30 setembro 2008

anjos da noite

ei, guria, tu já deu um rolê pelo harlem?
james brown, bob marley, b.b. king & outros bacanas.
uma noite no apollo theater.
hoje, às 22 horas, pela rádio cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é mais um empreendimento dos selfmade men do tpb.

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29 setembro 2008

mercado futuro

estou meio sem grana neste fim de mês.
acho que vou aplicar na bolsa.

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27 setembro 2008

de como encontrei deus na minha caixa de mensagens

pessoas surtam.
estava eu a remexer minha caixa beat de e-mails quando resolvi abrir o filtro de spams por pura aventura. é incrível o tipo de troço que a gente encontra num filtro de spams - já olhastes o teu? por isso te digo que pessoas surtam.
surtam e te mandam textos assim:
Que bom é saber que Deus cuida de nós... Estava falando com Deus quando resolvi falar de você...
espera lá... falando com deus? tipo com o eric clapton? o keith richards? de boa... eu sou ateu e tal. mas agora fiquei curioso. como é que tu manda um mail dizendo que estava falando com deus? pô. e tu é quem? o jesus cristo? tu é o jesus cristo pra falar com deus assim no mais? tu é o dalai lama? o maomé? o bento dezesseis?
como assim falando com deus?
tipo: fala, deus, e aê? qual é a boa? dizaí, deus, tu curtes poesia?
me diz... que tipo de chá tu tomou, hein?
então vamos lá... como eu ia dizendo:
Que bom é saber que Deus cuida de nós... Estava falando com Deus quando resolvi falar de você. Eu pedi a ele que te cobrisse de proteção e te fizesse muito feliz. Ele disse para eu não me preocupar, e ainda pediu que eu dissesse a você que ele te ama muito e vai fazer o possível e principalmente o impossível, para nunca te ver triste. Pediu ainda pra dizer que ele sabe que às vezes vc irá
the fuck. deixa quieto, vai...
só achei bacana aquela parte de deus ter dito que ia fazer o impossível - bem, o cara é deus, não? então ele faz isto mesmo, o "impossível", todos os dias, e não é favor algum, faz parte do trabalho de ser deus.
só acho muito estranho que deus, sendo um sujeito de boa, sendo onipresente e tal, não venha me dizer pessoalmente que me ama. então, só porque sou ateu, deus fica cheio de dedos e precisa mandar recado através de um doido ególatra com mania de grandeza que entra numas de bater longos papos com entidades superiores e por isso acha que tem vocação para mandar uma corrente de spams?
pô, se for isso, cá entre nós, deus tá frito.

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26 setembro 2008

boca de urna ou boca de fumo?

the breaking news do noticiário de entorpecentes:
"A Polícia Militar de São Carlos (SP) apreendeu nesta sexta-feira 64 quilos de maconha e mais 0,5 Kg de crack escondidos em um espaço que funcionaria como base eleitoral da vereadora e candidata à reeleição Silvana Donati (PT)."
nota da redação TPB - tem meu voto

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slippery when wet

poderia chover n´aclimação. poderia chover assim de uma vez, e estávamos conversados. mas não chove, não. fica aquela garoinha assim assim. um spray de água, como numa estufa para hierbas hidropônicas. a grande estufa d´aclimação. visto minha capa de chuva translúcida e me acomodo na varanda beat. para lavar o rosto sem precisar de torneira. para ver as gentes nas calçadas fugindo da água. os frescos andam ligeiro, escondidos em guarda-chuvas, deveriam se envergonhar de ter medo dessa garoa besta. os desencanados andam de boa, passam pelos atordoados guarda-chuvas com um passo de pura malícia. tirando uma. "oh, amadores", parecem pensar. eu estico minha cabeça para fora e aproveito pra dar uma lavadinha no cabelo. te digo que os bebuns nem percebem que está chovendo. tem um que está lá deitado na esquina com a josé getúlio faz mais de meia hora.

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área de preservação ambiental

e a claudia ohana vai ser capa da playboy.
achei bacana, a ohana.
me pergunto: será que ela continua hippie?
vai causar choque cultural na molecada, se tu me entendes.

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the very secrets of that lost word

tento escolher alguma palavra
que seja nova, que seja bonita,
que te surpreeenda
ou, ao menos, que caiba exato no que penso.
alguma palavra que,
mesmo se não for assim
exatinho como queria,
ao menos tenha estilo, traga certa verve,
e te faça sorrir.

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23 setembro 2008

anjos da noite

ei, guria, tu curtes um mojito?
gonzalo rubalcaba, chucho valdés, rubem gonzález e os pianistas mais quentes de havana
hoje, às 22 horas, pela rádio cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é uma carraspana dos ébrios do tpb.

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maktub

disse que lia paulo coelho. a sério.
perguntei qual seria o livro de sua predileção.
recomendou "as walkírias".
perguntei, então, do que se trata em "as walkírias".
se trata, ela me disse, de descobrir a verdadeira vocação,
a verdadeira identidade, descobrir a tua natureza.
e eu disse: ah. que puxa. então preciso ler.

