The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 agosto 2006

Céu cor-de-abóbora

Arraquei dele um pedaço. Amassei. Fiz um pão doce. Te ofereci. Te levei às nuvens. Tava frio. Te abracei. Aquele gosto. Se desmanchou. Entre nossos lábios. Mas, confesso. Só fiz isso. Pra tocar. Em teus cabelos. Ruivos.

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29 agosto 2006

da lógica utilitária enquanto núcleo de permanente insatisfação

e qual a necessidade?
pra que serve? por quê?
e então?
de agora só me dedicarei à inutilidade
ao dispensável
ao acessório
ao completamente excessivo ou precário
me dedicarei ao erro
à cagada, fique bem claro

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28 agosto 2006

the thirteen floor elevators

os prédios dos states não têm décimo-terceiro andar. superstição. a numeração passa do 12 para o 14. tolinhos. o world trade center não tinha nenhum décimo-terceiro andar e, como sabemos, de pouco adiantou esse cuidado técnico. como no brazil não temos dessas viadagens, o novo residencial que está sendo ostensivamente erguido aqui na rua loureiro da cruz - right defronte à minha janela beat - chegou hoje a seu suntuoso décimo-terceiro patamar. pelo que entendi do folder publicitário, o troço terá 20 andares para empatar com o gigante de concreto conhecido à miúde como the double tree park. se for isso mesmo, então estamos quase lá. "só faltam sete, só faltam sete", diria o zagallo, com as veias saltadas. o velhinho folclórico que, ao contrário dos ianques bundões, se amarra no treze. like roky erickson.

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Com minha angústia, regue aquele vaso de antúrios

Observei o ser humano na fachada de uma banca de jornal.

O ser humano "conectado", em "boa forma", "viajante", de "vida simples", o "gestor", o "mestre cuca", a "grávida", a "noiva", o "tecnológico", a "nova", o "bravo", o "caro amigo", o "torcedor", o "exemplo", o "fashion", o "in", aquele "que acontece", cheio de "caras" e bocas, o "superinteressante".

Senti falta do velho - do desinteressante. Sou nostálgico de algo que nem sei, que não vivi, nem viverei. Apenas me cansa o fato de o ser humano estar todo resumido ali, na fachada de uma imensa banca de jornal da Avenida Paulista.

O ser humano, o mesmo da banca de jornal, não vive sem seu handset, seu PDA, seu device. Enfim, estou falando de telefones celulares - as mais maravilhosas máquinas do mundo de hoje - que tanto me entediam. É... de hoje, do ano de 2006 - que ano esquisito para se viver. Que ano esquisito para ter uma razão. Um motivo. Para fazer qualquer coisa. Para continuar vivendo.

Quando tudo o que importa são notícias - da sua vida e da minha e da de todos - impressas em revistas, embrulhadas em plásticos, vendidas em bancas de jornal.

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Ressurreição, everyday

A menina encontrou uma flor e disse : “que linda!”

O sujeito mal humorado a interpelou: “ora que bobagem, é óbvio que as flores são belas. Por que não diz algo de novo?”

A garota, na verdade mais linda que a flor, replicou ao chato: “Ora, porque, se não repertirmos que as coisas são lindas, logo logo nos esquecemos disso. Passamos a achá-las sem graça. Por isso, toda vez que vejo algo belo, meu coração se enche de amor”

O indivíduo não tinha mais amor em seu coração.

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27 agosto 2006

armstrong

entre a camada de neblina
um pedaço da lua
coberta pela minha sombra

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26 agosto 2006

documento em branco

largar tudo e simplesmente
ir embora

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25 agosto 2006

Dialética da conquista amorosa

Homem: “Quero”
Mulher: “Quero, mas não posso. Hoje, não”
H: “Não pode?”
M: “É, não posso”
H: “Mas você é bem grandinha, me parece, pelo menos”
M: “É, mas...”
H: “Ok, tudo bem”
M: “Não, não vá. Fique aqui”
H: “Mas, qual é o ponto em ficar?”
M: “Gostei de você”
H: “Mas não quer”
M: “Quero. Mas não posso”
H: “Sei, vamos deixar para outro dia, então”
M: “Você me liga?”
H: “Pode me ligar se quiser”
M: “Quero que você me ligue”
H: “Ok”
M: “Vai me ligar?”
H: “Acho que sim”
M: “Acha?”
H: “Devo ligar”
M: “Deve?”
H: “Já disse que você pode me ligar, quando quiser”
M: “Não gosto de ligar. Gosto que me liguem”
H: “Você acha que vale tudo isso mesmo?”
M: “Você não acha?”
H: “Gostei do seu corpo”
M: “Só do corpo?”
H: “E olha que não vi tudo ainda”
M: “Safado”
H: “Vamos?”
M: “Humm..”
H: “Só se for agora”
M: “Daí você não me liga mais”
H: “É um risco que você corre”
M: “Então não quero”
H: “Não quer?”
M: “Ai, você me deixa confusa”
H: “É minha função”
M: “Gostei de você”
H: “Então vamos?”
M: “Vamos!”

Fogos de artifício explodem no céu.

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as flores da estação

caminhando pelo aclimation park
eu sinto, alguma cousa mudou
no riso desdentado das crianças
no bafo desdentado dos mendigos
os canteiros banheiros públicos
parindo as primeiras flores coloridas
no frio do inverno industrial
nos jardins dos grandes condomínios
coloridas nas praças cercadas amuradas
alguma cousa qualquer mudou
nas calotas polares
nos níveis dos mares
detrás desta cortina cinza

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a história do fogo

"isso não é exatamente uma reverência
eu vi seu corpo na tevê sendo imolado
sua imagem, muito papo furado
homens ateiam fogo às suas guitarras há muito tempo
homens ateiam fogo às suas roupas desde que eu me conheço"
(cadão volpato, de novo)

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outsider

sacanearam plutão. foi expulso do sistema solar.

