ou "a paz por trinta e oito centavos o par".
dia desses dei uma banda lá no setor de indústrias sul, o gueto mais urbano da bucólica brasília, df. entre caminhões e carretas e poluentes caminhotes para comprar tampões de ouvido numa loja de ferramentas e altas engrenagens da construção civil.
tentei um par de tampões de silicone, sabe?, assim, em forma peniana, que penetram no canal auditivo e ficam lá dentro - metidões - enquanto teoricamente abafam o esporro sonoro a teu redor. teoricamente. bueno, podem ser de muita serventia quando tu tiver lá na construção, segurando a britadeira, rompendo com furor metálico cada centímetro de concreto armado.
mas aqui, deitado sobre meu colchão beat kingsize no piso gelado do nono andar do the double tree park, tentando desesperadamente esticar por mais quinze minutos minha noite de soninho gostoso, interrompida às sete da manhã com a paquidérmica sutileza de um grupo de operários pontuais, esses tais tampões de silicone - de tecnologia pomp, conforme avisam os fabricantes na embalagem - são tristemente useless. eles ficam lá em meus ouvidos, socadões socadões, dando uma coceirinha enjoada e um certo incômodo anatômico na hora de fechar os olhos e tentar dormir um bocadinho.
o pop-pop-pop-trac-pamp-traaan eterno da construção aqui defronte. raios. puxo a cordinha alaranjada, a cordinha de emergência que se prende na ponta do tampão e num só golpe - pop - tiro a rolha de meu cerumento duto auricular.
não deu.
second try, papito, porque não desito fácil. vou apelar agora para um par de tampões de silicone, novamente, mas estes advindos de uma tecnologia desportiva. a tecnologia speedo. desenvolvida para os nadadores olímpicos. é o mesmo tampão do ian thorpe, do pieter van den hoogenband. deve ser bonzinho. comprei o conjunto tampônico aquático numa loja de material esportivo. lembro ainda agora de minha melhor pose de nadador de 400m peito ao solicitar pra sorridente mocinha bronzeada por de trás do balcão: gostaria, por obséquio, do mais vedante entre os tampões desportivos. ela me alcançou um conjunto de quatro tampões speedo (dois titulares, dois suplentes) num gesto de estudada cumplicidade, mal imaginando que ideais fetichistas selvagens aquele aparentemente prosaico material me ajudaria a atingir. sorri de volta, eningmático e sedutor.
podem ter sido de baita serventia esses tampões speedo no parque aquático de atenas... mas são perfeitamente dispensáveis cá em meu aconchego quitinete do the double tree park. descobri, tal qual um laboratório de física, que água e ar são elementos de diferente constituição e que, acredito em fabricantes, os mesmos tampões que isolam a água não impedem que o ar e as brutais ondas sonoras que nele viajam me afoguem sobremaneira.
guardei os tampões speedo na caixinha e guardei a caixinha numa gaveta no banheiro. é um troço bom de se ter às mãos para quando as calotas polares derreterem e o sertão virar mar.
não deu.
one last try, papito, porque não sou mesmo de desistir fácil. então pude me lembrar daquela camarada, vendedor da loja do setor de indústrias. ele me deu, de cortesia, de camaradagem mesmo, um par de tampones de espuma. não botei muita fé. espuma. nem ele mesmo botou muita fé. me deu de graça. o preço de fábrica é trinta e oito centavos; mas "vou te dar como teste, pra ver se funciona". não deve realmente funcionar ao lado de uma britadeira.
mesmo assim, num gesto de última e exausta tentativa, arrombei o saquinho de plástico que protegia o troço. tipo uma embalagem de camisinha. melhor: tipo uma embalagem de biscoito da sorte do china in the box.
entre uma e outra martelada metálica, meti pra dentro os dois bastõezinhos amarelados. pop, pop. e fechei os olhos. esperando a próxima martelada. a próxima martelada. que virá a qualquer instante esmigalhando meu córtex cerebral. a próxima martelada... só acordei agora há pouco. com aquela sensação marcos pontes de estar encapsulado no espaço sideral.
o grande silêncio de deus me espreitando para além desta manhã invernal na loureiro da cruz.
floating in the most peculiar way...