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you received a new e-mail message from

não perca seu tempo;
não sou quem procuras;
não sou quem imaginas
que eu seja.
e eu te digo que fico feliz
por te preocupares com meu
tempo,
por saberes exato o que
imagino
e me mandares procurar em
outro lugar; ligeiro.

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22 setembro 2008

cabaço na cabeça

agora que a sandy casou, não restam mais virgens no brazil.
esta é a breaking news do noticiário erótico:
"A modelo Carol Miranda, sobrinha de Gretchen, assinou contrato na última sexta-feira com a produtora de filmes pornôs Sexxxy World. Ela, que se diz virgem, estrelará a produção intitulada Fiz Pornô e Continuo Virgem. "

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19 setembro 2008

the bunny that wipes my ass

papel higiênico da promoção
personal, maxi-soft
estampa de coelhinho

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a cozinha maravilhosa do brito

o camarada pegou leve por um tempo. mas, esta semana, brito voltou a fumegar a todo vapor. emporcalhando todo o décimo-sexto andar do the double tree park com seus cheiros, seus fedores. aquele azedume de fritura, de gordura e outras nojuras que a velha brito aquece em seu fogareiro de bruxa, aquele fedor constante de gás a escapar para além do apartamento, empesteando os arredores como uma chernobyl de nossa alma, de nosso espírito. that keeps killing me slowly.
te digo que tento lutar contra a fedentina do casal brito. acendo incensos a tarde inteira. comprei uma cigarrilha holandesa das mais styles, para ir revezando com os incensos. quando a máquina de lavar está a funcionar, chega a ser uma beleza, me sinto morando num oásis de maciez e ternuras mil... o cheirinho de amaciante fofo ocupando todo meu apartamento beat - que é mui limpinho, apesar da vida desregrada deste inquilino.
aproveito as tardes friorentas d´aclimação e fecho todas as janelas, tomo banho com a porta do banheiro aberta, o vapor do chuveiro espalhando metrossexualmente aquele cheirinho bom de sabonete-de-amêndoas xampu-de-jojoba para todo o cafofo beat.
mas o fino aroma de berna beat dura pouco. num par de horas já está a velha brito a preparar nova refeição - e a exalar seu cheiro de podridão. just stop breathing. now.

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the swimming pool

gosto de cortar minhas unhas debruçado na murada de minha varanda beat. cortando com thrim e vendo as partículas de unha saltando no ar e caindo lá lá lá embaixo. bem porco, tu me dirias, mas creio que as partículas de unha se desintegram antes de atingir o solo - tu sabes como são os ares de são paulo.
então estava eu lá, debruçado, entretido em minha atividade manicurística. arranco um pedaço particularmente suculento de unha do dedo médio da mão esquerda e espio sua queda vertiginosa pensando que esse pedaço, grande desse jeito, não se desintegraria, não, antes de tocar no chão... assim olho lá pra baixo e... uau... vejo uma baita de uma moça gostosa.
a guria se espalhando no deck da piscina, deitada na espreguiçadeira, apenas duas tiras ínfimas de pano quadriculado (a que chamam de biquini) resguardando a parte mais íntima, menos bronzeada de seu corpo. muito gostosa, a guria. posso aferir sua gostosice mesmo daqui de cima, décimo-sexto andar, mesmo com minha vista cambaleada pela miopia e turvada pela tesão. a gente percebe quando tem uma gostosa olhando pra ti, mesmo o mais avoado dos poetas percebe esse tipo de troço.
porque ela olhava pra mim, sim, me fitava lá de dentro de seus óculos escuros chanfrudos, olhava para mim aqui em cima, provocando, flertando despudoradamente, sentido-se desejada, sentindo cair em seu umbiguinho um pedaço tesudo de minha unha recém-cortada, por ela extirpada, nesse contato promíscuo e improvável entre o voyeur e o objeto de sua afeição. a vertigem.
te digo que me detive com minuciosa atenção a cada unha, depois lixei as pontas, as arestas, com cuidado e diligência, como se explorasse, com malícia e abnegação, o corpo bronzeado da gostosa do double tree park nesta tarde de sexta-feira temperada por ócio e luxúria. porque a moça, ainda insatisfeita com nossa troca de olhares, virou-se de bruços num movimento sinuoso, delgado, pensado a cada instante, até empinar o bumbum macio (adivinha-se-lhe a maciez) e soltar a parte de cima do biquini. o lacinho desatado liberando por inteiro suas costas nuas ao calor carinhoso do sol, ao olhar desejoso do poeta.
foi quando ela suspirou. percebi ter suspirado pelo breve arquear dos ombros e do pescoço, o rosto encostando fundo na toalha estendida entre seu corpo e a espreguiçadeira, deitando sua face levemente corada e ali por fim apaziguando a cabeça, fechando os olhos num frêmito de desejo, liberando um quase sorriso na ponta dos lábios, salivando, de leve, um pouquinho.