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24 agosto 2006

money, money, money

a nota amassada
de dez real
reencontrada no bolso da bermuda
as duas moedas
limpinhas
de cinco centavos
dançando no fundo da máquina de lavar roupa

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zetti

todo os dias caminho pelas aprazíveis calçadas da rua josé getúlio. ali há um boliviano adepto do mercado informal. um sujeito estilo evo morales. ele vende cebolas, alhos, ervas e especiarias várias na banca que arma bem perto do empório dany. será que vende coca pra fazer chazinho?

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construção civil

há um novo bate-estacas na aclimação. ainda não consegui localizá-lo. me debruço na varanda e tento enxergar a nova obra, atraído pelo tão elegante esporro ritmado. a cidade de são paulo não pára mais de crescer. é o progresso do brazil. o novo bate-estacas ressoa a noroeste do the double tree park. deve estar lá pelas imediações da rua tamandaré, no sentido galvão bueno. quase na liberdade. quase.

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perdendo dentes

as cousas prosaicas da vidinha bundona. ao mastigar um biscoito de gergelim light, um naco de dente - crec - saiu rolando pela boca. sou um camarada de obturações expostas. ainda bem que era apenas um biscoito de gergelim light.

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23 agosto 2006

feérico

recebi a conta de luz. de agora em diante só tomo banho frio.
de agora em diante só leio de dia.
não bebo mais cerveja gelada. não acendo mais o cigarro no fogão.

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blowtex

prazer prolongado e efeito retardante
efeito prolongado e prazer retardante
efeito prolongante e prazer retardado
prazer prolongante e efeito retardado

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apesar de tudo, estamos prosperando

a nova legislação eleitoral brazileira é um sucesso.
se o cidadão evitar de ligar a tevê e continuar sem ler o primeiro caderno dos jornais diários - dois hábitos saudáveis que tenho alimentado paulatinamente - pode até se esquecer de que logo logo mais teremos eleições. hoje mesmo, dando um rolê pela paulista avenue, pude contar nos dedos os seis militantes do psol em frente ao masp e tive de aguçar a vista até encontrar, perdidos e pisoteados na calçada fétida, alguns amarfanhados santinhos de orestes quércia (!?). e só. deu até para desviar e continuar minha saudável flanação urbana.
perfeitamente razoável, perfeitamente civilizado.
(ah... também pude perceber um discreto adesivo do adesista PL num carro saindo à toda de uma garagem em frente à fiesp. carro com vidros fumê. claro. será que era o carro do valdemar, hein?)

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onde você for, enfim, eu vou com você

"meu amor é como uma navalha
cortando sua face formosa
seus olhos tristes me falam baixo
e eu sonho alto"
(cadão volpato)

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amanhã é tarde

eu respeito as placas de trânsito
consulto os mapas urbanos antes de sair de casa
eu cumpro as leis e pago os impostos, eu voto em anos eleitorais
acredito nas leis federais
acredito em propaganda & marketing
leio tuas revelações em outdoors iluminados pela noite escura da grande cidade

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22 agosto 2006

minha dicção

me disseram que esse troço de poesia
é pra ser lido assim:
em voz alta
por isso as rimas, as aliterações, a métrica, o ritmo
e essa merda de
es can dir
as sí la bas po é ti cas
(poé ti cas?)
mas as minhas
sí la bas
eu leio assim
bai xi nho
que é pra não acordar o vizinho
pra te levar pro mau caminho
baixinho
poesia com língua presa

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falta eurico, falta márcio braga

o caixa d´água morreu
antes ele que eu...
la lá lá

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off road

queria ter um jipe
e subir a rua apeninos
com o capô aberto
dando tchau pras ninfetas do
santo agostinho
queimando fumo
pelas noites d´aclimação

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21 agosto 2006

ignorante com cinco letras

eu costumava escrever no caderno de cultura. isso quando eu ainda costumava levar jornalismo a sério e tal. lembro que sempre ficava bastante aborrecido - os leitores, esses m*rdas! - quando telefonavam reclamando das palavras cruzadas repetidas ou sem resposta. as palavras cruzadas que saíam na página mais nobre do caderno de cultura, ali entre o zodíaco, os sete erros e outros importantes serviços prestados pelos órgãos de imprensa.
como assim? palavras cruzadas? e as notícias?
hoje eu faço as palavras cruzadas todos os dias. não perco uma. gosto das sextas-feiras na folha de são paulo, quando saem duas palavras cruzadas (no guia e na ilustrada).
e nem leio mais as notícias.

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Banda Ku

Tenho de escrever sobre o mercado de capacidade satelital no Brasil. É o tipo de coisa que meu trabalho exige de mim. Fico sem saber o que escrever, por onde começar, o que é mais importante na joça satelital. Aprendi algumas coisas, existem dois tipos de satélite, os de banda C, os de banda Ku (é isso mesmo) – e eles fornecem links de TV e banda larga, entre outros serviços. Mas isso é muito básico. Não é o que querem de mim por aqui. Eu deveria estar adiantando as últimas, quem vai vencer as licitações, quais são as grandes concentrações (fusões de empresas) deste mercado, quem está comprando o quê (ou quem)? Quanto valem os grandes contratos? O que muda com a TV digital? Mas, confesso aqui para vocês, parcos leitores do TPB, só de pensar nestas perguntas me bate um sono danado. Só consigo mesmo escrever essas pouca palavras, este mísero e insignificante desabafo. Quase um grito rouco, que ninguém ouvirá. Meu coração está cheio de questões, mas nenhuma delas contempla capacidade satelital e afins.

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entrar pelo cano

"quando você tem cem francos, fica à mercê dos mais covardes pânicos. quando tudo o que você tem na vida são apenas três francos, você se torna bastante indiferente. você fica entediado, mas não tem medo. pensa vagamente: 'em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante, não?'. e então a mente divaga por outros assuntos. uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu próprio analgésico. e há outro sentimento que serve de grande consolo na pobreza. acredito que todos que ficaram duros já o experimentaram. é um sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamente na pior. tantas vezes você falou sobre entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de agüentar. isso elimina um bocado de ansiedade."
(george orwell)

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20 agosto 2006

Nada grave. Nothing personal.