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18 setembro 2008

the future left unlived

bastou o inverno oficialmente ser dado por terminado para nevar n´aclimação. quase isso. doze graus no termômetro encravado na calçada da aclimation avenue, em frente à churrascaria laços da aclimação. batendo sol no termômetro, sol das oito da manhã no suvaco d´aclimação. arrasto minha carcaça junkie subindo pelas bukólicas ladeiras d´aclimação, fingindo estar na europa, e foi bem fácil fingir assim porque - te digo - sinto falta de nossos irmãos, os mendigos. fez um frio da p*rra nesta madrugada, creio que a kombi do kassab passou recolhendo the homeless people, oferecendo-lhes sopa quentinha e abrigo. para depois conhecerem o mar, as eleições já vão chegar, num passeio gostoso de helicóptero sobre o atlântico, de onde foram convidados a saltar, para lá embaixo conhecerem pessoalmente nossas mui ricas reservas no pré-sal. não restou um único mendigs n´aclimação. nem seus cachorros. viraram petróleo na plataforma continental.

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16 setembro 2008

anjos da noite

ei, guria, tu curtes um jazz funky?
medeski, martin & wood - e muito groove macio.
hoje, às 22 horas, pela rádio cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é uma picardia dos mancebos do tpb.

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what would jesus do?

então comprei meu ingresso para ver jesus.
para ver the jesus and mary chain.
uma manhã friorenta na paulista avenue, estilo mary chain, april skies.
fiquei sentado na porta da loja, esperando abrir, pensando no poeta wander wildner.
e cantando baixinho:
Jesus Cristo vai voltar, aleluia! Em Porto Alegre ele vai morar, aleluia!... As pessoas vão gostar, aleluia! Nossa vida vai melhorar, aleluia!... Os cristãos pediram a sua volta, esperaram por esta hora. Todos juntos num mutirão, pois Jesus é a salvação! Todos querem um mundo melhor, todos querem viver em paz. Agora sim vai ser legal, porque Jesus é o canal... Mas em que bairro Jesus vai morar, em que rua Jesus vai ficar? Na Santa Cecília ou na Conceição, no Espirito Santo ou na Assunção? Todos querem que ele fique na sua rua! Mamãe quer que ele fique lá em casa. Tô achando que isto vai dar uma grande confusão, pois numa hora dessas cada um é mais cristão.

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15 setembro 2008

um lobo em paris

"faz dois anos que me empilho em paris. saí poucas vezes. uma esticadinha até berlim, outra a amsterdam e algumas semanas de puro fetiche em barcelona. de resto, perambulei entre os velhos e os cachorros desta cidade, a pátria dos exilados que, mesmo quando bate o verão, mantém-se fria.
basta o sol apontar que os franceses correm à beira do sena. os homens arregaçam as mangas e tiram o paletó e as mulheres mostram suas coxas pálidas. se o calor é de foder, pinta um seiozinho aqui, outro ali, mas nada de se assustar. francês raramente se espanta."
(edi campana)

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sal sol sul

estou empilhado no the double tree park há três anos & meio. agora de manhã comprei meu terceiro pacote de sal na grand ciudad. sal cisne, refinado, extra iodado, um quilo. segundo meus cálculos, tenho sal até meados de julho de 2010. de certa forma, fico até aliviado. gosto de ser um sujeito prevenido.

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14 setembro 2008

ultimo tango a parigi

uma senhora japonesa surgiu no átrio do décimo-sexto andar e foi direto até a porta do brito. apertou a campainha, ninguém atendeu, ela insistiu, ainda ninguém atendeu. isso foi agora há pouco. uma senhora japonesa assim, meio yoko, cabelos grisalhos despenteados de quem chega da rua, muito bem composta, de calças de veludo, casaco, sobretudo, carregando a bolsa e o guarda-chuva. carregando, na outra mão, um pote de manteiga, de margarina doriana, com sal, aquela do pote azul. como ninguém atendia, bateu na porta com os nós dos dedos, os ossinhos da mão direita. olhou para o alto da porta, a conferir o número: 1605. deu um passo para trás. esperou um pouco. tocou a campainha ainda outra vez, em seguida levando a orelha até a madeira da porta, encostando na porta, sem resultado. ela se afastou lentamente e voltou ao hall dos elevadores, dobrando à esquerda, disparando a luz termossensível e fugindo do campo de visão do meu olho mágico. abriu a porta da lixeira, isso eu sei, ouvi a porta de metal abrindo e depois encostando novamente. me perguntava se ela tinha ido embora pela lixeira, quando surgiu novamente no corredor. tocou a campainha, silêncio, repetiu o gesto again... bateu na porta, três toques curtos, como da outra vez. meteu a mão na maçaneta, num relance, e abriu a porta de leve, abriu lentamente a porta à sua frente. "maria", ela chamou, entrando no apartamento, fechando a porta às suas costas.

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sebosa

"eu fico cinco dias sem lavar o cabelo"
(carolina dieckman)

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13 setembro 2008

tira o dunga, pôrra!

sempre atento aos verdadeiros problemas da pátria, estou lançando uma campaign para ter vágner benazzi no comando da seleção brasileira de futebol. espero que os brothers do tpb engrossem nossas fileiras (êpa)...
http://bolaetudo.blogspot.com/

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quero ser o dude

ganhei um roupão meio hipster.
ele é grande e confortável e macio e quentinho. verde musgo. bem hipster mesmo. gosto de sair do banho, me enxugar felizão diante do espelho, passar talco york baby nas partes íntimas, sapecar polvilho antisséptico granado no subaco, vestir meu cuecão beat e - com muito estilo - usar o roupão.
bom para ficar na varanda espiando o movimento das nuvens.
bom para ficar largadão no sofá curtindo um jogo de futebol.
bom para os finais de semana e para as tardes de leseira.
bom para receber as chicks em casa.
bom para levar o lixo à lixeira, não mais a antiga tensão de ser flagrado pelos vizinhos em calças curtas.
enfim, meu roupão é mais um passo nessa minha obstinada busca por ficar, a cada dia, mais e mais como the dude. estilo big lebowski.
dia desses, ainda vou ter as manhas de ir lá no dany comprar leite vestindo apenas roupão, cuecão e óculos escuros. like dude.

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ordens de evacuação

the very amazing breaking news direto do weather channel:
"O furacão Ike alcançou neste sábado as costas do Texas, acompanhado por ondas gigantescas e ventos de extrema violência, ao mesmo tempo que milhares de habitantes se negaram a deixar o Estado, apesar das ordens de evacuação."
na boa... isso é pinto perto do que o ike fez com a tina turner.

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12 setembro 2008

barba & cabelo

the breaking news do noticiário nacional:
"Sandy pintou os cabelos no último domingo especialmente para seu casamento com o músico Lucas Lima, marcado para esta sexta-feira, em Campinas, interior de São Paulo. A informação foi divulgada pelo cabeleireiro da cantora, Jackson Nunes, nesta quinta."
bacana. grande notícia. mas...
e a informação exclusiva? e o furo de reportagem?
e a ousadia do jornalismo?
quero saber se a sandy também tingiu os pêlos pubianos - ou ela fez depilação total?

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11 setembro 2008

cars hiss by my window

um estouronomeuouvido: pou
com numa pequena explosão
no estilo gás de botijão
um estampido forte, seco
quarenta e cinco
estourando às minhas
costas nopisodacozinha: pou
a bandeja de madeira que se desalinhou com o vento ao longo de semanas até cair, assim sozinha pra quem vê, das alturas da estante da cozinha, varando o espaço vazio até o chão, num frêmito de morte, qual guilhotina desencapada, sem encontrar cabeçadegente pelo caminho, por sorte, até chegar num esporro quando tu batesnochãosemaviso: pou
então já olho pra trás, calculando o impacto,
pensando no vento,
adivinhando o peso
imaginando nomeupescoço: plec
da bandeja descaindo
nessas horas, que te digo, me dá
uma vontadelouca de acenderumcigarrinho

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goodbye pork pie hat

me sinto um milhão de dólares
par de meias largado no chão da sala
a tevê ligada há million hours
a janela aberta, como esperando visita

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the midnight special

te digo que quero aprender a virar a noite again.
me faz falta, faz falta à minha poesia beat essa perspectiva da madrugada insone. são nem duas da manhã e já estou aqui a cabecear de sono, pálpebras cansadas, digitação lenta e sinapses falhas. quando era moleque, me recordo, virava a noite assim num tapa.
isso desde que era guri mesmo, na moral, achando muita classe virar do sábado para o domingo vendo o programa "vale tudo" do seu bolacha nas madrugadas da band de outrora. tinha uma entrevista toda semana, tinha alguma canja do tim maia, tinha alguma puxação de saco no fittipaldi e terminava com o vetê de algum jogo da nba. eu achava cool. queria ser like bird. não o charlie parker, que ainda não o conhecia, treze anos eu tinha, mas o larry bird, do boston. agora não tem mais bird, nem mais seu bolacha. tem o serginho groissman, eu preferia o bolacha - nunca curti a silvia vinhas, mas tinha muita tesão na cleo brandão.
e depois, quando já de maior, passava as madrugadas mais ligeiro nas beberranças da cento e nove sul. criei pança, sabotei uma gurias bacanas, foi duc*ralho e foi uma m*rda, mas - enfim - de lá ainda recolho meus fragmentos de história, minha mitologia pessoal. a gente bebia.
então quis ser o poeta do meio-dia. largar o orvalho da madrugada, o seio da amada (uh), para curtir o sol, o céu azul, a vida a pulsar nas ruas da urbe imensa. a poesia ensolarada dos dias de paz. sei lá. talvez sinta falta da noite. talvez seja apenas a rebordosa da pizza congelada.