Há tantas pessoas desinteressantes no mundo. Você é apenas mais uma delas.

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rabanetes

sete litros de iogurte desnatado
quinze quilos de biscoito de gergelim
quatro hectares de alface crespa

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faces

emprestar um nome
sobrenome e procedência
um passado só pra ti
te contar a história de como perdi os pais num cruel
acidente
te contar como cresci na lituânia
aprendi a falar vinteum idiomas e quatro línguas mortas
esqueci tudo
num cruel acidente aeroviário
estudei farmacologia
para fabricar minhas próprias drugs nas noites de insônia
joguei no juvenil do juventus
trabalhei de carteiro e barman e vigia-noturno
vendedor da avon, publicitário e guarda-freios
manobrista
abandonei o curso de medicina mecatrônica no último semestre
para fazer arquivologia
e ter um futuro melhor
numa ilha africana longe da imensa cidade

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alguém vai vir

atravessar a rua olhando pro lado errado
boa noite, meu rapaz, gostaria de tomar um drinque
e ver algumas garotas
muito gentil de sua parte, meu cavalheiro
muito agradecido
não esqueça: temos sauna mista

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françoise de catapora

elegeu a menina mais bonita
notando as sardas na região entresseios
sempre gostou de sardas

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19 agosto 2006

impermanência

ahn, não vou ouvir electronica downtempo aqui agora.
senão não saio de casa. ouvir valverdes. pra ir pra rua.

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shoegazer

porque eu sempre reparo nos pés das gurias

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jesus had a twin who knew nothing about sin

perguntou que bandas novas andava ouvindo. de rock.
conhece the sleepy jacksons?
nã. infelizmente não compro mais revistas gringas de cultura pop.
curtes essa banda aí que está sendo muito comentada, o sonic youth?

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excuses for travellers

admitiu já ter pensado na hipótese de ter filhos. ela queria dois. um casal, claro. não é tão difícil... não. é apenas uma questão biológica rudimentar. mas encontrar o camarada pra ser o pai dos teus filhos é uma busca mais sofisticada. e ainda há a questão do amor. e todos seus arredores. o que complica a situação de forma definitiva.

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rather ripped

- hey, guria. o som aqui tá muito alto. me diz... como essa tua amiga te chamou?
- me chamou de mari.
- mari? de marineide?
- não. mari de marinara.
- entendi, marineide. curtes the morrison rock bar?
- fala sério. meu filho tem a tua idade.
- putis. tu começou cedo esse lance de procriação, não?
- tive meu filho com dezoito anos.
- bueno... dezoito anos é começar cedo pra mim. aos dezoito anos eu não sabia nem dar "bom dia" a uma mulher.
- pois é... mas aconteceu.
- esse lance de sexo. pegou barriga, foi?
- você fala de um jeito estranho.
- mas... me diz... curtiu a parada de ter kids?
- muito. eles são ótimos.
- eles... eles são quantos pimpolhos?
- são dois.
- guarda-costas não te faltam, hein?
- eles são tranqüilos.
- deixam a mamãe namorar na tranqüilidade...
- sim. estou separada tem quatro anos.
- então tá curtindo essa tua segunda solteirice?
- já curti muito... mas agora quero namorar.
- namorar a valer? pegando na mão, indo pro cineminha e apresentando pras amigas? apresentando pra família e tals?
- exato.
- me fala como é um cara bacana pra te deixar na maciota nesse tipo de relacionamento mais maduro e diligente... como seria?
- um cara responsável, sincero, carinhoso.
- então vem cá, mari... na sincera... o cara pode ser assim... rocker?
- claro. por que não?
- sou rocker, sabe? curto stones e dylan e strokes e cramps... kiss fm.
- cramps...
- tu curtes poesia urbana?
- oh. gosto muito. embora não esteja bem certa do que seja.
- sou poeta urbano.
- sério?
- curtes hai-kais artificiais e sonetos industriais?
- você tem um jeito estranho de falar...
- eu sei. já me disses, não faz muito. é que acho mais bacana ir testando as palavras e vendo quais cabem, quais não cabem. sabe? tipo poesia mesmo. uma poesia oral. tipo beat. tá vendo esta palavra aqui? então, coube direitinho. encaixou na métrica e ainda deu espaço o suficiente pra tu esticar o raciocínio. percebes?
- percebi que não encaixou.
- isso é papo de parreira. encaixou sim. é só virar um pouquinho de lado que fica direito. tipo legoland. tipo dominó.

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18 agosto 2006

o caseiro está perdoado

"não guardo mágoas", diz antonio palocci.
agora... mágoas pelo quê? por não ter ido em cana?

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contei para as paredes coisas do meu coração

as criancinhas do colégio integração cantam com marisa monte
amor, i love you... amor, i love you...
as professorinhas do colégio integração curtem música popular brasileira.

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(e obedeça)

não se afaste do caixa eletrônico
sua operação está sendo concluída
aguarde instruções da máquina

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o tempo presente

a fina camada de pó que cobre os objetos
que nos cobre, todas as pessoas
a cortina de poeira diante da tela da tevê

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17 agosto 2006

o intervalo

a poesia é um salto no escuro, baby. não tem ninguém pra te dar a mão. nem rede de proteção. feche os olhos. e sinta o chão faltar sob seus pés. agora.
tua pergunta sem resposta. o silêncio depois da última palavra.

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my eyes have seen you

a luz é a poesia dos olhos.
mas a poesia está diante dos olhos ou atrás dos olhos?
- atrás.
reformulando...
a luz é a poesia do olhar.
pronto. bem melhor assim

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Lembram do "eu te amo"?

Notícia do El Pais, jornal espanhol, reproduzida hoje no UOL:

"Um menino que nasceu sem poder falar nem mover-se, com 6 anos conseguiu escrever para sua mãe na tela do computador: "Eu te amo""

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16 agosto 2006

o bom homem branco

pobre áfrica do sul. depois do apartheid, o parreira.

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strangers than paradise

aceno para o ônibus: "passa pelo paraíso?"
pergunto ao motora com cara de coritiano
no medo de subir, tomar o ônibus errado
a mania descontrol de querer tudo controlar

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15 agosto 2006

so much trouble in the world

Ela tinha belos olhos azuis que, por si só, seriam o suficiente. Mas disse ao rapaz:

-Eu te amo

Ele, rasurado por uma cicatriz no ombro, respondeu

-Querida, me desculpe, mas o que disse não significa nada

Uh! Essa foi forte. Um arrepio percorreu a garota. Pelos eriçados sobre a pele branca, morada ideal para qualquer homem. Chocada, replicou:

-O quê? Mas eu te amo! Não pode ser. Me segurei tanto pra dizer isso.

Ele, cheio de “no mercy” com a pequena:

-Não diga mais. Não diga nunca. Nem pra mim nem pra ninguém. Essa frase, “eu te amo”, é a que foi repetida mais vezes na história da humanidade. Por isso mesmo, não significa nada. É o oco. É a morte de todos os sentimentos. Não fale, por favor, me dá engulhos. Sou intenso, preciso de sensações grandiosas, nada de “eu te amo” etc e tal.

Pobrezinha. Dezoito anos. Muita vida ali. Muito tesão ainda por descobrir. Quem será o desbravador?

-Ela ficou triste. Tentou conter uma lágrima, que saiu espremida, quase raivosa. Suspirou e ficou com aquela cara “o que faço”, “o que digo”. Por fim, disse, insegura.

-Quer que eu vá embora?

Ele riu. Uma gargalhada. Até parece. Não a deixaria ir embora por nada nesse mundo. Nope. Não sem antes usufruir de seu quinhão daquele ser especial. Depois de algum tempo, a deixaria partir. Um bom tempo. Não era mulher para um só homem. Disso, tinha certeza.

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drinking sangria in the park

metroviários em greve. a população de são paulo se arrasta pela superfície do planeta. manadas e manadas de pedestres se jogam nos cruzamentos, se amontoam nas calçadas, se lançam sobre as faixas de pedestres. encoxando carros metálicos e avançando sobre as motos do telepizza. as pessoas não podem mais se esconder debaixo da terra. as minhocas saem pra fora. como ratos saindo dos bueiros. como larvas nas fossas nasais de corpses insepultos. as larvas do cadáver de uma megalópole condenada. pessoas se movem lentamente pela urbe cinzenta. cidadãos dão cabeçadas, não sabem mais para onde ir. como baratas tontas em labirintos. subindo sempre mais um sempre mais um se apertando nas lotações lotadas. as baratas baratinadas atrás de uma última dose de inseticida. o helicóptero da polícia dá um rasante entre os arranha-céus. uma tentativa de dispersar a multidão. uma tentativa cretina e inútil. é tarde demais para evitar o colapso urbano. não pára mais de aparecer gente saindo de suas casas, apartamentos, barracos, saindo de debaixo das pontes, de dentro das latrinas. estão escapando das prisões federais de segurança máxima. chamem o marcola para tirar esse povo todo das ruas. chamem o marcola, pôrra. o trânsito enfartado atravanca o asfalto - e os selvagens aproveitam para ganhar o dia entre os muros de concreto, as pichações avant-garde. eu aperto o passo pela rua do paraíso e dou uma última olhadela para o outdoor na esquina da rua vergueiro. onde a flávia alessandra, de costas nuas e bumbum empinado, sugere as mais galopantes fantasias à multidão de párias.

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ghost in the machine

me acontece às vezes. quando estou diante do teclado metron de meu computer beat. acontece de eu entrar numa espécie de transe beatífico. e fico cego surdo mudo para essa vida outra que se leva do lado de fora de minha mente. em outras palavras, sim, é um surto. tanto que não consigo controlar minha própria força. então as palavras brotam a mil das sinapses canábicas de meu íntimo cerebelo e de lá de cima elas se transmitem em impulsos, em espasmos nervosos, aos empurrões, até as pontas de meus dedos, tão pouco ágeis em momentos menos febris. esses meus dedos de cavalheiro começam a distribuir pequenas porradas pai mei no corpo de meu teclado, catando milho a velocidades inauditas, caindo como uma chuva de bombas israelenses - e muitas vezes detonando a suspensão tecnológica aerodinâmica das teclas do teclado metron, e muitas vezes causando erros de digitação no texto (convém revisar com cuidado), pois a dislexia taquigráfica é um dos vários componentes traiçoeiros deste meu estilo beatnik de prosa torrencial.
de modo que agora há pouco tal cousa me acontecia.
me acontecia de estar aqui, sentado na unidade 901 do the double tree park, redigindo furiosamente qualquer troço desses que necessitam redação furiosa, quando... eu estava exatamente escrevendo de olhos fechados no estilo stevie wonder (às vezes me acontece esse lance chico xavier, esse lance gasparetto de escrever de olhos fechados, e é justamente quando sobe a proporções alarmantes minha dislexia taquigráfica, e é justamente quando me esqueço de salvar o material no disco rígido e tudo corre o sério risco de ir para o além com a mesma presteza que de lá veio), quando senti aqui e ali um problema na harmonia de minha prosa beat, uma nota fora do lugar, um erro de concordância, alguma problemática saliência na musicalidade que estava ali sendo parida em golfadas silábicas. uma melodia entortada.
interrompi todo o processo. o processo de criação vai de 10 a 100 mil. interrompi.
e abri os olhos. olhei ao meu redor. percebi que meus dutos auriculares estavam livres e desimpedidos, sem os tampões de ouvido, mas não era exatamente isso que causou o embaço criativo. pois não necessito realmente de tampoons quando entro numa nóia selvagem dessas... então... o que seria esse som?... o que seria...
deixei meu monólogo interior silenciar por um momento. foi quando pude novamente ouvir a cantilena "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus" que me embaralhava as idéias. "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus"...
sim. jesus. conheço jesus. mas que pôrra é essa? como assim jesus?
olho para o teclado metron. escrevo a palavra: jesus. tento com maiúscula: Jesus. mas a cantiga não pára, não pára.
uma carpideira continua a fazer sua encomenda a "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus".
o barulho do motor da máquina de lavar roupas corta a cantiga com seu infalível ronronar hidráulico consul. duplo enxágue, lavagem delicada.
oh, sim. é a dona maria rosa. trabalhando na cozinha.
com jesus a seu lado.