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09 setembro 2008

the silent old man

tem o velhinho japa da rua castro alves.
ele é um velhinho bem velhinho mesmo. tão velhinho que nem sei, deve ter uns noventa, na boa. meu avô era velhinho desse naipe e meu avô era noventão. ele é velho desse tanto, sim, e está sempre ali de bobeira na rua castro alves, esquina com a rua tamandaré, exatamente onde a tamandaré, vindo da liberdade, se torna rua apeninos e sobe até o paraíso. lá tem um ponto de táxi. os taxistas mandaram uma gambiarra e passa até as partidas do pay-per-view nas tardes de sábado. mas, enfim, o velhinho fica por lá entre os taxistas. e nem dá pelota quando tem jogo de bola. ele é muito muito too old mesmo, daqueles velhinhos tão oldies que já não fecham mais a boca, sabe como é, ficam de bocaberta na tranquilidade. ele fica lá hanging out com os camaradas dos táxis. nunca tem um parente ou uma babá japa por perto. já reparei nisso. penso que alguém deve espiar o japonildo pela janela, ou deveria, imagino, em algum dos prédios da rua. mas te digo que o velhinho fica lá sentadão, sozinho e mui cool, curtindo a barulheira vespertina, nem aí pra zoeira d´aclimação. fica sentado num cantinho do banco que os taxistas armaram na parada, enquanto a tevê fica ligada no vale-a-pena-ver-de-novo. não bate papo com os taxistas. apenas fica sentado being cool. e acho que os motoras já sacaram que o japa curte ficar ali no sossego, di boresti, então estão todos de boa com a situação, sem constrangimentos. quando os taxistas não estão por perto, o velhinho fica lá do outro lado da castro alves, sentado na soleira da porta da padaria tamandaré. sempre na dele, sempre quieto, de boca aberta, apreciando o vaivém impessoal das pessoas d´aclimação. e sempre bem vestido, mesmo quando se põe a sentar na porta da padaria. calça cinza, sapatos pretos, camisa de manga comprida, muitos botões, bonezinho.
imagino o que o velhinho japa fica a pensar.
será que lembra de sua antiga terra? lembra das desavenças kill bill de sua juventude yakuza que o fizeram tomar um navio mercante até o brazil? p*taquepariu, o brazil é longe pra c*ralho, deve ter sido uma bronca pesada. será que ele lembra da japonesinha gong li que ele catou na noite em que bombardearam pearl harbor? será que ele amarelou para ser um kamikaze a explodir portaviões estadunidenses? será que perdeu a família na guerra e por isso fica de bobeira na castro alves numa tarde de terça-feira?
deve ter sido um logo caminho, lá do japão até a rua castro alves. viver noventa anos pra passar as tardes em frente à padaria tamandaré, do outro lado do planeta, aos pés da ladeira da apeninos.
não sei... mas te digo que há um algo qualquer de belo nisso.

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anjos da noite

me diz, guria, tu curtes um blues? ou um rock and roll?
fique com ambos. eric clapton, duane allman, mick taylor, rory gallagher.
hoje, às 22 horas, pela rádio cultura fm do distrito federal. http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.aspo
programa 'anjos da noite' é uma digressão dos viajandões do tpb.

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08 setembro 2008

gordinhos queimam fumo

breaking news do noticiário esportivo:
"Dois lutadores de sumô russos foram banidos para sempre da modalidade pela Associação Japonesa de Sumô, nesta segunda-feira, por uso de maconha. Os irmãos Roho e Hakurozan testaram positivo para a droga justamente quando o esporte realizou seus primeiros exames antidopings, solicitados após outro lutador russo, Wakanoho, ser preso por posse da droga. O escândalo mexeu com o mundo do sumô, uma vez que os lutadores russos eram bastante populares e o esporte tem suas raízes em rituais religiosos e atletas e juízes ostentam padrões morais elevados. A posse de maconha no Japão é considerada uma grande ofensa e o doping foi manchete nos principais jornais do país."

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the rules of the road have been lodged

"the hollow horn plays wasted words
proves to warn
that he not busy being born
is busy dying"
(roberto zimmerman)

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07 setembro 2008

eu sou a lenda

a avenida d´aclimação vazia
até a praça general polidoro
o silêncio para o infinito
órfão de buzinas e britadeiras
o cobertor esquecido sem mendigo
na calçada ao lado do tapume
da obra vazia
os carros abandonados
o sinal de trânsito piscando
em segredo pra mim
o último homem d´aclimação
nenhum cachorro a latir
a paz dos gatos

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momento gallagher

jann wenner: você se acha um gênio?
john lennon: se há algo parecido com isso, eu sou um.
jann wenner: quando você percebeu isso pela primeira vez?
john lennon: quando eu tinha doze anos. eu costumava me achar um gênio, mas ninguém notava. costumava pensar se era ou não um gênio, e que tipo? costumava pensar, bem, não posso ser louco porque ninguém está me ignorando, portanto, eu sou um gênio. um gênio é uma espécie de louco, e nós somos todos assim, e eu costumava ser um tanto tímido a respeito disso, como meu modo de tocar guitarra. se existe algo do tipo, um gênio - que é isso?... que diabo é isso? - eu sou um, e, se não houver, eu não dou a mínima. eu costumava pensar sobre isso quando era criança, escrevendo minhas poesias e pintando meus quadros. eu não me tornei um quando os beatles chegaram lá, ou quando você escutou sobre mim, eu era um gênio em minha vida toda. isso é doloroso também.

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ouvirundum

pôrra. o brazil não é - definitivamente - um país sério.
então o dia da pátria cai num domingo e fica por isso mesmo?
tremendo desperdício de datas.
sugiro emenda constitucional: quando o feriado cair num final de semana, adia-se sua comemoração para a segunda-feira seguinte.
(ah... mas tu me diz que, pra mim, tanto faz, já que sou vagabundo e não trabalho mesmo. verdade: tanto faz pra mim. penso nos outros. isso se chama altruísmo.)

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06 setembro 2008

the last chance to dance trance (perhaps)

saco cheio de todos os ingressos estarem sempre esgotados.
não me refiro à madonna - isso é para quem gosta de estádios de futebol lotados, empurra-empurra com gente suada e horas de sol na moleira, não para quem gosta de música.
mas acho muito brega como em são paulo tem gente de sobra para lotar dois shows do medeski, martin and wood com duas, três semanas de antecedência. oras, vão à merda, seus paulistas cdf.

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down in dixieland

carrinhos velozes zunem num autódromo distante. ainda nove da manhã de sábado e teus carinhos velozes fazem barulho na minha cuca. abaixo o volume do aparelho falador em alguns graus de decibéis. me acomprido até a varanda beat, lançada no espaço aberto sob o céu azulzinho d´aclimação, para poder ouvir melhor os ruídos da vida real. os ruídos do mundo. acabo de chegar da pires da mota. ainda suado agora. trotei pela rua a balouçar minha altiva figura hipster ao ritmo da batida de charlie watts: down home girl. me apercebo e te digo que pouco conheço dos barulhos de são paulo. sempre abafados pelo i-pod, pela tevê, pelas britadeiras febris d´aclimação. há uma poesia, deve haber una poesía que me escapa, uma poesia para além das britadeiras.
verdad que aos domingos pela manhã, te disse, até consigo ouvir o galante gorjear dos passarinhos de três olhos d´aclimação. mas mesmo eles, mesmo os bravos passarinhos mutantes, não trinam a verdadeira melodia da urbe imensa. a cidade me é uma grande desconhecida, uma imensa desconhecida. levanto os olhos pro horizonte da grand ciudad. todos estão surdos. la ciudad cresce cinzenta para além de horizontes e montanhas. la grand ciudad cresce sem ruído algum.

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04 setembro 2008

o feriadão n´aclimação

coloco o ponto final no último texto para o jornalismo diário murrinha.
e pronto. já tinha deixado no congelador uma latinha de cerveja preta, xingu, extra premium. também já tinha deixado no congelador um copo bacana, pra ficar embaçado de gelo, ao lado da latinha.
coloco o ponto final e vou ligeiro ali na geladeira. abrir a latinha e deixar escorrer a cerveja preta fumegante quase congelante pra dentro do copo embaçado, geladinho, como um lago do ontario quando se aproxima o inverno e os patos já foram embora pro sul.
cerveja, às vezes, faz um gostoso na goela que é danado.
vou até minha varanda beat. o sol me ofusca a vista por um par de segundos. ergo um brinde à aclimação. porque hoje amanhã já era. amanhã é sexta-feira e entreguei hoje o texto que me deixa livre a sexta-feira.
como senhor único e absoluto de meu domínio beat, eu decreto que amanhã, cinco de setembro, é feriado particular. um feriado que merece até uma cervejinha pra comemorar.

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the poetry as a vehement denial to any old romanticism

- bom dia, poeta. o que fazes aqui?
- estou de plantão.
- jornalismo?
- poesia.
- como assim?
- estou de plantão. a esperar a poesia.
- começou cedo, poeta!
- a poesia não tem hora - por que teria?
- concordo. mas você mesmo diz que trocou o orvalho da boemia pela poesia solar...
- digo isso porque cabe ao poeta ficar desperto e atento para quando - e se por ventura - a poesia chegar.
- a inspiração num poeta é contínua.. ou não?
- se o fosse, o poeta arderia logo, como fogo, como brasa. se fosse contínua, a linguagem, qualquer linguagem, seria insuficiente e o poeta seria um pobre perdido, deixado no escuro, exausto e esvaziado de qualquer lirismo.
- entendi. e qual poesia bonita tem o poeta nos seus bolsos hoje?
- nada trago. os bolsos do poeta vivem vazios. não seria ali que ele procuraria uma poesia.
- mas sempre há que se ter uma de reserva para um momento especial. assim, de repente, pode surgir de um nada alguém para ele poetizar.
- não há. esse seria um gesto de amateur, de amador. o verdadeiro poeta não fica a regular seus sentimentos, a mantê-los por perto para lançá-los como moedinhas de centavos a famélicos, quando necessário por algum motivo outro de sua vaidade. motivo nenhum que não seja a poesia em verdade no momento poético que, como eu disse, e como tu mesma o percebes, chega sem sobreaviso.
- tá. então qualquer hora é hora de poetizar? não teria que ter um momento específico, digamos de algum teor romântico?
- o romantismo é uma farsa.
- discordo. o romantismo é lindo. o poeta sabe bem que toda mulher romantiza tudo o tempo todo. por que seria uma farsa? o que dizer então de uma cena... lareira, um vinho, uma música ao fundo, meia luz, abraços, beijos... tem coisa mais romântica?
- te digo que a poesia não tem nada a ver com isso. podes falar de tesão. eu falo de poesia. e a poesia, em verdade, não respeita esses critérios bobocas... o que é romântico? o que é realista? o que é o simbolismo? o parnasiano?... isso pra poesia é inexistente. são os homens parvos a tentar maquinar o que se passa na poesia. e não cabe a eles esse ato. é tão... tão... bueno, eu te digo que a poesia se impõe distante disso tudo. assim como não há palavra feia, não há igualmente palavra que não seja poética e bela, e certamente não há em definitivo o romantismo literário ou mesmo o romantismo de um roberto carlos de vinho tinto e lareira acesa. são baixos instintos.
- existem as poesias românticas! o que ocorre é que você poderá optar por usar um estilo literário romântico, ou não...
- é isto que quero te dizer: não há opção... não se dá uma opção ao poeta... a poesia se lhe impõe. take it as it comes.
- ah... mas admiro quem saiba poetar. são uns poucos privilegiados que fazem a alegria ou a tristeza de corações entristecidos, solitários.
- não creio ser privilégio algum. te digo que ser poeta é antes uma sentença a ser cumprida. uma condenação. se tu preferires, um destino a ser vivido sem perguntas, quereres e hesitações.
- mas há de convir comigo, que esse dom não é para qualquer um... ou você o tem, ou você não o tem.
- uma resposta aqui seria presunção.
- então aceite essa afirmação minha. mas não creio que eu esteja sendo presunçosa. apenas uma observação de uma romântica incurável.
- romantismo não existe, baby.
- olha que te dei um exemplo: lareira, vinho...
- clichês. poesia ruim. the bad poetry sells out, e apenas isso.
- o poeta não pode apenas citar a praticidade das coisas... a lógica acima de qualquer sentimento... há que se ter um equilíbrio. achas ruim o romantismo?
- não é bom, nem ruim. porque não existe. como a lógica não existe também.
- mas lógico que existe lógica nas coisas... seria o mundo então uma bagunça?
- o peito do poeta é uma barafunda de poesia, um desencontrar permanente de sentimentos. uma "bagunça", como tu dissestes. então te peço aqui que jamais fales de lógica a um poeta.
- não vou te contrariar... até porque quero mais é que continues a poetizar mundo afora e alegrando os corações menos avisados e passíveis de paixões.
- tenho uns comprimidos bacanas para o coração, para hipertensão e tal.
- isso é apenas química...
- si. the heartbroken style.