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14 agosto 2006

the real beats

oh, esse lance de iluminismo e ilusionismo é poesia carcerária

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alma não tem cor

alma em português é feminino. a alma.
alma em espanhol é masculino. el alma.

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la verdad sobre el sexo con orientales

chacoalhante no baú. agarrado no santantônio. me segurando na curva da topaz street. cuidando la cabeza. pra não bater nas barras de ferro amarelas pendentes do teto do mercedes benz. cuidando as pernas. pra não encoxar a moça sentada no banco.
(tratado de ética urbana beat, dispositivo trinta e dois: não encoxarás a mulher da lotação. parágrafo único: salvo se a mulher em questão for uma baita gostosa que não se porte de forma condizente em transportes públicos.)

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dia internacional da paz

pôrra. o alckmin jura que vai começar a trabalhar no dia primeiro de janeiro. ahn. deixa quieto, vai. dia primeiro de janeiro é feriado.

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êi... êi.. eymael...

o lula avisou que não iria ao debate na band trash. disse que de maneira alguma se misturaria com aquela gentelha. e não foi mesmo. pra assim poder "preservar a instituição presidência da república". que bom.
é um alívio que ele se preocupe em preservar a instituição presidência da república!

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Cio da terra

-Hei joe, que capacidade é essa?
-Capacidade? Capacidade de quê?
-Capacidade descomunal, meu brother!
-Descomunal?? De quê? De quê?
-Capacidade descomunal de não fazer nada. Que potência do ócio!
-Ah..sabe como é, todos na vida, por mais inúteis e desprovidos que sejam, nascem com talento pra alguma coisa.

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13 agosto 2006

a maturidade

sei que tu quer ficar comigo. mas respeito tua indecisão.

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dançar tango na aclimação

acendo um cigarro e perco o fio da meada.
- ahn, e você fuma? -
só quando em momentos de desconcerto.
- não curto cigarros -
bueno. então te perdi. bem simples assim.
- magina, te respeito -
um drops de hortelã pra te beijar na boca.

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do not believe in tipping

"eu gostaria de uma coca-cola light, num copo com gelo e limão (foi então que baixou a cabeça, assim de leve, baixou muito pouco, só o suficiente pra olhar para a garçonete por sobre as lentes escuras dos óculos ambervision, só o suficiente para baixar a voz um tom), por favor."

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the very twilight zone

nove e meia da noite na cidade de são paulo. esperando aqui o metrô sentido imigrantes. para atravessar a paulista avenue subterraneamente e poder emergir na estação vergueiro. o trem entra rasgando a estação sumaré. abrem as portas. não acredito no que vejo. ali diante de mim. em plena noite de sábado paulistana. the paulistana night. de tão espantado, só saio do lugar quando apita a sirene avisando que as portas já vão fechar. assim que entro, elas se fecham às minhas costas. ainda não acredito. (ai, que pôrra.) o trem parte num arranco que me lança ao chão. caio de joelhos. dali daquela posição tenho de vez a confirmação absurda...
o vagão
(inteiro)
o vagão
(todo o vagão)
está...
assim...
completamente...
vazio...
vazio.
VAZIO!
no one. ninguém. não há pessoa no vagão.
só eu. no vagão sozinho do metrô de são paulo.
sozinho quando as portas se fecham.
sozinho quando o trem arranca sobre os trilhos.
nunca me senti tão tão sozinho. tão vazio.

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carré de cordeiro e leitão à pururuca

dia do papai. restaurantes entupidos pela grande são paulo. mesas lotadas. famílias, famílias, famílias. john pothead y eu entramos no grande tubarão bordô e miramos para a churrascaria videira. a missão principal era destroçar dois javalis e alguns cupinzeiros bovinos.
a missão paralela: desafiar a tradicional família católica paulistana.
restaurante megalótis. como somos beatnik, entramos porta a dentro, cagando pras pessoas na fila de espera. filas de espera são para otários. para famílias tradicionais. para avós e netinhos e cunhadas gostosas. não há fila de espera para mesa para duas pessoas. e rápido.
destrinchando a última picanha - primeiro corte, por obséquio - da tarde, me debruço sobre o prato, os dois cotovelos sobre a mesa. a barriga satisfeita pelo ocorrido. mas a mente inquieta. apontando para as mesas familiares ao nosso redor, pergunto a mr pothead, the potman indeed:
- mas e se a gente acendesse uma tronca. sabe? aqui. agora. uma tronca tipo peter tosh. o que acha que aconteceria?
- uma tronca tipo gregory isaacs?
- uma tronca assim. o que aconteceria? aqui agora...
- acho que alguém viria reclamar. alguém viria dizer, "meu senhor, isto não é permitido aqui", algo assim.
- mas viriam reclamar por ser uma tronca de sinsemilla?
- mesmo se fosse um fininho, eles viriam reclamar. com certeza.
- reclamariam do ato de fumar em si ou reclamariam do que se está fumando?
- pense assim. pode ter um policial aqui. alguém a paisana.
- aí seria ruim...
- bem ruim. ai o cara já viria armado pra cima de ti.
- mas que cousa...
- é assim. eles não têm muito senso de humor a esse respeito.

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father figure

beatnik não tem babai!