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branded to kill

te digo que a aclimação parece um antigo filme policial japonês.
um filme noir de seijun suzuki. um filme b de madrugada na tevê.
passo às portas do restaurante coreano na praça general polidoro. dois carros pretos de vidro fumê alinhados no meio-fio, embicados para a rua, rota de fuga em aberto. os carros pretos guardados por um segurança japonês da yakuza plantado em pé na entrada do restaurante. dentro dos carros, motoristas japoneses da yakuza mantêm os motores ligados. eu atravesso a rua e passo rente às grades do resturante coreano. como bogart. como keitel. o cara certo no filme errado. o segurança da yakuza me lança um olhar intimidador. sou mais alto, mais largo e mais forte que o japa. mas ele deve ser faixa preta de quinto dan em sete diferentes artes marciais. tranquilo e infalível como bruce lee. o kamarada me olha torto. eu olho de volta, não tiro o olho, nunca tirar o olho, encaro de queixo erguido o japa de olhos incisivos miúdos. cuspo grosso no chão, a salivar como um mad dog, dou uma coçada no culhão. me aproximo um passo, outro passo, como quem vai fazer alguma cousa errrada e vai fazê-la rápido. como quem desconhece por completo as noções de segurança e diplomacia com o submundo coreano d´aclimação. como quem não se intimida: o último poeta beat lançado em sua missão kamikaze no coração flamejante de seu último e definitivo soneto.
uma elegia. pigarreio e vou embora. não olho para trás.
don´t look back, like dylan in the movies, on your own.

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night transmission

os lixeiros descem a pires da mota
batendo lata
que já é tarde
a última luz acesa d´aclimação
apagando no teu andar
já vai deitar