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11 agosto 2006

trapaças sensacionais

esticando a marcha na segunda volta, estranhei como estava vazio o circuito oval do aclimation park. pensei que pudesse ser o pececê a explodir agências bancárias por aí. mas os bancos da aclimation avenue - um dos maiores centros financeiros da latino-américa - estavam tranqüilos minutos antes. pude pagar sem estresse meu aluguel beatnik no caixa automático do bradesco, afim de assegurar o lucro de três bilhões anuais da sólida instituição bancária. um envelope com cheque, por obséquio, conta-corrente e número da agência ali à mão, aguardando a impressão do comprovante de pagamento. e nada me ocorreu. nem sinal dos amigos de marcola. ah, e também estava como habitual o movimento à porta do mansour lanches. vazio. mas lá é sempre vazio. os adolescentes obesos que viram a noite na monkey lan-house preferem os sandubas de isopor do mc donald´s. portanto só na segunda volta pelo circuito oval do aclimation park me dei conta de que este era um estranho final de tarde na megalópole superpovoada. o recanto do saci estava vazio. criança nenhuma brincando por ali. a várzea do poeirão estava vazia. boleiro nenhum dando suas caneladas. ninguém em lugar nenhum. a colônia coreana tinha deixado o aclimation park vazio. podia até ouvir o cantar dos melros no cio. arrepiado diante da inexistência humana, tragicamente absorto pela solidão no meio do mato, interrompi pela metade meu jogging anaeróbico e subi correndo, de dois em dois, os degraus que levam à praça jorge cury. quase enfartando, quase sufocando, ainda mantive a carreira pela turmaline avenue. nem tive tempo para reparar os arbustos ornamentais da praça general polidoro, permanente e diligentemente regados pelo mijo canino.
foi quando o segurança do puteiro carmencitas se intrometeu em meu trajeto. plantou-se no meu caminho.
- o señor conheces maria joaquina?
- sim. verdad. ela posou pelada dia desses. será que o cirilo viu a revista?
foi quando o brutamontes deu um passo à frente, me pegou pelos braços, me jogou de costas no asfalto num mata-leão e chutou minha bunda puteiro adentro. cantando a antiga canção: embarque nesse carrossel, onde o mundo é faz-de-conta, a terra é quase o céu...

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let me place you in my past, with other precious toys

"you could be my open road
you could be the reason why
you could ease my heavy load
but i want to freeze you out now"
(rats, sonic youth)

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a preparação do ator

ou... stanislavski levado às últimas consequências no leblon.
a atriz fernanda vasconcellos, 21 anos, revelada em "malhação", é um dos destaques da nova novela das oito, das nove, "páginas da vida". ou assim parece ser, pelas revistas de celebridade.
esta semana, a guria conta como se preparou para viver o desafiador personagem que coube a ela no folhetim global. sua idéia primeira era fazer uma lipoescultura, para dar conta do trabalho. mas... "sempre quis ser muito magra", revelou fernanda à revista istoé gente desta semana, "fui à clínica para fazer a lipo, mas a cirurgiã me disse que se eu colocasse um pouco de silicone aparentaria ter a cintura mais fina."
fernanda saiu da clínica com a lipo e mais 190ml de silicone em cada peito.
robert de niro perde.

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mantenha a direita

a vida como uma rodovia
sem retorno, sem pedágio
sem placas de sinalização
cruzando o sertão de goiás
lavouras de soja transgênica
uma rodovia esburacada
do nada pro lugar algum
do antes de nascer
pro depois de morrer
uma rodovia lotada
véspera de feriado
muitos carros velozes
com bagageiros repletos
puxando seus trailers familiares
zunindo pelo interior de goiás
pressa pressa pressa pressa
chegar primeiro a lugar algum

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10 agosto 2006

Pulp Fiction e Paulo Coelho

Os vales verdejantes, próximos ao bosque - logo no final da Rua Rubi. Foi lá mesmo, nas fronteiras do nobre bairro da Aclimação, que me encontrei com Rampaul. O velho mora num fusca cor de abóbora, descascado e abandonado. Seu quarto é o banco de trás. A cozinha, o do motorista. A sala, o assento do passageiro. O banheiro é o mato mesmo.

Rampaul assava uma lebre à moda do bosque, capturada numa arapuca tão tosca quanto eficiente. “Chegue mais, mr Pothead, tome assento”. Antes de comermos a iguaria, ele me deu uma pastilha colorida para despertar o apetite. Abri um sorriso tão logo ingeri a pílula. Meus braços ficaram leves e, por um tempo, fiquei observando-os balançarem. Deixavam rastros tracejados no ar.

Esqueci que estava ali com Rampaul. Minha mente amoleceu. Bebericava um delicioso e fumegante chá de lírio. Levitei um pouco. Cheguei a voar, mas voltei a terra firme com a voz cavernosa do velho me chamando. “Agora chega, isso não é parque de diversões, caro John Silver”.

Aquiesci. Rampaul é meu terapeuta de gestalt. Tenta me conduzir para o caminho da felicidade. Todas as vezes que o encontro, faço a mesma pergunta. “O que é felicidade, ó honorável velho?”. Sempre me dá uma resposta diferente.

"Felicidade é não precisar. Só isso. Muito simples, Potman"
"Mas de quê, ó velho Rampaul? De dinheiro, de mulher, de bens materiais, de família, de amigos."
"As coisas só nos pertencem quando não precisamos mais delas."
"Mas..."
"Chega, vá embora e não volte nunca mais..."


Sai dali voando. Dando rasantes. Entrei num bingo na Avenida Paulista. Apostei dez centavos e ganhei dez milhões. Dei de esmola para um executivo engravatado que carregava um laptop a tiracolo. Ele correu imediatamente para uma concessionária Jaguar, comprou o modelo mais caro. Num piscar de olhos, quatro top models o acompanhavam na caranga.

Olhei aquilo e fiquei feliz pelo sujeito. Taí um cara realizado. Eu, não. Vou ter que voltar ao velho Rampaul e ao chá de lírio.