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03 setembro 2008

there goes the neighbourhood

me impressiona o movimento de pessoas no the double tree park.
nosso aprazível residencial beat tem duzentas unidades: 20 andares, dez apartamentos por andar. tirando o meu vizinho brito, que é mais véio que a eternidade, todos os demais moradores do double tree são apenas passageiros no tempo - e no mercado imobiliário.
me impressiona o entra-e-sai de inquilinos no prédio. toda semana tem um caminhão de mudanças parado em frente à garagem limpando ou trazendo mobílias. hoje mesmo quase fui atropelado por um carreto quando chegava da padaria madame. o cara deu a ré na maior em cima da calçada. o elevador de serviço vive subindo e descendo com sofás, mesas, camas, colchões, tapetes, fogões, televisores, peixinhos doirados.
eu moro há três anos e pouco no the double tree park, primeiro no 901 e agora no 1604. te digo que hoje me sinto como um veterano. como um velho zelador de uma mansarda que a vê invadida por forasteiros & desconhecidos. eu conheço quase nenhum dos meus vizinhos...
aqui perto, no 1605, tu sabes, mora o brito e sua senhora. eles são simpáticos, fofos e cheirosinhos.
no 1603, só fiquei sabendo dia desses, mora um pequeno comerciante de sono leve e pouco ânimo matinal - antes morava um homossexual - que reclamou de minha pessoa para o porteiro dia desses, por eu estar ouvindo low dream em volume intenso às sete e meia da manhã.
no 1602, mora um casal com cara de exilados irlandeses. ele é alto e franzino e usa óculos. ela é mais enrugada, mais baixa, mais mal penteada, e creio que tinge os cabelos de loiro. os dois se vestem com molambos e parecem estar constantemente entorpecidos por insônia. evitam o contato com minha pessoa. percebo que se escondem atrás da porta quando acontece de quererem sair de casa e eu estar no átrio a esperar o elevador. quando calculam errado os movimentos e dão de cara comigo, falam bomdia baixinho e ficam encarando o chão. devem me achar meio freak. e suspeito que sejam foragidos.
no 1601, sei que já houve mudança de inquilino nessa última temporada, mas nunca tinha visto o morador anterior, assim como nunca vi o morador atual. nunca ouvi ruído saindo daquele apartamento, nunca vi movimento por ali. às vezes penso que é um apartamento vazio. às vezes penso que é de alguém muito silencioso, discreto e enrustido. penso que o casal do 1602 guarda ali os corpos de suas vítimas. imagino que simplesmente seja um portal para outro domínio, algo que ainda escapa de meu conhecimento, de minha percepção.
já passei horas debruçado sobre o olho mágico da minha porta, espiando o corredor vazio e escurecido, a esperar alguém entrar ou sair do 1601. nunca.
talvez o brito tenha a resposta.

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02 setembro 2008

anjos da noite

hey, guria... tu tocas air guitar?
jeff beck, seu blues elétrico, e seus amigos guitar heroes.
hoje, às 22 horas, pela rádio cultura fm do distrito federal.
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o programa 'anjos da noite' é um esmerilho dos virtuoses do tpb.

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to freak out early in the morning

então fui pra pharmácia, menos quinze pras sete da manhã, comprar uns remedinhos que mantenham o arco íris da vida a fulgurar on my mind. tomei o caminho mais comprido até a drogaria, the long way, para poder esticar as pernas, estalar os joelhos, manter meu sangue beat circulando por minhas tromboses hipsters. desci a pires da mota até dobrar na aclimation avenue. na volta, pelo mesmo caminho, sentido bairro, aproveitei para pagar um sentadão - como faço casualmente - aliviando o ciático ali no ponto de ônibus da avenida d´aclimação.
nessas de ficar fiscalizando o trânsito dos baús, pude rever meu velho conhecido, o mendigo robin williams, notório frequentador do aclimation park. há muito não vou ao parque, agora que virei junkie e assumi outras prioridades. vez ou outra, em verdade, já tinha visto o williams longe dos muros do parque. mas foi uma visão tão improvável quanto a de uma sereia dinamarquesa pegando um bronze na marginal tietê. enfim...
lá estava o robin williams. por improvável que o fosse. lá estava williams dando seu show das sete e pouco da manhã. sandálias rider, bermudão amarelo estilo beach boy, camisa bege estilo exército da salvação, cabelos curtos estilo ação global, sorriso freak estampado no rosto estilo robin williams. não havia dúvidas de que, sim, era o camarada, o mendigo mais agito do parque. ele estava carregando seu costumeiro saco branco cheio de lixo, santa claus style, e berrava no celular.
o celular imaginário de robin williams. faz-se necessário esclarecer que não se trata de um pré-pago. mas williams é um precursor da portabilidade. o camarada catou um celular véio quebrado no lixão e, desde então, fica andando por aí berrando com seus brothers mendigos pelo celular.
fico sentado, como a ver uma peça de pirandello, embevecido com a minúcia de robin williams a emular o comportamento classe-média celularística que ele acompanha todos os dias pel´aclimação. é belo quando um louco de rua assume em sua personalidade a loucura difusa da sociedade. me chegam lágrimas aos olhos.
- você não viu que a madonna vem ao brasil?, berrava robin williams a seu interlocutor imaginário, atravessando a avenida sem olhar pros lados. a guria, sentada aqui no ponto de ônibus, não consegue não sorrir, não consegue não comentar pra mim: que figura. sim, meneio com a cabeça, concordantemente.
- pois é, a madonna vem para o brasil. vai fazer um show no rio e um em são paulo, no maracanã e aqui no morumbi. vamos? estão vendendo os ingressos. ela vai gravar também um clipe no brasil.
(digo que sempre achei que o williams tinha um quê meio thiago ney.)
- isso, vai ser no morumbi. temos que pegar dois ônibus.

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getting old everyday now

isso me aconteceu agora há pouco.
tomei o elevador social para subir até o 1604.
é uma longa viagem, vindo da garagem.
fiquei olhando pro espelho, ali no fundo do elevador, me olhando no espelho. acordei cedo, sem pentear o cabelo, sem passar maquiagem, sem escovar os dentes nem fazer photoshop antes de sair de casa. fiquei olhando no espelho. de frente, de lado, mudei de ângulo, o outro lado, minha face fotogênica, virei de frente again, e de novo, my brave face, me aproximei do espelho para tirar um três por quatro.
não pude deixar de pensar: c*ralho.

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