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the very noise of the morning

acordei assim atravessado. num troço nervoso.
colocar agora um disco do sonic youth na vitrola.
pra me acalmar. um pouco

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09 agosto 2006

no risks

o risco-brazil caiu a 207 pontos. o mais baixo desde pedro álvares cabral.
o mais baixo de todos os tempos.
"o spread dos títulos da dívida brasileira sobre os papéis do Tesouro norte-americano alcançou o menor nível da história nesta quarta-feira", confirmaram as agências noticiosas. "o risco-brazil, medido pelo JP Morgan, recuou a 9 pontos-básicos às 13h45 (horário de Brasília), para 207 pontos-básicos sobre os Treasuries. no mesmo horário, o EMBI+, que considera uma cesta de títulos de emergentes, cedia 5 pontos, para 183 pontos-básicos."
brazil!

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touts les filles d´aclimation

acho que vou dar um pé ali no parque da aclimação, sabe? pra esticar as pernas, estalar os joelhos, aprumar a espinha, suar a pança. vou ver os patos. os patos da lagoa da aclimação são uma grande atração. eles são ferozes patos de quatro asas. que falam coreano, mas não sabem voar. seguem uma rigorosa dieta de coliformes fecais e tilápias ninjas mutantes de três olhos.
alguns tiozinhos coreanos gostam de alimentar os pombos no parque da aclimação. confesso aqui não gosto desses tiozinhos aposentados sem nada pra fazer, porque eles nutrem esses pombos super-alimentados que cagam seus amendoins pelas calçadas da aclimação, as calçadas que já são naturalmente tão cheias de bostas dos cachorrinhos das madamas da aclimação.
dizem que em paris tem mais cachorro que criança. os franceses preferem ter um totó do que um pequeno jacquot. a aclimação até parece a frança. só falta a torre einfel. vou comprar umas baguetes na padaria madame.

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the kingsize sleeping theory

evitando cair da cama
já deixo meu colchão
rente ao chão

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inspiração, nicotina e alcatrão

revirei mais um maço de cigarro
e fumei até o último dos vinte
cinzas e cinzas
não sobrou uma pontinha
não sobrou nenhuma guimba
daquelas de acender diante do espelho
destrinchei mais um maço inteiro
e ainda não encontrei a palavra que me... falta

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para sua segurança

as crianças brincam correm e jogam bola na arena polidesportiva do colégio integração. as crianças enchem as tardes da aclimação com seu ímpeto infantil. quando algum grito pueril ressoa mais estridente - pavor? terror? perigo? morte? - aqui nas paredes de meu quarto-e-sala, estico o pescoço até a varanda e vejo se a molecada ainda está viva, ali do outro lado da rua. ou se foi soterrada por algum escombro da construção civil ali ao lado. elas brincam festivas sob a sombra cinzenta do futuro novo arranha-céu domicilar da rua loureiro da cruz, entrega prevista para o outono de dois mil e sete. os empreendedores tiveram a simpatia, a gentileza, o cuidado, a minúcia de cobrir com uma tela de proteção a arena polidesportiva dos inquietos infantes. para que nenhum desses moleques seja alvejado com pedaços de reboco industrial durante o recreio, nenhum desses moleques seja empalado por alguma barra de ferro saliente em plena educação física. para que nenhum pai tenha que trancar matrícula por sinistro.

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em tempo real

ouço um jazz qualquer. desses vagabundos. de espera em linha telefônica. um solo de sax à kenny g. é uma conference call. aguardo alguns assholes. que vão esmiuçar os resultados financeiros da empresa. qualquer empresa. tenho de correr aqui. dentro de instantes, eles vão começar. vomitarão resultados operacionais. fluxo de caixa. receita de publicidade. ebtida. capex. opex. essas coisas. tudo para convencer bancos investidores de que suas ações devem subir na bolsa. a saúde financeira da empresa vai bem. etc, etc, etc.

e eu com isso? well, that's my job. que vou deixar como tantos outros. não há de ser nada. há sempre alguém necessitando de um jornalista. "olá, sejam bem vindos à teleconferência..." opa, vai começar. hasta luego, friends.

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07 agosto 2006

seus problemas estão resolvidos

rui costa pimenta, candidato à presidência da república pelo partido da causa operária, promete salário mínimo de mil e novecentos reais.
esse é o cara!

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Me and my babe rocking and rolling

Muito stress baby. Acordei meio assim, thrilled. Too much confusion. Depois que nos amamos loucamente. E brigamos loucamente. E exigiste mil juras de amor. E eu disse, não, não, não. E atiraste aquela faca, em minha direção. Que abriu um rombo, em meu ombro. Meu sangue voou. Sujou minha foto, de Easy Rider. Que jazia ali no chão. Misturada a sementes canábicas. Tão bem deschavadas. E eu disse, por que tudo isso, se o amor é mais simples... que uma soma, um múltiplo, uma subtração. Você disse “não”. Não te quero mais. Só se for assim. "Por completo", suas entranhas, no jantar, no almoço, no café. Oh baby, aí não vai dar, essa noite não. Essa encarnação também não. Não ia me querer tanto assim. Mal me conhece. Sou um anjo caído. Que não se levanta. De tanta preguiça. E de você, que fique o cheiro. Grudado em minha pele. E que dure alguns dias. Que já está bom. Porque, eu. Pra aliviar a tensão. Vou ali ao bosque. Cortar umas árvores. Fazer uma lenha. Que já acaba o verão.

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06 agosto 2006

pato trabaja en una carnicería

a casa de carnes flor do campo fechou. reabriu um par de semanas después. agora como casa de carnes big ben. aquela moça do caixa, com seu olhar de fastio, não está mais lá. deve ter virado vegetariana. e se mudado para o campo, se mudado para atibaia. mas os açougueiros continuam afiando suas facas e fatiando seus bifes ao som do radinho de pilha ali atrás do balcão.

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pais e filhos

ter filhos é uma espécie de egotrip. assim como acreditar em deus, acreditar num deus que ainda se importe por ti, é a maior das egotrips.

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uma aventura na martinica

humphrey bogart puxa a pistola
e me aponta a última saída
me escondo dentro do banheiro
puxando a válvula da descarga
e bogie sai com a lauren bacall
sai pela porta da frente

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el mundial ´78

andei pela rua josé getúlio. hoje de manhã, logo ao acordar, pude ouvir os carrinhos de fórmula um chiando na tevê pebê do garagista. ainda estava meio despenteado, meio sonado. por isso andei devagarinho, na tranqüilidade, prestando bem atenção nas calçadas, nas sarjetas, desvãos. olhando pelos cantos. a sensação de que perdi qualquer coisa por ali. não sei bem o quê. até já me esqueci, mas perdi. perdi por ali. entrei na banca de jornais. a tia estava lá, puxando papo sobre o álbum de figurinhas da copa. nem falei com ela direito, fui meio babaca, matutinamente babaca. é que eu estava atento. procurando ali no revisteiro alguma pista do que tinha perdido. entrei na padaria madame. porque o rod luz ainda não estava aberto, estava com as portas baixadas. um mendigo dormia às portas baixadas do rod luz. ocupando toda a calçada. dormindo com uma calma urbana, a placidez de quem é rolling stone. sem nothing to lose. quem sabe, pensei no momento, tenha sido ele a achar o que perdi. mesmo assim, ainda entrei na padaria madame e pedi um pingado. só pra poder espichar os olhos por ali, para ter a certeza de que não, não fora ali não. o coreano do ver-o-peso já estava acordado. desde ontem ele fechou o restaurante para poder pintar de branco suas paredes, o forro pingando em jornais velhos amarelos amassados espalhados. pelo chão. tentei ler as manchetes, através da janela, mas o cheiro de tinta que escapava por debaixo da porta era assaz insuportável. se ainda houvesse qualquer coisa minha por ali, onde nunca tinha entrado antes, bueno, já estava perdida. voltei pra casa ouvindo o coreaninho chorar qualquer coisa com o pai. ele reclamava em altos brados, mais fortes que o cheiro de tinta, soluçando e se afogando naquelas palavras impronunciáveis que só os koreans entendem. ou dizem entender. deixei quieto e subi a pires da mota até minha casa, até o refúgio double tree park. cantando solito uma canção callejeira de andrés calamaro. com a leve impressão de que o pequeno coreaninho tinha encontrado por acaso qualquer coisa que eu tinha perdido.

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poesía porteña

"voy a salir a caminar solito
sentarme en un parque
a fumar un porrito
y mirar a las palomas comer
el pan que la gente les tira
y reprimir el instinto asesino
delante de un mimo o de un clown
hoy estoy down, violento, down, radical
pero tengo aprendido el papel principal
yo soy un loco que se dio cuenta
que el tiempo es muy poco"
(andrés calamaro)

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04 agosto 2006

The lonesome death of Hattie Carrol

A que tempo nós pertencemos? Well, à era dos celulares. Somos, portanto, nômades conectados ad eternum. Somos do english, a única língua válida na joça da internet. O resto é resto. Só sei de uma coisa. Diante de tanto hi tech. Diante de mídias mais velozes que motoboys psicopatas, eu só queria um abraço. Desses bem quentes. Presenciais mesmo. Abrir meus poros e depois tapá-los. Veja bem, ninguém é mais que ninguém, veja bem. E eu que só queria um abraço.

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arthur lee e a pomba gira

primeiro foi syd barrett. agora é arthur lee.
nosso segundo herói psicodélico a bater as botas em menos de um mês.
o genial camarada por detrás do love, uma das mais imponentes e impressionantes bandas californianas dos anos sessenta, iniciou sua carreira artística como michê. fazia seu trottoir pelas ruas de west hollywood enquanto tentava uma carreira diurna como músico de estúdio.
dizem que chegou a tocar junto de jimi hendrix, lá por 1963, 1964, quando eles eram apenas dois schizo desconhecidos. dizem que eles iam pra farra juntos e aprontavam mil em los angeles. dizem que acabaram se separando pela fama brutal do jimi e pelos caminhos tortos de lee. diziam muito sobre arthur lee.
ele chegou a puxar uma cana braba, por pote de maconha (oh) e ácido lisérgico (bah), além de afetar uma atuação obscena diante dos respeitáveis cops (o sacana) que vieram fazer o serviço. acabou puxando um tempo num manicômio judiciário.
tipo de aventura que o afastou deveras do love, banda que criou em 1965 e que tem três discos que tu mereces ouvir - love, da capo e forever changes - todos registrados durante as pirações de mister lee.
depois desses três álbuns, ele cairia fora e ficaria walkin on the wild side pelo resto da vida. em 1995, o tiozinho lee (então com redondos cinquenta anos) foi preso uma vez mais. por ter ateado fogo no apartamento de uma ex namorada. enfim, cousas que acontecem nesses relacionamentos.
ao lado de arnaldo baptista, roky erickson, brian wilson e syd barrett, o camarada arthur lee é fundador e sócio honorário do clubinho dos seqüelados pelo ácido lisérgico.
em homenagem a arthur lee, um blues, man.

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thin air

meu computador voltou à vida.
depois de uma semana em coma, na uti, meu computador recebeu uma completa lavagem estomacal. pra limpar os intestinos. estava com o gabinete cheio de poeira. até a tampa. literalmente. uma overdose de pó. ovelhas e mais ovelhas de poeira. um verdadeiro rebanho de poluição industrial. tinha tanta poeira que o motor do troço deu pane, superaquecimento. porque o ventilador de resfriamento da bagaça não dava mais conta de girar suas hélices entre as nuvens de poeira urbana que se intrometeram dentro do nobre computer.
esse é o ar que se respira em são paulo.

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03 agosto 2006

editorial TPB

ah, foda-se o líbano.

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vítima da sociedade

"esta cópia do windows não é original. você pode ter sido vítima de falsificação de software"

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